Há dois dias, a agência de notícias americana de assuntos
financeiros e corporativos, Bloomberg, informou que o fundo financeiro, também americano,
Blackstone ofereceu US$ 6 bilhões para adquirir a rede de gasodutos da
Petrobras na região Nordeste. (Veja a notícia aqui)
Trata-se de uma importante malha de ramais de gasodutos que
somam cerca de 1.100 km na distribuição de gás natural pela região Nordeste.
Além deles, há o ramal que interliga A Unidade de Processamento de Gás Natural
da Petrobras de Cabiúnas, em Macaé, no ERJ ao município baiano de Catu e que
possui uma extensão de 1.200 quilômetros.
Veja abaixo o mapa da malha de gasodutos no Brasil com destaque para a região Nordeste. Logo a seguir estará descrita a lista destes ramais de gasodutos:
Ramais de gasodutos no Nordeste:
1 - GASFOR (Gasoduto Guamaré – Pecém): capacidade de
transporte de 292 milhões de m³/dia, extensão de 383 Km. Abastece os municípios
cearenses de Icapuí, Horizonte e Maracanaú com o Gás Natural de Guamaré
(RN).
2 - NORDESTÃO I (Gasoduto Guamaré – Cabo): capacidade de
transporte de 313 milhões de m³/ano, extensão de 424 Km. Abastece um total de
11 municípios dos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco com o
Gás Natural processado em Guamaré (RN).
3 - GASALP (Gasoduto Alagoas – Pernambuco): capacidade de
transporte de 2 milhões de m³/dia, extensão de 204 Km. Em atividades desde
1999, abastece o município de Cabo (PE) com o Gás Natural de Pilar (Alagoas).
4 - Gasoduto Lagoa Parda – Vitória: capacidade de transporte
de 365 milhões de m³/ano, extensão de 100 Km. Em atividades desde 1984,
abastece os municípios de Aracruz, Serra e Vitória com o Gás Natural de Lagoa
Parda.
5 - GASENE (Gasoduto Sudeste – Nordeste): capacidade de
transporte de 20 milhões de m³/dia, extensão de 1200 Km, interligando da
estação de processamento de gás de Cabiúnas (RJ) a Vitória (ES), de Vitória a
Cacimbas (ES) e de Cacimbas a Catu (BA).
Sobre a venda desta malha de gasodutos da região Nordeste
brasileira, é importante inda dizer que além do interesse do fundo financeiro
Blakstone, o fundo árabe de Abu Dhabi A Mubadala
Development e o fundo financeiro americano, EIG
Global Energy Partners que controla a holding Prumo Logística Global, proprietária
do Porto do Açu, também manifestaram interesse na compra deste ativo e fizeram ofertas
para a participação de 90% na Transportadora Associada de Gas S.A., assim como
um consórcio liderado pela empresa francesa Engie
SA.
O interesse do fundo EIG (Prumo) deve ter relação com o hub
de gás que o fundo estrutura no Porto do Açu, no norte do Estado do Rio de Janeiro.
Na proposta da Blackstone está incluída a participação do
fundo de “private equity” Patria que é conhecido em investimentos de
corporações no Brasil e na América Latina.
Similar à venda da malha de gasodutos do Sudeste para o fundo canadense Brookfield:
O processo é muito similar à venda da malha de gasodutos do
Sudeste que era controlada pela Petrobras, para o fundo financeiro canadense
Brookfield por US$ 5,2 bilhões. Como uma espécie de intermediário deste
negócio, o Itaú ficou com 7,65% da empresa NTS.
Tratou-se de uma operação iniciada em setembro de 2016 e
fechada em definitivo abril deste ano. Na ocasião, a Petrobras, já no seu
período golpista, fechou a venda da Malha de Gasodutos do Sudeste (vinculada à
TAG (Transportadora Associada de Gás – TAG S.A., através da empresa Nova
Transportadora do Sudeste - NTS).
Interessante observar que no negócio, a Transpetro, outra subsidiária da Petrobras, especializada em logística e transportes, permaneceu
responsável pela operação e manutenção dos ramais de gasodutos e estações de
bombeio, através de um novo contrato de serviços, firmado entre o novo controlador
da NTS (o fundo financeiro canadense Brookfield).
Vale lembrar que pelos resultados financeiros da Petrobras no último trimestre (e também de avaliação do banco CreditSuisse), se identificou que o valor pago, como tarifa pela estatal, para trafegar o volume de gás natural produzido em seus poços e campos, nos gasodutos que vendeu para a Brookfield, em apenas 18 meses terá equivalido ao que o fundo canadense pagou pela compra da malha de 2,5 mil quilômetros de dutos na região Sudeste.
Estes dados podem ser conferidos pro quem se interessar pelo tema. Um absurdo crime que tem sido acobertado tão, ou mais grave que os desvios nos contratos superfaturados da estatal.
Vale lembrar que pelos resultados financeiros da Petrobras no último trimestre (e também de avaliação do banco CreditSuisse), se identificou que o valor pago, como tarifa pela estatal, para trafegar o volume de gás natural produzido em seus poços e campos, nos gasodutos que vendeu para a Brookfield, em apenas 18 meses terá equivalido ao que o fundo canadense pagou pela compra da malha de 2,5 mil quilômetros de dutos na região Sudeste.
Estes dados podem ser conferidos pro quem se interessar pelo tema. Um absurdo crime que tem sido acobertado tão, ou mais grave que os desvios nos contratos superfaturados da estatal.
Um verdadeiro escárnio, considerando ainda que a expertise pelo trabalho continua sendo desenvolvido pela Transpetro. Ou seja, a Petrobras passou a ficar refém do gasoduto. Assim, a renda de monopólio foi transferida de um agente público para um fundo financeiro privado que poderá impor seus interesses. Processo semelhante está sendo articulado para a malha de gasodutos do Nordeste.
Os pipelines são estratégicos demais para serem “liquidados”
sem nenhum controle. Há uma semana, eu comentei aqui sobre o Circuito Espacial
do Petróleo na Bahia e fiz referência ao município de Madre de Deus que é
cortado por vários dutos e mais da metade da área de 11 km² é hoje administrada
pela Petrobras e agora passará a ser de um fundo americano.
A cada estudo, pesquisa de dados, visita de campo, mais os
depoimentos de moradores e trabalhadores, é possível ver o tamanho do crime
deste desmonte no setor de petróleo e gás no Brasil.
Por conta disto tudo, eu resolvi me dedicar, após a defesa de minha tese de doutorado, a analisar o movimento
desta fração do capital na captura do poder político e no "desvio" da
regulação nacional, com a obtenção de isenções e incentivos fiscais. Como foi exposto no texto do The Intercept republicado aqui no blog, em nota abaixo.
Além disso, tenho chamado a atenção para o papel dos fundos
financeiros globais nas aquisições de corporações no Brasil, neste momento
em que os ativos nacionais estão baratos, por conta da crise, assim como da
liquidação a preço vil das empresas estatais de vários segmentos, mas de forma
especial na área de energia.
Adiante, eu tratarei deste assunto sobre a mobilidade dos
fundos financeiros, sem cara e sem que se conheça a origem dos seus recursos,
entre as várias frações do capital. Os fundos com sua capacidade de reestruturas as empresas com corte de custos e de diretos feitos pelos seus gerentes amplia os lucros de seus investidores.
Isto permite que os fundos façam mais captações e transitem livremente por setores da economia e nos espaços das nações, conforme suas expectativas de acumulação de lucros e rentabilidades. Para isso movimenta seu capital entre as frações. Assim articulam e cooptam o poder político dos Estados-nação para exerce as pressões que garantirão o rebaixamento das guardas regulatórias.
Desta forma, ampliam enormemente seus lucros e patrimônios que são novamente transformados em capital fictício a partir de ciclos de acumulações regionais ligados às bases da produção material, onde as corporações estão instaladas.
As consequências do golpe "soft-power" no Brasil
Nesta linha, volto a repetir que o Brasil se transforma, a
cada dia, no maior “case” mundial de dilapidação e entrega de seus patrimônios
e ativos nesta fase de retomada do neoliberalismo, superando a história do
neoliberalismo no Chile da ditadura Pinochet na década de 70.
O curto espaço de tempo com que este processo se desenvolve e
a armação jurídico-midiática, no estilo “soft-power”, não esconde a forma pela
forma violenta e vil de retirada de direitos sociais e recolhimento dos
excedentes da base material de nossa economia, sem ter lançado mão de uma
ditadura formal como no Chile.
É fato que a elite econômica nacional, no meio deste
processo, fez opção de se abraçar ao esquema mercadista, optando pela condição
de pouco risco (no capitalismo de laços), lutando pelos percentuais destes
negócios, sem se importar com a entrega de nossas riquezas e com o projeto de
Nação que um dia chegou a participar.
O caso da entrega dos gasodutos é tão clarividente quanto a entrega da nossa riqueza mineral, pois se trata de fechar o ciclo garantindo o controle sobre a circulação da mercadoria até os mercados consumidores.
Não será fácil, mas é possível que boa parte destas ações do governo golpista possa ser
revertido por decisão política, talvez, até abrindo mão do referendo revogatório. Tamanho o acinte e a forma vil com que tudo isto tem sido conduzido por este
governo entreguista e corrupto. Voltaremos ao tema.
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