Isto se ampliou agora. Antes, lá atrás, a Opep, que hoje produz cerca de um terço de toda produção mundial de petróleo, definia o mercado. Hoje não mais.
Os EUA como maior consumidor (disparado do mundo) e hoje, o segundo maior importador (até pouco tempo primeiro que hoje é a China), e atualmente, ainda um dos três maiores produtores, com as reservas de xisto e a velocidade que estas oferecem em termos de exploração e produção, regulam o mercado, tanto quanto a Opep.
Na verdade, hoje um controla o outro, em termos de mercado de petróleo e em termos de estratégias.
O fato da Rússia ter se aliado à Opep e estar mais próxima da China, hoje a maior importadora mundial e o segunda nação que mais consome petróleo do mundo, criou uma polarização que, naturalmente, também aparece na disputa sobre a confiabilidade dos dados do consórcio da Opep e da americana AIE.
Entre estas duas agências ligadas aos produtores, estão os departamentos de estudos dos grandes bancos que atuam no setor de petróleo e também as grandes consultorias, que hoje são corporações.
Os bancos e as consultorias trabalham de forma articulada. Assim, atuam tanto para financiar a exploração e a produção através das players petroleiras, quanto na infraestrutura e indústria do setor, onde atuam as para-petroleiras. Além disso, também fornecem dados para a atuação das grandes traders que atuam no comércio tanto do petróleo cru, quanto dos derivados, mundo afora.
Ainda ligados aos bancos estão os grandes fundos financeiros que definem as escolhas das frações e setores econômicos, onde o capital deve investir no curto prazo (com movimentos especulativos) no longo prazo, com investimentos em capital fixo no território, para a instalação das infraestruturas, plataformas, sondas, oleodutos e gasodutos e indústria de beneficiamento para produção dos derivados.
A disputa não apenas
pela produção e controle do mercado, mas pelas estratégias que estão vinculadas
às informações sobre projetos, produção e ao mercado de petróleo
É preciso compreender esta disputa para melhor analisar os
movimentos desta fração do capital que investe em petróleo e em sua indústria
mundo afora e também no Brasil. Os dados soltos, sem as fontes e sem a
interligação com outros dados e indicadores, não permitem que se possa avançar
na compreensão mais aprofundada, sobre os movimentos e as intenções dos agentes
que atuam no setor petróleo, seja como produtor, prestador de serviço, indústria,
comercializador e/ou consumidor.
Por exemplo, antes do baque na bolsa de Nova York (NY), a
leitura que se fazia é que o aumento da demanda mundial de petróleo, que poderia
chegar ainda em 2018 a 100 milhões de barris por dia é que, basicamente, vinha
permitindo que o preço do barril de petróleo saísse do patamar de U$ 60 para
US$ 70. E esteja hoje na faixa dos US$ 64. (No dia 14 fev. esteve a US$ 62)
Tanto a Opep quanto a AIE corrigiram a previsão de
crescimento da demanda de petróleo no mundo que em 2017 foi de 97,0 milhões de
barris por dia. Para a Opep, em 2018, haverá um crescimento de 1,59 milhão de
barris por dia, enquanto para a AIE neste ano, o crescimento deverá ser de 1,4
milhão de barris por dia. É um diferença pequena, mas equivalente a 200 mil
barris por dia.
Assim, para a Opep, o ano de 2018 deverá fechar com o um
consumo de 98,6 milhões de barris por dia, enquanto para a AIE este volume
deverá alcançar 98,4 milhões de barris por dia. Desta forma, para ambos, logo
no início de 2019, o mundo deverá estar consumindo o volume simbólico de 100
milhões de barris por dia.
A avaliação muito próxima quase que se restringe a este
cenário sobre o consumo mundial, que é bom que se relembre, são mensalmente
revisados. Daí em diante há uma disputa maior. A Opep com dados do potencial de
produção de seus filiados. Atualmente a Opep está produzindo em torno de 32
milhões de barris por dia.
Enquanto isto, os EUA com as suas possibilidades definidas
pelos projetos nos depósitos de xisto já estão prestes a ultrapassar a produção,
mesmo que por pouco, do volume extraído pela Arábia Saudita e Rússia. Veja ao lado gráfico da produção de petróleo americana no período entre 1970-2017
Desta forma, a disputa EUA e OPEP também na produção de indicadores
e estratégias ganha força. Ambas agências, também analisam os movimentos dos
produtores chamados não Opep (e não EUA) como a Rússia, Brasil, Canadá e México.
Potencial de
crescimento da capacidade de produção dos membros da Opep
A Opep vem conseguindo (desde 2016/2017) internamente (e
externamente com a Rússia) manter o corte de produção e fornecimento de 1,8 milhão
de barris de petróleo por dia ao mercado. Assim, é previsível que não será fácil para a Opep manter
esta decisão, diante das estimativas de que alguns de seus países membros deverão
ampliar suas capacidades de produção ao longo de 2018.
Os casos mais claros, segundo a própria Opep seriam: do Kuwait
que deve adicionar cerca de 225.000 bpd de capacidade até o final de março; do
Irã adicionando outros 100 mil 000 bpd; e do Emirados Árabes Unidos (EAU)
também adicionarão cerca de 500 mil bpd no final de 2018.
A soma do aumento da capacidade dos três totaliza 825 mil
bpd, sem levar em conta a produção do Iraque que deve atingir a produção total
de 5 milhões de barris por dia até o final de 2018, com uma ampliação de sua produção em quase 500
mil barris por dia.
Ou seja, a Opep seguirá com capacidade de produção
ampliada em 2018, o que levará a maiores discussões sobre a manutenção dos
cortes de fornecimento ao mercado, para evitar novas quedas dos preços do barril no
mercando mundial.
O baque do mercado de ações americano na bolsa de Nova York, no início de fevereiro, imediatamente se refletiu na decisão dos investidores não
apenas de ações, mas dos fundos, como o do tipo EDGE, muito ligado ao setor de
petróleo, que vinha subindo junto dos preços do barril, baseado,
fundamentalmente, no crescimento da demanda mundial. Estes investimentos
ajudaram rapidamente a crescer a produção nos EUA.
Número de sondas de exploração de petróleo contratada nos EUA |
Vale lembrar que também interfere no mercado do petróleo
outras variáveis, para além simplesmente do volume de produção e consumo. Assim, são os casos das
informações sobre estoques e vendas de óleo cru, consumo de derivados, número de
sondas em funcionamento nos EUA (gráfico ao lado) e em outras partes, além das reservas e potencial
de campos de petróleo e também do volume de investimentos em áreas e campos de
petróleo. O movimento destes indicadores são sempre sujeitos e
contrainformações e interesses especulativos. Atrás de dados confiáveis estão a
Opep e a AIE que também produzem contrainformações para interferir no mercado,
o que gera uma permanente tensão.
O consumo geral por sua vez tem relação com o ciclo da
economia como um todo. Se já não bastassem tudo isto, por onde se movimentam as
corporações e os fundos financeiros, há ainda os interesses geopolíticos das
nações que buscam controles e domínios regionais e hegemonia central.
E aí? Em meio à AIE e
Opep como ficam as previsões?
Para ser sincero existem análises e previsões para todos os
gostos e interesses. Muitas especulações como é comum ao mercado e aos interesses
que reforçam o esquema oligopólico que sufoca as corporações menores que atuam
sem o apoio e a força dos estados nacionais.
Neste quadro complexo, analistas que merecem algum
crédito têm avaliado que o petróleo tende seguir estabilizado por mais algum
tempo. Consideram ainda que parece improvável que um novo repique, volte a levar o preço do barril para
acima de US$ 70/US$ 75, antes pelo menos de 2020.
Isto se daria, por conta da auto regulação entre a produção do xisto americano e do aumento da capacidade de produção de óleo da Opep e seus aliados. Porque juntos seriam superiores ao aumento da demanda mundial que tem previsão de atingir 100 milhões de bpd, no início de 2019, como afirmado acima.
Isto se daria, por conta da auto regulação entre a produção do xisto americano e do aumento da capacidade de produção de óleo da Opep e seus aliados. Porque juntos seriam superiores ao aumento da demanda mundial que tem previsão de atingir 100 milhões de bpd, no início de 2019, como afirmado acima.
Os EUA também ampliam sua suas exportações tanto de óleo
quanto de gás natural. Assim tem fechado contratos de longo prazo (15 anos) de
fornecimento de GNL para a China. Como exemplo o acordo entre Cheniere Energy dos
Estados Unidos no estado da Lousiania e a China National Petroleum Corp. (CNPC)
para venda de LNG (Gás Liquefeito de Petróleo) para uso na China.
Enfim, o mercado de petróleo no mundo poderá seguir um
dilema. Os preços mais limitados, em torno de US$ 60 dólares, evita um maior crescimento
da produção de energias não convencionais.
Este preço “limitado” faz com que exista, num prazo de até 5 anos, menos exploração e busca de novas áreas produtoras.
O que por outro lado tende a esgotar mais rapidamente as
reservas existentes. O que deverá pressionar o preço do barril de petróleo, em
nova fase de um outro ciclo petroeconômico, mais próximo à metade da próxima
década.
Neste meio tempo, o mundo seguirá lubrificado pelo petróleo
e tende a ampliar os riscos de preços mais altos num prazo após meia década.
Fora, os riscos dos conflitos regionais que vez por outra ameaça a maior região produtora
de petróleo do mundo. Tensões e conflitos no Oriente Médio poderão alterar estas análises e previsões, tanto por parte
da Opep, quanto da AIE, ambos pressionadas por fortes interesses geopolíticos.
A conferir!
PS.: Atualizado às 18:08: Para pequenas correções e ajustes no texto original.
PS.: Atualizado às 18:08: Para pequenas correções e ajustes no texto original.
2 comentários:
Bom artigo 😊
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