A declaração é do geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras foi feita na semana passada, em audiência pública na Câmara dos Deputados. Estrella é o homem que coordenou a descoberta do Pré-sal. Insistiu na hipótese quando outros geólogos a renegavam.
A audiência foi convocada para debater o projeto de lei que tenta retirar a atual obrigação da Petrobras atuar como operadora única em campos das reservas do Pré-sal.
O projeto de lei tem como relator o deputado baiano, José Carlos Aleluia, do DEM, que defende a suspensão do regime de partilha introduzida no novo marco regulatório do petróleo no Brasil.
A opinião do Estrella foi praticamente ignorada em quase todo o país. O geólogo defendeu que a Petrobras como estatal de petróleo continue sendo uma empresa integrada, com atuação em toda a cadeia da indústria do petróleo, da forma, como se diz no jargão popular do setor: do poço ao posto. Ou da exploração e procura por poços e campos rentáveis até à distribuição do combustível refinado.
Assim, mantendo os ativos não apenas na exploração (up-stream), mas também na logística de portos e plantas de refino (midi-stream), até à distribuição e venda nos postos de combustíveis (down-stream).
Estrella disse textualmente, mais uma vez, que a fragmentação da Petrobras é nefasta para a sua sustentabilidade a longo prazo. Assim, como muitas petroleiras de capital fechado e estatais mundo afora, o fato se ser uma empresa integrada, aumenta a sua proteção contra as crises econômicas e como de enfrentar o que eu chamo de "ciclo petro-econômico".
A hipótese de venda de rede de pipelines (dutos, de óleo ou gás) pode inviabilizar negócios da estatal, de acordo com tarifas que venham a ser praticadas por estes novos e eventuais controladores.
Além disso, é mais fácil para uma empresa integrada trabalhar com margens médias de rentabilidade, onde um setor com menor desempenho temporário, pode ser substituído por outro, com vantagens para a empresa como o todo e para o país.
É como está claramente posto no perfil da empresa em seu Relatório da Administração -2015: "A Petrobras é uma empresa que atua de forma integrada e especializada na indústria de óleo, gás natural e energia e está presente nos segmentos de exploração e produção, refino, comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás natural, energia elétrica, gás-química e biocombustíveis". Isto é ser efetivamente uma empresa integrada.
É evidente que as players globais não gostam disso e exercem fortes pressões geopolíticas contra este tipo de estratégia. Eles pretendem desintegrar a Petrobras. Agem assim porque não querem se submeter aos objetivos dos estados-nacionais, apenas os seus interesses comerciais. Por isso, seus representantes nos bancos de investimentos com pernas no Brasil ocupam tantos espaços na mídia visando impor suas posições. Na mesma linha estão as forças políticas que há muito desejam entregar nosso petróleo.
Nesta hipótese não é difícil imaginar uma petroleira estrangeira não querer produzir no Brasil, eventualmente, mesmo que os custos de extração aqui sejam concorrencialmente menores que outros ativos de sua propriedade, apenas por uma decisão de conteúdo geopolítico ligado à nação de suas matrizes.
PS.: Atualizado às 12:02 e 12:21: Para um breve, mas importante acréscimo. Para listar o perfil da empresa citado em seu Relatório da Administração 2015.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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