quinta-feira, julho 13, 2017

Por que o banco americano EIG quer fechar o capital da Prumo (Porto do Açu)?

Não é possível enxergar os movimentos das corporações sem acompanhar os interesses dos donos dos dinheiros. São eles que definem os investimentos e suas localizações em articulações com o poder político, com o objetivo de multiplicar seus ganhos, a partir daquilo que os economistas chamam alocar capital fixo sobre o território.

A partir desta perspectiva se deve observar o movimento no Açu. Como hipóteses deste interesse da Prumo em fechar seu capital é possivel interpretar três razões, que podem ser complementares:

1 - O negócio é fabuloso e tendo se tornado um "arranjo logístico-imobiliário-industrial" ligado mais estritamente ao setor de óleo e gás (O&G), ele renderá muito dinheiro, após a superação da fase de colapso do preços do ciclo do petróleo;

2 -  O interesse, sendo um banco estrangeiro, em deixar de ter a obrigação de prestar contas e divulgação de seus movimentos, como toda empresa quem tem ações em Bolsa (Bovespa) deve fazer, com a divulgação de balanços, fatos sobre novos negócios, etc. Há corporações que preferem manter seus negócios em relativo sigilo, por várias razões.

3 - Apagar (ou tentar) o rastro das negociações da época de empresa LLX (da qual a Prumo Logística Global S.A. é sucessora) entre Eike Batista (seu antigo dono) e o governo Sérgio Cabral. Estas tratativas hoje são as razões de processos judiciais e criminais, que inclusive, contribuíram para determinar a prisão de ambos.

Fato é que o fundo americano EIG Global Energy Partners que hoje controla a holding Prumo Logística Global S.A., que por sua vez controla o porto do Açu, entre outras empresas associadas, numa espécie hoje de subsidiárias, quer fechar seu capital (ter 100% das ações).

Este movimento da Prumo para tentar fechar o capital, para deixar de ser uma empresa S.A. para passar a ser uma empresa Ltda. já vem há cerca de um ano. Pela legislação brasileira, o máximo de capital permitido para o sócio majoritário sendo uma empresa S.A. é de 75%.

Informações ligadas ao mercado de ações dão conta que nas últimas semanas, o EIG/Prumo tem realizado várias operações de compras de ações na bolsa que estão nas mãos de minoritários. Constam que teriam sido 6 (seis) grandes operações.

Assim, o banco (fundo) americano já teria chegado a 80,22% de todo o capital. O que só é admissível, por ser acima de 75%, temporariamente, por conta deste processo de fechamento, chamado de OPA.

Desta forma, hoje, além dos 80,22% do fundo americano EIG, dividem a sociedade da Prumo: Itaú/Unibanco com 4,75%; fundo Mubadala de Abu Dhabi com 8,9% e, outros 8,13% estão nas mãos de acionistas menores e esparsos.

O embate entre os donos de ações se dá pelo valor a ser pago à estes acionistas menores. A Prumo utiliza uma avaliação da consultoria Brasil Plural que avalia o valor das ações a serem pagas a estes acionistas em R$ 10,53 por ação.

Uma parte dos acionistas minoritários, há algum tempo, propõe, em seguidas assembleias, que nova avaliação precisa ser feita. Assim, sugerem a consultoria Ernest Young (EY) que estimaria um valor por ação de mais do dobro do valor avaliado pela Brasil Plural.

No meio desta disputa financeira há ainda acusações sobre mudanças de posições, por parte tanto do fundo árabe Mubadala e do banco Itaú/Unibanco, estranhamente, a favor do sócio majoritário, o banco americano EIG.

Enfim, é importante que a região compreenda que os movimentos dos capitais estrangeiros (em especial do o fundo americano EIG Global Energy Partners  e o fundo árabe Mubadala). O fato é, o banco americano EIG está disposto a investir mais uma significativa quantia no projetos relacionados ao Açu, aumentando assim, a "estrangeirização" do empreendimento portuário-imobiliário-industrial.

O empreendimento é hoje ainda mais claramente, aquilo que se chama de um enclave, com pouquíssimo diálogo com a cidade ou a região, de onde pretendem retirar lucros.

Vista aérea dos dois terminais do Porto do Açu. Prumo.
Eu já comentei aqui neste espaço sobre esta 5ª geração de portos (MIDAs - Maritime Industrial Areas ou ZIP - Zona Industrial Portuária). Eles têm como características a de se instalarem fora das áreas urbanas para buscar maior fluidez na movimentação de cargas. Assim pouco, ou nada, se interessam sobre as cidades, as comunidades e as pessoas dos locais onde se instalam. 

É um processo diferente dos portos das gerações anteriores, em que os terminais portuários, seus armazéns e instalações, eram a base para a formação de um núcleo urbano, com o qual conviviam e dialogavam na busca dos diferentes interesses.

Assim, é necessário compreender e superar o estranhamento que tem sido comum nas pessoas que tentam enxergar o projeto do empreendimento do Porto do Açu, comparando com outros terminais portuários. Da mesma forma, há que se compreender como se movimentam os seus investidores.

A região é que deve forçar a interação da atividade econômica com a região. Num mundo capitalista os investimentos e os interesses econômicos fazem parte da realidade, mas não sem regulação e a qualquer custo. Assim, o empreendedor ao investir em capital sobre este território, não pode apenas querer retirar daqui lucros, ignorando as pessoas, as comunidades e as cidades onde obtém vantagens. 

Tudo isto mesmo considerando a readequação do empreendimento, com o descarte dos projetos ligados à siderurgia e setor metal-mecânico, para o arranjo produtivo ligado ao apoio à exploração offshore de petróleo e energia, como a própria Prumo admite.

Nesta linha de análise, vale ainda observar, para concluir, que os negócios dos investidores (bancos), de suas corporações (players) aliadas ao setor de petróleo e à logística portuária, se dão na escala global, com rebatimento nas demais escalas (infra-nacionais, inter-regional e supramunicipal), o que demanda uma observação transescalar e em diferentes dimensões, para além da local.

Assim, vale repetir a pergunta: por que o banco americano EIG quer fechar o capital da Prumo? Quais as consequências de tudo isto para a região, onde ainda há muita expectativa e especulação, já que uma década depois, a realidade se impõe, descartando boa parte dos discursos anteriores.

A despeito desta realidade, não somos colônia. Assim, o empreendedor, de uma forma a outra, até para manter a fleuma do discurso da modernidade, será obrigado, queira ou não, a negociar com a região e com as suas comunidades.

Espera-se que os representantes políticos tenham também um mínimo de compreensão desta situação ao se articularem com os empreendedores. É preciso atender aos interesses de todos aqueles envolvidos na cidade e na região.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pra quem ainda acredita que o petróleo volta a patamares da década de 2000, aqui vai um excelente artigo de Ivan Sant`Anna.

http://inversa-newsletter.s3.amazonaws.com/newsletters/2017/newsletters/mercadores/170712-terminou-vez.html