terça-feira, outubro 06, 2015

O buraco é mais embaixo: o caso da Austrália e sua relação com o Brasil

Muito se fala sobre o processo de primarização do Brasil e dos riscos da dependência do país com as commodities do agronegócio e dos recursos naturais e minerais.

As preocupações são justas, mesmo que para alguns seja apenas munição para a disputa de poder e não para a discussão de um projeto de Nação.

Porém, há quem desdenhe a questão e se disponha a negociar a nossa dependência em trocas de algumas vantagens, normalmente ligadas às elites econômicas, que procuraram apenas se enlaçar ao capital transnacional em trocas de percentagens, escancarando o nosso amplo mercado.

No mundo capitalista se diz que foi através deste processo que algumas nações deram o salto: Canadá, o próprio EUA e é muito citado também, o caso da Austrália.

O argumento serve para quem defende o esforço de inserção global do Brasil, no sentido de buscar com os excedentes da economia das exportações (mesmo com os risco dos baixos preços que se vê atualmente) dar o salto em termos da macroeconomia e da superestrutura e dos novos realinhamentos mundiais.

Todo este preâmbulo, teve apenas a função de apresentar a minha surpresa com um fato pouco comentado aqui no Brasil, em meio ao pobre debate político, restrito à tentativa de alçar ao poder por atalhos e golpes.

A surpresa se deu a partir das notícias vindas da, até aqui forte e equilibrada, economia australiana. No meio da Oceania, a Austrália nas últimas décadas foi ganhando a fama de economia desenvolvida e de ótimo nível de vida, construída a partir de boas políticas públicas,que teriam se aproveitado do "boom" dos recursos naturais.

Pois bem, as informações que chegam veem do Financial Times e da Bloomberg, órgãos de mídia comercial internacional, ligados ao capital e à economia capitalista.

Pois bem, a informação é que lá na Austrália a atividade industrial estaria perdendo espaço com a valorização do dólar australiano e a elevação dos custos de produção e redução da produtividade.

Fábricas estão sendo fechadas, entre elas estariam entrando na lista as montadoras GM, Toyota e a Ford. A recessão que não era sentida pela população desde a década de 90 agora estaria ameaçando o país-continente da Austrália.

O país que parecia avançar na chamada economia moderna e na inovação digital estaria voltando a depender do ritmo de extração de suas minas, o velho recurso vindo do chão e de buracos mais abaixo.

Em 2000, os recursos naturais (especialmente, minério de ferro e carvão) eram responsáveis por 31% das exportações australianas e hoje, este número avançou e já é superior à 50% (exatos 52%) das atuais exportações australianas. As exportações de serviços que em 2000 eram de 26% na Austrália, agora deve ficar próximo dos 20%.

Por lá se reclama que o "boom" das commodities ajudou a valorizar a moeda do país e esmagou e teria estourado o setor industrial, entre outras coisas devido à ampliação do valor da mão de obra local, maior até do que a dos países do G-7. Assim, o setor industrial hoje representa apenas 7% da economia da Austrália.

Bom lembrar que no Brasil a participação da indústria na economia nacional que já atingiu mais de 13%, hoje, é muito criticada, estando na faixa entre 11% e 12%, conforme a forma de cálculo.

Assim, se percebe a dependência que a Austrália tem do minério de ferro e do carvão. Elas parecem mais preocupantes do que a situação no Brasil, apesar da Austrália ter um população oito vezes menor que a do Brasil, chegando hoje a cerca de 25 milhões de habitantes.

Interessante relembrar que não é isso que a gente vê diariamente na mídia comercial, onde se apresenta os problemas brasileiros como sendo exclusivamente nossos, sem relação com os imbróglios da crise da economia mundial, cada vez mais concentrada e controlada pelos EUA, Japão, Alemanha, e agora a China.

O caso do acordo ou da Parceria Transpacífica (TPP), anunciado nesta segunda feira (05/10), num esforço dos EUA para enfrentar a força da economia chinesa, ampliando a relação de nações americanas com as asiáticas, envolve a Austrália. Porém, nada indica que a ação facilite e ofereça espaços para o setor industrial e de maior valor da produção australiana. Ao contrário, agronegócios e recursos minerais continuarão a ser buscados, em troca da abertura dos mercados australianos para os produtos asiáticos e americanos.

Enfim, entender um pouco melhor o cenário mundial é nossa tarefa, na medida em que a região está mais internacionalizada em função de sofrer as relações com a economia do petróleo.

9 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia, senhor Roberto.

Li seu artigo mas lamento informar que o senhor está equivocado. A Austrália reduziu muito sua dependência da exportação de commodities nos últimos 20 anos, não que ainda não tenha peso na economia local, mas que seguidos esforços dos economistas à frente dos governos (sim, lá se opta pelo planejamento e visão de longo prazo, coisa que passa longe do Brasil dos últimos 15 anos), hoje a economia da Austrália é bem distribuída entre os setores de serviços, diria que a proporção estaria em 60/40 (a conta turismo entra na parte dos serviços).

Outro ponto é que o senhor tem um certo "fascínio" em desdenhar da imprensa especializada como Financial Times, Bloomberg ou outra mídia dita "comercial". Sou formado em economia pela FGV com mestrado na "Master of Applied Economics - UCLA" (EUA), e do alto dos meus 62 anos, tendo morado em muitos países desenvolvidos dado aos meus cargos executivos em grandes empresas, posso afirmar sem sombra de dúvida que o senhor está equivocado.

Sugiro que seus estudos foquem em dois países que tive a oportunidade de conhecer "in loco":

1 - Alemanha (morei em Frankfurt onde trabalhei para uma multinacional alemã).

2 - Cingapura (fiquei por 6 meses lá).

Estes dois países em especial se baseiam em pilares como eficiência, méritocracia, valor e planejamento. Principalmente Cingapura, onde o país saiu de uma grande favela a um dos maiores PIB's do mundo num espaço de apenas 50 anos.

O Brasil só vai crescer quando abandonar dogmas ideológicos, o patrimonialismo estatal, a cultura do "pelo Estado, para o Estado e do Estado". Estas correntes do atraso é que diferem o Brasil de seus pares que possuem quase que a mesma idade de fundação.

Um abraço e sucesso.

Paulo Roberto

Roberto Moraes disse...

Caro Paulo,

É mais fácil ver sempre o dogma nos olhos dos outros, rs.

A leitura dos fatos e do mundo é feita a partir de vários lugares e bases.

Não há problema em rezar na cartilha do Financial Times e Bloomberg a questão mais emblemática é torná-la um dogma não reconhecido abandonar toda a perspectiva crítica.

Como vê, eu faço uso de múltiplas leituras.

As realidades são muito distintas, especialmente pelo tamanho da população. Só o estado de São Paulo tem quase o dobro da população de toda a Austrália. Porém, a postagem chama a atenção como está dito no primeiro parágrafo que a chamada "desindustrialização" tão decantada aqui, é uma realidade muito mais cruel e o índice de primarização da economia quase que dobrou em pouco mais de uma década.

Interessante ainda observar que tentou refutar o fato trazido pelo blog trazendo apenas tergiversações. Fato é que 52% da economia australiana depende dos recursos naturais e das commodities. É fato que os serviços têm força por lá, mas a indústria perde força e possui apenas 7% da economia. Repito 7%.

Isto independe da visão de mundo e dos dogmas vistos nas mentes apenas dos outros na defesa do estado mínimo e da "modernidade" para poucos. O Brasil tem imenso problemas, o governo outros, mas é certo que divergimos sobre o que precisa ser feito. De forma similar a Austrália, mesmo tendo oito vezes menos população, tem lá também seus problemas que evidentemente são menores, mas que sequer são citados como notas de rodapé.

Convivo bem com a divergência e as críticas, apenas rechaço as soberbas daqueles que se imaginam melhores por ter as mesmas fórmulas mágicas da exclusão e de um mundo para poucos.

Anônimo disse...

Olha, li tudo e não vi nada além da exposição de pontos de vista baseado em fatos. Ok se os números não foram com exatidão cirúrgica, mas acho que uma comparação mais realista seria entre o Brasil e EUA, por exemplo. Ambos possuem dimensões continentais e possuíam um PIB semelhante até o início dos anos 20, quando a América deu um salto após a grande depressão e no pós guerra. Mas o populismo no Brasil dominou os governos que se seguiram e havia uma longa luta entre quem apoiava o comunismo (Prestes nos anos 30) e (Jango-Brizola nos anos 60), mas isto é passado e não faz parte da discussão.

Os pobres no Brasil tiveram acesso às telecomunicações, Internet, ganho real, etc. Mas o Estado pecou em fornecer educação de qualidade, saúde decente e infraestrutura eficiente. Com as ferramentas certas e estímulo, as pessoas tendem a evoluir, assim como evoluíram na Coréia do Sul e no exemplo citado pelo comentarista acima.

A elite dominante no Brasil, vide oligarquias partidárias e suas boquinhas, empreiteiras e grandes empresários que vivem de subsídios estatais é que emperram este país, na minha opinião. Acho que seria mais válido destrinchar cada momento histórico de um determinado país que saiu de uma situação de pobreza para a de uma riqueza, cada personagem envolvido, como foi o ensino, como eram escolhidas as pessoas que estavam à frente dos processos que permitiram o avanço do país, entende? Quase que um "manual", isto ajudaria a mostrar os erros que o país vem cometendo década após década, afinal, já são 515 anos! Será que um dia o Brasil será uma economia de classe média de verdade um dia?

Hoje estou preocupada e apreensiva pelos brasileiros estarem perdendo as conquistas de se ter uma moeda estável, forte e que permitia às pessoas se planejarem e consequentemente viverem melhor. Uma lástima isso que fizeram com o Brasil.

Helena Matriciano

douglas da mata disse...

Bem, Roberto, já que você perdeu tempo, eu resumo:

Tudo que foi dito pelo hiper-mega-ultra-super-business-boy pode ser resumido na lenga-lenga:

"(...)Estes dois países em especial se baseiam em pilares como eficiência, méritocracia, valor e planejamento.(...)"

Bem, se talvez tivéssemos usado a mão-de-obra escrava (e judia) como fizeram os alemães da Hoescht, Siemens, Bosch, etc, da década de 40, quem sabe teríamos uma situação melhor?

Talvez tenha razão...Nosso ciclo de mão-de-obra escrava foi bem menos "eficiente", embora nosso Holocausto tenha sido mais longo (dura até hoje).

É piada, os caras fraudam tudo, corrompem a porra toda (Siemens-Metrô de SP ou no caso das emissões dos carros à diesel da VW nos EUA) e vem um zérruela falar em meritocracia ou "eficiência".

Estado só se for para bancar o empresário e os juros dos rentistas, saindo daí, não serve!

PQP, gastou tanta grana para quê mesmo? Mestrado em quê mesmo?

Arre, meu caro amigo, você tem uma paciência de dar inveja a monge beneditino...

Anônimo disse...

Caro comentarista Paulo:

Não é fácil nem difícil explicar o que o senhor tentou ao Roberdouglas. É inútil!

Nem adianta falar o que o senhor pensa sobre a desindustrialização em economias maduras ou qualquer outro assunto. Aqui, os que reclamam de cantilena, entoam uma mais chata ainda...

A última, mais revoltada, uma espécie de Slavoj Zizek mais triste e (muito) menos brilhante, se perde nos preconceitos e, veja o senhor, escarnece do vosso sucesso. E desdenha vossos diplomas, porque provavelmente o dele, emoldurado na parede, é uma queixa dirigida ao mundo. Um lamento por não ter gerado automaticamente o seu equivalente material dos valores espirituais do seu portador...

Ayn Rand estava certa...

Roberto Moraes disse...

Veja a perda de tempo de tentar abrir algum diálogo diante de tão díspares concepções de mundo.

Criticar o Zizek eu entendo. Daí se explica o mundo estar deste jeito. Mas vão adiante e defendem o individualismo da Rand e ainda valorizam o "se fiz por si próprio" e consideram tudo que é fora do que defendem se trata de ressentimento. O passo seguinte foi emoldurar experiências e títulos em defesa da meritocracia. Isto é soberba besta e antiquada, de quem precisa expor posições diante da falta de argumentos.

Façam o seguinte: continuem a ler Bloomberg, O Globo, Veja e façam o seu blog, ou sua página para defender o individualismo, a soberba e a meritocracia e conversem com seus iguais.

É evidente que estão incomodados com o fim da escravidão e da casa grande diante da senzala daqueles que julgam não ter méritos, tal qual os imigrantes do Oriente Médio gerados pela manutenção da hegemonia que tanto defendem.

Temos mais o que fazer.

douglas da mata disse...

Pérolas aos porcos...mais do mesmo, sempre!

Eu nem vou perder tempo discutindo sandices do tipo:

EUA e Brasil tinham PIB semelhante na década de 20, putz!

Muito menos considerar a parte que diz que o passado não faz mais "parte" da discussão, como assim?
Foi justamente a escolha em abortar projetos de inclusão social, que a Helena (deve ser um cavalo da Troia) chama de "populista", e que se desenvolviam sobre uma matriz furtadiana, que nos tornou um país de décima quinta categoria.

Não, cara Helena, somos os resultados de TODAS estas escolhas do passado, e saiba, os EUA só deram o salto porque se apoiaram nos ombros dos demais.

Não há nenhuma mágica ou incapacidade atávica dos brasileiros nesse sentido, o que há são escolhas políticas, e nesse ponto você acerta: nosso Estado é voltado para poucos, para o privilégio de poucos.

Não se dará serviços (Educação, Saúde, Segurança, etc) a população (principalmente os mais pobres que precisam mais) sem alterar a mais injusta estrutura tributária do mundo, onde os ricos se negam a pagar sua parte em tributos e despejam todo o ônus nas costas dos mais pobres.

É essa a questão: não se tem serviços sem orçamento para custeá-los.

Agora, pelamordedeus, dizer que EUA em 1920 tinha um PIB semelhante ao Brasil é de doer a vista, até porque, pelo que eu saiba, essas medições são mais recentes, e não havia este tipo de parâmetro disponível na época.

Mas uma olhadela superficial nas estruturas industriais dos EUA, na rede logística de então, na sua indústria bélica e na sua base assalariada e a participação na renda nacional já nos revela nosso estado de indigência naquela época frente aos estadunidenses.

Outro detalhe: não desconsidere que a II Guerra foi o grande "alívio" para os EUA, depois do crack de 29.

Nós fizemos a opção de "sermos pacíficos"...só matamos nossos pretos e pobres...

Anônimo disse...

Inspetor Clouseau desqualifica qualquer método de medição? Alega que "não havia metodologia na época"? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

O cara é uma piada mesmo! Deixe seu blá blá bla de botequim e coloque números e gráficos pra refutar o que foi escrito, começa por aí ao invés de tentar menosprezar os outros, óh membro da raça superior.

"Só os canalhas precisam de uma ideologia que os absolva e justifique". Nelson Rodrigues

douglas da mata disse...

Números e gráficos de quê mesmo?

Diga aí para mim qual o índice ou o organismo multilateral (coisa que só surgiu depois da década de 40) que media o "PIB" dos países em 1920?

De qualquer modo, afirmar que o PIB dos EUA e do Brasil em 1920 eram semelhantes já é um "argumento" que se (auto)desqualifica.

Só se refuta com provas o que é dito com provas, logo, a quem disse a asneira cumpre a tarefa de provar o que disse...

Esperemos.

"Só os canalhas mentalmente incapazes citam canalhas como Nelson Rodrigues". (Douglas da Mata).