Muito boa a análise do Douglas da Mata em seu blog, de onde peguei emprestado. A análise feita pelo texto não faz propaganda e nem procura esconder a realidade. Ao contrário usa como materialidade do diagnóstico do que se entende por real. Sem a falácia da cretina neutralidade, sempre alegada, por quem não tem segurança para sustentar seus argumentos. Vale ser lida e replicada:
"Dilma e seus dilemas..."
Circunstâncias históricas não podem ser comparadas com a mesma régua, por outro lado, não devem ser relativizadas ao extremo...
Explico...
O PT e o Governo Dilma não podem reclamar (muito) dos ruídos golpistas da oposição midiática...De certo modo, quando estávamos na oposição saímos às ruas com o "FORA fhc"...
Mas as semelhanças param por aí...
O cinismo escroto da mídia, e seus asseclas, não pode esconder um fato histórico:
Os movimentos políticos da década de 80 e 90 se levantavam contra os governos estabelecidos , mas tinham caráter contra-hegemônico, ou seja, buscavam destituir uma ordem estabelecida...isto é, construir uma ordem onde o governo representasse os interesses da maioria, enfim, buscavam aproximar a representatividade formal da representatividade orgânica da sociedade...
Já os movimentos recentes, que mostram a cada evento perder força, com o minguar de gente que foi às ruas, buscam restabelecer esta ordem hegemônica, onde a reprsentação formal do governo seja restrita ao critério quantitativo eleitoral, afastando a manifestação dos interesses e demandas majoritários da gestão do Estado.
A manutenção dos aspectos meramente formais da representação visa garantir que os interesses de poucos prevaleçam sobre os de muitos...
Se é verdade, portanto, que dos dois movimentos pedindo a destiuição de presidentes são, formalmente, contra-constitucionais, por outro lado, é impossível não perceber, apesar dos esforços cavalares da mídia comercial, que os movimentos têm origens e pretensões políticas distintas...
Cada facção política legitima sua presença como melhor lhe convém, mas não podemos permitir que todos sejam considerados a mesma coisa, como se essa "igualdade" concedesse um salvo conduto às forças reacionárias para a defesa de interesses que NUNCA são explicitamente colocados...
É estranho, e quase sempre imperceptível como os golpistas nunca se chamem pelo nome, nunca digam que são de direita ou conservadores...Buscam sempre apelidos ou bandeiras políticas convenientes...auto-denominam-se liberais, modernizações, eficiência, democratas, patriotas ou apartidários ou apolíticos...
Essa "discrição" não é acidental...
Quando junto com outras forças, o PT foi às ruas pedir a saída de fhc, a agenda estava claríssima: Queriam que o país e seu patrimônio não fosse vendido a preço de banana, sob a falsa justificativa de que os poucos bilhões de dólares serviriam ao incremento da qualidade dos serviços públicos destinados aos mais pobres...
Junto a isso, PT e aliados desejavam a redução das desigualdades, o aumento do emprego, a melhor distribuição de renda e dos serviços públicos...
Quando vão às ruas hoje, psdb e aliados desejam justamente destruir essas conquistas, retomando o processo de desmonte do que restou de Estado...
7% de desemprego é uma taxa alta nesses dias? Pois é, na octaéride tucana o desemprego nunca esteve abaixo dos 9%, e ainda assim a mídia e o estamento ideológico conservador alardeavam um sucesso absoluto na gestão econômico demotucana...
Inflação de 9%?
A "equipicona" do psdb entregou o país em 2002 com 13% de inflação e taxa de juros média acima dos 20% ao ano...
Eu aceitaria satisfatoriamente que os tucanos e seus lacaios da mídia (local e nacional) fossem às ruas dizendo a verdade: Queremos entregar a Petrobras de bandeja, queremos mais juros ao capítal, salários e direitos menores, diminuição dos investimentos e programas sociais, restrição dos recursos da saúde e da educação, etc...
Eu aceitaria de bom grado as manifestações golpistas, ainda que não concorde com elas, se dissessem que o almejado "fim da corrupção" é algo mais ou menos como o desejo pela "paz mundial" que as candidatas à miss, expresso nas entrevistas ensaiadas aos jurados...
Democracia não é só bater panelas ou vociferar palavras chulas e/ou de baixo calão, mas explicitar verdadeiramente o que se deseja, para que as escolhas sejam honestas, ou o mais próximo disso...
É uma diferença sutil, mas crucial...É a diferença entre ruptura e reacionarismo...
Conservadores, em um ambiente democrático, não devem temer expor suas bandeiras (as verdadeiras)...
Assim como os petistas e governistas não devem temer a cobrança de que foram às ruas para pedir a queda de um presidente eleito (fhc)...
Ao contrário, devem revelar que o fizeram, e fizeram sem o apoio massivo da mídia comercial, e muito menos sem o conluio com as forças reacionárias que se instalaram no Judiciário...
É bem verdade que o PT também se beneficiou do protagonismo macartista do MP naquelas décadas, e hoje paga caro por isso...Parte do capital político que amealhou na epóca foi tomado de volta, como um empréstimo de juros extorsivos...
No entanto, a (cor)relação de forças é totalmente distinta...Naquela época, recém agraciados com (super) poderes constitucionais que hoje os equiparam a Santa Inquisição, alguns poucos promotores e procuradores ousaram utilizar estas prerrogativas para desafiar o establishment...
Hoje, com a institucionalização do moralismo hipócrita e seletivo, o Parquet, com raras e honrosas exceções, funciona como correia de transmissão das hostes fascistas nacionais...
Por isso, procuradores como aquele de Brasília, Luiz Francisco, juízes como De Sanctis, ou policiais como Protógenes Queiroz ou Paulo Lacerda, foram ridicularizados e trucidados, enquanto que outros são elevados ao panteão dos "heróis nacionais"...
Ué, todos não lutavam contra a corrupção?
Pois é, mas uns lutavam contra a corrupção da revista "óia" e suas relações com a "cachoeira" de crimes organizados, ou contra banqueiros-fiadores da privataria demotucana, e outros dizem lutar contra aquela que parece ser a única forma de corrupção que merece atenção: A petista!
Mensalão, petrolão? Uai, a globo sonegou uns três ou quatro petrolões e até hoje quase ninguém ouviu falar disso, e apesar disso, ainda tem gente que envia dinheiro para a chantagem emocional chamada "criança esperança"...
Esperança para quem? Para os "eleitos" e "escolhidos" pela globo e pela "unicef"? 'Tá bom, me engana que eu gosto...
Então, ainda que tudo pareça igual, cada caso é um caso...
Dilma padece de um dilema, que não é só dela, e sim de todas as forças de esquerda que apostam na via institucional e creem na reforma gradual do Estado:
Acreditam que a outorga (formal) conferida pelas urnas, em seu aspecto quantitativo (maioria), confere uma legitimidade que se auto-impõe e será sempre respeitada pelos adversários...
Logo, quando Dilma se defende reivindicando ser a portadora dos votos da maioria, ela "esquece" o seu passado...
Esse "esquecimento" é necessário para afastar dela o sentimento revanchista imobilizador, que a impediria de ter se tornado o que é: Um exemplo de respeito à constitucionalidade e a ação política racionalizada...
Mas, paradoxalmente, esse "esquecimento" apaga de sua memória política um traço que deveria ser constante em sua práxis, a de que os adversários só respeitam regras que lhes convêm, e pior:
Seus inimigos da oposição não querem sua cabeça porque ele "ganhou" as eleições, querem a sua cabeça porque o PT e o seu governo moveram (ainda que levemente) o mandato formal obtido nas urnas para próximo das demandas da maioria da população, e atacou os interesses de quem lucrava com o "estado das coisas" em passado recente...
É preciso que os golpistas da direita digam à população o que realmente querem...
Também é preciso que Dilma e o PT digam realmente porque estão sob ameaça de golpes iminentes, desde 2002...
Sem esse esclarecimento, nossa Democracia permanecerá interditada...
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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