quarta-feira, setembro 30, 2015

O lucro das tradings sobre a produção agrícola nacional

Já comentei por aqui que ando pesquisando a atuação das tradings e a relação delas com os portos. Pois bem, neste estudo se vê que a atuação delas não se dão apenas na circulação e comércio de mercadorias.

Cada vez mais as tradings avançam e controlam a produção e os preços praticados junto aos mercados consumidores mundo afora. Assim, encurtam a segunda perna da tríade: "produção-circulação-consumo" - auferindo lucros extraordinários na Economia Global contemporânea.

Assim, o agronegócio é uma de suas bases de atuação. Desta forma, as tradings hoje financiam sementes, implementos agrícolas, silos e armazenagem, transporte, comercialização, etc.

Com captação junto aos fundos financeiros, as tradings operam uma dupla poderosa que agora também avança para atuação em infraestruturas portuárias, objeto mais detalhado de minha atual pesquisa, para além da relação porto-petróleo.
Embarque soja: Bungue e Cargill pelo Porto de Itaqui. MA
Fonte: Valor 25-09, P.B12

Além disso, uma informação recente me chamou a atenção. Setores do agronegócio do Brasil reclamando da "disparada do dólar". Não entendi como um setor que vende par ao exterior e com custo de produção na maior parte vinculada à moeda nacional, poderia julgar e reclamar do dólar mais alto.

Pois bem, aprofundando um pouco o assunto é que fui compreender o que estava por trás desta estranheza. Acho que a maioria sabe que este setor há muito vive atuando no chamado "mercado futuro", onde você recebe antes pela venda no futuro. Dizem que cerca de quatro safras adiante do Brasil já estariam vendidas.

Então, é nesta direção que a alta do dólar em relação ao real. Uma fatia importante dos produtores de soja vendeu antecipadamente boa parte da recém-iniciada safra 2015/2016, mas em real, ou seja, a preços bem inferiores àqueles que estão sendo pagos no momento.

Isto não quer dizer que os produtores nacionais esteja passando necessidade. nada. São grandes e mesmo com estes lucros das tradings sobre eles ainda faturam muito. Porém, o que se argui é que assim, como já se falava antigamente, os intermediários ganham muito, como é o caso das tradings Bunge, ADM, Cargill, Louis Dreifus LDC), etc.

O questionamento merece ser maior porque este lucro não fica no país e assim, não contribuirá para remunerar melhor a produção e fazer circular riqueza em nosso país.

Enfim, mesmo que por nossas bandas não haja grandes produções agrícolas e sim as de menor porte da chamada agricultura familiar, é bom que saibamos como funciona este processo.

Para se ter uma ideia da proporção disto veja na tabela abaixo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) e publicada na semana passada no jornal Valor. Observem que na lista dos onze maiores exportadores do Brasil, quatro delas são destas tradings do agronegócio: Bungue, Cargill, ADM e LDC, resprectivamente em 3º, 4º, 5º e 11º lugares.

Observem que na lista ainda mostram duas empresa ligada ao agronegócio, mas que são produtoras de carne a JBS (6º lugar) e BRF (8º lugar). O grupo JBS controlas as marcas Swift, Friboi, Seara, entre outras, enquanto a BRF controla as marca Sadia, Pedigão e Qualy. As empresas em negrito na tabela abaixo são do agronegócio ou da agroindústria atuante no Brasil.

O debate é mais amplo, mas a observação crítica neste campo vale ser feita, especialmente se considerarmos que tanto o governo federal quanto a oposição lista a pauta de exportações como uma de suas quatro prioridades. Mas, isto é um assunto que merecerá um novo artigo (texto) aqui no blog.


Um comentário:

Anônimo disse...

O poder municipal precisa por ordem na situação caótica dos estacionamentos de motocicletas no centro e adjacências do município. Ali, na VInte e Um de Abril, por exemplo, os donos desses veículos não respeitam as vagas delimitadas no asfalto e amontoam as motos de qualquer maneira, destruindo umas as outras. Um retrato assustador da ausência absoluta do poder público numa questão tão importante! Além disso, aquelas vagas pertencem hoje a um grupo de pessoas que se dizem donas do estacionamento dito público. Eu, por exemplo, que utilizo motocicleta para me deslocar diariamente para o trabalho, me vejo alijado da condição de cidadão campista, pagador de impostos municipais, porque me recuso a utilizarar o que considero um serviço irregular. Será que a autoridade pública municipal não pode fazer nada para corrigir e disciplinar esse problema? Por favor Roberto, pode abrir espaço para essa denuncia? Obrigado desde já.