Eu tenho insistido que os interesses sobre as reservas do petróleo no Brasil tem um peso importante nos imbróglios políticos da atual conjuntura.
É verdade que os preços melhoraram, mas estacionaram na faixa dos US$ 40, o barril. Porém, tenho dito que estamos em fase de trocas de ciclos, sem que se possa querer entender que os preços possam num intervalo até 2020, voltar ao patamar de entre 2010 e 2014, único na história, em que oscilou sempre acima de US$ 100, o barril.
Só um grave conflito regional poderia devolver, em curto espaço de tempo, o patamar de preço anterior, através da interrupção da produção, numa ou mais nações com grandes reservas. Assim, se pode dizer que o limiar no novo ciclo do petróleo (em 2018) deverá trazer apenas, um certo equilíbrio.
Porém, enquanto isto, mesmo com significativas reduções nas atividades exploratórias, como em todo o mundo, as petrolíferas que aqui atuam seguem se movimentando, ao contrário do que se fala, quase diariamente, na mídia comercial.
Um exemplo desta movimentação é da petroleira estatal, norueguesa, Statoil. Ela informou que vai começar nos próximos meses, as aquisições de bens e serviços, para a segunda fase de produção do campo de Peregrino, que tem início previsto para 2020, localizado na Bacia de Campos.
Revisões dos custos do projeto teriam gerado uma redução de 35% para a fase II do projeto de Peregrino, onde está prevista uma terceira plataforma. A estimativa é a de agregar mais 250 milhões de barris em reservas recuperáveis, no campo que opera (com 60%) em consórcio com a petroleira chinesa Sinochem (com 40%).
A Statoil prevê que com esta redução de custos o preço de equilíbrio (break even) do projeto caia de US$ 70, o barril, para menos de US$ 45 por barril. Como se vê, a fase de baixa do preço do barril de petróleo gera aumento de produtividade, pela redução de custos e contratos impostas pela petroleiras contratantes.
Um outro exemplo de investimentos e de preparação de petroleiras no Brasil, para além do que faz a Shell, após comprar a britânica BG, é o caso da empresa Eneva (ex-MPX do Eike Batista) do setor de geração de energia elétrica.
Com o baque das empresas X, a MPX foi adquirida, mudou de nome para Eneva e passou a ser controlada por fundos de investimentos em consórcio que envolve a alemã E.ON.
Pois bem, nesta segunda-feira, a Eneva comunicou ao mercado, o fechamento de um acordo amplo que envolve sócios da Paranaíba Gás Natural (PGN), a OGX (atual OGPar, petroleira do Eike) e o fundo de investimentos Cambuhy, que tem entre seus sócios a família Moreira Sales. Com o acordo a Eneva amplia sua leque de atuação, exclusivo de energia elétrica, para se transformar também, numa empresa de exploração de petróleo e gás, que teria ainda, um aumento de capital de R$ 1,15 bilhão.
Em pleno período de violento debate político e disputa pelo poder no país, além da fase de crise com os baixos preços do barril de petróleo em todo o mundo, acordos bilionários e decisões relativas à exploração e produção no setor seguem sendo realizados. Isto quer dizer algo.
Assim também deve ser observado como a crise política abre espeço, por exemplo para o interesse do "impoluto" deputado Eduardo Cunha, ainda presidente da Câmara Federal, em acelerar a tramitação do projeto que pretende acabar com o regime de partilha na exploração de petróleo no país, retornando ao regime de concessão, inadequado para as nações que possuem áreas e campos com altíssimo potencial de reservas de petróleo, como é o caso do nosso pré-sal.
Há diversos outros exemplos sobre esta movimentação que podem nos fazer compreender que há algo no ar (ou no mar), além dos aviões de carreira (ou dos navios militares).
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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