É um tema abrangente, multiescalar e por decorrência uma entrevista relativamente longa. Abaixo está a apresentação da mesma, mas o seu teor na íntegra pode ser lido aqui.
Infraestrutura logística portuária: O Estado cooptado pelo setor privado e a população à mercê do capital. Entrevista especial com Roberto Moraes Pessanha
“As regiões e os territórios usados pelas corporações decidem o que, quando e como fazem, sem que as pessoas e comunidades tenham capacidade de influir neste processo”, aponta o pesquisador.
Os esforços do Brasil para expandir a economia e se inserir no mercado internacional necessariamente passam pela ampliação de infraestrutura de transporte de mercadorias. No caso brasileiro, essa condição se intensifica pelo perfil das atividades econômicas do país, que tem na exportação de matérias-primas uma de suas principais bases. Conforme acentua o engenheiro elétrico, professor e pesquisador Roberto Moraes Pessanha, esse modelo de expansão econômica se configura como uma opção dentro do capitalismo contemporâneo, uma vez que, tanto para o Brasil quanto para outros países da América Latina que sofrem com a opressão das corporações globais, “fugir da primarização é uma tarefa difícil e parece apenas uma isca que complementa a teoria de que, para existir o centro, seria sempre necessário ter a periferia supridora de matérias-primas dependente e subordinada”.
Imagem: opensat.com.br |
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line,Pessanha aborda as principais dimensões que envolvem a ampliação e funcionamento da infraestrutura logística brasileira para a circulação de mercadorias, principalmente o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, que começou a operar em 2014, gerando uma série de impactos socioeconômicos e ambientais na região. O pesquisador alerta para a importância econômica e política do setor de logística, o qual é fundamental para fazer circular grandes somas. “A indústria do transporte produz valor, por se tratar de uma esfera da produção material que vende a mudança da localização como seu produto. Assim, a circulação do capital seria assegurada por um pujante e eficiente sistema de transporte que, espacialmente integrado e hierarquizado, em diferentes escalas é puxado pelas corporações globais, naquilo que acabou nomeado como um processo de desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. É nesta lógica que devemos nos esforçar para compreender onde o Brasil entra neste processo”, frisa.
Sobre a situação do país nesse contexto, chama a atenção para as relações institucionais entre o Estado e o setor privado na normatização da implantação e gestão da logística, principalmente no que tange à concessão de licenças e regulação fiscal. “Nessa interação o Estado é cooptado e o capitalismo liberado para suas ações, embora ainda se sustente o discurso de que através do planejamento se possa reduzir os riscos dos movimentos especulativos no tempo e no espaço, onde o capital fixo se instala. Neste sentido, o caso da tragédia produzida pela mineradora Samarco, no município de Mariana, Minas Gerais, é um exemplo real, concreto e lamentável do que estamos comentando conceitualmente”, analisa.
Clique aqui e leia a entrevista na íntegra no portal IHU On-Line.
4 comentários:
Ê, caro amigo, produzindo material de grátis para as consultorias dos especuladores, hein? rsrsrs....
Fora a brincadeira, parabéns pelo reconhecimento a sua pesquisa.
Rs, pois é. E ainda reclamam rs, kk.
Me sinto como quem cumpre uma obrigação ao dividir informações e análises.
Obrigado e sigamos em frente!
Abs
Prezado Roberto Moraes parabéns pela matéria tão ampla sobre a logística de portos e mineração. O capitalismo é autofágico e minério de ferro esteve por 150 anos entre 14 a US$ 18 a tonelada. Quando do achado de Carajás pelas US Steel, em 1967, que requereu 160 mil hectares em seu nome e de 31 testas de ferro, os militares deram um golpe nos gringos tomando 51% para a CVRD que só opera com ferro em Itabira-MG, que no final comprou o restante do Projeto Carajás quando o minério valia 7 dólares e na privatização da VALE US$ 20/t. De lá para cá o mercado mudou as siderúrgicas verticalizadas com mina cativas abriram o mercado, entrou o pellet e a China fez o preço do mercado subir até US$ 210/t. Com isso no mundo todo minas marginais com até 14-18% de ferro virou minério mudando o conceito de valor de minério para quanto gasta de energia para fazer o que a natureza fez de graça nas jazidas de concentração supergênica a partir de protominério de ferro com 28-42% de ferro o itabirito. Primeiro o itabirito friável e agora o duro. A lei elementar da oferta e da procura é a base do capitalismo, mas que o dito sistema de produção privado ou estado. Então, o preço fez a oferta aumentar tanto que com a retração do mercado da China, as minas de custo maior estão sendo fechadas. Os grandes liderados pela VALE, Rio Tinto e BHP Billinton, a nossa ex-estatal principalmente, se endividou para dobrar a produção e receber a metade do que faturava. A VALE pode aguentar mas vai sangrar mais que as águas vermelhas do RIO Doce até que a oferta seja equilibrada e o grande capital lucre com a simples apropriação da acumulação primitiva de capital gerado pela natureza. Carajás tem o minério mais rico do mundo, com 65-68% de ferro (quase hematita pura Fe² O³ = 70% de Fe e 30% de O) e no Quadrilátero Ferrífero a VALE, no terceira ou quarta ciclo da mineração de ferro, aproveita com eficiência o itabirito duro com 42%. O minério de baixo teor gera maior quantidade de rejeito na usina de tratamento de minério que nos sistema úmido exige cada vez mais e maiores barragens de rejeito. Numa conta simples a Barragem do Fundão jogou 55 Mts de rejeito com sílica, argila, ferro e outros minerais da canga e o amido e amida usado na flotação - não deve ter jogado outros metais pesados no Rio Doce, principalmente o mercúrio dos garimpos de ouro. Veja a equação como é simples: 30 Mtsa de pelletes em UBU significa a lavra de 60 Mtsa ano de itabirito e geração de metade de concentrado de ferro com 66-68% de ferro e metade de rejeito que vai parar na barragem, suficiente para ter enchido a barragem do Fundão em dois ano, não dando tempo para o alteamento da barragem, cujo rompimento trágico fez chegar a lama no mar e abrir os olhos do mundo para o problema da mineração. Pois não podemos usurpar na natureza sem cuidar de mínimas garantias da qualidade de vida das gerações futuras. Temos de mudar a maneira de tratar os recursos humanos e naturais. O tema é desafiador e o espaço, assim como o tempo, é curto. Um abraço, geólogo Everaldo Gonçalves.
Caro Everaldo,
Agradeço sua referência e detalhamento sobre as questões que envolvem a questão mineral, especialmente, do ferro, desde as descobertas das minas, sua valorização, aqui e no mundo, até a mudança de mãos (entre público e privado) e ainda sobre a relação direta entre volumes extraídos e rejeitos produzidos.
Assim, demonstra neste tema que a discussão minerária que se linka com a questão de IE portuária pelas exportações merece um debate e mudanças mais profundas não apenas no Brasil, mas no mundo.
Você conhece bem o setor, em que apenas observo sob os pontos de vistas, que de forma resumida, tratei nesta entrevista, como tenho tentado fazer aqui no blog.
Esta interlocução ajuda não apenas nas críticas, mas também nas reflexões, que podem servir de base para a construção de alternativas.
Abs.
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