Todos os dias, a Arábia Saudita - que junto com os EUA apostou na redução na inversão da fase de preços do ciclo do petróleo (ver postagem do blog aqui) - produz 10 milhões de barris por dia, permanecendo com o maior exportador mundial de petróleo, diz que pretende se libertar da dependência desta riqueza mineral.
Assim, há dois anos, o rei e o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman fala no seu plano Vision 2030. Desta forma, depois do rei ir à Rússia e fazer acordos (vários, além de comprar armas) que possam aumentar o preço do barril a mais de US$ 70 dólares no ano que vem, anunciou ontem que o seu fundo soberano, o Public Investment Fund (PIF) que vai bancar com US$ 500 bilhões, a construção de uma zona industrial e de negócios, denominada Neom, num área prevista de 26 mil km². Neom significaria, "Neo-Mostaqbal, ou o novo futuro.
Esta área para a região de negócios Neom é equivalente a 60% da área de todo o estado do Rio de Janeiro (que tem 46 km²). O valor que se pretende investir de US$ 500 bilhões, equivale a 80% do patrimônio de US$ 632 bilhões que este fundo (PIF) tinha no ano passado, quando era o 4º maior fundo soberano no mundo, com recursos oriundos da extração de petróleo. [1]
Para ampliar o patrimônio do fundo soberano saudita, eles pretendem vender entre 5% e 10% de sua empresa de petróleo a Saudi-Aramco que teria, hoje, um valor estimado entre US$ 5 e US$ 6 trilhões.
Imagem do Golfo Ácaba, Arábia Saudita. Fonte: https://newatlas.com |
As ideias para o projeto da região Neon é que ela trabalhe com energia renovável (como todo novo projeto começa dizendo), outras energias (o mundo mais real), água, biotecnologia, alimentos, indústria avançada e lazer e entretenimento. O projeto fala ainda numa legislação própria para a zona especial apensar dela ser ligado ao Reino da Arábia Saudita. Porém, qualquer semelhança com outros Grandes Projetos de Investimentos (GPI) pelo mundo, que vende a modernização, não será um mera coincidência.
O movimento vertical e horizontal do capital
Mais uma vez se vê aqui o movimento dos capitais através dos fundos financeiros que fazem a mediação (movimento horizontal) entre os setores econômicos a serem investidos, conforme suas rentabilidades.
Os fundos como capital fictício foi gerado a partir de base material da extração mineral e daí ele sobe ao andar das altas finanças (movimento vertical), se movimenta (horizontalmente para outras frações do capital - ou setores econômicos) para depois voltar num movimento vertical para a base da pirâmide, para ser investido em capital fixo (exemplo deste projeto) sobre o território, e assim gerar novas acumulações e lucros.
Mais uma vez eu chamo a atenção para o papel dos fundos financeiros (soberanos, equity hedge, previdenciários, etc.) que é quem faz esta mediação no movimento horizontal entre as frações do capital para buscar setores (produção imobiliária, infraestrutura, eventos, agronegócios, etc.) que ofereçam maior rentabilidade na produção material para a geração dos excedentes econômicos, reprodução e ampliação do capital.
Interessante ainda observar que num mundo que se diz cada vez mais globalizado, os Estados-nações detentores de recursos e fundos soberanos, antes de observarem as oportunidades de reprodução do capital pelo mundo, planejam o desenvolvimento econômico em seus territórios.
Diante de mais esta observação é quase natural que façamos uma pergunta: o que o Brasil (hoje pós-golpe) fará com a riqueza gerada com as reservas de petróleo do nosso Pré-sal, se até o mínimo de exigência em conteúdo local se está abrindo mão, além de ter abandonado a ideia do fundo social para financiar o nosso estado de bem-estar-social (welfare-state) com investimentos nas áreas de educação e saúde?
Referências:
[1] Tabela dos maiores fundos soberanos do mundo, P. 89 da Tese de doutorado de Roberto Moraes Pessanha, o blogueiro: "A relação transescalar e multidimensional "Petróleo-Porto" como produtora de novas territorialidades". Março 2017 PPFH-UERJ. Disponível no:
Banco de Dissertações e Teses da UERJ: http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/processaPesquisa.php?listaDetalhes%5B%5D=7433&processar=Processar.
Rede de Pesquisas em Políticas Públicas da UFRJ: em: http://www.rpp.ufrj.br/library/view/a-relacao-transescalar-e-multidimensional-petroleo-porto-como-produtora-de-novas-territorialidades
[2] TORCHIA, Andrew. Reuters. Matéria republicada pelo Valor, 25 out. 2017, P. A9. De olho no pós-petróleo, sauditas projetam zona especial de US$ 500 bi. Disponível em:
[3] Matéria do Jornal de Notícias (JN) de Portugal, em 24 out. 2017. Arábia Saudita anuncia construção milionária de megacidade. Disponível em: https://www.jn.pt/mundo/interior/arabia-saudita-anuncia-construcao-milionaria-de-megacidade-8868713.html
[4] Matéria do New Atlas, em 25 out. 2017. Introducing Neom, the 500 billion-dollar, ultra-high tech future megacity of Saudi Arabia. Um total de 8 fotos, além da divulgada acima mostra a localização geográfica do projeto Neom. Disponível em: https://newatlas.com/neom-saudi-arabia-future-megacity/51893/
PS.: Atualizado às 14:54: Para acrescentar um mapa que define a localização da região onde o projeto Neom da Arábia Saudita seria instalado conforme a descrição da localização acima. Fonte: https://newatlas.com.
PS.: Atualizado às 16:34: Para registar o que significaria o título do projeto saudita Neom: "Neo-Mostaqbal, ou o novo futuro.
PS.: Atualizado às 14:54: Para acrescentar um mapa que define a localização da região onde o projeto Neom da Arábia Saudita seria instalado conforme a descrição da localização acima. Fonte: https://newatlas.com.
PS.: Atualizado às 16:34: Para registar o que significaria o título do projeto saudita Neom: "Neo-Mostaqbal, ou o novo futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário