quinta-feira, dezembro 08, 2016

A relação entre a montagem do FPSO Cidade de Campos dos Goytacazes, o processo de desintegração da Petrobras e a entrega da soberania da nação

O FPSO Cidade de Campos dos Goytacazes (MV 29) está sendo montado pela empresa japonesa Modec para atuação na produção de petróleo no litoral brasileiro. Contratada pela Petrobras, ela será implantada nos campos de Tartaruga Verde e Tartaruga Mestiça, bloco de concessão CM-401, na Bacia de Campos. 

Antes algumas destas unidades foram projetadas e montadas em módulos (replicantes) em diversos estaleiros do Brasil. Isto vinha sendo feito de forma conjunta às contratações no exterior. 

O caso deste FPSO na japonesa Modec (é a 10ª unidade feita pela empresa para atuação no Brasil) aconteceu em estaleiros chineses e coreanos. Enquanto isto, módulos e a integração nos navios (FPSO) outras estavam sendo montadas nos estaleiros do ERJ (Niterói, Angra e Rio), Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O FPSO Cidade de Campos dos Goytacazes construída pelos japoneses, será fretada pela estatal num contrato de 20 anos (leasing e serviços de operação e manutenção) através da empresa TARMV29 que tem sede na Holanda. A construção e montagem da unidade contou com financiamento do Banco do Japão para Cooperação Internacional (JBIC).

Tem sido uma prática da Petrobras dar nome das cidades litorâneas fluminenses às unidades de produção de petróleo. A previsão é que o FPSO Cidade de Campos dos Goytacazes entre em funcionamento no quarto trimestre de 2017 a uma profundidade de 765 metros, com capacidade de produção de óleo de 150 mil barris por dia armazenamento de 1,6 milhões de barris de petróleo e 176 milhões de m³ de gás.


A montagem deste FPSO evidencia o desmonte da tríade "Petróleo-Porto-Indústria Naval" 
O detalhamento que o blog fez sobre a construção e contratação de fretamento desta unidade de produção offshore de petróleo, oferece pistas das articulações que envolvem o setor de petróleo e gás que possui enormes teias numa cadeia global de valor. (Meu principal objeto de pesquisa no momento)

Este caso é didático porque demonstra o envolvimento em decisões de financiamento de governos e apoio à indústria naval de seus países. Estas articulações podem representar o aumento da capacidade tecnológica das empresas e nações envolvidas, assim como, a geração de empregos mais qualificados, em setores com imensa capacidade de arrasto de outras atividades econômicas, como reflexo direto sobre os empregos.

Passei a denominar esta articulação que determina o desenvolvimento econômico de uma nação ou frações do seu território como sendo a Tríade: Petróleo-Porto-Indústria Naval. O Brasil, por cerca de quase uma década, em meio a muitos problemas vinha tentando trilhar um caminho que se sustentava na fase de expansão do ciclo do petróleo, como um dos quatro eixos do desenvolvimento nacional.

Hoje, abatido pela temporária fase de colapso do ciclo petro-econômico e pela atuação destruidora de importantes setores da economia nacional, por conta da forma de atuação da Operação Lava Jato - numa trama jurídico-parlamentar-midiática - que, além de punir responsáveis pelos desvios (desejado por todos) passou a um desmonte da estratégia que se vinculava à exploração das nossas reservas do pré-sal.

Assim, os ativos da Petrobras forma e seguem sendo fatiados e vendidos (entregues). Os sistemas portuários passaram ao controle de fundos financeiros internacionais e a indústria naval que atuava, como um desdobramento da Política de Conteúdo Local (Nacional), está sendo desarticulada em suas capacidades tecnológicas e de infraestrutura.

Este processo significa a desintegração da tríade e a destruição dos seus setores, fazendo com que todos os novos contratos de montagem de unidades produtivas e embarcações especializadas passem a ser executados no exterior, gerando expertise e empregos além-mar.

Sim, é difícil que a maioria entenda este imbricado processo. O que não se pode é querer impor uma interpretação inocente, completamente desvirtuada das estratégias, pensadas de forma conjunta por corporações e governos, para intervir politicamente sobre os elos que ligam esta tríade no Brasil.

Nada disto foi feito sem a participação de brasileiros interessados em voltar ao controle da política, admitindo a dependência econômica e a suspensão da ideia de soberania.

Sempre se soube que a descoberta do pré-sal pelo Brasil exigiria mais cuidados relativos à geopolítica da energia e as estratégias que este imenso potencial ao país e de forma simultânea despertaria a cobiça a intervenção de quem disputa a manutenção da hegemonia, mais que nunca ameaçada. 

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