A maioria não acredita que a Ferrovia que ligaria os oceanos Atlântico (Leste) ao Pacífico (Oeste) vá ser efetivamente construída. Os chineses seus "patrocinadores" continuam fazendo os estudos de viabilidade técnico-econômica.
Enquanto isto, já é possível verificar pressões e interesses no traçado, agora, não mais para o lado Oeste, mas, na saída ao Leste, pelo litoral brasileiro. É oportuno recordar que as primeiras projeções para esta ferrovia transoceânica já tiveram outros percursos e destinos. No Oeste no Chile, ou na Bolívia, antes do atual destino no Peru. E com extremo no leste em Santos, ou Paranaguá, antes de se pensar agora no Açu, no Norte Fluminense.
Se do lado Oeste, o Peru parece definido, do lado Leste novas pressões e sugestões podem transferir o projeto do Porto do Açu, para o projeto do Porto Sul, em Ilhéus que ainda não começou a ser construído.
Particularmente, eu tenho dito que aos chineses interessaria menos a saída ao Leste do que a ligação do Centro-oeste brasileiro, ao Oceano Pacífico, com a afirmação da Rota da Soja, como tenho chamado, em similaridade à Rota da Seda conhecida dos chineses na ligação Eurásia.
A rota de saía da soja pelo Norte com uso das hidrovias que começa a ser usada como alternativa à saída pelos portos de Santos e Paranaguá, enfrenta ainda os custos do pedágio do canal do Panamá que a saída pelo Peru não necessitaria.
Assim, uma posterior saída à Leste pelo Oceano Atlântico pode ser uma alternativa decidida adiante, e para isto, outros interesses chineses em negociação serão decisivos, incluindo as negociações com os projetos portuários existentes para outas finalidades e com concessão de grupos da China.
Na análise mais macro desta questão, não se pode deixar de considerar a percepção que senti na Audiência Púbica da Ferrovia Vitória-Rio, organizada no dia 26 de junho, pela Antaq no Rio de Janeiro, que setores da elite econômica brasileira rechaçam a saída com integração latino-americana pelo Pacífico com articulação chinesa. Há claros movimentos de políticos dispostos a boicotar este projeto.
Enfim, trata-se de uma questão complexa e de altos custos com interesses não apenas econômicos, mas geopolíticos. Desta forma, é interessante observar as diversas movimentações que o capital e sua articulação com poder políticos fazem nesta disputa. Deste processo sairá a realização ou o boicote ao projeto, ou ainda alterações no traçado e nas origens e destinos.
É com este interesse que o blog republica abaixo texto que o site da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) colocou no ar. Ele comenta matéria sobre o mesmo assunto do Estadão, do último dia 22 de julho:
"Ferrovia Bioceânica pode ser saída para viabilizar a Fiol"
"Depois de ser completamente ignorada pelo governo no novo pacote de concessões anunciado no mês passado, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que está em construção na Bahia, passou a ser analisada como uma alternativa para viabilizar o traçado da chamada "Ferrovia Bioceânica", projeto previsto para cortar o Brasil e o Peru, ligando por trilhos os oceânicos Atlântico e Pacífico.
O jornal "O Estado de S. Paulo" apurou que os chineses, principais interessados no projeto, pediram informações à estatal federal Valec sobre a construção da Fiol, seu traçado e a previsão de ligar sua malha à Ferrovia norte-sul.
Com 1.527 km de extensão, a Fiol está desenhada para sair de Figueirópolis (TO), por onde já passa a Norte-Sul, e avançar pela Bahia até chegar a Ilhéus, no litoral. A avaliação é de que essa rota poderia substituir o plano de construir uma nova linha na região Sudeste, cortando Minas e o Estado do Rio, até chegar ao Porto do Açu.
Há uma diferença crucial entre a Fiol e o traçado da região Sudeste previsto para a Bioceânica: a ferrovia baiana é uma obra real, um projeto que já consumiu R$ 3 bilhões dos cofres públicos. O problema é que, hoje, a ferrovia da Bahia está com sua viabilidade em xeque, por conta da crise econômica internacional, que jogou na lona o preço do minério de ferro.
Iniciada em 2010, a Fiol foi projetada para escoar o minério que passaria a ser extraído em grande escala em Caetité, na região central da Bahia. Além disso, da fronteira com o Tocantins sairia a produção agrícola daquele que já é o segundo maior polo de algodão do País, além da forte produção de soja. A queda no preço do minério de ferro, no entanto, levou o governo a simplesmente retirar o projeto de suas prioridades. Ironicamente agora é a Bioceânica, um projeto desacreditado por muitos especialistas e economistas, que poderia trazer uma nova "razão de ser" para a conclusão da Fiol.
Prevista para ser concluída em julho de 2013, a Fiol enfrenta hoje a redução no ritmo de obras - e até mesmo paralisação total - em seus lotes. Dos 1,5 mil km do traçado, os primeiros 500 km ainda não têm sequer data para serem licitados. No segundo bloco de 500 km, a execução física das obras é de apenas 6%. Nos últimos 500 km, que avançam até Ilhéus, são aproximadamente 60% de execução.
O grupo de engenheiros chineses enviado ao Brasil vai analisar todas as possibilidades. Nas últimas semanas, esse grupo percorreu, de carro, mais de 4 mil km, entre os municípios de Campinorte (GO), onde passa a Norte-Sul, até a cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre, próximo à fronteira com o Peru. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo."
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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