Este projeto ainda está em fase de estudos de viabilidade técnica-econômica-ambiental. Se os interesses forem confirmados é um projeto de maturação e construção longa. Pode ser ainda que apenas, uma das pernas saia primeiro, para depois as mesma serem integradas, tanto a leste, quanto na direção norte-sul, num trecho que tenho chamado de "rota da soja" (em similaridade à rota da seda de origem chinesa na ligação com a Europa).
Porém, hoje o objetivo aqui é trazer outras informações sobre a capacidade chinesa em "material circulante e em construção de linhas férreas, em comparação às empresas concorrentes do mesmo ramo, na Europa e América.
O jornal suíço-franco "Le Temps" trouxe na última sexta-feira, uma ampla de detalhada matéria cujo título é: "China império ferroviário global" de autoria da jornalista Etienne Dubuis.
A reportagem é bem feita, porque articula diversas informações e intui análises sobre a estratégia chinesa, em sua relação com outros blocos de nações do mundo, em especial a Europa, numa perspectiva da Eurásia, assim como da América Latina e África.
A estratégia chinesa começou com a aquisição de tecnologias, através de parcerias cm grandes empresas estrangeiras do setor. Assim, acumulou experiências na construção da mais extensa linha de trem de alta velocidade do mundo com quase 15 mil km. Além disso, desenvolveu projetos em linhas complexas, como a da ligação entre as suas províncias de Qinghai Tibet a Tangula Shankou a 5.068 metros de altitude, um recorde mundial.
Le Temps - Reuters |
Hoje, seus preços de construção são baixos e seus projetos altamente competitivos no mundo. Além disso, promoveu a fusão das duas principais empresas o setor de locomotivas e vagões, instituindo em fusão, o grupo CRRC, com valor de mercado superior a US$ 100 bilhões, na frente das gigantes mundiais do setor ferroviário, a Siemens da Alemanha, a Alstom da França e a Bombardier, do Canadá. (conhecidas do governo paulista)
O objetivo do gripo CRRC que controla mais de 90% do mercado chinês é se estabelecer como maior fornecedor de material circulante do mundo e servir como instrumento essencial, para a estratégia ferroviária que é parte dos objetivos econômicos e políticos da China, no exterior.
Os projetos no exterior já são ousados. Ente eles, uma nova rota da seda (silk road), um corredor logístico, com linhas férreas, rodovias e oleodutos ligando a China à Europa e outro, ao Leste Oriental através da Ásia Central.
Além de nova rota da seda, o acesso à Rússia é considerado um objetivo central com um projeto de uma linha de alta velocidade entre Pequim e Moscou, uma estratégia que iria colocar as duas capitais a dois dias de trem, contra os atuais seis dias.
Hoje, comboios já circulam entre a China e Alemanha num circuito de cerca de 13 mil km feito em 21 dias, o mais longo já realizado por linha férrea. É neste contexto que são citados projetos na África, já executados, como o de Angola, Luanda a Lobito, que pode se interligar a outras ferrovias da Zâmbia e Tanzânia, juntando os oceanos Atlântico e Índico.
Assim, também se deve enxergar o projeto entre o Porto do Açu, no Brasil e no Atlântico, ao Puerto Ilo, Peru, no Oceano Atlântico. Abaixo o infográfico (Le Temps/LAIF) dos projetos ferroviários chineses na Ásia e em outros continentes.
Projetos ferroviários chineses pelo mundo |
Assim, a China focaliza diversos objetivos, desde o econômico com a ampliação de suas exportações, quanto a importação de matérias-prima e ainda da dimensão das relações geopolíticas. Além disso, se tem a venda de know-how no exterior e participação em projetos que reduzam custos na circulação de materiais do seu interesse.
Os chineses fazem a seguinte afirmação: "a instalação do trilho é mais caro, porém mais rápido do que os navios e desta forma, as linhas ferroviárias longas provam ser mais uma vez, mais vantajosa, em muitas ocasiões, do que as rotas marítimas".
A afirmação acima que consta da matéria do jornal suíço citada, coloca em xeque outra conhecida do setor de logística que diz que até 1 mil km, o transporte rodoviário tende a ser mais econômico. Entre 1 mil km e 2 mil km, o ferroviário seria a melhor opção, ficando a distância acima de 2 mil km como alternativa mais econômica, em regra, fora as exceções para estas maiores distâncias.
No território chinês há ainda diversas demandas como as ligações no lado oeste, menos desenvolvido (e no caminho em direção à Europa e à Índia), que o litoral do leste, onde se comunica com o Japão, Coreia, Taiwan, Cingapura, etc. Observe os continentes e as nações no mapa-mundo do IBGE abaixo. (se desejar clique sobre ele para ver em tamanho maior)
Nesta linha (sem trocadilho, sic) é que a China também planeja que as linhas ferroviárias na direção oeste e para o sul da Ásia, poderiam reduzir a sua dependência do Oceano Pacífico, estratégia, cujo objetivo não é difícil de se interpretar.
Enquanto os EUA decide ampliar seu movimento par ao leste, a partir do Atlântico par ao Pacífico, Pequim decide seguir o caminho inverso de leste para oeste, aproximando-se do Oriente Médio e da Europa.
Por tudo isso, e observando ainda o que está acontecendo na Europa, não é difícil perceber que vivemos tempos de profundas mutações nas relações entre os blocos de nações e a geopolítica mundial. Conhecer um pouco mais deste processo ajuda a pensar aquilo que nos envolve e influencia, em meio às interligações de economia cada vez mais global.
PS.: Atualizado às 23:08: Para acertar o título e incluir a avaliação de que ao observar estas estratégias e os objetivos chineses ligados ao modal ferroviário e aos interesses comerciais que há grandes chances da China participar e vir a ocupar um dos terminais do Porto do Açu, ligado às cargas gerais, bem antes e até independente da ferrovia bi-oceânica até o Peru com saída par ao Pacífico.
E, junto disto, dos chineses participarem da licitação para reformar, ampliar e operar a ferrovia Vitória-Rio (EF 118 que passa por Campos e Açu) que será licitada pela ANTF, ainda este ano. A conferir!
PS.: Atualizado às 18:52: Para ajustar e reduzir título.
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