domingo, agosto 09, 2015

Chico de Oliveira nega a hipótese de Dilma cair e diz que a recessão poderá levar a uma maior internacionalização de nossa economia

Em entrevista à jornalista Maria Cristina Fernandes do Valor, caderno “Eu & Fim de Semana” (Pp.6 -9), o conhecido sociólogo Chico de Oliveira faz uma série de análises, bastante interessantes.

Assim, Oliveira nega a hipótese de Dilma cair. Diz que vivemos um ciclo e fala que a recessão poderá levar a uma maior internacionalização da economia brasileira.

O blog destacou abaixo alguns trechos por temas, julgando como as partes mais densas de sua fala com o objetivo de ampliar a leitura do complexo momento que vivemos:

Sobre a crise

“Na conjuntura de desemprego em alta e renda em baixo um ciclo será superado, não sem antes cobrar pedágio na rota da redução das desigualdades”;

Sobre a Operação Lava Jato: “a operação não vai mudar a configuração do capitalismo nacional, a não ser pela indução de um novo ciclo de internacionalização da economia: as grandes empresas brasileiras não são peças de um xadrez. Elas são o xadrez”.


Sobre o golpe ou a queda de Dilma

“Ela não vai cair. A economia e a Sociedade ganharam complexidade e dificultaram a formação de um bloco hegemônico de interesses..., os interesses ficaram muito complexos, contraditórios, não são fáceis de serem identificados e não se faz um processo de impeachment sem força social por trás”.

“Quem derrubou o Collor foi São Paulo... O modelo intervencionista e semiestatizante é a força de São Paulo. A indústria paulista só existe por causa do protecionismo”.

“O PMDB, que nunca tem força para chegar à Presidência, mas tem força para impedir que se chegue”.

“Uma coisa é conversar abstratamente sobre impeachment. Outra é colocar em votação na Câmara para ver se sai. Ela não vai cair. O impeachment não tem apelo popular. A recessão não torna o impeachment popular. O povo sentirá o golpe de Estado”.


Sobre Lula, Oliveira foi bastante crítico, por ter jogado fora a chance que teve

“Lula teve uma chance que poucas vezes se repetiu na história brasileira que foi a de liquidar uma era. É lamentável que não tenha aproveitado a chance. Ele não é corrupto no sentido vulgar, de meter o dinheiro no bolso, mas é culpado de ter abortado uma era de contestação sistêmica”.

Sobre os EUA

“É uma ficção olhar a economia americana pela lente do mercado. Uma economia que comanda o mundo não se move pelas leis do mercado”.

“Quem interessa é quem vai ser o presidente do FED (Federal Reserve, o banco central americano). O Fed é liberal? O pitaco que o presidente americano dá não tem nenhuma importância se a autoridade monetária não respaldar”.


Sobre  desenvolvimento do Brasil, do processo histórico à atual conjuntura

“Sem o BNDES não existiria a indústria brasileira. Era esse o jogo. Um enorme esforço teórico foi conduzido por Raúl Prebisch na Cepal, que foi o organizador do Banco Central argentino. Torna-se um desenvolvimentista aloprado. Gênio como era, percebeu o jogo internacional. JK é um discípulo de Prebisch e virou o grande estadista do Brasil. Fez Gudin ser intervencionista. Só houve mercado livre no Brasil na Primeira República e na segunda fase do Império. E deu num desenvolvimento medíocre. O Brasil só retoma um ritmo capitalista sério com Vargas. A sociedade hoje é muito mais complexa, com interesses contraditórios. Não podem ser movidos por uma dinâmica hegemônica. É a corrupção que os move? Não, é crescimento econômico. Quando estanca vem a crise. Há uma certa incapacidade de doma as forças do mercado...

... Sem o Estado você não faz nada na periferia do capitalismo. Essa é a contradição que o acompanha. Você quer ser menos intervencionista, mas, para fazer isso, tem que ser mais...

... O Brasil pode perder algumas alavancas de controle social sobre a política justamente num momento em que houve uma redução importante da desigualdade. Mas não estamos vivendo uma crise nos termos apregoados pela imprensa. A economia brasileira tornou-se cíclica porque desenvolveu-se ao contrário. O capitalismo tem ciclos. O Brasil não experimentava ciclos desde Vargas porque a intervenção do Estado foi decisiva para mudar as curvas dos ciclos. Os ciclos fazem parte da dinâmica do capital e o Brasil é hoje uma economia em que não cabe mais o adjetivo de subdesenvolvida...

... Estamos numa fase de maturação do investimento. Ele se esgotará e dará início a um período que, se for leve, chamaremos de recessão; se for pesado, chamaremos de depressão. Não está no horizonte nenhuma depressão. Mas como já não somos tão insignificantes do ponto de vista do desenvolvimento do capital, o comando da autonomia da economia brasileira já está mais sujeito às chamadas leis do mercado. As oportunidades de investimento vão ficar mais palpáveis, talvez haja uma maior internacionalização, mas isso dó vai acontecer se a economia estiver patinando”.

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