A Vale é uma corporação brasileira com a maior produção de minério de ferro do mundo. No ano passado, a Vale extraiu um volume de 348 milhões de toneladas, especialmente no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais e em Carajás, no Pará.
O minério de ferro é a base, junto com o carvão para a produção de aço. Se, de um lado, na extração/produção do Brasil é uma das maiores do mundo, no caso da produção de aço, o Brasil, produz apenas 1,8% de todo o aço produzido nas siderúrgicas do mundo.
Como o blog comentou aqui neste espaço, ao tratar da não instalação das siderúrgicas projetadas para o Distrito Industrial (DISJB) ao lado do Porto do Açu, o mundo hoje tem um excesso de capacidade instalada de siderúrgicas para a produção de aço.
Atualmente, a produção mundial de aço é de 1,6 bilhão de toneladas, contra uma capacidade instalada de 2,4 bilhões de toneladas, com um excesso de 736 milhões de toneladas, quase 25 vezes a produção total do Brasil. [1]
Ainda assim, o Brasil produz em apenas 63% da capacidade instalada no país. Hoje, uma parte da demanda de aço do Brasil, que é consumida em sua maior parte na construção civil (cerca de 40%) e nas empresas automobilísticas (18%), passou a ser atendida por outras siderúrgicas em outras partes do mundo, especialmente, chinesas.
A extração de minério de ferro e de produção de aço nas siderúrgicas são atividades poluidoras, mas possuem capacidade de arrastar outras cadeias produtivas.
O fato de exportarmos muito minério e de passar a importar aço e fechar as siderúrgicas no país, guarda similaridade com o que se está vendo na área de refino, com o país exportando cada vez mais óleo bruto e importando derivados, enquanto nossas refinarias têm trabalhado com cerca de 70% de suas capacidades, quando na segunda metade da década do ano 2000, as refinarias chegaram a atuar com mais de 95% da capacidade instalada.
Embora, ambas sejam commodities e exijam bases industriais complexas e de montagens demoradas e que demandam cada vez tecnologias mais modernas, para assim, ter plantas com maiores produtividades, elas possuem realidades distintas, quanto ao mercado e a necessidade de estarem mais próximas ao mercado consumidor.
Fato é que aos poucos o Brasil vai se tornando um país com maior exportação de commodities e importador de produtos industrializados e/ou semi-acabados.
No caso das siderúrgicas a competição com a China é cada vez mais pesada. Há dez anos, a China produzia cerca de 100 milhões de toneladas (13% do mundo), enquanto em 2016, produção chinesa chegou a 808 milhões de toneladas, equivalentes a 50,5% da produção mundial de 1,6 milhão de toneladas. Assim, a China produz em 14 dias, o que o Brasil leva um ano para produzir.
No meio deste difícil embate, no Ceará, uma parceria entre a brasileira Vale e as coreanas Dongkuk e Posco com intermediação do governo do estado saiu do papel através da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).
A CSP está instalada numa área 5,7 km² do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), que se localiza junto ao Porto de Pecém. A CSP recebeu investimentos de US$ 5,4 bilhões e projeto de produzir 3 milhões de toneladas de placas grossas de aço por ano.
Em junho do ano passado, a CSP já tinha iniciado a operação de sua aciaria. Em 2017, a CSP já exporta toda a sua produção que é de chapa grossa de aço de 300 mm de espessura, que buscou um nicho de mercado no mundo, mesmo com todo enorme excedente de capacidade instalada de aço no mundo.
[1] Caderno Especial Indústria do aço. P.F1-F8, Valor, em 23 de agosto de 2017.
PS.: Atualizado às 13:20:
Abaixo o blog transcreve os comentários que a nota do blog suscitou no perfil do Facebook:
PS.: Atualizado às 13:20:
Abaixo o blog transcreve os comentários que a nota do blog suscitou no perfil do Facebook:
Marcelo
Gondim Maciel Ouvi dizer que na cadeia do aço as melhores margens
ainda estão na extração do minério, não sei se confere mas caso seja positivo,
talvez não seja tão ruim assim o Brasil estar bem nesta atividade? Li também
que as siderúrgicas chinesas ganham em relação ao custo de produção de grande
parte do mundo, afetando as siderúrgicas de vários outro lugares. Agora com a
demanda interna ainda retraída, as siderúrgicas nacionais (CSN, Gerdau,
Usiminas, Paranapanema e etc) devem sofrer ainda por um bom tempo até que o setor
da construção civil brasileiro volte a ficar aquecido...
Roberto Moraes Sim Marcelo
Gondim Maciel. Você aí tratou de várias questões. Este raciocínio não está
errado, mas ele é diferente, em se tratando de investidor e de um país. A
escolha por ficar só na exploração/extração/produção só pode ser feita por quem
possui reservas. E quem as possui, mesmo que esta seja a etapa mais lucrativa,
não quer dizer que as demais não tenham rentabilidades, mesmo que menores, em
função da pesada concorrência atual, com a capacidade produtiva e produtividade
chinesas. Os resultados da produção e exportação de minério têm sido bons, por
conta dos preços da tonelada de minério do mercado internacional estarem um
pouco acima do previsto. Sobre a demanda interna ela está limitada à recessão,
porém, mesmo assim, a importação já tem afetado a produção interna, por conta
dos preços médios da produção nacional. Só não foi pior, porque as exportações
de automóveis seguraram parte da demanda de aço e houve até um acréscimo de
consumo que no ano está estimado em cerca de 3,8%, apesar da construção civil
estar em ritmo lento, como todo o país, em função da política fiscalista. Abs.
Felicio
Filho Professor, em quanto tempo ainda teremos reservas de minério de
ferro para atender a demanda interna e externa? Eu pergunto isto pois devido ao
fato de estarmos voltando a ser uma colônia de europeus e americanos, quando isso
acabar, o que vai ser de nós?
Roberto Moraes As
reservas mundiais estão hoje estimadas em 200 bilhões de toneladas. Assim, o
Brasil com 12% tem cerca de 24 bilhões de reservas. Hoje produzimos, cerca de
400 milhões por ano. Assim, grosso modo, por esta conta, desconsiderando a
descoberta de novas reservas e o aumento anual da extração, teríamos um
tempo entre 50 e 60 anos. Porém, o avanço da reciclagem no setor é bastante
alto, além do uso de outros materiais, especialmente, os plásticos duros
oriundo da outra commodity que é o petróleo/petroquímica.
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