quarta-feira, abril 26, 2017

Petrobras ainda desponta em reservas de petróleo, mesmo com a inversão de fases do ciclo petro-econômico e redução de investimentos

Sob quase todos os ângulos que se observa, a situação da Petrobras entre as petroleiras é confortável e de destaque. Evidente que sobre o montante das dívidas era um problema, mas normal, para quem descobriu tantas novos campos e reservas e precisava se cacifar para explorar.

A inversão de fase do ciclo petro-econômico com redução dos preços do barril que trocou a fase de expansão pelo colapso gerou uma extraordinária redução de investimentos no setor de petróleo em todo o mundo que teriam chegado a cerca de US$ 500 bilhões entre 2014 e 2016 (RAVAL, 2015)* se consideradas também as reduções de gastos (custos).

A contabilidade destes números sobre a redução dos investimentos no setor petróleo se alteram com o tempo, mas se situam sempre a um valor a partir de US$ 300 bilhões, conforme os critérios utilizados na apuração.

O fato gerou uma ampliação de endividamentos corporativos do setor em cerca de US$ 650 bilhões (SPINDLE, 2016)*, nos quais se insere, que como se se pode ver, é uma situação que não foi exclusiva da Petrobras, como quer fazer crer aqueles que decidiram entregar os ativos da estatal a preço vil.

Ainda há que se explicar a diferença entre o que se chama de recursos petrolíferos - que hoje estão estimados no mundo na casa dos 1,3 bilhão de barris (segundo a consultoria Bain & Company) - e o volume de reservas de petróleo. Entre uma e outra é que entram os investimentos que podem transformar os recursos petrolíferos naquilo que é considerado como reservas de petróleo.

Ainda sobre estas há critérios diferentes para considerar o que é reserva provada. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) tem um critério e outras agências mundiais possuem os seus, como é o caso da SPE (Society of Petroleum Engineers) e a SEC (Securities and Exchange Comission). Os critérios da SPE se aproximam dos utilizados pela ANP e por isso são mais usados no Brasil.

O Brasil por esta contabilidade tem a 15ª maior reserva do mundo com cerca de 13 bilhões de barris, sendo 12,5 bilhões da Petrobras. Potencialmente, também se contabiliza o que a consultoria norueguesa Rysatd Energy que chamou de "reservas estimadas" para os quais se atribuiu ao Brasil, a 6ª maior reserva do mundo com 120 bilhões de barris.

Enfim, voltando ao foco da comparação entre algumas das principais petroleiras do mundo, entre estatais e privadas, só a Shell possuiria pelos critérios da SPE, mais reservas do que a Petrobras atualmente, segundo levantamento publicado pelo Valor em 8 abr. 2017 (P. B4) em quadro reelaborado pelo blog.


Pelo quadro acima é possível ver que a Shell lidera e foi a única desta seis grandes petroleiras a aumentar suas reservas nos dois últimos anos. Isto só aconteceu porque a Shell comprou a petroleira britânica BG - por cerca de US$ 60 bilhões - que possuía entre seus principais ativos, as reservas no litoral brasileiro, incluindo no pré-sal.

O quadro mostra ainda que a americana Esso que possuía em 2015 o maior volume de reservas, foi a que mais perdeu, ficando em 2016 com cerca de 5 bilhões de boe a menos. Ou seja uma Statoil a menos de reservas de petróleo. As três demais tiveram suas reservas provadas mantidas, mesmo com a redução de investimentos para perfuração.

A redução de reservas tem uma certa inércia e tende ser maior nos dois próximos anos. Neste período de transição de fases e ciclos petro-econômicos as petroleiras já começam a pensar no próximo ciclo e assim, saem a comprar estas reservas pelo mundo, de olho nas pechinchas, como as ofertadas pela Petrobras no mercado das petroleiras.

Assim, foi o caso da Statoil, Total e certamente estará vindo a Esso e Chevron. Elas já estão de olho em nova fase de expansão (boom) do ciclo petro-econômico quando os preços do barril terão subido e os recursos para investimentos, hoje escassos chegarão.

Não é por outro motivo que cerca de 90% das reservas de petróleo do mundo são das petroleiras estatais. As petroleiras privadas preferem atuar nos bastidores da geopolítica - mexendo nos ciclos do petróleo - comprando os campos e áreas já exploradas, descobertas e que só necessitam ser preparadas para produzir quando o preço interessar.

É assim que funciona aquilo que passei a chamar da relação inter-capitalista lubrificada pelo petróleo. Todas as petroleiras se endividam para investir e produzir petróleo. Assim, eu tenho defendido que as fases do ciclo petro-econômico são manejadas pela articulação entre as grandes corporações e os estados-nacionais conforme os interesses geopolíticos. É neste compasso que as nações com grandes reservas viram alvo dos interesses do poder econômico e político articulado em torno das nações hegemônicas.

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