O texto levanta questões que tratam da imbricação da Economia Global e do risco de um colapso mais geral. Mais que isto, eu entendo que a breve reflexão não apenas aponta os "nós" da crise global, como algumas de suas importantes causas e espraiamento espacial pelos continentes.
Vale ainda registrar que estes nós também fazem parte do imbróglio político no Brasil, do qual o golpe é parte enlaçada do pacote global.
Por tudo isto vale conferir!
Os grifos na transcrição abaixo são do blogueiro, assim como a forma de listar os pontos do quarto parágrafo em que os autores descrevem os fatores que foram impulsionando a economia globalizada no mundo contemporâneo:
"Admirável mundo velho"
Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo
"A saída do Reino Unido da União Europeia parece ser um episódio nos eventos que apontam mudanças de grande alcance na dinâmica da economia mundial. As conexões entre a fratura na União Europeia e o discurso de Donald Trump são mais evidentes, mas a questão de fundo são as desconexões provocadas pela globalização, como afirmamos antes do Brexit:
"O nacionalismo xenófobo de Donald Trump nos EUA, o referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, a tensão entre a Alemanha e a política monetária do senhor Mario Draghi na Zona do Euro, e o Japão à beira da recessão e a desaceleração chinesa são sintomas dos achaques e estertores que acometem o arranjo geoeconômico erigido nos últimos 40 anos".
A globalização provocou uma verdadeira revolução na estrutura econômica mundial. As transformações concomitantes não são consideradas nos papers de macroeconomia ou são apresentadas como processos desconexos.
A articulação entre os fatores que impulsionaram a expansão da economia globalizada envolve:
1. O crescimento continuado dos fluxos brutos de capitais para o mercado americano;
2. A migração da produção manufatureira para os países de baixo custo da mão de obra;
3. O acirramento da concorrência entre as grandes empresas que impulsiona a nova distribuição espacial da produção globalizada;
4. A concomitante hiperindustrialização, ou seja, a aceleração da automação na manufatura, na agricultura e nos serviços;
5. A formação de bolhas sucessivas de valorização dos ativos reais e financeiros apoiada na "alavancagem" financeira;
6. A insignificante evolução dos rendimentos dos trabalhadores, cada vez mais "precarizados" e menos assalariados;
7. A consequente ampliação das desigualdades;
8. O endividamento excessivo das famílias nos Estados Unidos e na "periferia" europeia;
9. A degradação dos sistemas progressivos de tributação e o encolhimento da proteção social;
10. A persistência de déficits fiscais alentados e a expansão das dívidas dos governos.
As economias centrais se contorcem nas angústias da ruptura do circuito de formação do emprego e da renda. Em seu formato "fordista" esse circuito era ativado pela demanda de crédito para financiar o gasto dos empresários confiantes nos efeitos recíprocos da expansão da renda no conjunto de atividades que se desenvolviam nos espaços nacionais, a partir da generalização dos métodos de produção industriais, seja nos serviços ou na agricultura.
Em seu progresso contraditório, a redistribuição espacial da manufatura e a hiperindustrialização engendram a precarização, a queda dos rendimentos dos trabalhadores e, assim, reduzem a capacidade de difusão do gasto das empresas e desestimulam a demanda. No último ciclo de euforia global, as famílias submetidas à lenta evolução dos rendimentos sustentaram a expansão do consumo na vertiginosa expansão do crédito. A partir da crise, o circuito de formação da renda na economia como um todo começa a falhar, dando origem ao período da Grande Recessão.
O capitalismo "social" e "inter-nacional" do imediato pós-guerra transfigurou-se no capitalismo "global", "financeirizado" e "desigual ". As políticas econômicas "internas" estão limitadas pela busca de condições atraentes para os capitais em movimento.
A desarticulação econômica descortina uma nova fase, marcada por desencontros nas relações entre o modo de funcionamento dos mercados globalizados e os espaços jurídico-políticos nacionais ou apenas parcialmente "internacionalizados", como é o caso da União Europeia e, pior, da Zona do Euro. É duvidosa a viabilidade de soluções unilaterais. Como afirmou Yanis Varoufakis ao justificar sua posição contrária à saída da UE: "É improvável que sair vá levá-lo aonde você estaria econômica e politicamente se não houvesse entrado. "
O filósofo Slavoj Zizek recorreu a uma resposta de Stalin nos anos 20: "Quando perguntaram ao ditador o que é pior, a direita ou a esquerda, ele respondeu que 'ambas são piores'. Esta é minha primeira reação à questão de sair ou não sair da União Europeia".
Ante o nervosismo da insegurança econômica, se eleva a polarização política, fomentada pelo crescimento da massa daqueles que tiveram suas condições de trabalho e vida precarizadas na senda da arbitragem geográfica de salários, impostos, câmbio e juros pela finança globalizada. Mike Whitney divulgou estudo recente do Pew Research Center, estimando apenas 38% dos franceses com uma visão favorável da União Europeia (em 2004 eram 69%). Na Espanha as opiniões favoráveis representam 47% da população (em 2007 eram 80%).
Os subempregados e precários estão se lixando para o que pensam os economistas que alertavam para os riscos do Brexit. Os "irracionais" querem os empregos de volta. O cenário lembra o "fechamento" das economias nos anos da Grande Depressão. Vale revisitar o texto do Tariff Act da lei americana Smoot-Hawley de 1930, que elevou brutalmente as tarifas e lançou o comércio internacional na derrocada deflacionária.
A polarização política exprime de forma dramática a ruptura das relações mais "equilibradas" entre os poderes do "livre mercado" e o resguardo dos direitos econômicos e sociais dos cidadãos desfavorecidos.
As presentes dores e convulsões impelidas às democracias ao redor do globo só receberão sentido histórico se forem capazes de refundar conceitos e práticas, se puderem restabelecer nexos entre o povo, a mídia, os políticos e as políticas públicas. Desconfiamos que o mundo não padeça apenas sofrimentos de uma crise do capitalismo, mas, sim, as dores de um desarranjo nas práticas e princípios que sustentam a vida civilizada.
Não custa um gesto de humildade intelectual e reler o clássico de Karl Polanyi, "A Grande Transformação".
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, é professor titular do Instituto de Instituto de Economia da Unicamp.
As economias centrais se contorcem nas angústias da ruptura do circuito de formação do emprego e da renda. Em seu formato "fordista" esse circuito era ativado pela demanda de crédito para financiar o gasto dos empresários confiantes nos efeitos recíprocos da expansão da renda no conjunto de atividades que se desenvolviam nos espaços nacionais, a partir da generalização dos métodos de produção industriais, seja nos serviços ou na agricultura.
Em seu progresso contraditório, a redistribuição espacial da manufatura e a hiperindustrialização engendram a precarização, a queda dos rendimentos dos trabalhadores e, assim, reduzem a capacidade de difusão do gasto das empresas e desestimulam a demanda. No último ciclo de euforia global, as famílias submetidas à lenta evolução dos rendimentos sustentaram a expansão do consumo na vertiginosa expansão do crédito. A partir da crise, o circuito de formação da renda na economia como um todo começa a falhar, dando origem ao período da Grande Recessão.
O capitalismo "social" e "inter-nacional" do imediato pós-guerra transfigurou-se no capitalismo "global", "financeirizado" e "desigual ". As políticas econômicas "internas" estão limitadas pela busca de condições atraentes para os capitais em movimento.
A desarticulação econômica descortina uma nova fase, marcada por desencontros nas relações entre o modo de funcionamento dos mercados globalizados e os espaços jurídico-políticos nacionais ou apenas parcialmente "internacionalizados", como é o caso da União Europeia e, pior, da Zona do Euro. É duvidosa a viabilidade de soluções unilaterais. Como afirmou Yanis Varoufakis ao justificar sua posição contrária à saída da UE: "É improvável que sair vá levá-lo aonde você estaria econômica e politicamente se não houvesse entrado. "
O filósofo Slavoj Zizek recorreu a uma resposta de Stalin nos anos 20: "Quando perguntaram ao ditador o que é pior, a direita ou a esquerda, ele respondeu que 'ambas são piores'. Esta é minha primeira reação à questão de sair ou não sair da União Europeia".
Ante o nervosismo da insegurança econômica, se eleva a polarização política, fomentada pelo crescimento da massa daqueles que tiveram suas condições de trabalho e vida precarizadas na senda da arbitragem geográfica de salários, impostos, câmbio e juros pela finança globalizada. Mike Whitney divulgou estudo recente do Pew Research Center, estimando apenas 38% dos franceses com uma visão favorável da União Europeia (em 2004 eram 69%). Na Espanha as opiniões favoráveis representam 47% da população (em 2007 eram 80%).
Os subempregados e precários estão se lixando para o que pensam os economistas que alertavam para os riscos do Brexit. Os "irracionais" querem os empregos de volta. O cenário lembra o "fechamento" das economias nos anos da Grande Depressão. Vale revisitar o texto do Tariff Act da lei americana Smoot-Hawley de 1930, que elevou brutalmente as tarifas e lançou o comércio internacional na derrocada deflacionária.
A polarização política exprime de forma dramática a ruptura das relações mais "equilibradas" entre os poderes do "livre mercado" e o resguardo dos direitos econômicos e sociais dos cidadãos desfavorecidos.
As presentes dores e convulsões impelidas às democracias ao redor do globo só receberão sentido histórico se forem capazes de refundar conceitos e práticas, se puderem restabelecer nexos entre o povo, a mídia, os políticos e as políticas públicas. Desconfiamos que o mundo não padeça apenas sofrimentos de uma crise do capitalismo, mas, sim, as dores de um desarranjo nas práticas e princípios que sustentam a vida civilizada.
Não custa um gesto de humildade intelectual e reler o clássico de Karl Polanyi, "A Grande Transformação".
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, é professor titular do Instituto de Instituto de Economia da Unicamp.
Gabriel Galípolo é professor do Departamento de Economia da PUC/SP e sócio da Galípolo Consultoria.
2 comentários:
Belluzzo é militante do PT, de modo o que fala e escreve não tem muito valor...
Olha os midiotas aí!
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