quinta-feira, agosto 27, 2015

O apetite da China e as consequências para o Brasil

O infográfico publicado em matéria ontem, do Wall Street Journal, mostra a pujança e o tamanho da economia chinesa. ao detalhar a participação da China no consumo mundial de diversas matérias-primas (commodities). O quadro impressiona por si só.


Nos últimos dias muito se tem dito e escrito sobre a China, mas há muitas discordâncias e desencontros sobre análises e prognósticos. Eu não em sinto em condições de aprofundar análises, porém arrisco a dizer que para o Brasil, os riscos podem ser menos drásticos do que alguns tentam argumentar.

É evidente que, em qualquer cenário a demanda por alimentos (soja, carne e outros) e energia permanecerá. Isto alivia os impactos. Além disso, a China é a maior beneficiada com a redução do preço do barril de petróleo.

A China nos últimos anos vinha conseguindo burlar os esquemas e controles que a grandes traders de commodities vinham até então fazendo no sentido de controlar os fluxos e consequentemente os preços das matérias-primas e produtos agrícolas.

Para fazer isto a China ampliou enormemente seus estoques de commodities, inclusive de petróleo, o que foi paulatinamente tirando das traders (que passaram a investir em infraestrutura de portos) a capacidade de entre elas (em suas sedes em paraísos fiscais) controlar os preços mundiais.

Assim, a China foi aos poucos interferindo nestes preços e hoje é responsável por estas baixas de preços mundiais que se dá, ainda sem redução  das demandas, e mais pelo aumento de extração e/ou produção destas commodities minerais ou do agronegócios.

Além disso, a China passou a ser incorporada aos centros mundias negociadores de commodities. A própria matéria do WSJ (aqui) diz que os bancos e fundos por toda a Europa estão reconhecendo o aumento da atividade da China na negociação direta das commodities.

Também se registra que a China continua ampliando em bilhões de dólares, os investimentos em infraestruturas no Canadá e na Austrália, assim como mostrou disposição em fazer o mesmo o Brasil.

Do Canadá recebe especialmente petróleo e gás. Da Austrália, minério e outros metais. Do Brasil importa soja, outros alimentos, assim como petróleo a partir das petroleiras chinesas aqui instaladas, ou da Petrobras, em troca dos empréstimos feitos. Por isso, os investimentos em portos, ferrovias e extração de petróleo estão entabuladas.

Enfim, vale continuar observando este processo. As mudanças que a China promove em sua economia não é algo simples, considerando que o gigante asiático hoje detém a maior parte da dívida pública americana.

Há sinais claros de esgotamento de um ciclo. Os ciclos econômicos mais uma vez são lembrados, entre períodos de acumulação, estagnação e investimentos, mas o futuro não é algo dado e sim construído. O capitalismo de Estado ou este modelo híbrido ainda gera muitas dúvidas.

É certo que o avanço da China no setor financeiro internacional é um grande risco tanto para si, como para as demais nações. Acima de tudo gera reações, bem maiores que a exportação de produtos.

O sistema financeiro efetivamente é o grande nó do atual ciclo do capitalismo mundial. Foi, por ele que o Japão deixou de ser alternativa em termos de liderança mundial.

A China tem ainda de forma similar, um enorme desafio no âmbito interno.  Não é simples a adequar sua economia para o aumento do consumo interno com a ampliação do poder de compra dos chineses, diante dos ajustes das exportações e da articulação cada vez maior com o sistema-mundo. Enfim, vale continuar acompanhando!

PS.: Atualizado às 01:42: Para acrescentar um outro infográfico sobre o Comércio Brasil-China entre os anos 2000-2015. Fonte Mdic, Valor, P.A14, 26/08/15. Sobre o volume total de comércio entre os dois países, pode-se referir ao pico em 2014, quando o fluxo de importações e exportações entre China e Brasil atingiu US$ 77,9 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 3,27 bilhões, conforme mostra o gráfico abaixo:















PS.: Atualizado às 01:56: Ainda sobre o assunto leia aqui o texto "A lição chinesa que o Brasil precisa aprender (para lidar com a própria China)" publicado no Brasil Debate -
Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI.

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