Campos. Fonte: PMCG |
Campos tem uma receita de royalties e participações
especiais (PE) maior que Macaé desde 1998/1999. Em 2015, Campos ficou com um
receita total de royalties + PE de R$ 618,4 milhões, enquanto Macaé ficou com
R$ 343,4 milhões. Assim Campos teve receita cerca de 80% maior que Macaé. Em
2014, estes valores foram de R$ 1,208 bilhão para Campos e R$ 542 milhões para Macaé.
População e orçamento
per capita e sua relação com as transferências
Além disso, Campos dos Goytacazes possui maior população com
483.970 habitantes em 2015, segundo projeções do IBGE. Já Macaé tinha, no ano
passado uma população de 234.628 habitantes, portanto, um pouco menos que a
metade de Campos. Assim, o orçamento per capita de Macaé passou para R$ 8.890,
enquanto em Campos é de R$ 3.615, ou seja, menos da metade.
Uma maior população significa o recebimento de uma
transferência maior de recursos, no setor da educação (FNDE e Fundeb) e saúde (SUS).
O peso da receita de
ISS e do repasse do ICMS
Porém, a grande diferença na economia dos municípios é a
receita de ISS (Imposto sobre serviços) e o repasse de ICMS. No Imposto sobre serviços (ISS) Macaé chega ter uma receita seis vezes
maior que Campos.
Em 2014, Macaé arrecadou com ISS a quantia de R$ 611
milhões, enquanto Campos recebeu R$ 105,8 milhões. Em 2015, até outubro (último
relatório) Macaé tinha arrecadado R$ 593,4 milhões contra R$ 73,9 milhões.
Outra importante receita em que Macaé ultra ultrapassa
Campos e assim, supera a diferença a menor com os royalties + PE é com o
repasse do ICMS que de forma indireta significa a presença de empresas no
município e das informações anuais via Declan ao governo estadual. Em 2014, Macaé recebeu de repasse da quota de ICMS a quantia de R$ 517,8 milhões, Enquanto campos dos Goytacazes ficou com R$ 365 milhões, uma diferença de R$ 152 milhões.
É preciso compreender
a diferença entre Economia do Petróleo e Economia dos Royalties e o seu
rebatimento espacial
Como se vê, a grande diferença se atribui ao conceito que
passei a usar, não apenas em notas no blog, mas em artigos científicos que é a
diferença entre o que passei a chamar Economia do Petróleo & Economia dos Royalties.
Neste quesito, Macaé vive das duas economias, mas a sua vida
econômica depende mais da cadeia do petróleo e das empresas, com os tributos que
geram, do que com as receitas dos royalties, como os municípios dependentes, a
que se passou a chamar de petrorrentista. A Economia do Petróleo tem imensa capacidade de arrasto sobre outras atividades, enquanto a Economia dos Royalties é rentista.
Terminal de Imbetiba Petrobras. Fonte: Blog Roberto Moraes |
Interessante observar que mesmo com a redução das atividades
econômica em Macaé em 2015, por conta da crise do preço do barril de petróleo - e mesmo com os
desdobramentos da operação Lava Jato na Petrobras e as consequências para toda
a cadeia do petróleo - a receita com ISS de Macaé, em 2015, foi maior que a de
2014. Enquanto isso, a redução dos royalties atingiu igualmente os dois
municípios e fortemente Campos dos Goytacazes.
Observando o movimento espacial deste processo é possível prognosticar que adiante, o município de São João da Barra, com o
Porto do Açu, tenderá a absorver parte destas empresa ligadas à cadeia de
petróleo offshore.
Desta forma, SJB ampliará paulatinamente a sua receita, tanto
de ISS, quanto de transferência de ICMS, pela presença destas empresas do segmento de petróleo em seu
território. Como a maior parte delas é de serviços, elas geram um imposto municipal. Como o valor deste serviços geralmente é alto, os impostos tendem a crescer na mesma proporção.
Esta é a mudança espacial que chamei no artigo que publiquei na
revista “Espaço e Economia” como o movimento do "Circuito Espacial do Petróleo e
dos Royalties". (Se desejar leia aqui)
O estudo comparativo
serve apenas como referência, porque todo município precisa se planejar para
enfrentar as dificuldades e ser melhor no futuro que o presente e o passado
A comparação entre os municípios serve apenas como
referência para melhor se compreender a dinâmica econômica, produtiva e social,
mas não se deve ir além disso.
A melhor comparação a ser feita, em termos de
análises de políticas públicas é de um município com ele mesmo, ao longo do
tempo e de uma série histórica. Ainda assim, há muito mais a ser observado e
estudado.
É importante ressaltar que este fato se deu no ano de 2015
e, certamente, se repetirá em 2016. Em 2014, Campos teve o último orçamento
maior que Macaé com receita de R$ 2,723 bilhões contra R$ 2,211 bilhões de
Macaé.
Como se pode identificar, desta forma, a queda da receita
total de Campos foi bem maior do que a de Macaé (Campos perdeu cerca de R$ 950
milhões – sendo R$ 590 a menos de royalties + PE - e Macaé perdeu R$ 125
milhões – sendo R$ 200 milhões a menos de royalties + PE, tendo assim, R$ 75
milhões compensado em outras receitas). Isto se explica pela maior dependência
que o orçamento de Campos tem dos royalties do petróleo.
Interessante ainda observar que mesmo Campos tendo bem menos domicílios que Macaé, a receita de IPTU desta última foi maior do que a de Campos.
A mudança de
paradigma e as conclusões para pensar o futuro
Essa mudança de paradigma, com Macaé passando a Campos no
orçamento total em 2015, de certa forma, repete o que em 2000/2001 pelo
NEED/IFF (Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento) identificamos,
quando Macaé também ultrapassou Campos, no número absoluto de empregos,
decorrente da ampliação da base operacional da cadeia produtiva do petróleo e
do gás.
Desta forma, agora, no ERJ, depois da capital o
maior orçamento é o de Duque de Caxias, que em 2015 alcançou R$ 2,439 bilhões. A seguir vem Macaé que teve orçamento projetado em 2015, de R$ 2,228 bilhões e pela projeção
deve ter arrecadado R$ 2,086 bilhões. Campos, agora passa a ficar na quinta
posição. Pela ordem: Rio, Duque de Caxias, Niterói, Macaé e Campos dos Goytacazes.
Assim, o debate mais importante continua sendo sobre a
qualidade do uso dos recursos públicos, assim como, a necessidade de uma
política regional que possa planejar políticas colaborativas entre os
municípios, assim como ampliar o debate para a participação da população na
escolha desta prioridades.
O desejo de diversificação da economia já é hoje, um
consenso, porém da intenção à prática e à realidade há um caminho complexo e
difícil que é além de necessário, urgente. A postagem como as demais tem o intuito de contribuir com a qualificação do debate sobre as políticas públicas nos municípios da região.
Adiante pretendemos ampliar a análise para outros municípios da região, a exemplo do que fizemos em 2004, quando foi editado o livro Economia e Desenvolvimento no Norte Fluminense: da cana de açúcar aos royalties do petróleo, que possui um capítulo sobre a radiografia do orçamento do Norte Fluminense.
2 comentários:
Olha macae dando ceta para ultrapassar caxias em 2017 e tomar a liderança (fora a capital) niteroi ja ficou pata tras
Meu caro Rafael,
Esta competição entre as cidades não faz sentido.
A minha postagem teve como finalidade não para uma disputa entre Campos e Macaé, mas para chamar a atenção sobre as particularidades de ambas diante da economia do petróleo.
Em especial, neste momento de crise nos preços do petróleo com consequência sobre os municípios petrorrentistas, destacar o fato de Macaé ultrapassar Campos pela primeira vez, na história, em termos orçamentários.
Além disso, a postagem que vem junto de outras que o blog fez questionando as discussões sobre a disputa de Macaé com SJB, por conta do uso do Porto do Açu, para ser também base operacional de apoio às explorações de petróleo offshore.
Assim, eu destaco que o município de Macaé ainda muito ligado à economia do petróleo, tende a passar a ter um papel diferente, nisto que eu chamo de Circuito Espacial do Petróleo no ERJ.
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