Infelizmente, a energia gasta em resistir ao golpismo acaba por deixar o debate e o planejamento de governo em outra esfera. Há muito o que ser discutido, planejado, realizado e avaliado. Um destes pontos interessantes é o que o Marcelo propôs em seu perfil no FB e que reproduzo abaixo com os comentários que fiz sobre eles:
"A mais recente Pesquisa de Orçamento Familiar, realizada pelo IBGE, mostra que mais de 75% da renda das famílias brasileiras dirigem-se apenas a esses três itens – alimentação, habitação e transportes.
O Estado precisará definir um conjunto de políticas destinadas a baratear significativamente os custos da alimentação, da habitação e dos transportes.
Essas são as questões centrais de políticas públicas do ponto de vista do povão."
Meus comentários:
Políticas específicas para estes setores, especialmente para a baixa renda, são possíveis de serem desenhadas. Porém, não se pode deixar de registrar que no meio disto está a questão urbana. O "fazer cidade".
A expulsão dos trabalhadores para a periferia aumenta a demanda e os custos com o transportes, sem baratear a moradia na mesma proporção. Aí se identificam falhas no importante programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) ao deixar para as grandes construtoras, a definição e escolha dos terrenos onde os prédios foram construídos. Aí, evidentemente, a escolha foram para áreas mais baratas, que, invariavelmente ficam mais distantes e demandam transportes mais caros.
Interessante observar que assim, mais adiante, o próprio setor produtivo perde, com o que chamamos de "deseconomias urbanas", onde o trabalhador gasta diariamente até mais que 4 horas, em transportes ineficientes e caros para se deslocar.
Por outro lado, vale ainda observar que se imaginou que a construção de grande quantidade de moradias pelo MCMV pudesse também reduzir, mesmo que percentualmente, os custos da moradia nas cidades e não apenas as metropolitanas, mas também das cidades médias.
Porém, o efeito que ocorreu foi o contrário, a ida destas construtoras também para as cidades médias e a procura por áreas para implantação de moradias gerou, junto às imobiliárias, um processo de especulação que aumentou o valor dos imóveis e, consequentemente, também dos aluguéis.
Ainda, mesmo que estranho, há diálogo entre produção de alimentos e cidades. A chamada agricultura urbana é destaque em várias regiões da Europa, uma delas é Barcelona.
No Rio de Janeiro, pressionada pelo processo citado acima, a zona oeste que já foi grande produtora (ainda é, mas menos, inclusive com grupos de chineses) nas adjacências de Bangu e Campo Grande poderiam suprir com menores custos as demandas de alimentos, especialmente, os não processados e industrializados, se somando àqueles que são produzidos nas regiões do interior do ERJ e comercializados via Ceasa de Irajá.
A grande questão é que estes três setores "alimentação, moradia e transporte" (incluindo IE, ao qual está ligado a mobilidade e os transportes) não geram soluções em curto prazo. Elas demandam ciclos mais longos. Assim, com mandatos dos gestores eleitos em ciclos diversos e mais curtos, deixam de lado em busca de resultados mais rápidos, ao custo de gordas verbas de publicidade para receber o reconhecimento dos eleitores.
É do jogo, a não ser que algumas regras sejam alteradas.
Neste ponto há outra questão a ser abordada, a gestão ou governança metropolitana praticamente inexistente, onde os municípios trabalham cada um para sim, sem a estruturação de consórcios e políticas colaborativas e suplementares. Um antigo problema em nosso federalismo que a CF de 88, ao atender à demanda do municipalismo acabou por não enfrentar
Enfim, se o debate sair do golpismo e voltar para o campo da Política Pública, há muito quue ser discutido, planejado, realizado e avaliado. Enquanto isso, consumimos tempo e energia no debate da disputa de poder no 3º Turno Eleitoral. Sigamos em frente!
Um comentário:
A base desse debate, caro Roberto, está na questão tributária!
O componente principal que onera os mais pobres é a absurda carga de tributos que pagam pelos serviços e alimentos.
E o pior, para sustentar as isenções e favores fiscais destinados a desonerar os ganhos de capital e a renda da elite, que proporcionalmente paga muitíssimo menos que os mais pobres, embora tenham muito mais capacidade contributiva.
Não adianta reivindicar programas que empenhem mais das escassas verbas orçamentais para subsidiar passagens, ou tarifas...
Quem tem que pagar a conta do Estado e de seu funcionamento são os mais ricos. A cada um na sua medida.
Não dá para exilar os pobres em periferias insalubres e inseguras enquanto os mais ricos gozam dos privilégios das áreas mais nobres, dotadas dos melhores serviços públicos.
É essa a questão. O resto é mera consequência.
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