Assim, Soffiati detalha com vasto material visual (mapas, imagens e fotografias) sobre os recursos hídricos, a vegetação nativa e as intervenções humanas que foram produzindo transformações neste interessante território. É importante observar a integração regional a partir dos bens naturais e como o homem foi produzindo as transformações produzindo novas territorialidades a partir da forma de ocupação.
É um material muito rico que se soma aos anteriores que podem ser lidos, aqui, aqui e aqui e estão na seção, no lado direito do blog, com o título "Revisitando o Noroeste Fluminense", embora a pesquisa de campo tenha mostrado que a integração entre as regiões fluminenses exigiram que os relatos de campo fossem se estendendo para outros municípios e regiões do interior fluminense.
Vale ainda informar que logo abaixo desta nova seção, há outra com 20 textos analíticos do Soffiati que foram agrupados pelo título "Eco-história da Região São Tomé".
Afixem os cintos, abram as janelas e as mentes para viajar no espaço da geografia e no tempo da história desta região tendo como guia o bravo mestre Soffiati:
Revisitando a zona serrana do
norte fluminense III: eixo do complexo rio Iguaçu-lagoa Feia-rio Ururaí- lagoa
de Cima-rio Imbé
Arthur Soffiati
Explicando
o eixo. De
todos os eixos que ligam a zona serrana aos terrenos baixos da Ecorregião de
São Tomé, o do rio Iguaçu é o mais complexo. Para compreendê-lo, é necessário
um exercício de abstração, pois nem todas as partes do cordão existem em sua
integralidade. O trecho territorial entre a margem direita do rio Paraíba do
Sul e o primeiro estirão do rio Iguaçu, também conhecido como Barro Vermelho ou
do Espinho é constituído por uma planície aluvial recente separada do mar por
um alto cordão arenoso que liga duas restingas. Mas não é apenas essa dimensão
que confere complexidade ao eixo, pois ele é formado pela lagoa Feia, onde
nasce o Iguaçu. Também pelo rio Ururaí, que desemboca na lagoa Feia e começa na
lagoa de Cima. Finalmente, o rio Imbé, que desemboca na lagoa de Cima e recebe
as águas dos pequenos rios que descem da Serra do Mar (Imbé). Pois é esse eixo constituído
de rios e lagoas entre a zona serrana e o mar que começamos a percorrer no dia
8 de janeiro de 2018. Ficamos apenas na parte baixa, entre Xexé e Barra do
Furado.
As localidades que pontuam o eixo, da costa para o
interior, são Açu, Xexé, Farol, Barra do Furado, Ponta Grossa dos Fidalgos,
Ururaí, São Benedito e Sossego do Imbé, para só assinalar os principais.
Seguindo em frente, pode-se chegar a Trajano de Morais.
O rio Iguaçu, antes de 1935, quando começaram as obras de
macrodrenagem da Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, que passou a se
denominar Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) em 1940, nascia da
reunião de inúmeros sangradouros da lagoa Feia que se reuniam na lagoa do
Lagamar. Os nomes dos principais são ou eram rios Velho, Barro Vermelho, Novo
(no passado, Novo do Colégio), Furado, Pau Grande, da Onça, Caxexa, Angá,
Carapebas, Bragança, Viegas, do Gil, Andreza. Depois de um desembocar no outro,
todos confluíam na lagoa Lagamar. Dela, saía o rio Iguaçu propriamente dito,
que recebia defluentes do rio Paraíba do Sul, formava o grande banhado da Boa
Vista e desembocava no mar.
Rio Iguaçu ou Barro Vermelho
em Quissamã no verão de 2018
Numa planície aluvial com mínima declividade entre a
margem direita do rio Paraíba do Sul e o mar, corriam defluentes do grande rio para
o Iguaçu. O principal deles era o Água Preta, aproveitado pelo DNOS para abrir
o canal do Quitingute. O Iguaçu devia contar com grande vazão. Daí o nome
I=água+guaçu=grande. Seguindo o eixo da parte baixa para a alta por água, seria
preciso começar pela barra do Iguaçu (hoje, lagoa do Açu), seguir até o Lagamar,
subir um sangradouro da lagoa Feia até o corpo dela, navegar o rio Ururaí até a
lagoa de Cima e, dela, subir o rio Imbé. A zona serrana teria sido atingida.
Trata-se de um eixo difuso e complexo, no passado perfeitamente navegável.
Hoje, não mais.
Águas. Na planície entre a margem
direita do rio Paraíba do Sul e o rio Barro Vermelho, havia uma profusão de
canais naturais e lagoas. Tratava-se de um conjunto complexo de ecossistemas
aquáticos. Todos os cartógrafos que tentaram registrar a infinidade de lagoas e
canais acabaram simplificando o conjunto, já que ele mudava sensivelmente com
as estiagens e as cheias. Essas águas se acumulavam e vertiam lentamente para o
Lagamar, onde havia uma barra que as escoava para o mar. Ela era aberta
naturalmente por força das águas ou por braços humanos. Mesmo assim, sua
abertura era insuficiente para esgotar o excedente hídrico. As aguas seguiam adiante
até o mar pelo rio Iguaçu, cuja foz ficava num ponto mais protegido das fortes
correntes marinhas. Em 1688, o capitão José de Barcelos Machado abriu uma vala
até o mar que se chamou Barra do Furado. Mesmo assim, escoadas as águas
consideradas excedentes para a agropecuária, o mar vedava tanto a barra do
Furado quanto a barra Velha, no Lagamar. Mesmo a barra do rio Iguaçu não se
mantinha permanentemente aberta. Água e terra, portanto se misturavam antes de
1935. O DNOS tentou impor ao complexo uma ordem euclidiana, ou seja,
geométrica. Essa nova ordem se superpõe à antiga, que sempre amaça voltar
quando a nova ordem não recebe manutenção.
Mapa organizado por Alberto
Ribeiro Lamego em 1954 retratando parte da antiga fisionomia hídrica anterior a
1935.
Vegetação
nativa. A
planície entre a margem direita do rio Paraíba do Sul e o rio Barro Vermelho é
formada por uma zona aluvial e por uma restinga. A parte aluvial foi
construída, em sua maior parte, pelo Paraíba do Sul, que transportou sedimentos
da zona serrana e dos tabuleiros para dentro de uma semilaguna, a partir de
5.100 anos antes do presente. A semilaguna era demarcada por um cordão de ilhas
compridas situadas além da linha da costa atual, como mostram Martin, Suguio,
Dominguez e Flexor. Essas ilhas foram erodidas, consolidando-se a costa em
ponto mais recuado ao sul. A parte oriental da planície aluvial foi alongada
por uma grande restinga. A sudoeste da planície já existia uma planície bem
mais antiga, com idade de 123 mil anos antes do presente. Ela era mais alta que
os terrenos novos da baixada fluviomarinha, mas, sofrendo um processo natural
de rebaixamento (subsidência), ela se nivelou à planície recente. Ondas
formaram nessa restinga antiga um cordão de lagunas paralelo à costa.
Mapa sobre a formação
geológica da planície dos Goytacazes organizado por Martin, Suguio, Dominguez e
Flexor, 1997
Hildebrando de Araújo Góes, em seu relatório de 1934, não
levou em consideração as idades de formação das planícies, considerando como
uma única baixada as terras que se estendem entre a margem direita do Paraíba
do Sul e a margem esquerda do rio Macaé. Ainda não existiam estudos
pormenorizados de geologia. O grau de umidade variava no interior da planície,
sendo maior nos cursos d’água e lagoas e menor nas restingas, com solo arenoso.
As formações vegetais nativas variam de acordo com a
umidade. Nas desembocaduras dos rios no mar, formaram-se manguezais,
classificados por Veloso como formações pioneiras de influência fluviomarinha.
Nas lagoas, desenvolveu-se uma vegetação de pequena estatura denominada de
pioneira de influência fluvial. Nas restingas, a influência da salinidade e do
mar condicionou um tipo de vegetação denominada de pioneira de influência
marinha. Nas partes mais altas da planície aluvial, cresceram tufos de florestas
que podem ser chamadas de higrófilas.
De todas as
formações vegetais nativas que ocorrem neste trecho da costa, a mais indicativa
das transformações impostas pela economia de mercado a partir do século XVII é
o manguezal. Levanto a hipótese de que este tipo de vegetação se estendia ao
longo do rio Iguaçu, que corria atrás da crista arenosa no passado, da sua foz
a um ponto do rio, hoje nas imediações da fazenda São Miguel, em Quissamã.
Suponho que a influência de maré chegava até lá, transportando sementes
(propágulos) das três espécies exclusivas de mangue mais comuns na região: o
mangue vermelho (Rhizophora mangle), a siribeira (Avicennia germinans) e o
mangue branco (Laguncularia racemosa).
Antigo
rio Iguaçu com suas três saídas para o mar. Mapa de Bellegarde e Niemeyer-1865
Pontos
da costa de Campos e de Quissamã em que ocorrem manguezais: 1- Manguezal da
lagoa do Açu; 2- manguezal da Carapeba; 3- manguezal do canal da Flecha; 4-
manguezal da fazenda São Miguel
Sucede que as obras empreendidas pela Comissão de
Saneamento da Baixada Fluminense e pelo DNOS, a partir de 1935/1940,
substituíram o rio Iguaçu pelo canal da Flecha. Os moradores mais antigos dessa
costa não chegaram a conhecer tais obras e pensam que a configuração geográfica
atual existe desde sempre. O Iguaçu foi abandonado e secionado em vários
trechos. As marés não sobem mais pelo seu curso como antigamente.
Em mapa de A.R. Lamego, os
defluentes da lagoa Feia. Em vermelho, pode-se considerar a ligação de quatro
cursos d’água como o antigo rio Iguaçu. Em azul, o canal da Flecha seccionou o
complexo.
O manguezal que
começava na foz do Iguaçu (hoje lagoa do Açu) corria na retaguarda do cordão
sobre o qual se ergueriam as localidades de Xexé e de Farol de São Tomé e
chegava à fazenda São Miguel. Dele, restaram três fragmentos: o da foz, que se
estende por 10 quilômetros num canal embutido na restinga, o da ilha da
Carapeba, na margem esquerda do canal da Flecha, e o da fazenda de São Miguel.
Manguezal da lagoa do Açu:
população de mangue de botão entre outras espécies. Foto da década de 1990
O fragmento com maior diversidade é o primeiro, junto à
foz. Além das três espécies exclusivas desse ecossistema, encontra-se ainda o
mangue de botão (Conocarpus erectus), que pode crescer em outro ambiente. No
fragmento da ilha da Carapeba, até o momento, só foi encontrado o mangue
branco, que forma um vasto bosque sob forte estresse. Na fazenda São Miguel,
restou apenas um tufo de manguezal, com diversidade menor que o de foz, mas com
diversidade maior que o da Carapeba. Esse tufo já passou por secas ingentes,
levando os estudiosos (poucos) a concluir por sua extinção. Contudo, ele se
renovou e apresenta exemplares de mangue branco e de siribeira florindo, frutificando
e se reproduzindo em condições precárias.
Manguezal da ilha da Carapeba
em 2013: na frente, areia da restinga; no fundo, população de mangue branco
A novidade é que o canal da Flecha formou um estuário
instável que permitiu a entrada de sementes de mangue branco formadores de um
pequeno manguezal na margem direita do curso d’água, no lado de Quissamã, junto
à vila de Barra do Furado. O autor presenciou a formação deste manguezal
monoespecífico nos anos de 1990. Mesmo que moradores locais afirmem que os
quatro exemplares iniciais foram plantados por mão humana, eles não têm relação
com o antigo rio Iguaçu.
Exemplares de mangue branco na
margem direita do canal da Flecha na década de 1990. Pais do manguezal atual
Manguezal da margem direita do
canal da Flecha em 2018
Mas apenas
levanto a hipótese de que o manguezal da Carapeba e da Fazenda São Miguel são
fragmentos do longo manguezal que se desenvolveu no curso do antigo rio Iguaçu
e seus formadores. À medida que ele se estendia nas margens dos rios, a
biodiversidade ia se empobrecendo. Curioso que, na Carapeba, ele seja formado
apenas pelo mangue branco e em ponto mais recôndito e impróprio, como na
fazenda São Miguel, ele conte com duas espécies. Seria preciso um estudo de
sedimentos (sedimentologia) e de pólen (palinologia). Alguns já foram
empreendidos na região, mas não conto que outros sejam feitos para desvendar o
mistério que encontrei.
Manguezal (seco) da fazenda de
São Miguel na década de 1990.
Manguezal da fazenda São
Miguel com duas espécies exclusivas em 2018
A segunda hipótese está associada ao canal da Flecha.
Teria ele permitido a colonização da ilha da Carapeba por mangue branco? As
duas espécies de mangue na fazenda São Miguel teriam penetrado quando da
abertura periódica da comporta do rio Espinho ou Iguaçu? Caso ele tenha
aproveitado uma abertura de comporta, cumpre saber como resiste, floresce e se
reproduz sem a influência das marés. Quanto ao manguezal da margem direita do
canal da Flecha, em Quissamã, não resta dúvida de que os exemplares da espécie
entraram pelo canal ou foram plantados, embora seja raro uma pessoa plantar
mudas (plântulas) de manguezal. Seu crescimento foi rápido. As condições eram
razoavelmente favoráveis para tanto. Embora o estuário (encontro de rio e mar)
formado no canal sofra muitas variações entre o período da estiagem, quando as
comportas que controlam o fluxo de água doce proveniente da lagoa Feia são
fechadas, e o período de cheia, quando elas são abertas, o mangue branco
resiste a essas variações.
Crescendo sobre solo arenoso, os cinco exemplares
disseminaram sementes (propágulos) e formaram um bosque, criando um substrato
lamoso, típico de manguezal. Curioso notar que, antes mesmo desse bosque, já
havia guaiamum na área, como a demarcar um manguezal inexistente, mas
potencial. Hoje, com o substrato lamoso, podem ser encontrados vários
exemplares do caranguejo-uçá, que vive no centro do manguezal. Eles ainda não
são coletados para consumo porque a tradição pesqueira de Barra do Furado se volta
para a pesca no mar ou no canal. A economia local ainda não descobriu essa
espécie. Por enquanto, ela está protegida pelo desconhecimento.
Exemplar de caranguejo-uçá no
manguezal da margem direita do canal da Flecha em 2018
Transformações
humanas. Foi
no trecho costeiro entre a margem direita do Paraíba do Sul e as cabeceiras do
rio Iguaçu que começou a colonização europeia continua do futuro norte
fluminense. Afirma-se, sem a devida pesquisa, que pescadores vindos de Cabo
Frio fundaram São João da Barra em 1622. A atividade pesqueira já era praticada
pelos índios goitacás. Portanto a pesca não era novidade nem exigia a
transformação do ambiente. O volume de água interior era altamente favorável à
pesca.
Com mais documentação, pode-se sustentar que criadores de
gado bovino e cavalar chegaram ao cabo de São Tomé em 1632 provenientes do Rio
de Janeiro e de Cabo Frio para tomar posse das terras requeridas a título de
sesmarias. Trata-se dos Sete Capitães, que deixaram um diário de viagem. Eles e
seus herdeiros iniciaram a conversão de uma planície superúmida em área seca.
Em 1688, um herdeiro abriu a vala do Furado para o escoamento de água doce para
o mar.
Logo em seguida, a planície foi dividida em quatro
grandes propriedades rurais com pequenas propriedades alodiais entre elas. Uma
das grandes propriedades pertenceu aos jesuítas até 1759, quando a ordem
religiosa foi expulsa do império colonial português por iniciativa do Marquês
de Pombal. Os religiosos se incumbiam da limpeza dos canais naturais valendo-se
do trabalho escravo.
Depois da expulsão da ordem, a limpeza foi negligenciada.
Na primeira metade do século XIX, a aristocracia rural comandou a abertura de
quatro canais para atender a economia. O maior deles foi o canal Campos-Macaé.
Na segunda metade do mesmo século, as ferrovias substituíram as hidrovias,
contribuindo para a revolução industrial regional com a substituição dos
antigos engenhos por grandes usinas e engenhos centrais.
A demanda por terras secas que permitissem a expansão dos
canaviais levou os governos central e estadual a criar comissões de drenagem.
Apenas uma se sustentou. Foi a Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense,
criada pelo governo de Getúlio Vargas em 1933. Em 1935, ela começou a operar.
Em 1940, ela passou a se chamar Departamento Nacional de Obras e Saneamento
(DNOS), com atuação em todo o território brasileiro. Em 1950, a estrutura de
canais, comportas e diques estava praticamente instalada. A parte do território
escolhida foi exatamente aquela que se estende da margem direita do Paraíba do
Sul ao trecho inicial do rio Iguaçu.
Este foi substituído pelo canal da Flecha, com a intenção
de escoar com mais rapidez as águas da baixada para o mar. A área mais úmida e
mais complexa da planície é a que conta com a maior rede de canais de drenagem
da região, do Estado, da União e uma das maiores do mundo. O dessecamento da
baixada permitiu o avanço da agropecuária, mas acarretou a drástica redução de
áreas pesqueiras, afetando os pescadores. Acarretou também desequilíbrios
ambientais que potencializam as estiagens e as cheias, hoje conhecidas como
secas e enchentes.
A urbanização também começou por este trecho da baixada.
Macaé já existia enquanto arraial quando os Sete Capitães vieram tomar posse de
suas terras. Logo em seguida, ergueram-se Campos e São João da Barra. Vários
povoados foram surgindo ao longo da costa dessa planície, como Atafona, Gruçaí,
Açu, Xexé, Farol, Barra do Furado e João Francisco. Todas começaram como
pequenos aglomerados formados por casas com paredes de barro e telhado de
palha, como registraram os viajantes europeus e o antropólogo Luís de Castro
Faria.
Casas de palha em Ponta Grossa
dos Fidalgos. Foto de Casto Faria, 1941
Nenhum alcançou
o estatuto de cidade. Atualmente, a urbanização exagerada e descontrolada gera
também problemas socioambientais.
O
que restou do patrimônio.
As intervenções da economia de mercado na área em apreço produziram
transformações de tal monta que poucos testemunhos da natureza de 1500 e do
patrimônio cultural posterior restaram. Quem examina uma imagem de satélite da
região nota que, sob as mudanças processadas a partir de 1935, sobretudo, pulsa
ainda a antiga realidade anterior profunda. Na superfície, restaram poucas
amostras de ecossistemas, quase nenhuma íntegra. Da barra do rio Iguaçu, hoje
conhecida como lagoa do Açu, o leito do antigo rio em cerca de 10 quilômetros,
o banhado da Boa Vista e parte do rio Água Preta foram arrolados como área a ser
protegida por uma Unidade de Conservação pelo Plano Diretor de Campos dos
Goytacazes, datado de 2008. O Instituto Estadual do Meio Ambiente a requisitou
para ser protegida pelo Parque Estadual da Lagoa do Açu.
Daí em diante, existe um belo fragmento de vegetação de
restinga imprensado entre as localidades de Xexé e do Farol, que deve ser
ocupado pela especulação imobiliária, caso o poder público de Campos não crie
uma UC para sua proteção. A providência deve ser rápida, já que olhares
cobiçosos se debruçam sobre ele.
Daí em diante,
encontra-se a lagoa Lagamar, teoricamente protegida por uma Área de Proteção
Ambiental. Ela foi transformada num ponto de espetáculos musicais durante o
período de veraneio e de carnaval. Com a crise econômica nacional e municipal,
o local caiu no abandono, o que representa uma grande oportunidade para a
Prefeitura de Campos se empenhar para que a área volte a cumprir seus objetivos
originais de proteção ambiental.
Por fim, o
manguezal da ilha da Carapeba, listado no Plano Diretor como UC, mas
completamente abandonado ao despejo de lixo dos frigoríficos do Farol
principalmente. Estes quatro pontos poderiam ser administrados por um mosaico
de UCs, o que baratearia o custo de manutenção.
Já quanto ao
patrimônio cultural, ele é bem mais frágil que o patrimônio natural. O farol de
São Tomé é um monumento que, por todos os títulos, merece proteção.
Não restou
nenhuma casa de palha, como era conhecido este bem material no passado em todo
núcleo populacional na planície. Com dificuldade, encontramos uma casa antiga,
mesmo assim já em alvenaria que pertenceu a Cândido Manoel dos Santos
(conhecido como Candu). Ele já faleceu e a casa deve estar em poder de sua
família.
Antiga
casa de alvenaria em Barra do Furado
A capela de São
Miguel, na fazenda de mesmo nome, em Quissamã, data de 1974, mas foi erguida em
homenagem a um dos primeiros pontos a serem colonizados por portugueses, no
século XVII. Deveria contar com proteção especial.
Capela
de São Miguel
Por fim, a imponente sede da fazenda Capivari, às margens
da lagoa Feia é um prédio que se impõe pelo seu valor cultural.
Leituras
complementares
GABRIEL,
Adelmo Henrique Daumas e LUZ, Margareth da (Orgs.); FREITAS, Carlos Roberto B.;
SANTOS, Fabiano Vilaça dos; KNAUS, Paulo; SOFFIATI, Arthur (notas explicativas)
e GOMES, Marcelo Abreu. Roteiro dos Sete Capitães. Macaé: Funemac Livros, 2012.
GÓES, Hildebrando de Araujo.
Saneamento da Baixada Fluminense. Rio de Janeiro: s/e, 1934.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. Geologia das quadrículas de
Campos, São Tomé, Lagoa Feia e Xexé. Boletim nº 154. Rio de Janeiro:
Departamento Nacional da Produção Mineral/Divisão de Geologia e Mineralogia,
1955.
LAMEGO,
Alberto Ribeiro. Restingas na costa do Brasil. Boletim nº 96. Rio de Janeiro: Ministério da
Agricultura/Departamento Nacional da Produção Mineral/Divisão de Geologia e
Mineralogia, 1940.
MARTIN, Louis; SUGUIU,
Kenitiro; DOMINGUEZ, José M.L. e FLEXOR, Jean-Marie. Geologia do Quaternário
Costeiro do Litoral norte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Belo
Horizonte: CPRM, 1997.
SOFFIATI, Arthur. A história ambiental de um campo
nativo de planície. Anais do III Encontro da ANPPAS. Brasília: Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, 2006.
SOFFIATI, Arthur. História das ações antrópicas
sobre os ecossistemas vegetais nativos das regiões norte e noroeste do Estado
do Rio de Janeiro. Perspectivas v. 4, nº 7. Institutos Superiores de Ensino do
CENSA. Campos dos Goytacazes (RJ): ISE/CENSA, jan./jun. de 2005.
SOFFIATI, Arthur. Os
canais de navegação do século XIX no Norte Fluminense. Boletim do Observatório
Ambiental Alberto Ribeiro Lamego nº 2 (Edição Especial). Campos dos Goytacazes:
CEFET Campos, jul/dez 2007.
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