Eu tenho comentado aqui no blog a necessidade de conhecer a forma a economia global para compreendermos os desdobramentos das relações que ela desdobra com o poder e a política no Brasil.
Na campo das exportações, o Brasil tem três principais linhas: agronegócio, recursos minerais sólido e líquido (petróleo). Há exportações de outras mercadorias, mas as commodities são o foco, faz tempo.
Na área do agronegócio, a soja, o milho e agora a retomada e ampliação da carne são destaques.
Neste campo dos alimentos a presença das traders estrangeiras é amplamente majoritária. Elas atuam desde o financiamento de produtores, oferta de insumos e agrotóxicos, áreas para armazenagem, logística de transporte e mercado futuro é extremamente significativo e asfixiante.
É fácil identificar que as mesmas agem articuladas com o capital financeiro através de fundos que financiam as atividades listadas acima, cobram resultados e empurram as sedes das traders para paraísos fiscais, onde o pagamento de impostos é mínimo.
Já não se tratam de multinacionais ou empresas transnacionais. Elas são corporações globais que olham o mundo sem as fronteiras e identificam as regiões apenas como partes de suas cadeias globais de valor.
Na visão do mundo por regiões, o fato do Brasil possuir grande território, vastos recursos hídricos e insolação adequada para alta produtividade, nos tornaram partes iniciais deste processo de formação de valor na área de alimentos.
Porém, mais importante que tudo isto é que estas traders cada vez mais controlam fluxos e preços pelo mundo e limitam as possibilidades de beneficiamento do produto agrícola, em farelo, óleo ou algo mais rentável que acaba sendo feito junto ao consumidor final nos grandes mercados de alimentos.
Assim, hoje, mais que o governo, as grandes traders do setor controlam estes fluxos do agronegócio (soja, milho e carne). No Brasil elas investem cada vez mais nas instalações logísticas (especialmente portuárias) como garantia de redução de custos e ampliação dos lucros.
A lista desta traders que atuam no setor de agronegócio e alimentos no Brasil é puxada pela: Cargil, ADM, Bungue e Louis Dreiffus.
A americana Cargil é a maior do mundo afirma ter sede em Mineápolis, EUA, embora atue de forma cada vez mais espalhada em 68 países, embora com controle altamente centralizado.
Trata-se de uma empresa de capital fechado e de controle familiar (embora isto seja questionado pela financiamento dos fundos) com 150 anos de instalação no mundo e 50 anos de Brasil. No país, informa estar em 1991 municípios de 17 estados e tem escritório central em São Paulo, 19 fábricas, 182 armazéns e 5 terminais portuários.
Para ampliar capacidade de gestão a Cargil está centralizando sua gestão principal em 10 executivos para constituir o que estão chamando de equipe de direção estratégica geral.
A estratégia é integrar a equipe de forma a ampliar ganhos cuidando de forma complementar os desempenhos globais dos setores comerciais. Até então eles eram repartidos em 5 divisões que bem explicam sua atuação do campo ao consumo: cadeia de suprimentos, nutrição animal, proteína animal, ingredientes alimentícios e energia, transporte e metais.
Por fim, interessante observar como estas corporações acabam também influindo na ocupação espacial do país, conforme seus interesses e negócios.
Assim, estas trades já avançam a produção mais para o Norte, por conta da saída logística via os portos do Maranhão e Pará, que aos poucos tendem a reduzir a dependência dos portos de Paranaguá no Paraná e Santos em São Paulo.
Compreender este processo é fundamental para relacioná-los a outros fenômenos que são consequência deste, especialmente, no campo do poder e da política decidindo sobre a economia locais e regionais.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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