Muito se fala no Brasil sobre os problemas da Petrobras atribuindo e misturando as causas ligadas ao baixo preço do barril - já há dois anos - e àqueles relacionados à Operação Lava Jato.
Eu particularmente não tenho dúvidas que se a Petrobras não fosse uma empresa sólida, ela teria ido à bancarrota como alguns tentam levar, ao fatiá-la para vender como se isso fosse a melhor, ou única alternativa.
Há um bom exemplo que serve de comparação, até pelo porte do país, produção e reservas. Refiro-me à estatal Petróleo Mexicano, ou simplesmente: Pemex.
Pois bem, a Pemex em 2004 produzia cerca de 3,4 milhões de barris. Em 2010, este volume já tinha caído para 2,9 milhões de barris por dia, ainda assim, era o 10º maior produtor do mundo.
Hoje a produção da Pemex está hoje entre 2,1 e 2,2 milhões de barris por dia. E já se fala que a previsão para 2020 é de um produção de apenas 1,6 milhão de barris por dia.
A Pemex tem 150 mil funcionários e uma dívida colossal de mais de US$ 100 bilhões. Há quem garanta que supera os US$ 150 bilhões.
Entre os anos de 2000 e 2015, a Pemex foi a empresa que mais emitiu títulos no exterior com captação de US$ 118 bilhões em 136 emissões.
O prejuízo da Pemex só no ano de 2015, cresceu 96% e chegou a US$ 30,3 bilhões. Em 2016, o prejuízo dos primeiros meses já estava em US$ 3,5 bilhões.
Assim, com menos produção em 2013/2014 o presidente do México acabou com o monopólio de 75 anos de petróleo no país, esperando que isto fosse reverter a queda na produção.
Ao contrário da Pemex, a Petrobras não para de crescer sua produção. Há muito já passou a Pemex. No mês passado de agosto, só no Brasil, a produção já tinha alcançado os 2,72 milhões de barris por dia.
Mesmo considerando que este é um dado mais questionável quando não se fala de reservas provadas, só validado depois dos testes de longa duração, este é um outro indicador que mostra a inversão de situação do México em relação ao Brasil.
Segundo a consultoria norueguesa Rystad Energy, o México tem a 10ª reserva do mundo com 72 bilhões de barris, enquanto o Brasil possui, por estes mesmo critérios, a 6ª maior reserva de petróleo com 120 bilhões de barris.
E por aqui há quem ainda queira usar o exemplo mexicano como se ele fosse uma boa referência. Boa parte do que foi pensado e estruturado no país - entre acertos e erros - foi pensado no modelo norueguês. Com regime de partilha, política de conteúdo nacional e fundo soberano para financiar em em longo prazo políticas sociais e infraestrutura.
Só não se pode dizer que há risco de se repetir o México, porque tudo o que foi feito não poderá ser desmontado de uma hora para outra.
A descoberta do pré-sal, o regime de partilha, a manutenção por longo tempo da ideia de empresa integrada, do poço ao posto e ainda a política de conteúdo local, mesmo que estejam programando para serem desmontados, não poderá ser feito da noite para o dia.
É de se lamentar este processo considerando o porte e a história da Petrobras. Mais que isto, mesmo com todo o desmonte que se vem fazendo, o setor de petróleo e tudo que ele tem capacidade de arrastar, continuará, potencialmente, sendo um dos eixos do desenvolvimento nacional.
PS.: Atualizado às 21:24: Ainda sobre a Pemex, o Eduardo Inácio enviou pelo WhatsApp, a informação: "Navio da Pemex está há 24 horas em chamas no Golfo do México".
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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