Entre janeiro e agosto deste ano, o Brasil exportou na média,
1,146 milhão de barris de óleo cru por dia. O total da produção de óleo (só de
óleo, sem o gás equivalente) no mês de agosto foi de 2,576 milhões de barris
segundo boletim mensal de produção da ANP [1]. Assim, hoje, o país está
exportando 44,4% de toda a sua produção de petróleo.
A exportação neste período foi de 278 milhões de barris e trouxe
divisas equivalentes a US$ 11,9 bilhões ao país, o que permite calcular que o
preço médio do barril vendido foi de US$42,8. A ampliação da exportação de óleo cru extraído no Brasil começou no final do ano passado, mas é este ano que ele ganhou este patamar que se aproxima da metade de toda a produção nacional.
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Navio petroleiro da Petrobras que atende exportação
de óleo cru e importação de combustíveis e derivados |
O petróleo bruto exportado do Brasil entre este ano (Jan-Ago)
80% é proveniente do litoral fluminense e da Bacia de Campos. As diversas
petroleiras estrangeiras que atuam no Brasil têm solicitado autorização da ANP
e Receita Federal para exportar o óleo que elas produzem no Brasil. [2]
A Shell que hoje é segunda maior produtora de petróleo país com
320 mil barris de óleo por dia (10% de sua produção mundial) recebeu em
setembro aval da Receita Federal para usar procedimentos simplificados na
exportação do óleo produzido no campo de Lula, no pré-sal da Bacia de Santos.
A chinesa CNODC, por exemplo, já recebeu autorização para
enviar para fora do país o óleo que será produzido durante o teste de longa
duração (TLD) de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, previsto para começar
antes do fim deste ano.
Para aproveitar o movimento de exportação brasileira de óleo cru, a também chinesa Sinopec,
que atua no país por meio da joint venture Repsol Sinopec, vende a produção
nacional para empresas de trading, que negociam o energético em diversos
países. O óleo da petroleira no país vem dos campos de Lapa e Sapinhoá, na
Bacia de Santos, e Albacora Leste, em Campos.
Segundo matéria da revista Brasil Energia [2], as petroleiras
e o governo brasileiro já concordam que a tendência do Brasil é se consolidar
como exportador líquido de petróleo e importador líquido de derivados nos
próximos anos. O que confirma as nossas análises de desintegração da estatal de petróleo deixando a tarefa mais custosa de exploração/perfuração para elas.
Este é o jogo das petroleiras privadas. Elas procuram pouco petróleo. Por isso 90% das reservas mundiais estão nas mãos da petroleiras estatais (NOCs - National Oil Corporations). As petroleiras provadas (IOCs - International Oil Corporations) ajudam a mudar o regime capturar o poder político dos estados-nações onde estão estas reservas, e assim chegarem "legalmente" estas reservas.
É certo que os US$ 11,9 bilhões arrecadados com a venda do
óleo cru não banca os gastos com o volume quase equivalente ao que o Brasil
importa de combustíveis e outros derivados de petróleo [3], apesar do nosso
parque de refino estar hoje trabalhando com cerca de 30% de sua capacidade
ociosa, equivalente a cerca de 700 mil barris por dia. Há quatro/cinco anos atrás, as nossas refinarias trabalhavam com até 95% de suas capacidades instaladas.
É certo que uma parte do óleo exportado (mais pesado) precisa
de refinarias adequadas a ela. Porém, reduzir tanto o processamento em nossas
refinarias aumenta o custo médio do que aqui é produzido, além de levar divisas
ao exterior com o uso menor de nossa base industrial.
A China segue sendo a maior importadora do óleo cru ficando
com 43% de tudo que exportamos, equivalentes a 497 mil barris por dia. Os EUA é
nosso segundo maior importador de óleo que é processado nas refinarias na
região do Texas e do Golfo do México que processa óleo pesado. Outras 15 nações
adquirem nosso petróleo.
O Brasil tem 18 refinarias, sendo 11 da Petrobras e um
capacidade de refino em torno de 2,4 milhões de barris de petróleo por dia. É
fato que esta decisão da atual diretoria tem relação com sua estratégia de
venda de ativos por partes da holding Petrobras, entre elas algumas refinarias
e a distribuidora BR que atende na venda dos combustíveis ao consumidor final.
Vale observar como uma decisão leva a outra. O fato da
Petrobras estar sendo desintegrada, ou seja deixando de ser uma empresa de
petróleo com atuação do poço ao posto, em toda a cadeia produtiva, reduz a
capacidade da empresa decidir políticas que proteja a mesma das oscilações do
mercado internacional, incluindo as tradings que atuam no comércio de óleo cru
e derivados.
Assim, é inimaginável que quando o petróleo estava acima de
US$ 100 o barril, a nossa gasolina estivesse a pouco mais de R$ 3,00 por litro, e
hoje, com o barril na casa dos R$ 50, o litro da gasolinha esteja quase 50% acima
deste valor.
Desta forma, não é difícil observar que a Petrobras deixou de
ter o controle do comércio de derivados no país e assim passou a seguir as
linhas das grandes corporações, no caso em específico, as tradings.
Algumas vezes eu comentei
aqui [4] a declaração de John
Abbott, diretor da área de abastecimento e refino da Shell de que “
as grandes petroleiras devem ter presença em
toda a cadeia de negócios, da plataforma de perfuração à bomba de gasolina... Em
uma empresa integrada de petróleo, você aprende que o valor pode deslocar-se
para cima e para baixo ao longo da cadeia... O 'downstream' é um motor
constante de dinheiro para pagar dívidas, pagar dividendos e financiar o
crescimento."
Pois bem, enquanto isto, a atual diretoria comandada pelo Parente faz exatamente o
inverso, desintegrando e desverticalizando a empresa, além de tornando-a menor, também na área de exploração e produção, com venda dos campos da Bacia de Campos e Santos.
Isto é quase pior que a privatização completa, porque ao se
concentrar na perfuração para achar petróleo (a atividade mais cara e de maior
risco) e depois entregar de bandeja a “joia da coroa” é crime de lesa pátria
tão ou mais grave do que aquilo que fizeram com a venda lucrativa Vale do Rio
Doce.
Volto a dizer, o golpe planejado e em curso no Brasil, faz
com que o país tenha passado a ser no mundo o maior “case” (ou laboratório) do
ultraliberalismo de mercado com a captura por completo do poder político. Sem
dúvida o exercício de um liberalismo ainda mais exacerbado que o laboratório
dos “Chicago-boys” no Chile na década de 70.
Nunca foi tão necessário debater isto com os brasileiros. Em
algum momento vamos exigir um referendo revogatório destes descalabros punindo
severamente todos estes entreguistas.
PS.: Atualizado ás 14:43: para breve acréscimo no texto.
Referências:
[1] Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural da ANP,
agosto de 1017. Disponível em: ehttp://www.anp.gov.br/wwwanp/images/publicacoes/boletins-anp/Boletim_Mensal-Producao_Petroleo_Gas_Natural/Boletim-Producao_agosto-2017.pdf
[2] Matéria da jornalista Gabriela Medeiros em 10 out. 2017 da
revista Brasil Energia Online “Para onde vai o óleo do Brasil?”. Disponível
em: http://brasilenergiaog.editorabrasilenergia.com/cadun/login?url_retorno=/news/oleo/logistica-e-comercializacao/2017/10/para-onde-vai-o-oleo-do-brasil-450524.html
[3] O volume de combustíveis e derivados importados e os valores
pagos pelo país, ainda estão sendo estratificados dos dados agregados,
divulgados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
[4] Nota no blog sobre a John Abbott, diretor da área de
abastecimento e refino da Shell, publicada no Valor em 31/07/2016, P. B3,
a partir de matéria do Financial Times: http://www.robertomoraes.com.br/2017/01/diretor-da-shell-realca-importancia-de.html