quinta-feira, junho 18, 2015

Pequenos proprietários do Açu continuam sendo pressionados

Os pequenos produtores, proprietários de terra no Açu que questionam na Justiça as desapropriações, tanto pelos valores, quanto pelas ilegalidades do processo movido pelo estado (via a Codin), continuam sendo vítimas de um massacre. Um caso que ainda vai merecer um filme-documentário.

Eles questionam os laudos com os valores das desapropriações feitos pela parte interessada, a própria Codin. Fato aliás, já considerado inapropriado pelo juiz da comarca local que suspendeu uma das desapropriações, como aconteceu com o caso da propriedade de Da. Noemia Magalhães, que resiste e lidera a luta junto com os produtores do entorno do Açu.

Agora, além disso, uma das empresas que existe no papel, que é a SNF (Siderúrgica do Norte Fluminense S.A.) controlada pela Prumo Logística S.A. que é uma enorme proprietária de terras no Açu, vem criando obstáculos, para os proprietários que mantém seus animais nas terras em litígio, por falta de local para o juízo enviar o gado.

Até no ano passado, os proprietários vacinaram o gado dentro destas terras, inclusive com o apoio da Secretaria Municipal de Agricultura  de SJB. Bom dizer que os proprietários tiravam o gado da áreas do DISJB e colocavam em currais fora, pois os currais que haviam em suas terras foram todos destruídos com as desapropriações. Assim, vacinavam e depois colocavam o gado de volta.  

Porém, este ano, além deste apoio da PMSJB não ter acontecido, a SNF (Prumo) firmou uma exigência (Termo de Retirada de Animais - veja no documento abaixo) que além de descabida, parece ilegal e uma afronta ao Judiciário. Veja no termo que a Siderúrgica do Norte Fluminense S.A. (SNF) impõe que o dono do gado dê ciência que a empresa fica autorizada a "destino que julgar cabível dentro dos trâmites legais sem prévia notificação". Assim, agora, os proprietários estão considerando que não têm mais como retirar o gado, vacina e voltar, por conta das exigências absurdas deste documento da SNF (Prumo). 



O caso parece grave, por sugerir uma tentativa de explorar a boa fé dos pequenos proprietários, preocupados em cuidar do seu gado, enquanto a pendência judicial segue. 

Além disso, vale lembrar que o problema traz embutido uma questão sanitária de interesse não apenas dos proprietários, mas de toda a comunidade, já que não se trata apenas de uma dezena, e sim de mais de mil cabeças de gado que necessitam ser vacinadas.

Interessante ainda relembrar que a constituição legal do Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB) com uso destas áreas, se deu por decreto do estado em 2008, posteriormente alterado por outro decreto, no ano de 2009. 

Ainda em 2009, o Estado celebrou memorando de entendimentos com a LLX, a GSA - Gruçaí Siderúrgica do Açu S.A. e com a SNF, Siderúrgica do Norte Fluminense S.A. para a constituição do DISJB. Em outro decreto em 2010, o governo estadual delegou à Codin-RJ, poderes para execução do Distrito, incluindo as desapropriações e registros. 

Em função da Codin-RJ não ter dinheiro para pagar as desapropriações, uma manobra (abstração jurídica) foi realizada permitindo às empresas, LLX, GSA e SNF pagarem pelas desapropriações. 

O caso é no mínimo estranho porque para ter autorização para parcelar (lotear) as áreas para criar o DISJB, a Codin-RJ precisaria ter o registro das terras em seu nome, para que a PMSJB (que é quem ter poder para isto, porque tem que atestar que está de acordo com o Plano Diretor Municipal e com o Plano de Macrozoneamento do município) pudesse autorizar o parcelamento destas terras. A partir disto é que o DISJB estaria constituído. 

Ninguém sabe como isto foi feito. Espera-se que a Justiça possa apurar isto antes de decidir sobre as desapropriações que são motivos de questionamentos judiciais. Porém, o mais estranho é que estas empresas - as duas siderúrgicas (GSA e SNF) - com o tempo suspenderam seus projetos, tiveram suas licenças de instalação suspensas e agora se colocam como donas e proprietárias das terras, desapropriadas pelo Estado, para fins de instalação das mesmas, que por enquanto são apenas papéis.

Me pergunto quem diante desta realidade poderia aceitar uma desapropriação feita nestas condições? Os produtores atingidos resistem a todos os tipos de pressão, que são inaceitáveis em qualquer tempo, mas ainda mais absurdas num tempo em que as comunicações e o esclarecimento dos fatos são um pouco mais fáceis de serem certificados. Continuamos acompanhando esse processo.

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