Esta defesa pelos Repetros estaduais foi uma maquinação articulada pelo IBP (que não tem nada de brasilidade apesar do nome), Firjan e Fiesp que o Ministério das Minas e Energia (MME) subscreveu, como tem sido comum no governo pós-golpe controlado pelo mercado.
É tão esdrúxulo que seus apoiadores na União, não percebem o seu absurdo. Deveria ser atribuição desta escala de governo (União) harmonizar os interesses dos estados e evitar a guerra fiscal e não criá-la como fez com o Repetro nacional estimulando a disputa entre os estados que agora mobiliza os bobos nos estados e nos municípios.
Mais terrível ainda é ver as gestões estaduais penalizadas por restrições orçamentárias de uma imensa crise, abrirem mão de receitas com isenções e subsídios. Estas isenções não são necessárias porque os investimentos no setor petróleo virão de qualquer forma, quando a nova fase de boom do ciclo de preços do petróleo chegar, num período que previsto entre 5 a 10 anos.
O Repetro hoje é completamente diverso do que foi em 1999 e mesmo em 2008. O Repetro renovado ano passado e válido até 2040, sem uma forte e consistente Política de Conteúdo Local (PCL) não faz praticamente nenhum sentido aos interesses nacionais. [1] [2]
O Repetro atual atende basicamente às petroleiras e para-petroleiras que geram o mínimo de empregos possível aqui no Brasil. Exatamente ao contrário do que dizem os seus defensores e abre mão de mais de R$ 1 trilhão de receitas de impostos só no plano federal.
No auge do boom anterior do ciclo do petróleo entre 2006 e 2014, a Petrobras ajudou a consolidar a a indústria de bens de capital sob encomendas, com substituições de importações. Institui-se o que passei a chamar da Tríade: "Petróleo-Porto-Indústria Naval" que gerou centenas de milhares de empregos em infraestrutura e produção industrial em diversas regiões do Brasil. [3] [4] [5] [6]
Neste processo, novas relações de cooperação tecnológica e alianças estratégicas com indústria nacional foram articuladas. A indústria de fornecedores se estruturou, avançou tecnologicamente e foi paulatinamente ganhando uma escala que muitos duvidaram, instaladas no ERJ e em diversos outros estados.
Ao contrário, o quase fim da PCL mira a redução da produção nacional para o setor, que já está sendo substituída pela importação subsidiada. Estas importações retomam a dependência tecnológica das para-petroleiras e fornecedores de máquinas e equipamentos instaladas no exterior. Assim, as para-petroleiras, como players, jogam com as nações periféricas impondo preços e limitando disponibilidades de bens e serviços.
Este jogo altera e impede a competitividade da indústria nacional de fornecedores de equipamentos, máquinas, bens e serviços na área de petróleo. Exatamente a que mais gera empregos qualificados e ao se apropriar de uma boa parte da renda petrolífera que é repartida ao longo da cadeia produtiva do setor petróleo da exploração à distribuição para o consumo.
O Brasil no atual estágio de exploração de nossas reservas petrolíferas, com a jovem reserva do pré-sal, ainda em fase inicial de descobertas e com a consequente e enorme demanda de equipamentos, máquinas e serviços é mais um crime de lesa-pátria.
Com o uso da mídia comercial comprada, sabemos que esta posição é atualmente minoritária, porque seria sustentada por posições ideológicas, como se aqueles que defendem entregam a preços vil nossos ativos, acabam com a PCL e abandonam a oportunidade de soberania de nosso desenvolvimento esteja assim agindo por outro modo que não a ideologia do atual ultra neoliberalismo entreguista.
Triste sina ideológica e de concepção mental colonizada. Essa crê que a globalização é democrática e aberta para todos sem disputa por hegemonias e controles. Abandonam assim, com um pragmatismo infantil, nada inocente e útil apenas aos poderosos.
Não há como chamar de inocente aqueles que deixam de lado a compreensão sobre como a geopolítica, inserida no contexto deste setor estratégico do petróleo, têm consequências para nações do porte do Brasil, que é um produtor cada vez mais respeitado mundialmente, além de ser o sexto maior consumidor de derivados de petróleo do mundo.
Enfim, a renovação do Repetro nacional e a disputa pelos repetros estaduais são frutos de uma concepção mental e ideológica colonizada. O tempo e os indicadores nos mostrarão os resultados.
PS.: Sobre o assunto sugiro ainda a leitura do texto "O Repetro e o golpe: ganham as estrangeiras, perde o Brasil", do coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP) que também trata do tema com outros argumentos, ponderações e análises publicado aqui no site do Sindipetro-NF. [7]
Referências:
[1] PAMPLONA, Nicola. Folha de São Paulo. 18 Ago. 2017. Governo amplia até 2040 regime de isenção fiscal no setor de petróleo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/08/1911063-governo-amplia-ate-ate-2040-regime-de-isencao-fiscal-no-setor-de-petroleo.shtml
[2] Congresso em Foco. GÓIS, Fábio. Câmara aprova medida que concede isenção de impostos para petrolíferas estrangeiras. Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/camara-aprova-medida-que-concede-isencao-de-impostos-para-petroliferas-estrangeiras/
[3] Postagem do blog em 24 jul. 2017. A geopolítica da energia: os reflexos do ciclo do petróleo e sua relação com o Brasil. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/07/a-geopolitica-da-energia-os-reflexos-do.html
[4] Postagem do blog em 19 out. 2017. A aproximação Rússia-Arábia Saudita de olho no novo ciclo do petróleo: o que isto tem a ver com o Brasil? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/10/a-aproximacao-russia-arabia-saudita-de.html
[5] Postagem do blog em 26 jul. 2016. A indústria naval nacional diante da fase de colapso do ciclo do petro-econômico. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/07/a-industria-naval-nacional-diante-da.html
[6] Blog Viomundo em 2 out. 2016. Roberto Moraes: Importar plataformas faz parte do desmonte do setor naval brasileiro. Disponível em: http://www.viomundo.com.br/denuncias/roberto-moraes-importar-plataformas-faz-parte-do-desmonte-do-setor-naval-brasileiro.html
[7] RANGEL, José Maria. 28 mar. 2018. O Repetro e o golpe: ganham as estrangeiras, perde o Brasil. Disponível em: http://sindipetronf.org.br/publicacoes/opiniao/item/10344-o-repetro-e-o-golpe-ganham-as-estrangeiras-perde-o-brasil
PS.: Atualizado às 10:40 de 11/04/2018: Atendendo a solicitações, o blog especifica o que significa Repetro. Trata-se de um regime aduaneiro especial de exportação e de importação de bens destinados às atividades de pesquisa, lavra e exploração das reservas de petróleo e gás natural. O Repetro foi instituído pelo Decreto Nº 3.161, de 02 de setembro de 1999, depois revogado pela Lei nº 9.430/1996, artigo 79, parágrafo único. Adiante, ele foi regulamentado através do Decreto Nº 6.759/2009, do Regulamento Aduaneiro. Atualmente, com a aprovação da Medida Provisória 795, em dezembro de 2017, no Congresso Nacional, a nova legislação reduziu o imposto de renda e a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) das petrolíferas. No total a renúncia fiscal pode chegar a um valor total de R$ 1 trilhão até 2040.
2 comentários:
escrevo para agradecer imensamente por todos seus comentários, postagens e publicações.
Apesar de escancararem uma realidade que não é exatamente a que eu gostaria de ver, nos permite ter uma visão séria do que acontece, para podermos dialogar e multiplicar esta insuportável realidade.
Flavia Toledo (fvtoledo@uol.com.br>
Obrigado Flávia.
Para mim também é difícil descrever esta realidade que tem sido vista em nosso dia-a-dia.
Resistir é necessário.
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