São 3 as principais fontes de gás usadas atualmente no Brasil:
1) O gás produzido em nossos campos, especialmente nas plataformas do pré-sal e pós-sal no ambiente offshore;
2) O gás importado da Bolívia, cujo contrato vence em 2019;
3) O gás importado sobre a forma líquida (GNL) adquirido basicamente da Nigéria, EUA, Catar e Trinidad e Tobago. No início de 2016, o Brasil ainda importa cerca de metade do gás que consome.
Produção nacional de GN e seus usos
Segundo a ANP, em fevereiro de 2106, a produção média interna de gás foi de 97,7 milhões de m³ por dia volume 0,5% maior que janeiro e 2,5% maior que fevereiro de 2015. Porém, inferior ao pico de produção em dezembro de 2015, quando atingiu 100,4 milhões de m³/dia.
Segundo estudos e estimativas de consultorias, a produção média de gás, poderia chegar a 160 milhões de m³ por dia em 2024. Em fevereiro a produção de gás, na Bacia de Santos já superou a de Campos com cerca de 40% x 26% da produção nacional. Na divisão por estado, na produção nacional de gás, o ERJ possui 44% e em segundo lugar, empatados: São Paulo e Amazonas com 15% cada um.
Porém, se no ciclo do petróleo as oscilações são grandes, na área de gás elas ainda maiores. A instalação de gasodutos e de unidade de liquefação são caras e o valor investido, pode não compensar, se os maiores produtores que já possuem estas bases instaladas tiverem condições de comercializar o gás a preços baixos, como ocorre atualmente.
Este é o fato que determina e segura os investimentos nesta área. Hoje, o Brasil, através da Petrobras possui 3 unidades de regaseificação (transformação do gás líquido - GNL - novamente em estado gasoso): Pecém, CE; Baía de Guanabara, RJ e Salvador, BA. Sempre junto a terminais portuários, para receber o GNL dos navios.
Navio regaseificador de GNL, Experience. Construído na Coréia do Sul tem capacidade para armazenar um volume de 104 milhões de m³ de GN. Usado pela Petrobras no Rio. |
A oscilação dos preços favorece a comercialização do gás no mercado "spot", em detrimento dos investimentos e contratos de longo prazos. No mundo, há hoje apenas 12 países produtores.
A comercialização do gás pelo mundo, demanda a construção de uma unidade de liquefação que possui altos custos de implantação e que se localizam, quase sempre próximo aos portos para serem mais facilmente comercializados em navios especializados.
Quem estuda o assunto avalia que o Brasil deveria investir numa desta unidades, em modelo offshore, considerando o potencial de gás encontrado nas reservas do pré-sal. O gás em relação ao óleo tem a vantagem de ser bem menos poluente e de ajudar a limpar a matriz energética.
Hoje, entre 65% e 75% do gás captado nos grandes campos de Lula e Sapinhoá estão sendo reinjetados nos poços devidos à queda de demanda do produto. Há quem também avalie que além de perder este potencial, as reinjeções possam adiante afetar a extração de óleo nestes mesmos poços e campos.
Distribuição de gás e gasodutos no Brasil
Por conta deste potencial, no final de 2015, a Cosan e a Shell (controladoras da
distribuidora Comgás) anunciaram a intenção de construir um gasoduto ligando o
pré-sal da Bacia de Santos até a capital paulista, mas o projeto depende das revisões do plano de investimentos da Petrobras.
Assim, o projeto seria planejando para daqui a seis ou sete anos. A Cosan e a Shell querem encontrar empreendedores para também viabilizar um terminal de regaseificação de GNL na Baixa Santista, para abastecer novas termelétricas a serem construídas.
Assim, o projeto seria planejando para daqui a seis ou sete anos. A Cosan e a Shell querem encontrar empreendedores para também viabilizar um terminal de regaseificação de GNL na Baixa Santista, para abastecer novas termelétricas a serem construídas.
Isso serve para explicar porque tanto interesse que a Shell tem no Brasil e que justificou a compra da petrolífera britânica BG, por US$ 50 bilhões, no ano passado.
A nota ao lado, publicada no Valor, em 06/04/16, confirma o redirecionamento cada vez maior da Shell para projetos de gás (GNL) em todo o mundo, com direcionamento de prioridades para seus projetos no Brasil, agora já fundida à BG, abrindo mão de outros ativos no Mar Ártico e no Alasca (EUA).
Mapa das fontes de GN e gasodutos existentes e projetados no Brasil. ANP |
O Brasil elaborou em 2014, através do Ministério das Minas e Energia (MME), o PEMAT (Plano Decenal de Expansão da Malha de Transporte Dutoviário) com o objetivo de mapear as oportunidades para instalação entre novas rotas de transporte de gás e óleo.
Porém, há uma contenda que envolve a ANP, TCU e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) sobre a regulamentação da Lei do Gás (Nº 11.909/2009) e sobre a implantação do regime de concessão e leilões para a construção de gasodutos, que possuem custos caros de instalação, mas são indispensáveis para ampliar o seu uso, evitando a queima ou reinjeção na produção nos campos offshore, especialmente, dos poços e campos da reserva do Pré-sal.
O gás natural, seu transporte e a geopolítica
Até pouco tempo, o uso do gás em todo o mundo se dava a partir do transporte em pipelines (dutos ou gasodutos) entre o local de extração (produção) e o de consumo, junto aos parques industriais, unidades de geração de energia e aos aglomerados urbanos onde era distribuído.
Desta forma, a ligação entre o local entre a extração deste recurso natural e o seu consumo se dava exclusivamente dentro dos continentes. A possibilidade tecnológica e comercial de liquefação do gás natural para transporte e depois de regaseificação para uso junto aos consumidores está alterando esta lógica e produzindo transformações importantes no mercado de combustível.
Como já citado acima, a liquefação é um processo ainda bastante caro, mas que pode compensar financeiramente, para as nações quem dispõe de grandes reservas e interferem no valor de mercado do gás e também na geopolítica.
Neste momento da fase de baixa do preço do óleo (e por consequência do gás) no mercado mundial, amplia a complexidade das variáveis envolvidas. Por exemplo: na Europa a pujança da produção russa com seus gasodutos espalhados e cruzando diversos países (e com os seus custos de instalação já amortizados) produzem preços quase imbatíveis.
Ainda assim, por interesses geopolíticos, os EUA está realizando nestes dias, o seu primeiro embarque de GNL (oriundo do xisto, ou shale gas) para a Espanha, o que cria embaraços para a Rússia que depende dos recursos deste fornecimento e está sendo obrigado a baixar ainda mais o seu preço pelo gás, para não perder este mercado.
Mapa de parte dos pipelines (oleodutos e gasodutos) que têm a Rússia como centro |
Segundo, dados do Statistical Review of World Energy 2014, na década entre 2003 e 2013, as reservas mundiais provadas de gás natural cresceram 19% e atingiu 185 trilhões de m³. Diante do enorme potencial de reservas mundiais, a do Brasil ainda é pequena, mesmo que crescente.
Os números totais das reservas são meio controversos porque são considerados estratégicos. Há estatísticas que colocam a Rússia como a maior reserva provada com cerca de 47 trilhões de m³ e outras que identifica o Irã com a maior reserva com 33,8 trilhões de m³ de gás natural e Rússia, como segunda 31,2 trilhões de m³ (16,8%). Hoje, mais de 1/3 do gás consumido na Europa vem da Rússia.
Interligação de gasodutos russos na Europa |
Usos mais nobres para o gás natural
Para fechar, voltando ao Brasil, é interessante observar o grande potencial de produção de gás faz com que usos mais nobres estejam sendo pesquisados no Centro de Pesquisa para Inovação de Gás natural, recém-instalado, junto à Escola Politécnica da USP.
Diversas tecnologias e aplicações estão sendo pesquisadas, desde o uso do gás para climatização, para a produção de hidrogênio para uso como combustível em carros, como de substituição do diesel para caminhões, entre outros.
Evidentemente, que este é mais uma sub-área, ligada ao grande de setor de óleo e gás, que chama à atenção de grandes corporações globais e que envolve à geopolítica que é uma das mais importantes dimensões que influenciam a conjuntura no Brasil contemporâneo.
Por tudo que está aqui exposto é importante que as instituições "think tanks" brasileiras que pensam e planejam os objetivos estratégicos e a relação com a geopolítica que envolve o país, consiga juntar as pontas soltas destas informações, para analisar a inserção do Brasil neste contexto global.
Seguimos acompanhando!
Fontes: Relatório da ANP, Valor Setorial de Energia, março de 2016, Guilherme Meirelles e outras fontes do blog.
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