A farra das isenções e descontos de impostos estaduais contribuíram fortemente para a atual crise fiscal do ERJ. Junto, somou-se os "negócios" com o Rio Previdência. O TCE-RJ identificou o volume de R$ 138 bilhões em descontos de impostos para todo o tipo de empreendimento apenas nos últimos anos.
O caso do setor de petróleo é um deles. À época da concessão em 2008, o setor vivia uma fase de expansão que se seguiu até 2014. Assim, nada justificava tamanha generosidade. As reservas de petróleo estão em grande parte em nosso litoral, o que já confere à localização vantagens comparativas aqui no ERJ, sob a legislação tributária geral.
Além disso, as exigências de um percentual de conteúdo local que a ANP fazia nos contratos de concessão, estabelecendo um percentual mínimo de valor agregado no país, para cada tipo de equipamento ou sistema, ampliava a necessidade destas empresas se instalarem no Brasil e no ERJ.
Desta forma, só a irresponsabilidade e cooptação do poder político pelo econômico pode explicar tal decisão. Pior, os descontos de impostos, deveriam, no mínimo, prever que em situações de redução de receitas da gestão estadual tais concessões fossem suspensas. Porém, nada disso foi feito na ocasião em que se vivia no ERJ, a "economia da abundância", sem se preocupar com os riscos da "maldição mineral".
Pois bem, só agora premida pela situação de colapso e caos, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), aprovou, na semana passada, o fim do decreto especial de tributação do ICMS sobre importação e exportação de equipamentos destinados à exploração de petróleo e gás no ERJ.
Segundo estudos da Fazenda estadual, este benefício retirou em 2016, mesmo no período de crise de investimentos no setor de petróleo, cerca de R$ 4 bilhões dos cofres do estado. Este volume de recursos contribuiria para reduzir o déficit que atrasa os salários dos servidores e está interrompendo e reduzindo o atendimento à população, nas áreas fins da gestão estadual como: saúde e educação.
Na estimativa para 2017 é que esta mudança represente uma arrecadação entre R$ 4,3 bilhões e R$ 4,5 bilhões para os cofres do ERJ. O projeto do decreto legislativo suspendeu os efeitos do decreto do ex-governador Sérgio Cabral que regulamentou a redução das bases de cálculo do ICMS no âmbito do chamado Repetro, que é um regime aduaneiro especial que também envolve impostos federais, além do ICMS no ERJ.
O Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) - que de nacional só tem o nome - reagiu à decisão da Alerj, sem se importar com o ERJ e sua população, ao defender as petroleiras, especialmente as estrangeiras que atuam mais fortemente no ERJ: Shell, Chevron, Repsol Sinopec, Petrogal e Statoil.
É importante que os servidores estaduais acompanhem de perto estas mudanças que garantem as receitas do estado e não fiquem apenas resistindo às seguidas mudanças de cortes de direitos e salários. Sem receita, os cortes aumentarão e o petróleo é uma atividade economicamente forte, bem para além do que representam em termos de acréscimo de orçamento com o pagamento dos royalties.
A economia do petróleo, que envolve a indústria toda a cadeia do setor, da exploração, produção, circulação, processamento, beneficiamento até à distribuição de óleo e gás e derivados são hoje muito importantes para a gestão do estado. A receita de hoje é que pode garantir a transição para um outro modelo.
Assim, é importante que cada etapa desta imensa cadeia seja fiscalizada, para além dos controles da arrecadação do estado, que são atribuições da Secretaria Estadual de Fazenda, Alerj e TCE-RJ.
Exigir transparência sobre este processo e se organizar para acompanhar as complexas questões da legislação tributária, as rubricas, etc. é tarefa para ontem e que devem interessar a todos os fluminenses e não apenas aos servidores do estado.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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5 comentários:
E se novas empresas ou as já instaladas resolverem se instalar para outros estados onde o ICMS for mais barato, que milagre o ERJ vai fazer? Lembre-se da curva de Laffer.
Este é um jogo antigo. A teoria das localizações explica bem o fenômeno. A guerra dos lugares que envolve a guerra do ICMS sempre foi um instrumento e uma pressão utilizada pelas corporações. Ela não difere muito do se vê nas regiões de outros países.
No caso específico do petróleo, a proximidade das bases exploratórias é definitiva e difere dos casos de outros setores. Não se trata de achismo e sim do real.
Não vale analisar a situação por casos isolados e sim para grande maioria dos empreendimentos. Também não vale defender um dos lados como faz o IBP e a Firjan, se fingindo de neutros. Se quiserem estudem o caso da Noruega e outros países do Mar do Norte.
No caso do PreSal é um pouco diferente, pela distancia, tanto faz a empresa se instalar em SP, RJ, SC, ou ES. O diferencial para ela será as condições de apoio logístico e vantagens financeiras. Por exemplo, SP tem ICMS de 12% contra os 20% do ERJ.
No caso do PreSal, pela distancia da costa, tanto faz para uma empresa se instalar em SC, SP ou RJ, se sua lucratividade depender do "fator localização".
Se a localização próxima a região produtora não for muito importante, o fator determinante vai ser essencialmente financeira, ou seja, vão pesar os custos diretos (mão de obra, impostos, etc) e custos indiretos (burocracia, serviços de apoio,logística, etc).
Novamente, eu vou insistir que não se deve misturar torcida com análise.
Fala-se do Pré-sal como se fosse futuro, esquecendo que ele já produz mais de 1 milhão de barris por dia, ou 1,45 milhão de boe/d, (óleo + gás).
E onde estão estas bases? Todas no Rio, onde estão as sedes de todas as petroleiras que atuam no Brasil. Os terminais portuários da Baía da Guanabara (Rio e Niterói) já superam em muito a movimentação de cargas para apoio offshore de Macaé e atende especialmente a Bacia de Santos e o Pré-sal.
É preciso pesquisa e estudo, para não se ficar atirando a ermo em opiniões em fundamentação.
O Porto de Santos e os diversos operadores portuários que ali atuam através de concessão fizeram uma barreira para evitar a movimentação de cargas de apoio às explorações offshore. Santos disputa ferozmente a posição para ser o hub-port brasileiro e do hemisfério sul da América.
Isto impediu que Santos se transformasse numa base de apoio como foi Macaé que antes até dos 500 mil barris produzido na Bacia de Campos já era significativa, ao contrário do que se vê com a Bacia de Santos, onde quase toda a base portuária está no ERJ. Não se constrói uma IE e uma base portuária com duas conversas.
Por outras razões que não vou elencar aqui nestes espaço, o estado de SP fez opção por se manter distante das possibilidades da economia do petróleo.
Assim, eu volto a repetir a teoria da localização dos empreendimentos não é explicado, apenas pelas questões econômicas diretas. Há que se considerar outros elementos. Mas antes de tudo, há que se separar torcida e posição do fenômeno real que se quer interpretar.
A localização é um jogo, mas é necessário compreender esta cadeia global do petróleo e de sua relação com os sistemas portuários e marítimos de forma mais ampla, para que a leitura seja mais próximo do real.
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