O italiano Domenico de Masi traz em seu último livro "O futuro chegou", um ensaio com uma extensa pesquisa qualitativa, uma leitura sobre o cenário e as perspectivas do Brasil e do brasileiro para o ano de 2025.
De Masi lembra uma questão interessante, a de que será neste ano de 2025, que estará saindo das universidades a primeira geração de brasileiros, sob as condições de bem-estar social, como o Programa Bolsa Família, os programas de incentivo ao ensino superior, as quotas, etc.
Aliás sobre as quotas, ele que é considerado por muitos como otimista em excesso, diz que ela ajudará a "mudar a cor da cara da elite brasileira".
Li apenas partes intercaladas do livro. Ele pareceu interessante porque baseia a sua interpretação e a sua hipótese, em diversas entrevistas feitas a partir de questões-chave, sobre a interpretação da sociedade brasileira, que ele qualifica como um dos modelos entre as civilizações humanas, desde a Grécia.
Ele usa como base para entender este "modelo de sociedade" autores clássicos como Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque e Gilberto Freyre.
Evidente que o livro que saiu no final do primeiro semestre 2014, ainda não vislumbrava as dificuldades conjunturais da economia. Isto pode dar um freio a alguma de suas euforias, mas o ensaio é mais amplo ao tentar interpretar o "tipo brasileiro" que prefiro chamar a "modelo", que a tradução utilizou no livro.
Domenico Demasi não deixa de tratar das desigualdades e da corrupção. Diante dos embates e dos ódios dos dias atuais, Demasi que pesquisou e escreveu antes destes episódios, valoriza o que poderia ser chamado da índole de paz do brasileiro e o que qualifica como uma "disposição para modificar a história, para desafogar a tensão e a raiva, para contestar o poder não por meio da luta armada, mas sim dos movimentos de massa".
Para verificar como ele valoriza os brasileiros, ou o "tipo brasileiro" veja alguns dos 15 "modelos de sociedade que elencou como os mais representativos para extrair os conteúdos que ainda podem ser valorizados na luta perene contra a fome, a dor, a ignorância e os abusos".
Alguns destes que chama de "modelos" desde a Grécia, Roma, Renascimento e Iluminismo, ele elenca outros "modelos que ainda persistem com renovada vitalidade: o modelo católico - forte na Idade Média -, o protestante, o liberal triunfante nos estados-nações do século XIX, o industrial, que durante dois séculos forjou a vida de muitos países nos dois lados do Atlântico". E lembra ainda de outros "modelos" - indiano, chinês, japonês, hebraico, muçulmano... e um modelo em estado nascente que poderia ser chamado de protomodelo, o "pós-industrial" e que atinge todo o mundo globalizado".
Uma abordagem interessante. Tirando o ufanismo pueril de uns e o pessimismo-colonizado de outros, a leitura da hipótese, mesmo em meio às desconfianças e críticas, que é como devemos ler as interpretações dos fenômenos e mais ainda, a estimativa de cenários, avalio que conhecer mais esta perspectiva parece que pode valer à pena.
Esta interpretação sobre o povo brasileiro é cada vez mais complexa, quando se tenta observar um pouco para além do olhar de classes sociais, numa perspectiva sociológica, antropológica e política. Desta forma, me parece que o nosso povo merece que se aprofunde a leitura do "tipo brasileiro", não apenas relendo os clássicos mas estas outras interpretações.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário