O Valor trouxe ontem (25/11), P.D3, uma matéria sobre novas opções de localização operacional para empresas fora do eixo Rio-SP. O estudo foi realizado pela consultoria internacional Towers Watson, que analisou 26 capitais e do Distrito Federal e disse que a intenção seria de orientar clientes interessados em iniciar ou ampliar operação no Brasil.
Estudos similares usam quase sempre os mesmos indicadores: disponibilidade de trabalhadores qualificados, custo de vida, despesas e custos operacionais com imóveis e remuneração dos trabalhadores. Além destes também outros relativos à infraestrutura e sociais: acessibilidade, condição das estradas, quantidade de voos disponíveis, ambiente macroeconômico, qualidade de vida e segurança e saúde da população.
Interessante observar que a consultoria identificou que as capitais da região Nordeste são bem mais atrativas especialmente por custo de vida, imobiliário e de mão de obra que outras regiões. Oito das dez capitais mais bem colocadas são do Nordeste. Baseado nestes indicadores foi elaborado um infográfico de doze capitais. A primeira colocação ficou com Fortaleza.
A consultoria ao invés do ranking sugere que as empresas analisem o perfil do empreendimento para identificar as vantagens que cada cidade oferece às empresas.
Além dos dados e comentário que a matéria trouxe, eu não posso deixar de comentar outras questões que vão para além dos indicadores citados como vantagens pela consultoria.
Primeiro deve ser observado que o estudo se refere mais às bases operacionais do que sede e matriz das empresas, quase sempre fincada verticalmente nas capitais, onde concentra o poder econômico e político. A própria consultoria e o título da matéria diz sobre "instalar operação fora do Rio e SP ajuda a reduzir custos".
Outra observação é sobre a relação dos empreendedores com o poder político local, quando normalmente são apresentadas várias opções e a partir daí se incia uma espécie de leilão para ver quais governadores e prefeitos oferecem mais vantagens para receber os investimentos.
O geógrafo Milton Santos conceituou este processo como "gerra de lugares". O resultado deste jogo, muitas vezes abandona critérios e a rigidez técnica, na busca por alternativas que já estariam tomadas sem a necessidade deste jogo, que muitas vezes subtrai do município e estado rendas tributárias, pro generosas isenções, para entregar ao empresário que assim amplia o seu lucro.
Bom recordar que a análise feita para as capitais podem (e já foram alguma vezes feitas) para municípios do interior, onde os indicadores a serem observados são quase que os mesmos. O mesmo vale para os acordos entre os poderes econômicos e políticos para as autorizações e licenciamentos.
Por último, é interessante observar duas , para quem enxerga apenas o Brasil do Sudeste e do Sul e considera suas demais regiões como apêndices, como a dinâmica econômico-espacial foi se modificando no país na última década.
A partir da inclusão social, da ampliação de equipamentos públicos de educação, saúde e infraestrutura e logística, mesmo que em meio a demandas maiores, permitiu o país avançar em mudanças insuficientes, mas numa direção correta para reduzir antigas desigualdades sociais.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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