segunda-feira, abril 30, 2018

Barril de petróleo a US$ 100 por barril levará litro da gasolina a R$ 7 no Brasil

Ainda sobre o preço dos combustíveis no Brasil pós-golpe.
 
Pelas regras da diretoria do Parente na Petrobras, quando o barril de petróleo chegar a US$ 100 (já está novamente em US$75), o preço da nossa gasolina já terá ultrapassado os $7 reais. 

E imaginar que entre 2010 e 2014 o barril de petróleo oscilou entre US$ 100 e US$ 130 e durante todo este tempo o litro da gasolina esteve em torno dos $3 reais. Oh, conta cruel. 

Pior ainda se formos falar do gás de cozinha (GLP), onde segundo o IBGE, mais 1,2 milhão de famílias voltaram a usar lenha e carvão para preparar seus alimentos, totalizando agora 12,3 milhões de famílias buscando alternativas ao gás, cujo preço ao consumidor está oscilando em torno de R$70, o botijão. 

Por onde se anda e olha, se vê que o país segue num beco sem saída, com parte das pessoas buscando um herdeiro para repetir o Temerário, um "centrista" sob as ordens do mercado.

sábado, abril 28, 2018

Pedro Parente, o homem de confiança dos fundos financeiros!

Não pode passar despercebido para ninguém a confirmação da ida de Pedro Parente para a presidência do Conselho de Administração da BRF para além da Petrobras.

É um escândalo que a mídia comercial não quer tratar. O caso coloca por terra a discurseira sobre comissão de ética, compliance e outras enganações. Estão todos silentes. 

Um sujeito pensar que é o super-homem é normal para quem convive na concepção mental de que tudo é mercado. Mas nunca poderá ser visto como natural, sem considerar que a Petrobras não é apenas uma empresa, e sim na prática, um setor com enorme poder estratégico para todo o país.

Porém, o mais grave nisto tudo é que ficam mais que evidentes, os interesses cruzados sempre envolvendo - como tenho insistido - os fundos financeiros que comandam as corporações. 

Os interesses cruzados, ao contrário do que incautos posam pensar não se dá na esfera do setor econômico de atuação e sim no andar de cima das altas finanças (capital), onde estão os fundos financeiros). Os fundos não são apenas intermediários de capital. Eles são também proprietários e controladores das corporações.

A BRF Global tem em seu controle vários fundos como o Standard Life Aberdeen PLC é controlado pelo fundo britânico Aberdeen Standard Investiments que é o maior fundo do Reino Unido e o segundo maior da Europa. Os fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil), mais o fundo Tarpon, além dos acionistas menores. A Aberdeen Standard Investiments que foi fundamental para  escolha de Parente tem carteira com ativos superiores a R$ 2 trilhões.

A BRF é hoje uma corporação de área de alimentos do mundo, com produtos comercializados em mais de 150 países, nos 5 continentes e mais de 30 marcas muito conhecidas no Brasil e fora do país: Sadia, Perdigão, Qualy, Paty, Dánica e Bocatti.

A conexão da Petrobras com a BRF, as tradings que atuam no comércio global de petróleo e derivados, os fundos que estão adquirindo a rede de logística (gasodutos, oleodutos) da estatal, as players petroleiras que hoje são cada vez mais controladas por fundos globais deixa claro os caminhos recentes a que temos assistido. 

Num mundo hiperconectado em que vivemos seria uma ingenuidade ninguém querer compreender que Parente é uma pessoa de confiança dos fundos financeiros globais. Assim, age a favor dos fundos financeiros de onde obtém ainda mais confiança.

Entender o movimento dos fundos financeiros no país e no mundo contemporâneo é indispensável não apenas para decifrar os meandros da macroeconomia, mas para compreender o controle sobre o poder político que limita o papel dos estados-nações. O blog voltará ao tema.


PS.: Para saber um pouco mais sobre a atuação recente dos fundos financeiros leia postagens do blog:
1 - "Os movimentos das frações do capital, a função e a mobilidade dos fundos financeiros na economia global contemporânea". Em 23 de abril de 2018. Disponível em:  https://www.robertomoraes.com.br/2018/04/os-movimentos-das-fracoes-do-capital.html

2 - Fundos aceitam pagar US$ 8 bi pela TAG, empresa subsidiária de gás da Petrobras. Em 25 de abril de 2018. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2018/04/fundos-aceitam-pagar-us-8-bi-pela-tag.html

quarta-feira, abril 25, 2018

Fundos aceitam pagar US$ 8 bi pela TAG, empresa subsidiária de gás da Petrobras

O blog comentou em texto abaixo (ver aqui) o avanço que os fundos financeiros estão fazendo sobre importantes setores (ativos como definem) da economia brasileira, em especial o setor de petróleo e gás, dentro de uma lógica e dinâmica comandada por um sistema fora do país.

Foi assim quando o fundo canadense liderou o consórcio que ficou com a malha de 2,5 mil km de gasodutos da região Sudeste, poe US$ 5 bilhões, que estavam sob o controle da NTS (Nova Transportadora Sudeste), outra empresa subsidiária da Petrobras.

Agora, o fundo árabe de Abu Dhabi, Mubadala lidera o consórcio que tem ainda a participação do fundo americano EIG, que controla a Prumo Logística S.A. (holding onde são também sócias) atuais donas do Porto do Açu no ERJ, já se dispuseram a pagar US$ 7,9 bilhões, para ficar com 90% da TAG S.A.

A TAG é a empresa responsável por uma rede de gasodutos com 4,5 mil quilômetros nas regiões Norte e Nordeste, o principal ativo à venda pela Petrobras neste momento no Brasil. Portanto um negócio colossal.

Neste consórcio liderado pelos fundos Mubadala e EIG estão outros conhecidos fundos ligados a importantes bancos e sistema financeiro global: os americanos BlackRock; King Street, Farallon e o chinês Silk Road.

Outros consórcios e fundos estão cobrindo este preço, num processo bem conhecido: o fundo canadense Canada Pension Pan Investiments Board (CPPIB), o fundo soberano de Cingapura (GIC) e ainda os fundos brasileiros ligados aos bancos Itaúsa e Cambuhy.Diz-se aí do interesse da corporação francesa Engie (ex-GDF SUEZ S.A.) que atua no setor de energia.

Tudo feito, como tem sido as vendas de fatias da Petrobras, sem licitação, sem transparência e para fundos financeiros. O setor financeiro que controla diversos grupos empresariais assim vem sendo o grande beneficiário deste processo. Não é preciso ser investigador para desconfiar da relação entre a direção da Petrobras (pós-golpe), liderada por Pedro Parente e os fundos financeiros.

Ainda mais se lembrarmos que o gás natural trata-se de um setor que representa a transição em termos energético do petróleo para uma matriz mais limpa e de menor impacto ambiental. É considerada como uma matriz de transição entre o petróleo e a eletrificação, como energia limpa. O mundo inteiro sabe e valoriza o setor de gás natural que a Petrobras está entregando.

Se já não bastasse isso, sabemos que o gás natural é um dos grandes potenciais das reservas dos campos do pré-sal no Brasil. E sem o controle dos gasodutos não há como escoar esta enorme produção em vias de ser significativamente ampliada, sem esta infraestrutura dos gasodutos que também serve para distribuir o gás natural pelas diversas regiões do país. 

Ou seja estamos entregando uma infraestrutura pronta, feita por empresas brasileiras, para que elas se transformem num monopólio logístico para quem quiser transportar gás natural ter que se submeter a tarifas oriundas de uma renda de monopólio. Ninguém faz isto no mundo. É inaceitável que a Petrobras siga fazendo isso, em acordos em salas fechadas sem nenhum controle externo. E sempre tendo como beneficiários fundos financeiros globais. 

terça-feira, abril 24, 2018

Divulgação acadêmica: Centro e centralidade em Campos dos Goytacazes

Convite para defesa mestrado no Programa de Pós Graduação em Geografia da UFF Campos com o tema: Centro e centralidade em Campos dos Goytacazes. O autor Henrique Ferreira Batista é licenciado em Geografia pelo IFF, e agora defende sua dissertação na UFF com a orientação do professor, Leandro Bruno Santos.

Batista pesquisou um tema bastante interessante que ajuda na compreensão sobre os movimentos mais recentes do processo de urbanização na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ.

Henrique estudou mais de 1000 estabelecimentos de comércio e serviços e localizou 11 áreas de concentração dessas atividades, a partir de onde passou a trabalhar com o conceito de centro e centralidade. Se aprofundou na análise dos dados empíricos e entrevistas realizadas.

Desta forma, o autor da dissertação mostra em sua dissertação como em Campos, novas espaços foram sendo produzidas na área urbana, com apoio do estado (agente público) e em articulação com agentes imobiliários e empresários.

O tema é instigante porque todos percebemos o esvaziamento do centro histórico, com um crescente avanço dos pontos de comércio e serviços por vários bairros e distritos, numa lógica de busca por menores valores de aluguel, fuga do centro conturbado e ainda pela ausência e precariedade de transportes, caros estacionamentos, etc.

Há algum tempo, em minhas andanças nos exercícios/passeios de bike por nossa urbe, eu venho observando estes movimentos. Novas centralidades foram se formando, mas elas não surgem por acaso e sim são frutos de decisões e articulações nas esferas que misturam o econômico com o político e público com o privado.

Pelo que fui informado é sobre isto que o trabalho (dissertação) do Henrique Ferreira Batista trata. E para tanto vale o convite para assistir. A seguir o blog pretende divulgar a dissertação aqui neste espaço, para que o trabalho da academia sirva para uma análise mais ampla que envolve outros setores da sociedade.

segunda-feira, abril 23, 2018

Os movimentos das frações do capital, a função e a mobilidade dos fundos financeiros na economia global contemporânea

Durante um período de mais de cinco anos, eu me dediquei a estudar e investigar os sistemas portuários e suas relações com a cadeia produtiva do petróleo. Alguns artigos e uma tese foram produzidas e seguem sendo debatidas, com a apresentação de indicadores e interpretações sobre o tema no Brasil, mas com análises que são transescalares e multidimensionais.

Adiante, já em 2017, mesmo mantendo uma observação sobre o mesmo assunto e sobre o que passei a chamar de "Circuitos Espaciais do Petróleo e dos Royalties" no Brasil e no mundo, eu passei a me aprofundar na investigação sobre outro tema, mesmo que derivado e em consequência de demandas geradas pela pesquisa anterior. Assim, avancei para pesquisas sobre "os movimentos das frações do capital e sua relação com o território".

Neste campo, atualmente eu tenho buscado me aprofundar nas investigações sobre o papel dos fundos financeiros como elemento que oferece mobilidade transfronteiriça ao capital, na obtenção de lucros em diferentes setores da economia.

Tese do autor. Introdução, P.35,) [1]
Este movimento se articula a partir da produção material que após passar pelo mercado se converte, em movimento vertical, em capital fictício nos fundos financeiros, como diagnosticava Giovanni Arrighi e que pode ser visualizado no esquema gráfico ao lado (Tese do autor. Introdução, P.35,) [1].

Para além do movimento vertical entre a produção material e o mundo das altas finanças, os fundos financeiros conferem mobilidade ao capital, para transitar também, em movimentos horizontais por diferentes grupos econômicos, nações e negócios.

Esta mobilidade tem relação com as articulações com o poder político (Estado) que irá conferir estabilidade e segurança para ambos os movimentos. E como se sabe, essa é a condição básica exigida pelos fundos para investimentos em capital fixo, considerando a sua eterna e conhecida covardia. Em função disto, os fundos só correm riscos, depois que eles são  severamente avaliados e contabilizados, em caras análises de consultorias e escritórios de advocacia.  

As investigações sobre o movimento dos fundos financeiros explicam muitas questões que de forma genérica são chamadas de financeirização. É comum, a meu juízo, uma certa confusão na academia ao se falar sobre financeirização, sem entrar no âmago de algumas questões que necessitam ser aprofundadas e explicitadas.

Os fundos são organizados e administrados, em sua maior parte, pelos bancos como instrumentos de captura de recursos e de investimentos. Assim, os maiores fundos têm hierarquia e negócios com os médios e menores fundos e assim, controlam corporações e se movimentam ligados aos lucros, mas também estão estreitamente vinculados à geopolítica e ao poder. Os movimentos de captura de capitais, investimentos e controles envolve ainda conglomerados vinculados às nações centrais, onde estão a maior parte dos donos dos dinheiros e também as sedes das grandes corporações transnacionais.


Papel, tamanho e forma de atuação dos fundos de investimentos
Os fundos são a principal forma usada pelo capital e setor financeiro para romper a regulação dos estados-nações, na medida em que na maioria destes países, não há cobrança de impostos (ou há isenções parciais) para aplicação dos mesmos, visando a alocação de volumosos recursos, sob a forma de capital fixo para a produção material em diferentes espaços do mundo.

Os fundos são compostos com capitais de diferentes origens e teoricamente para diferentes finalidades. Fundos de pensão, ações, soberano, hedges, private equity, family offices (grandes fortunas familiares), etc. Estima-se que hoje existam no mundo, em várias tipologias, mais de 75 mil fundos, que somariam juntos, um patrimônio líquido, já superior a meia centena de trilhões de dólares.

No Brasil, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capital) os fundos já possuem um patrimônio líquido de R$ 4 trilhões, equivalentes a 2/3 (66%) do PIB do país. São cerca de 13 milhões de contas e captação líquida - no período de janeiro a setembro de 2017 - de R$ 218 bi, com um aumento de 118%, em relação ao ano anterior, apesar a crise. Só na segunda semana de abril de 2018, no mundo, os fundos de ações tinham captado US$ 7 bilhões, segundo a consultoria EPFR Global. [3] [4] [5]

Sobre o movimento global destes fundos e seus interesses sobre o Brasil, pode-se lembrar o caso do fundo americano que comprou o Porto do Açu. Outro fundo, canadense, ficou com a malha de gasodutos do Sudeste (NTS) da Petrobras. Consórcios de fundos estão comprando a TAG (Transportadora Associada de Gás) também da Petrobras, etc. [6]

É possível citar cerca de uma centena de casos similares no último ano de investimentos em fundos e aquisição de empresas brasileiras. Isto acontece neste momento de crise de nossa economia, quando as mesmas estão baratas dento da realidade mundial.

Os fundos assim, em seus movimentos, adquirem bases produtivas já instaladas, estruturadas com mercados garantidos e grande rentabilidade. Desta forma, elas seguirão gerando novos excedentes que, seguindo a imagem da pirâmide acima, subirão e se transformarão novamente em capital fictício e móvel no andar superior das altas finanças (Arrighi, 1997). [2]

Assim, você sabe onde os fundos aplicam, mas não sabe quem aplica recursos neles. Uma lógica que não é fruto do acaso e ajuda a explicar sua enorme mobilidade e volatilidade que chega a assustar os donos dos mercados e do sistema financeiro.

Os fundos financeiros devem ser entendidos e observados para além da intermediação de capitais. Ou do financiamento de atividades produtivas como sempre aconteceu no mundo capitalista, onde os bancos oferecem créditos para a instalação, manutenção e ampliação das atividades produtivas, as indústrias, infraestruturas de logística e mesmos dos serviços.


Fundos financeiros esgarçam a apropriação dos lucros sobre a produção
Os fundos se misturaram de uma lado, aos bancos e aos rentistas de diversas naturezas. Do outro lado, os fundos são partes das composições acionárias das grandes corporações mundiais. Assim, os fundos capturam excedentes econômicos nas diferentes pontas do sistema, tanto o produtivo com os excedentes apurados na comercialização, quando no financeiro da oferta do capital.

Desta forma, os fundos se apropriam das partes maiores dos lucros, esgarçando os ganhos sobre a produção (e desta forma sobre o trabalho) e sobre o bem-estar das sociedades no capitalismo contemporâneos. Fato que vem gerando reações políticas, de certa forma contraditórias, mas crescentes e em diferentes espaços do mundo.

Os fundos financeiros possuem interligações globais. Vinculados aos bancos e ao sistema financeiro global, mas também ao mundo as corporações. Está no andar das altas finanças e também no mundo real da produção das riquezas materiais. Entre estas escalas há a etapa de comercialização da produção, onde há a formação de valor e geração dos excedentes econômicos da produção cada vez mais capturada pelo sistema financeiro.

Num mundo em constante reestruturação produtiva, produção em cadeias globais que determinam dois terços do comércio mundial (segundo a OMC), é que se compreende a forma e a intensidade que os fluxos de capitais passaram a prescindir da mobilidade oferecida pelos fundos financeiros. 

Segundo Dowbor (2017), [8] o sistema bancário fica com 42% dos lucros corporativos. Em 1947, os bancos ficavam com apenas 11%. Assim, o setor financeiro aspira os lucros da produção material e da geração de riquezas, que é base da pirâmide do capital, levando o capital para o andar superior das altas finanças e do capital fictício.


Os fundos são os instrumentos de mobilidade entre as frações do capital
A maior geração de excedentes por grupos econômicos tendem a movimentar a aplicação dos excedentes capturados para as frações do capital e em instalações de capital fixo nas regiões e países que oferecem maiores rentabilidades. É aí que os fundos financeiros passam a ter um papel indispensável para conferir fluidez e mobilidade aos capitais em busca de acumulações e lucros como parte do Ciclo Sistêmico de Acumulação :

Apresentação do autor no 2º Colóquio Espaço-Economia: Repercussões do 
Capitalismo Contemporâneo e das Redes Globais sobre as Dinâmicas
Regionais no ERJ. 9 e 10 out. 2017, UERJ. Slide 22/31. [7]
Assim, compreender estes movimentos das frações do capital e do papel dos fundos financeiros é um esforço indispensável para se avançar na complexidade do capitalismo mundial e de suas consequências para os estados-nações e seus territórios, aí incluídas, as suas populações.

No caso do Brasil, essa investigação é ainda mais importante no momento atual, porque ela permite analisar o processo de desintegração das empresas estatais e ainda o desmonte do processo de regulação da economia nacional, onde os fundos financeiros globais estão tendo uma enorme presença.

A análise deste processo mostram as facilidades criadas para que essa atuação ampliada dos fundos de investimentos que avançaram com maior controle sobre o todo da economia nacional, mas também sobre as frações do capital que no país possuem mais relevância.

Esses movimentos foram facilitados por articulações políticas-jurídicas-midiáticas, sob o manto do tripé: a festejada atração de investimentos; o discurso da eficiência e do combate à corrupção. Aliás, não é difícil perceber que esta pode ter se ampliado, agora no atacado e, talvez só mais adiante, distante do calor dos acontecimentos presentes, se poderá ter a compreensão de toda a sua extensão. 

No momento estou ainda recolhendo vários dados empíricos e interpretações sobre este movimento que passamos a chamar de frações do capital global, suas características e os efeitos que produz sobre o espaço, com o objetivo de escrever um texto mais resumido, mas ao mesmo tempo mais denso sobre o assunto. 

Enquanto isto é provável que, de forma simultânea, traga par ao espaço do blog, algumas informações e análises pontuais sobre o tema que sei que interessa a diversos outros estudos que analisam as consequências destes movimentos sobre regiões e nações.


Referências:

[1] Tese do autor (PESSANHA, R.M) defendida em mar. 2017, no PPFH-UERJ: “A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades”. Disponível na Rede de Pesquisa em Políticas Públicas (RPP)-UFRJ: http://www.rpp.ufrj.br/library/view/a-relacao-transescalar-e-multidimensional-petroleo-porto-como-produtora-de-novas-territorialidades. P.35. Introdução.

[2] ARRIGHI, Giovanni. 1997. A ilusão do desenvolvimento. 1 ed. Vozes, Petrópolis,RJ.

[3] Nota no Valor, edição de 19 set. 2017, P.C3. Fundos atingem R$ 4 tri.

[4] Matéria no InfoMoney em 19 set. 2017. Patrimônio dos Fundos de investimentos bate recorde histórico. Recorde histórico vem acompanhado da marca de 13 milhões de contas. Disponível em: http://www.infomoney.com.br/onde-investir/fundos-de-investimento/noticia/6964785/patrimonio-dos-fundos-investimentos-bate-recorde-historico

[5] Nota no Valor, em 16 abr. 2018, Caderno Finanças. P.C2. Fundos emergentes captam US$ 2,5 bi.

[6] Reportagem do site G1 em 13 out. 2017. Lava Jato levou empresas a vender mais de R$ 100 bilhões em ativos desde 2015. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/lava-jato-levou-empresas-a-vender-mais-de-r-100-bilhoes-em-ativos-desde-2015.ghtml

[7] Apresentação do autor (PESSANHA, R.M) no 2º Colóquio Espaço-Economia: Repercussões do Capitalismo Contemporâneo e das Redes Globais sobre as Dinâmicas Regionais no ERJ. Mesa Redonda: Os Movimentos das Frações de Capitais e os Circuitos Espaciais: Metropolização e Regiões Produtivas no Estado. Slide 22/31. 9 e 10 out. 2017, UERJ.

[8] DOWBOR, Ladislaw. 2017. A era do capital improdutivo. A nova arquitetura do poder: dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta. Autonomia Literária/Outras Palavras. São Paulo, SP.

domingo, abril 22, 2018

Itália: Eu sou você amanhã?

A Itália foi ultrapassada pela Espanha em renda per capita.

Além disso, segundo estudos do FMI, a Espanha nos próximos cinco anos deverá ficar 7% mais rica que a Itália, que era a terceira maior economia da zona do Euro, segundo matéria do Financial Times.

O mesmo estudo diz que há uma década, a Itália era 10% mais rica nos mesmos termos de comparação que a Espanha.

O caso serve para mostrar, não propriamente uma grande evolução da Espanha, mas um declínio da Itália, que não consegue resolver o seu imbróglio político, desde que na década de 90, a famosa Operação Mãos Limpas, a precursora da Lava Jato brasileira, deu rumo ao país do sul da Europa.

A própria matéria do Financial Times, conhecido jornal inglês que expressa a opinião do poder econômico e do mercado, atribui o problema aos impasses políticos italianos que fez a população perder a esperança na capacidade da política.

A reportagem vai além e diz que daqui a cinco anos (2023), além da Espanha, também a Eslováquia e República Tcheca devem também se tornar mais rico que a Itália.

No fundo, o FMI teme os riscos da dívida italiana que acaba sendo submetida a situações similares à da Grécia.

Somos um país diferente, mas igualmente, uma nação dilacerada como a Itália, quando uma operação que prometia "limpar o país" a colocou nas mãos de uma pessoa do tipo Berlusconi.

Daí em diante os impasses e a crise não teve mais fim.

Já se passaram 25 anos desde o início da Operação Mãos Limpas na Itália.

Um quarto de século depois os resultados continuam presentes até nos prognósticos sobre o destino da Itália para a próxima década.

Melhor pensar que nosso caso, o efeito possa ter desfecho distinto daquele prometido pelo marketing de uma conhecida marca de vodka que dizia que "eu sou você amanhã".

Mamma mia!

Convite para debate no dia 26 abril em Macaé: "Mídia, Poder e Politização da Justiça"

Está aí um bom tema para o debate em tempos de opinião superficial que cooptou a democracia e trouxe a crise político/social e ética/cidadã para o nosso dia-a-dia.

Para os organizadores deste debate a crise tem dois pontos que merecem destaque: o papel da mídia e a politização da justiça na disputa do poder no Brasil e em outras partes do mundo.

"A política, os serviços/servidores públicos e os direitos sociais enfrentam a criminalização cotidiana e, por consequência, nossa vida piora e a esperança se distancia".

Para os idealizadores da mesa de debates os tempos atuais exigem reflexão, organização coletiva para debater com a sociedade e lutar pela democracia e por nossos direitos fundamentais.

Para além destas questões gerais sobre o tema, eu sugiro que o debate traga a discussão uma outra dimensão que o tema sugere, com uma abordagem sobre sobre a mídia comercial regional. Ela também tem atuado, sistematicamente como partido, tanto na articulação entre os poderes jurídicos e econômicos regionais, quanto na formação de blindagens contra os movimentos sociais e políticos não controláveis. Além disso, a mídia comercial regional, claramente submete verticalmente à hierarquia das mídias comerciais nacionais controlando e escondendo aquilo que foge ao script do poder regional que controla em seus espaços de atuação e negócios.

Parabéns aos organizadores do evento e bons debates.

sexta-feira, abril 20, 2018

O embargo do Porto do Forno e a guerra dos portos para apoio à exploração de petróleo no litoral

A decisão do Ibama ao decidir fazer um embargo às atividades do Porto do Forno, localizado em Arraial do Cabo, litoral fluminense, pelo descumprimento de 19 condicionantes da licença ambiental, em função do qual foi aplicada multa de R$ 100 milhões, representa apoio à causa ambiental.

A decisão sobre uma área de enorme potencial turístico, praticamente descarta a ideia de alternativa de uso - que chegou a se efetivar, embora em pequena escala, de uso do terminal portuário, para fins de apoio às atividades de exploração offshore, especialmente para as demandadas pela Bacia de Santos, situada ao sul desta ponta da Praia do Forno em Arraial do Cabo.

Segundo contato com técnicos que atuaram na área de logística daquele terminal portuário, instalado há quase um século e com 330 metros de píeres, o mesmo possuía pequena retro-área para esta finalidade de uso, como pode ser visto na foto área ao lado. Além disso, as limitações das rodovias de acesso ao município para grandes cargas era um outro entrave.

Além disso, os investimentos para atender às condicionantes ambientais, especialmente o gerenciamento e tratamento de efluentes líquidos do terminal e um plano de controle biológico contra a invasão de espécies consideradas exóticas, como o coral-sol para a proteção daquele ecossistema, inviabilizavam este tipo de uso, em função da relação custo-benefício do empreendimento. 

Assim, o balneário e o município ganham com a proteção ao meio ambiente, que tende a sedimentar o uso daquele território para fins turísticos e de uso do solo para o setor imobiliário que precisa ser também controlado, sob pena de representar consequências e impactos ambientais não menos danosos. 

A confirmação desta decisão obriga o município a se replanejar em termos estratégicos, tanto em em termos de desenvolvimento econômico, planejamento socioambiental, quanto em termos de organização urbana e zoneamento e uso do solo. 

Melhor, se tudo isto pudesse ser feito de forma regional e integrada com outros municípios vizinhos, em plano onde os mesmos se complementem e não sigam concorrendo entre si, como acontece infelizmente com quase todos as cidades fluminenses, diante de um governo estadual inoperante. 

Quanto ao uso dos terminais portuários para apoio às atividades de exploração offshore, a confirmação da inviabilidade do uso do Porto do Forno, em Arraial do Cabo, ampliam os usos dos terminais portuários da Baía de Guanabara (Rio e Niterói) e do Porto do Açu no ERJ.

Também entra na guerra dos portos no litoral fluminense os projetos dos terminais de Ponta Negra em Maricá e o Tepor da EBTE em Macaé. Nos extremos a disputa se amplia para a construção de terminais portuários no Norte, no Espírito Santo e ao Sul, no estado São Paulo.

Até aqui, São Paulo tinha evitado o uso de áreas e terminais portuários para apoio às atividades de exploração de petróleo, seja por falta de área não protegida ambientalmente, quanto pelo recorte geográfico rochoso, quanto por temer que a atividade viesse atrapalhar o movimento de cargas e contêineres no Porto de Santos.

A alternativa de ampliação do terminal de São Sebastião, onde há embarque e desembarque de petróleo e derivados, não se mostrou viável e nem do interesse da Petrobras que é proprietária daquele terminal de uso privado. Assim, a guerra dos portos prosseguirá de olho no novo ciclo de preços do petróleo. Se houver interesse poderemos retornar ao tema.

Anglo American quer suspender contratos dos trabalhadores do Sistema Minas-Rio por até 5 meses

A negociação foi proposta pela mineradora Anglo American ao sindicato de trabalhadores Metabase nesta última terça-feira. A empresa  informou que desde o dia 17 de abril, um total de 766 trabalhadores estão de férias coletivas.

A Anglo American informou ainda que as áreas operacionais que envolve a mina da empresa, a área de beneficiamento e filtragem no Porto do Açu e equivale a 36% deste total será atingido por estas suspensão de contrato.

A informação leva à interpretação que a mineradora avalia que precisará deste tempo ("até cinco meses") para tentar retomar a produção e o transporte da polpa de minério de ferro até o Porto do Açu para exportação.

Lembrando que a retomada da operação depende não apenas das conclusões sobre as causas dos derramamentos, como a obtenção de nova licença de operação junto ao Ibama, para a qual precisará comprovar a eliminação dos riscos.
Foto do Sindicato Metabase. Informações do DeFato Online.

A Anglo American está transferindo alguns trabalhadores do Sistema Minas-Rio para a sua mina de níquel no estado de Goiás. Para os trabalhadores que entrariam com os contratos suspensos, a empresa propõe um mecanismo chamado de "lay off" que traduzido ao pé da letra quer dizer demissão.

Durante este período de suspensão dos contratos, a empresa está prevendo o pagamento de R$ 1,6 mil a cada trabalhador que viria do FAT controlado pelo governo federal, mais a diferença entre este valor e o salário líquido do trabalhador, como uma espécie de compensação sem natureza salaria e sem direito a férias e nenhum outro direito, como 13º salários, adicionais, FGTS, etc. O sindicato de trabalhadores que representa a categoria é o Metabase.

Desde a suspensão das operações após os dois derramamentos da polpa de minério de ferro com o rompimento do mineroduto, o transporte até o Porto do Açu, onde os trabalhadores da FerroPort, joint-venture atuam no processamento e embarque de minério de ferro, está suspenso.

A interrupção da movimentação de carga e embarques para exportação de minério de ferro gera a suspensão do pagamento de ISS à Prefeitura de São João da Barra que é consequência desta operação.

O primeiro embarque de minério de ferro pelo Porto do Açu foi realizado no dia 25 de outubro de 2014. O destino foi a China par aonde se embarcou 81 mil toneladas de minério de ferro.

De lá para cá foram embarcados, segundo o relatório anual da Prumo (2017), mais de 37 milhões de toneladas de minério através de 250 navios. Sendo que em 2017, o volume embarcado aproximadamente 16,5 milhões de toneladas, com 98 embarques realizados.

Nos dois últimos anos (2016 e 2017) as atividades do Porto do Açu contribuíram para que a arrecadação de ISS pelo município de São João da Barra alcançasse R$ 43 milhões, depois de ter chegado no auge das obras em 2014 a R$ 63 milhões.

Em 2016, aproximadamente um terço do total de receita de ISS de R$ 43 milhões que equivale ao valor  de R$ 15 milhões teve como origem a empresa FerroPort com a exportação de minério de ferro. Em 2017, o orçamento total executado pro SJB chegou a R$ 296,5 milhões milhões.

Abaixo o blog reproduz infográfico da joint-venture Ferroport (Anglo American - Prumo Logística Global) que explica as atividades de recebimento da polpa de minério que chega pelo mineroduto, filtragem para retirada da água, secagem do minério de ferro e embarque por esteiras da área de secagem até o terminal T1 do Porto do Açu.


quinta-feira, abril 19, 2018

Moradores reclamam espaço para trabalhar no Porto do Açu

Um grupo de pessoas, articulados via redes sociais, especialmente através do aplicativo WatsApp, se reuniu numa pequena manifestação em frente a um suposto escritório da empresa Andrade Gutierrez, no balneário de Grussaí. A foto foi enviada ao blog por um dos manifestantes.





















A construtora Andrade Gutierrez é a empresa que está responsável pela construção que se incia da unidade de regaseificação e a primeira usina termelétrica (UTE), do que está previsto segundo os empreendedores para ser um polo (hub) de gás natural no Porto do Açu.

Os manifestantes reclamam que não são chamados para trabalhar e alegam que têm dificuldades de entregar seus currículos que só seriam aceitos por email. O fato ajudou a que eles começassem a se organizar para entender esta distância e agora para se manifestarem, onde reclamam contra o próprio Porto do Açu perguntando: "Cadê nossos empregos? Prumo e Andrade Gutierrez, respeitem o trabalhador da cidade".

O blog tem comentado aqui nestes espaço há muitos anos e em vários textos, sobre o fato de que o Porto do Açu estar dia-a-dia se conformando como uma espécie de enclave. Uma denominação teórica e acadêmica que em resumo pode ser interpretada que o porto quase não se relaciona com a cidade e região onde ele está instalado.

Antes este risco era uma hipótese, mesmo que muito provável, em função das características destes portos da chamada 5ª geração, porto-indústria, instalados em áreas mais afastadas da urbanização e que dialogam pouco com as comunidades locais e regionais.

Na realidade, o empreendimento usa o território e buscam fluidez de suas cargas e obtenção de retornos financeiros, embora gerem impactos socioambientais nos entornos onde os empreendimentos do porto são instalados.

Abaixo o blog disponibiliza o link para algumas notas em que tratou mais profundamente do assunto. A última delas foi publicada no último dia 23 de março de 2018 (aqui) analisando os resultados de 2017 da Prumo, onde analisou mais profundamente o empreendimento. A seguir outras postagens que tratam do assunto:

1 - Postagem em 23 de marrço de 2018: "Prumo divulga resultados de 2017 com prejuízo líquido de quase R$ 1 bi, dívida de R$ 5,1 bi e vínculo maior ao setor de óleo e gás. Porto do Açu é cada vez mais um enclave econômico". Disponível em:
http://www.robertomoraes.com.br/2018/03/prumo-divulga-resultados-de-2017-com.html

2 - Postagem em 23 de outubro de 2017: "Porto do Açu reforça-se cada vez mais como um enclave econômico". Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/10/porto-do-acu-reforca-se-cada-vez-mais.html

3 - Postagem em 14 de junho de 2016: "O Porto do Açu vai se consolidando como um enclave americano no Norte Fluminense: interpretação de uma década". Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/06/o-porto-do-acu-vai-se-consolidando-como.html

quarta-feira, abril 18, 2018

Relatório 2017 indica Petrobras menor e a caminho da privatização, já desligou 16 mil trabalhadores e segue reduzindo investimentos totais e em pesquisa

Segundo o "Relatório Anual de Demonstrações Financeiras 2017 da Petrobras", a estatal desligou desde o ano 2015 um total de aproximadamente 16 mil trabalhadores. A quase totalidade deste contingente saiu através do PIDV (Programa de Incentivo e Desligamento Voluntário) da empresa, que assim, saiu de 78,4 mil trabalhadores em 2015 para 62,7 mil em 2017. A maior parte dos desligamentos saiu da área de exploração e produção (37%).

Do atual contingente de petroleiros que ficaram, 56% possuem nível superior (72% destes graduados, 16% especialistas; 11% com mestrado e 2% com doutorado); 43% com nível médio e 2% com ensino fundamental. Hoje, 37% do contingente de petroleiros tem até 9 anos de carreira; 40% tem entre 10 e 19 anos de empresa e 23% com 20 ou mais anos de Petrobras.


O resultado sobre o clima organizacional da estatal, a última mediação foi feita em 2016 e foi a mais baixa já apurada com 60%, bem abaixo dos 70% de 2014. Os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Petrobras caiu de R$ 2 bi em 2015 para R$ 1,8 bilhões em 2017.

Ainda no ano de 2017, a Petrobras pagou R$ 17,2 bilhões de salários, mais R$ 11,7 bilhões em benefícios e FGTS e na outra ponta, pagou como remunerou de capital a terceiros (investidores) R$ 69,4 bilhões. Os investimentos totais da Petrobras caiu 13% caindo de R$ 55,3 bilhões em 2016 (já muito abaixo que 2015 e 2014) para R$ 48,2 bilhões em 2017.

O relatório divulgado ontem pela Petrobras tem inúmeras outras informações, mas é possível ver com estes dois indicadores aqui destacados da área de pessoal, pesquisa e inovação que a atual gestão da da estatal vai na direção de torná-la uma empresa menor em termos de atuação, desenvolvimento e atuação.

Assim, a tendência é que a Petrobras nas mãos da turma do mercado fique cada vez mais atrelada a projetos de outras players privadas, com foco exclusivo para oferecer rentabilidade aos investidores e com perspectivas de privatização, conforme os movimentos eleitorais de outubro próximo.

A venda de várias empresas subsidiárias (ativos) em fatias, em curso desde 2016, rompe com a forma de atuação integrada até então da holding Petrobras e deixa evidente, de forma clara, o processo instalado na estatal.

terça-feira, abril 17, 2018

Vox Populi apura Lula com 57,3% x 42,7% da soma de todos os demais candidatos

Dois dias depois do Datafolha divulgar resultados das intenções de voto para a Presidência da República nas eleições de outubro, agora foi a vez do Instituto Vox Populi.

O Vox Populi apurou que Lula chegou, após a sua prisão a 57,3% x 42,7% da soma de todos os demais candidatos, se apurados as intenções de voto válidas, sem os nulos e brancos, que é como o resultado é apurado pelo TSE.

A conta para chegar a estes percentuais é uma regra de três. 47% de intenções de votos em Lula equivale a 82% (porque 12% é de brancos e nulos e 6% não sabem em quem votar), desta forma, se chega aos 57,3% com a base de 100%, sem os brancos nulos e sem candidatos.

Estes números são da pesquisa sobre intenções de voto no 1°Turno. A pesquisa do Vox Populi foi registrada na Justiça Eleitoral e protocolada sob o número BR-02039/2018 no dia 11/04/2018 e foi realizada entre os dias 13 a 15 de abril de 2018, com 2000 entrevistas, aplicadas em 118 municípios.

A margem de erro da pesquisa do Vox Populi é de 2,2 %. Estes são os números de dois cenários pesquisados sobre intenções de voto no 1º e 2º turnos, levando em conta regiões, gênero, etc. Em termos de votos espontâneos as intenções declaradas de voto em Lula chegaram a 39%. No Nordeste Lula tem 71%. Quase 3 de cada 4 votos. Por isso a turma do PMDB de lá não quer ficar contra Lula.

O segundo colocado, como na pesquisa anterior do Vox Populi, quanto do Datafolha é Bolsonaro, com 11% em um dos cenários. Em terceiro Joaquim Barbosa com 9%, seguido de Marina com 7%, Alckmin com 3% e Ciro com 2%.



















Um total de 49% diz que votaria com certeza ou poderia votar num candidato indicado por Lula se ele não puder concorrer. (23% votaria com certeza na indicação e 16% poderia votar). Para 55% Lula foi o melhor presidente da história do país, FHC tem 9%. 

Para 59% dos pesquisados Lula tem mais qualidades que defeitos e para 59% a vida melhorou nos governos Lula e Dilma. Para 46% a prisão de Lula foi justa e para 44% não foi justa, mas para 41% x 34% não ficou provado que o apartamento do Guarujá era de Lula. Para 59% a prisão de Lula foi política.

Para 51% quem tem que julgar Lula é o povo nas eleições e não Moro. para 58% Lula deveria ser liberado para ser candidato este ano contra 35% que acha que Lula deveria ser impedido de concorrer. Porém, 45% avalia que Lula não vai ser candidato contra 40% que acha que vai ser. 52% acha que qualquer pessoa só deve ser presa depois de condenada pelos tribunais superiores. 

A pesquisa na íntegra pode ser vista aqui.

domingo, abril 15, 2018

Tutaméia entrevista Fiori: "A direita e os seus juízes conseguiram transformar o ex-presidente num mito e numa força política que acompanhará a sociedade e política brasileira por muitos e muitos anos”

Não há porque ficar lendo a mídia comercial o tempo todo. Há muitas e boas alternativas. Cada dia surge mais uma. Ler a mídia corporativa vez por outra serve para entender por onde caminham suas narrativas e seus interesses. Vez por outra ainda trazem alguma notícia.

Em termos de análises e entrevistas há textos e comunicações muito mais densas e aprofundadas. Há espaços em blogs, sites, portais e perfis que fazem um repique provocativo às mídias comerciais e seus "colonistas". Bom que seja assim, o humor, algumas provocações e até o deboche bem humorado podem ser formas de enfrentamento de opinião e de disputa política.

O pluralismo rompe o controle e a centralização de opinião dos oligopólios de mídia que se tornaram máquinas de fazer dinheiro e vender poder. Elas fingem - e cada vez menos, alguma pluralidade - disfarçada de imposição de opinião única que serve aos seus interesses econômicos e não à nação. Usam a força do oligopólio para capturar quem demanda vaidades e exposição, sem maiores compromissos coletivos e nacionais.

É nesta linha que conheci hoje o blog "Tutaméia" da "dupla gaúcha de jornalistas" Eleonora e Rodolfo Lucena que já atuamram em conhecidos veículos da mídia corporativa e afirma que com o TUTAMÉIA, buscam contribuir para o debate sobre a situação do Brasil e do mundo.

Assim, o TUTAMEIA traz uma interessantíssima entrevista com o não menos conhecido professor de economia política internacional da UFRJ, José Luís Fiori que reproduzo abaixo na íntegra.


FIORI: PONTO DE PARTIDA É A LIBERTAÇÃO DE LULA



O filme da direita e dos ultraliberais acabou e foi muito ruim. Eles perderam o discurso, não têm nada a propor ao Brasil e vão se dividir cada vez mais. A crise econômica seguirá com efeitos mais dolorosos. A libertação de Lula é a grande causa que unirá as forças progressistas do Brasil e da América do Sul. É preciso fazer avançar a ideia de uma frente pela democracia.

As ideias são do sociólogo e cientista político José Luís Fiori, professor de economia política internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A Eleonora de Lucena, diretora do TUTAMÉIA, ele afirma:

“Nesse momento, o ponto de partida necessário e inevitável das forças progressistas só pode ser a luta pela libertação de Lula. Não necessariamente para que ele seja candidato, mas porque hoje a sua libertação significa simbolicamente o primeiro passo para a restituição da democracia e da justiça nos seus devidos lugares”.

E analisa: “A direita e os seus juízes conseguiram transformar o ex-presidente num mito e numa força política que acompanhará a sociedade e política brasileira por muitos e muitos anos”.

Para Fiori, não adianta pensar agora em candidaturas alternativas que não vão ganhar ou não vão governar nesse quadro atual. “Ou se muda esse quadro e se junta um conjunto de forças poderosas, ou não haverá governo progressista viável de nenhum tipo, seja quem for o indivíduo ou candidato. A menos as forças progressistas queiram repetir a candidatura simbólica do dr. Ulysses Guimarães em 1974”, declara.

Autor, entre outros, de “O Poder Global” (Boitempo, 2007) e de “História, Estratégia e Desenvolvimento” (Boitempo, 2014), Fiori organizou obras essenciais para uma reflexão do mundo contemporâneo, como “Poder e Dinheiro” (com Maria da Conceição Tavares, Vozes, 1997) e “O Poder Americano” (Vozes, 2004).

Na sua avaliação, a crise desencadeada pelo golpe de 2016 e a divisão na sociedade brasileira vão continuar por muito tempo e exigirão enorme paciência estratégica. “Não adianta achar que vai se virar a mesa na próxima meia hora”, defende.

Nesta entrevista por correio eletrônico ao TUTAMÉIA, Fiori trata das diversas forças políticas em embate e lança uma hipótese sobre a dissolução do núcleo intelectual e ideológico do golpe de 2016: a derrota de Hillary deixou sem apoio os seus operadores internos –o que fez o governo golpista cair nas mãos de um grupo da “segunda divisão”–já quase todo na cadeia, que estava inteiramente despreparado para governar o Brasil”.

A seguir, a íntegra:

TUTAMÉIA — Qual o impacto político da prisão de Lula?

JOSÉ LUÍS FIORI — Muito grande, acho mesmo que a história política do Brasil terá um antes e um depois dessa prisão.

TUTAMÉIA — Ele sairá “maior, mais forte e mais verdadeiro”, como ele disse no discurso do dia 7, em São Bernardo?

JOSÉ LUÍS FIORI –Tenho impressão que sim. E acho que a explicação disso se encontra no próprio discurso do ex-presidente, quando ele diz que já deixou de ser uma pessoa física e se transformou numa ideia, num movimento social e político, num verdadeiro mito. E todos sabemos que as ideias e os mitos não conseguem ser presos nem destruídos. Na verdade, Lula foi sempre um grande negociador e um reformista, e sua genialidade foi demonstrar que, em certos momentos da história, o reformismo é absolutamente revolucionário. Trata-se de um líder absolutamente fora do comum e acima de seus contemporâneos, graças à sua inventividade e à sua intuição estratégica, que é absolutamente extraordinária.

TUTAMÉIA — É possível fazer comparações ou traçar algum paralelo com outras situações históricas vividas no passado?

JOSÉ LUÍS FIORI — Veja bem, se eu me mantiver apenas no campo da minha experiência pessoal, devo te dizer que ainda criança me tocou assistir ao golpe de Estado de 1954, junto com o suicídio e a Carta Testamento de Getúlio Vargas. Depois, vivi o golpe de 1964 e escutei o discurso do presidente João Goulart, na Central do Brasil, que acabou sendo também uma espécie de discurso de despedida. Alguns anos depois, assisti ao vivo e em cores o violento e traumático golpe militar do Chile, tendo escutado pelo rádio o último discurso de Salvador Allende, no dia 11 de setembro de 1973. Foram todos momentos decisivos ou mesmo heroicos da história.

Mas o discurso de Lula do dia 7 de abril, na cidade de São Bernardo, teve uma grande diferença com relação aos outros, porque foi o discurso de um homem que decidiu sobreviver e lutar. De um político que decidiu enfrentar os seus acusadores acusando-os de peito aberto e sem medo das represálias. De um pacifista que conseguiu manter e defender sua posição sem oferecer a outra face. De um líder carismático que conseguiu fazer –sob a máxima pressão pessoal– uma belíssima homenagem às utopias humanas, ao mesmo tempo em que traçava as linhas básicas do seu futuro governo. Isso realmente não tem precedente que eu saiba.

Por outro lado, eu não havia nascido e não assisti quando Juan Domingo Perón foi preso e depois libertado pela população para logo em seguida ser eleito presidente da Argentina, em 1946. Mas assisti a transmissão ao vivo, pela televisão, da libertação de Nelson Mandela, aclamado pelo povo e imediatamente eleito presidente da África do Sul. E tenho uma impressão muito forte, como analista político, que mais cedo ou mais tarde isto também acontecerá no Brasil, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por mais que isso cause engulhos às forças conservadoras e direitistas do nosso país.

TUTAMÉIA — No imediato, o que que o senhor espera que possa acontecer?

JOSÉ LUÍS FIORI — Uma grande mobilização no Brasil e pelo mundo afora contra a prisão e a favor da libertação do ex-presidente. Mas acho que, no imediato, as pessoas próximas e que gostam pessoalmente do ex-presidente deveriam estar muito atentas com relação à sua integridade física. Sobretudo se tiverem em conta o fanatismo, o rancor, a crueldade e o ressentimento dos que o encarceraram.

TUTAMÉIA — Qual será o futuro político das pessoas que o julgaram e encarceraram?

JOSÉ LUÍS FIORI — O mais provável é que venham a ter o mesmo destino de todos os “savonarolas” que já existiram através da história. Apesar de que, no caso brasileiro, essas pessoas não têm o menor fôlego pessoal e intelectual para se transformarem em lideranças carismáticas. São figuras menores, já cumpriram o papel que lhes foi encomendado e devem voltar para o anonimato de onde vieram.

TUTAMÉIA — E qual o impacto mais geral sobre a sociedade brasileira?

JOSÉ LUÍS FIORI — Essa grande encenação –e, sobretudo, esse final patrocinado pelo STF –consolidou uma divisão e uma polarização da sociedade brasileira que que deverá durar por muitos e muitos anos. Vai ser muito difícil de reverter isso. Também vai ser muito difícil sair desse buraco imediato, porque o Estado, as autoridades públicas e a sociedade brasileira aparecem divididos de cima abaixo. Os golpistas estão completamente divididos. O Congresso está quase rachado e desmoralizado. O STF está partido ao meio, perdeu a sua aura de neutralidade e sua credibilidade foi rebaixada por suas brigas internas e por suas sessões infindáveis, marcadas pelo exibicionismo dos seus juízes com seu palavreado gongórico e quase sempre inócuo. Para não falar finalmente da divisão interna da própria Igreja católica. Aliás, dos que se esconderam atrás do silêncio para não se posicionarem frente à prisão do ex-presidente, quem mais me impressionou foi a CNBB. A ausência cúmplice ou envergonhada de algumas de suas principais lideranças no Brasil foi lamentável. Fez lembrar sua participação no golpe de 1964, quando as senhoras conservadoras sacudiam seus terços no lugar de bater panelas.


TUTAMÉIA — Como deveriam agir daqui para frente as forças progressistas?

JOSÉ LUÍS FIORI — Os caminhos estratégicos vão sendo construídos no caminhar e devem sempre tomar em conta os objetivos e as iniciativas dos adversários. Mas, nesse momento, o ponto de partida necessário e inevitável das forças progressistas só pode ser a luta pela libertação de Lula. Não necessariamente para que ele seja candidato, mas porque hoje a sua libertação significa simbolicamente o primeiro passo para a restituição da democracia e da justiça nos seus devidos lugares.

TUTAMÉIA — A ideia de uma frente pela democracia, contra o fascismo e pela soberania pode avançar?

Povo no acampamento Lula Livre, em Curitiba (foto Ricardo Stuckert, como a da abertura) 
JOSÉ LUÍS FIORI — Mais do que nunca. A direita e os ultraliberais já implementaram todas suas ideias e reformas através do golpe e dos seus executores. Depois da destituição da presidenta Dilma Rousseff e da prisão do ex-presidente Lula já não lhes resta mais nenhuma “causa” nem “ideia”. Seu filme acabou e foi muito ruim. A crise econômica seguirá e seus efeitos se farão cada vez mais dolorosos. A direita ultraliberal já não tem mais nada para dizer ou propor para o Brasil, que não seja a tal da “reforma da previdência que não conseguiram fazer e a privatização da Petrobras, duas propostas extremamente impopulares.

TUTAMÉIA — Até onde o PT deve esticar a corda e manter a candidatura Lula?

JOSÉ LUÍS FIORI — Como já disse, do meu ponto de vista, o ex-presidente Lula já não é mais apenas uma candidatura. Ele é uma causa e é a grande causa que unirá daqui para frente as forças progressistas do Brasil e da América do Sul. Não adianta pensar, no momento, em candidaturas “alternativas” que não vão ganhar ou simplesmente não vão governar nesse quadro que aí está. Ou se muda esse quadro e se junta um conjunto de forças poderosas, ou não haverá governo progressista viável de nenhum tipo, seja quem for o indivíduo ou candidato. A menos que as forças progressistas queiram repetir a candidatura simbólica do dr. Ulysses Guimarães em 1974.

É bom que as pessoas entendam que essa crise aberta pelo golpe de Estado e essa divisão da sociedade brasileira –promovida ativamente pela imprensa conservadora– devem continuar ainda por muito tempo e exigirão uma enorme paciência estratégica. Não adianta achar que vai se virar a mesa na próxima meia hora.

TUTAMÉIA — Quem poderia ser o maior beneficiado da saída definitiva de Lula da corrida eleitoral?

JOSÉ LUÍS FIORI — Em primeiro lugar, ele já não sairá mais nem da corrida eleitoral nem da história política futura. Como já dissemos, a direita e os seus juízes conseguiram transformar o ex-presidente num mito e numa força política que acompanhará a sociedade e política brasileira por muitos e muitos anos.

TUTAMÉIA — Qual o impacto da prisão de Lula dentro do PT? Alguns esperam esvaziamento do partido. É correto pensar assim?

JOSÉ LUÍS FIORI — Acho que não. Pelo contrário, creio que o PT deve crescer daqui para frente. Mas não sou do PT e não conheço nem sei avaliar corretamente a sua dinâmica interna. Mas com certeza os seus adversários e a imprensa conservadora deverão inventar ou incentivar, daqui para frente, divisões e lutas internas, jogando uns contra os outros de forma a esvaziar a causa unitária do PT, pela libertação e absolvição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

TUTAMÉIA — Qual o impacto da prisão na parcela da população que apoiou o golpe de Estado?

JOSÉ LUÍS FIORI — Num primeiro momento, devem tomar champanhe ou cerveja, dependendo da classe social de cada um. Mas, atenção, porque o efeito emocional dessa prisão se esgota em si mesmo. A grande massa dos que estão comemorando nesse momento muito brevemente se dará conta de que a prisão de Lula não modificará nada em suas vidas. Todos serão obrigados a voltar a viver as suas angústias e seus medos de cada dia –para não falar nos que terão que voltar a conviver com sua própria mediocridade pessoal.

TUTAMÉIA — Então, qual o caminho das forças golpistas?

JOSÉ LUÍS FIORI — Deverão se dividir cada vez mais. Deverão entrar numa luta à morte, depois que perderam o seu grande denominador comum, que era o golpe e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Será uma guerra sem quartel, e presumo que não sobrará pedra sobre pedra. E essa mesma divisão das forças de direita acabará impedindo qualquer tentativa de suspensão das eleições de outubro de 2018. Eles não têm mais unidade para nada e terão que se enfrentar entre si. O PMDB já foi literalmente descabeçado, com a prisão de algumas de suas principais lideranças nacionais e de quase todas as suas lideranças golpistas que hoje estão na cadeira. E não é improvável que esse quadro piore ainda mais depois que o sr. Temer sair do Palácio do Planalto.

Por outro lado, o PSDB se autodestruiu, com a opção pelo golpe de Estado do seu candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2014, que depois se viu envolvido em situações cada vez mais escabrosas. Seus caciques paulistas estão todos brigados entre si, seus intelectuais completamente desmobilizados e desmoralizados ideologicamente. E o seu principal líder vive um momento de declínio intelectual, político e ético, depois de ter sido o grande patrocinador da candidatura do sr. Aécio. Mas, sobretudo, depois de ter justificado de forma bisonha e de ter participado diretamente do golpe de Estado, antes de se afastar do governo que ele mesmo ajudou a criar. O DEM, por sua vez, é um partido que não tem fôlego nacional e está transformado numa quase caricatura da antiga direita baiana e carioca. O conjunto das outras siglas que compõem a ‘base parlamentar” do golpe de Estado não possui nenhuma consistência ou identidade própria e estará sempre ao lado do “balcão de negócios”.

Por fim, depois desses últimos três ou quatro anos, a Globo se transformou numa organização político-ideológica explícita e de direita, agressiva, insidiosa e com enorme poder de fogo. Mas perdeu completamente a posição de “meio de informação” da sociedade brasileira, se transformando no principal inimigo de todas as forças progressistas, democráticas, defensoras da soberania nacional e de um choque distributivo na sociedade brasileira.

TUTAMÉIA — É possível identificar as forças externas que atuaram no golpe de 2016?

JOSÉ LUÍS FIORI — Tenho a impressão que que as “forças externas” que participaram desse golpe de Estado e dessa destruição física e moral da sociedade, da economia e da política brasileira não se preocuparam em apagar as suas impressões digitais. É muito fácil de olhar e identificá-las.

Um aspecto menos discutido desse problema, entretanto, é a influência que possa ter tido a eleição de Donald Trump na rápida desintegração do bloco golpista e na perda completa de rumo dos seus líderes tucanos, incluindo a desmontagem moral do seu candidato presidencial. Uma boa hipótese para quem se interessa por esses assuntos é que esse golpe de 2016 foi concebido durante o período da administração Obama e contava com a vitória certa de Hillary Clinton –integrante ilustre da ala protetora e patrocinadora do PSDB desde sua fundação e durante toda a administração de Bill Clinton, na década de 1990.

Isso talvez explique a surpreendente implosão e desmontagem do bloco golpista no Brasil, com o desaparecimento completo do seu núcleo intelectual e ideológico inicial que que estava todo no PSDB, incluindo o seu principal líder que teria sido completamente descalçado com a derrota dos Clinton, virando uma espécie de “biruta de aeroporto”, que vai virando de um lado para o outro segundo a ocasião e segundo a sua luta pela sobrevivência pessoal. Como consequência, os líderes intelectuais do golpe teriam tido que deixar a administração do governo nas mãos de um grupo da “segunda divisão”, de baixíssimo nível intelectual e que já está quase todo na prisão, inteiramente despreparado para governar o Brasil.

Datafolha: Lula detido segue com o dobro das intenções de votos de Bolsonaro, o 2º colocado e ganharia de todos no 2º turno

Os números da pesquisa do Datafolha feita entre os dias 11 e 13 de abril (quarta a sexta-feira) com 4.194 eleitores de 227 municípios em todo o país foi divulgada há pouco pelo jornal Folha de São Paulo. A pesquisa de intenções de votos foi feita após a prisão do ex-presidente Lula ocorrida no sábado passado, 07 de abril.

O instituto pesquisou 9 cenários de 1º turno e 12 cenários com simulações de 2º turno. Lula ganha em todos em que teve o seu nome colocado na lista. Nas três simulações de 2º turno com Lula: Lula 48% x 31% Bolsonaro; Lula 48% x 27% Alckmin; Lula 46% x 32¢ Marina.

Lula também ganha disparado na pesquisa espontânea. O Datafolha diz ainda que a influência de Lula continua muito grande. Abaixo o primeiro dos nove cenários de 1º turno feito pelo Datafolha.





































PS.: Atualizado às 02:30: Comentários feitos no perfil do blog no Facebook sobre os resultados desa nova pesquisa do Datafolha seguem reproduzidos abaixo:

1 - Outra pesquisa divulgada neste sábado do Instituto Ipsos indica que para 73%, "os poderosos querem tirar Lula da eleição". E para 55% dos entrevistados "a Lava Jato faz perseguição política contra Lula". Para 52% a Lava Jato "não está investigando todos os políticos". Sobre a avaliação de que a justiça investiga todos os partidos, a pesquisa anterior indicou 66% a nesta última caiu 43%.

2 - Mais uma pesquisa de intenções de votos nacional, ainda não divulgada oficialmente e também feita após a detenção do ex-presidente Lula, é a do Instituto Vox Populi que teve os resultados oficiosos comentados nas redes sociais: Lula subiu de 40% a 43% na pesquisa de voto espontâneo. Já na pesquisa de votos estimuladas do mesmo instituto, Lula subiu de 45% para 51% o que significa que Lula venceria a disputa presidencial em primeiro turno.

3 - A pequena oscilação de intenções de votos em Lula na pesquisa, seja espontânea, ou estimulada, é pouco superior à margem de erro e o mais importante em relação à pesquisa anterior, ela não foi apropriada por nenhum candidato diretamente. E tudo isso diante de um massacre a que foi exposto mais uma vez o ex-presidente Lula.

4 - Ainda segundo o Datafolha 21% dizem que votarão nulo ou branco e o instituto diz que faltando 6 meses este percentual é inédito. O que permite vincular esta realidade à situação do ex-presidente em especial.

5 - O Datafolha, segundo seu presidente “a oscilação nas intenções de voto em Lula, sugere mais do que arranhões à sua imagem, à percepção da maioria do eleitorado sobre sua provável inelegibilidade e à impugnação de sua candidatura”. O fato explica porque os institutos querem retirar o nome de Lula de suas pesquisas. O próprio Datafolha só o incluiu em 3 dos 9 cenários pesquisados no 1º turno. Ou seja, de uma forma ou outra, Lula segue sendo o centro destas eleições. Esta é a principal leitura desta nova pesquisa.

6 - O Datafolha criou uma expressão em sua análise que interessa ao espectro político que o jornal representa. Ela está chamando de "eleitor-pêndulo" àquele que cresceu e diz rejeitar os extremos, seguindo assim o discurso da macromania, da necessidade de um candidato de centro que não aparece. O Alckmin está nos limites com esta pesquisa. No PSDB vão tentar outros movimentos, inclusive o Dória. Mudanças podem ser vistas já na semana que vem.

7 - Aliás, O Datafolha de SP diz que Alckmim saiu do governo paulista depois de mais 8 anos de mandato com apenas 36% de aprovação. É quase nada para quem pretende a Presidência. E apenas 16% dos paulistas declaram intenções de voto em Alckmin. Outra coisa, o Datafolha não disse porque alega que os cenários testados são diferentes da pesquisa anterior para fazer comparações, mas é fato que Bolsonaro caiu. Mesmo que outros não tenham subido.

8 - Sobre a possibilidade do Lula e do PT indicarem mais cedo ou mais tarde seus candidatos, há vários riscos. Mas, todas as decisões são crivadas de riscos. Porém, a meu juízo, mesmo desconfiando desta pesquisa, porque os seus números podem ser um pouco diferentes, dentro de margens de erros, a centro-esquerda tende a ter um espaço para levar um candidato ao segundo turno. Isto fica mais claro neste cenário traçado por este resultado. Assim, há que se ter cuidado. Esta eleição é diversa de todas as outras. Completamente. Inusitada. Inclusive para a necessidade de mantê-la. Não se trata de não discutir alternativas, alianças e apoios. Mas fazer de forma mais cuidadosa, evitando inclusive o jogo que interessa à aliança golpista que tem à mão o esquema mídia-judiciário. Em relação à prisão de Lula, o país segue dividido, mas entre os mais velhos há uma reversão em relação à posição anterior. Mais pessoas desconfiam da parcialidade da justiça e da condenação.

9 - Embora seja difícil fazer comparações com as intenções de voto da pesquisa anterior do Datafolha, por conta dos vários cenários analisados, numa e noutra pesquisa, não há tantas mudanças e a maioria dentro das margens de erro. Porém, se forem observados alguns cenários principais, numa e noutra, além de Lula ter perdido %, Bolsonaro também perdeu, Alckmin, Ciro e Álvaro Dias também perderam. Marina ficou onde estava e Joaquim Barbosa pegou um pouco dos votos de Alckmin, A. Dias e possivelmente de Ciro e, assim, saiu de 5% para 8%. Certo é que os brancos e nulos, três meses depois, subiram de 16%-17% para 21%, mostrando que as indefinições seguem, mas com o eleitorado bem dividido.

quinta-feira, abril 12, 2018

Players estrangeiras sobem percentual na produção nacional de óleo e gás, no momento em que as reservas mundiais caem e a demanda cresce

Segundo dados da ANP, as petroleiras estrangeiras já ultrapassam 25% da produção nacional através de concessões. A produção de óleo + gás natural em fevereiro, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP) atingiu 3,3 milhões de boepd. A Petrobras produziu 2,5 milhões de boepd deste total. (boepd, significa: barris de óleo equivalente - óleo + gás - por dia)

Percentual quatro vezes maior do que a produção de apenas 5 anos atrás. Além do acesso aos campos através dos leilões da ANP, a Petrobras, segue entregando parte de seus ativos. 

Enquanto operadora dos campos a Petrobras continua com controle de 93,8% da produção. Isto se dá porque as players estrangeiras não são bobas. As petroleiras estrangeiras desejam apenas contar com a expertise da estatal brasileira, na em exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas. 

As players estrangeiras que avançam na produção nacional de óleo e gás são lideradas pela anglo-holandesa Shell que já chegou a 414 mil boepd, depois que adquiriu a petroleira inglesa BG, por quase US$ 60 bilhões, por conta dos ativos que esta possuía no Brasil, na fusão que representou o maior negócio do setor de petróleo no mundo nesta última década. 

Em seguida vem a portuguesa Petrogal (109 mil boepd); a espanhola Repsol (98 mil boepd); a norueguesa Statoil (42 milboepd); a chinesa Sinochen (28 mil boepd); a francesa Total (23 mil boepd), etc.

Abaixo o blog publica a relação das 20 maiores produções de óleo e gás natural no Brasil por concessionária:

Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural no Brasil. Fevereiro 2018. P.16/32.  




























A tendência é que este percentual das petroleiras estrangeiras se eleve bastante até 2040. Só a Shell estará produzindo entre o ano que vem e 2020 mais de meio bilhão de boepd. 

A Total, Statoil e a Esso avançaram também de forma significativa com o acesso a ativos que eram da Petrobras nos campos maduros da bacia de Campos e nos ativos vendidos (entregues) e os obtidos nas áreas leiloadas do Pré-Sal.

O pior disso tudo é que as players (petroleiras estrangeiras) fazem o que querem com a sua produção aqui no país. Podem exportar o óleo para ser beneficiado (refinado fora). Se quiserem podem parar ou acelerar a produção de acordo com os seus interesses e não aqueles do país.


Enquanto isto no plano global...

Enquanto no Brasil, os defensores do mercado hoje no governo e à frente das estatais dizem que é preciso queimar todas as nossas reservas de petróleo, por conta do avanço das demais formas de energia, os EUA volta a agir para controlar o Oriente Médio, por razões ligadas - como se sabe - à geopolítica do petróleo.

O consumo global de petróleo subiu apenas este ano 1,5 milhão de barris por dia (bpd) vinculados ao aumento do consumo de óleo nos setores petroquímico, industrial e nos transportes, em especial na aviação.

Há um declínio considerável das reservas ligadas ao campos de petróleo com mais baixo custo de produção. Além disso, se constata uma redução na produção nos campos mais antigos e maduros em todo o mundo.

A Agência Internacional de Energia (AIE) que monitora as reservas e produção em todo o mundo diz que “por ano se está perdendo (o equivalente a um Mar do Norte em produção), cerca de 3 milhões de barris por dia”.

Por conta da fase de baixos preços do petróleo (fase de colapso do ciclo petro-econômico), os investimentos em exploração de petróleo e gás seguem baixos, apesar da recente recuperação dos preços globais do petróleo para os níveis do final de 2014. 

Ainda segundo a AIE, os investimentos no setor em 2018 deverá atingir a apenas 40% do que eram feitos até o ano de 2014, antes da virada da fase para colapso nos preços do ciclo petro-econômico.

Enquanto isso, aqui no Brasil vai-se entregando tudo a preço vil (campos, ativos como gasodutos, setor petroquímico, distribuição de derivados), desintegra-se a cadeia produtiva; rebaixam-se os níveis regulatórios no setor de óleo e gás, assim como as exigências de conteúdo local (que adensaria a nossa cadeia produtiva ligada à indústria do setor), ao mesmo tempo em que se ampliam as isenções fiscais com o Repetro (da União e dos estados), etc.

Um quadro terrível para qualquer lado que se olhe. Quanto mais se observamos os indicadores nacionais e globais do setor mais duro é encarar a realidade.

O naturalismo e a concepção de ecossistemas, a partir do século XVIII na América colonial, por Soffiati

O professor, pesquisador e ecologista Aristides Soffiati nos brinda com mais um interessantíssimo artigo que conta a eco-história dos sistemas naturais e da sua percepção.


Um holandês na América colonial
Arthur Soffiati
            Costumo dividir o conhecimento científico nos seis séculos de globalização ocidental em três fases. Na primeira, as novas informações aportadas pelos contatos com continentes além do europeu atordoaram os conquistadores. Geralmente eles eram navegadores, nobres, militares e clérigos. Eles ainda estavam impregnados pelos greco-latinos, como Aristarco, Ptolomeu, Discórides, Plínio. A abordagem científica deles consistia em descrever espécie por espécie sem relacioná-las entre si. No máximo, separavam suas descrições por animais, vegetais e minerais, inserindo quase sempre o elemento maravilhoso.

            Ainda dentro dessa visão científica, os holandeses conferiram mais rigor e mais distanciamento em relação às coisas maravilhosas dos novos mundos. George Marcgrave e Willem Piso, no nordeste brasileiro, deixaram informações primorosas para os pósteros. Tanto de forma escrita quanto de forma pictórica, o tratamento da natureza passou a merecer mais atenção no século XVII. No século XVIII, o naturalista sueco Carl Nilsson Linnæus (1707-1778) agrupou os seres vivos em relações de parentesco, criando a nomenclatura binária em que o primeiro nome indica o gênero do ser e o segundo nomeia a espécie. Assim, “Rhizophora” é o nome do grupo de um tipo de planta e “mangle” indica a espécie em si. Só no século XX, seres vivos e não vivos são relacionados num conjunto chamado ecossistema e unidades maiores constituídas pelo conjunto de ecossistemas.

            Uma das mais elevadas condições de um nobre era se dedicar ao estudo das ciências, notadamente ser naturalista, como o príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied e o barão holandês Nikolaus Joseph von Jacquin (1727–1817). Ele foi médico e botânico, associação bastante comum na elite europeia. Von Jacquin é considerado o primeiro cientista de renome a visitar a Colômbia. O imperador Francisco I enviou-o em viagem às Américas a fim de coletar plantas raras e exóticas para os parques imperiais de Viena e do palácio de Schönbrunn. A viagem se estendeu de 1755 a 1759. Von Jacquin já usava o sistema binário de Lineu. É certo que foi o primeiro a apresentar ao mundo os tesouros botânicos da América e a utilizar o sistema taxonômico de Lineu para classificar espécies botânicas do novo mundo. Em sua famosa obra “Relato de uma seleção de plantas da América”, ele descreve plantas nativas da Martinica, Cuba, Jamaica, São Domingos e das regiões litorâneas caribenhas de Cartagena. A obra em dois volumes foi publicada pela primeira vez em 1763 em Viena. A edição inclui 81 ilustrações pintadas à mão atribuídas a Ferdinand Bauer (1760–1826), que também pintou o frontispício do livro. Von Jacquin também desenhou várias estampas.

Retrato de Nikolaus Joseph von Jacquin

Ele registrou algumas espécies de mangue, denominação genérica para várias plantas que se adaptaram à água salobra de estuários, ou seja, no ponto em que um rio desemboca no mar. O conjunto de espécies exclusivas desse ambiente juntamente com espécies associadas formam o ecossistema denominado manguezal. Como tal ecossistema só se encontra na região intertropical, ele não existe na Europa, e era uma novidade para o naturalista europeu. Mesmo assim, o interesse recaía mais nas densas florestas.

Capas do livro “Relato de uma seleção de plantas da América”


































Como não poderia deixar de acontecer, o gênero que mais chamou a atenção de Von Jacquin foi o mangue vermelho (“Rhizophora”), com suas ramificações do caule e seu propágulo (semente) extraordinários. Ele registrou a “Rhizophora mangle” em duas pranchas com uma descrição sumária em latim, aliás língua usada em todo o livro, como era de praxe nos livros científicos da época.


Estampas de “Rhizophora mangle” contidas em “Relato de uma seleção de plantas da América”



































Os manguezais estão ameaçados em todo o mundo pelo corte, agropecuária, criatórios de camarão, urbanização, industrialização e poluição. A Colômbia e outras áreas visitadas por Von Jacquin não fogem à regra geral. Assim como outros ecossistemas nativos, o manguezal entrou em declínio com a economia de mercado introduzida pelos europeus em todos os continentes a partir do século XV. Todavia, como suas plantas apresentam grande resiliência, podemos encontrar fragmentos de manguezal nas áreas em que ele se desenvolve.

Bosque de mangue vermelho em San Andrés, Colômbia






























Von Jacquin registrou também o mangue preto, no Brasil mais conhecido por siriba, siribeira, siriúba e outros nomes locais. As várias espécies que se distribuem em toda a zona tropical são agrupadas no gênero “Avicennia”. O botânico holandês descreveu a “A. tomentosa”, também conhecida como “A. nítida”. A primeira descrição desta espécie coube ao próprio Jacquin. No Brasil, corresponde à Avicennia germinans (L.) L. Dele, o botânico deixou uma estampa.


Estampa de “Avicennia” em “Relato de uma seleção de plantas da América”

O mais interessante foi a descrição do mangue de botão pelo botânico. Hoje com a denominação científica de “Conocarpus erectus”, o mangue de botão não é propriamente uma espécie vegetal exclusiva de manguezal. Ele se distribui pela América atlântica e pacífica, pela África, pela Ásia e pela Oceania. Ele vive tanto no manguezal como na restinga. Suas flores e frutos se apresentam em densos aglomerados.


Estampa de “Conocarpus erectus” em “Relato de uma seleção de plantas da América”