Há três semanas os pequenos agricultores da região do Açu no município de São João da Barra, Norte do Estado do Rio de Janeiro, decidiram reocupar, simbolicamente, uma das áreas desapropriadas pelo governo estadual para instalar um distrito industrial de 70 km², junto ao empreendimento do Porto do Açu.
Quase uma década depois as áreas desapropriadas continuam vazias e sem uso, e portanto, sem posse real destas terras. As benfeitorias dos antigos agricultores foram destruídas, como as casas, os currais e as plantações e o mato tomou conta das terras.
A maior parte dos proprietários não aceitou os valores impostos para a desapropriação e até hoje nada receberam. Os projetos de empreendimentos desapareceram. As terras seguem praticamente todas vazias e sem uso. E é importante que se diga que estas terras não são necessárias para a continuidade das atividades dos dois terminais do Porto do Açu.
Nesta sexta-feira (12/05) acontecerá, às 14 horas, no Fórum da Comarca de Justiça em São João da Barra, uma audiência convocada pelo juízo para ouvir as partes envolvidas na questão. Espera-se que o bom senso e a Justiça prevaleçam e as decisões avancem para devolver as terras aos seus reais donos.
Os pequenos agricultores e seus apoiadores prepararam uma nota (abaixo) que passaram a distribuir nesta quinta-feira à população de toda a região:
DEVOLVAM AS TERRAS DOS AGRICULTORES DO AÇU, JÁ!
Nós, agricultores do 5º distrito de São João da Barra, estado do Rio
de Janeiro, somos herdeiros e continuadores de uma saga de construção
de sabedoria e luta por dignidade. Por séculos aqui instalados, criamos
meios de fertilizar o solo, construímos universos de comunicação e redes
de comercialização. E tudo isto fundamentado em nossa experiência
cotidiana, acumulada pelo respeito ao conhecimento de nossos
antepassados, que abriram com seus próprios recursos as estradas que
precisávamos para escoar a produção.
A história de luta e trabalho não impediu que, por força do decreto do
governo estadual Nº 41.195, de 19 de junho de 2009, nossas terras
fossem expropriadas pelo governador Sergio Cabral e o empresário Eike
Batista. O Projeto foi implantado sobre a maior faixa de restinga do país,
desapropriando uma área de 7.200 hectares.
O conflito no Açu já se arrasta por quase 10 anos, envolvendo um
megaempreendimento portuário-industrial e famílias de agricultores e
pescadores do 5º Distrito/Açu. Cerca de 500 pequenos proprietários
foram desapropriados. Uma pequena parte recebeu indenização em
valores irrisórios. A maioria questiona na Justiça os termos desta
desapropriação. Parte do solo foi salinizado para construção do estaleiro.
Na manhã do dia 19 de abril de 2017, seguimos com a luta pela
retomada de nossas terras. A decisão de voltar para as terras foi
assumida por nós agricultores e organizada pela Asprim (Associação dos
Proprietários Rurais e de Imóveis do Município de São João da Barra),
que luta desde 2009 contra as desapropriações.
Nós, agricultores, contando com o apoio de várias organizações,
entendemos que os objetos que teriam justificado o Decreto de
desapropriação e nortearam a expropriação da terra deixaram de existir
pois as empresas que ocupariam a enorme área: siderúrgicas
cimenteiras; usinas termelétricas, estaleiros e outras há muito
anunciaram suas desistências, desde que os negócios de Eike Batista
foram ao chão.
Assim, queremos nossas terras de volta para que possamos
continuar plantando onde estão nossas raízes, contribuindo para que o
município de São João da Barra continue sendo campeão na produção
de alimentos!
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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