terça-feira, julho 31, 2018

Uma nova condução do setor de petróleo no México: que relação se pode fazer com o Brasil?

O México tem um novo presidente eleito pela população, com expressiva votação e que fez maioria no Congresso Nacional, depois do período neoliberal.

López Obrador ainda não tomou posse, mas já anunciou que retomará o protagonismo estatal no setor de petróleo na economia mexicana, mesmo sabendo das dificuldades sobre endividamento e redução das reservas.

Até perto de 2004, o México tinha mais do dobro da produção do Brasil na época com 3,4 milhões de barris por dia e era o oitavo maior produtor do mundo. 

Em 2015, já tinha passado para 12º lugar, atrás do Brasil que produzia 2,5 milhões, enquanto o México tinha caído para 2,4 milhões de barris por dia. No segundo semestre deste ano, a produção do México já tinha caído para 1,88 milhão de barris por dia.

Pois bem, o presidente neoliberal Enrique Peña Nieto, reduziu o tamanho da estatal Pemex, quebrou o monopólio estatal abriu o setor com leilões de áreas para outras petroleiras. Decisões que até hoje, em nada tinha mudado o quadro de dependência da importação de combustíveis dos EUA, apesar de todo o histórico mexicano da produção de petróleo. 

Assim, com a redução da produção de petróleo tanto no mar (Golfo do México), quanto em terra e a diminuição das receitas, mesmo no auge do preço do barril entre 2010 e 2014, fez a estatal Pemex viu aumentar sua dívida líquida para U$ 106 bilhões, cerca de 30% maior do que a da Petrobras.

Pois bem, o presidente eleito no início de julho no México, López Obrador, anunciou na semana passada que a retomada do protagonismo estatal no setor de petróleo é considerado estratégico em seu plano de governo. Assim, Obrador definiu o investimento de US$ 9,4 bilhões no setor de petróleo já para o ano que vem. 

O plano vai ainda impulsionar a exploração de petróleo estatal para alcançar uma produção cerca de 600 mil barris por dia a mais. Com isso, o presidente eleito diz que o projeto é voltar ao patamar de produção próximo aos 2,5 milhões por dia, num prazo de dois anos. 

Além disso, o novo presidente planeja construir uma nova refinaria de petróleo para o país e também decidiu investir na modernização das seis refinarias da Pemex.

O governo atual foi reduzindo os investimentos nas refinarias deixando as mesmas abandonadas para serem vendidas. O objetivo agora é o de tentar melhorar a produtividade que teria caído à metade, desde o ano de 2013.

Obrador já enfrenta ameaças de todos os tipos, vinculadas ao discurso único do mercado, mas segue firme, em cumprir os compromissos firmados no processo eleitoral com a população. 

O caso brasileiro e da nossa estatal Petrobras é bem melhor do que a da Pemex e do México. 

O governo pós-golpe apesar de todo o entreguismo, não conseguiu interromper o planejamento para aumento da produção que não parou e se ampliará com as novas unidades de produção que entrarão em funcionamento nos próximos meses. 

Além disso, ao contrário do México, as perspectivas nacionais do setor, diante na nossa colossal reservas do pré-sal (que está aí para ser explorada), gerando demandas da indústria se houver política de conteúdo local, são colossais. 

Mesmo que partes fatiadas da Petrobras tenham sido vendidas, junto com outros ativos e campos de petróleo, as perspectivas, nas mesmas linhas anunciadas por Obrador no México, são muito boas na linha da autossuficiência, da soberania energética e da geração de empregos em toda a cadeia produtiva com uma empresa integrada do poço ao posto. 

Para isso, será necessário, como no México, uma nova condução política ao país. Os desafios serão imensos, mas antes será preciso retomar o controle político do país retirado após o golpe.

segunda-feira, julho 30, 2018

A importância de pensar a região quando se faz escolhas sobre a gestão estadual

Na semana passada eu fui chamado para falar e debater temas que se relacionam ao desenvolvimento regional.

Em outras ocasiões, ao tratar de temas relativos ao que se chamava de desenvolvimento, eu buscava dados e indicadores que permitissem um diagnóstico sobre a economia, PIB, royalties, empregos e outros sobre a situação das pessoas: educação, saúde, etc.

Agi assim inúmeras vezes julgando estar interpretando o desenvolvimento regional a partir de cidades polos. Porém, uma indagação parecia subliminar: o que era efetivamente uma região?

No fundo, dentro do senso comum para a maioria das pessoas, região é o lugar onde se vive (e de onde você se vê diante da natureza e do mundo) e o espaço um pouco para além dele.

No caso de Campos seria assim um município e os seus santos vizinhos: São João, São Francisco, São Fidélis, etc. Desta forma, pensar a região, ainda para a maioria das pessoas é levantar os dados e indicadores que reproduzem um instantâneo - retrato - sobre este espaço recortado, a que se chama de região.

Porém, que região seria essa? Durante um bom tempo, essa questão me intrigou. O contato mais próximo com os geógrafos ajudou a ampliar a inquietação sobre esta ideia de região.

As análises sobre a vida nos municípios, assim como a realidade das gestões públicas, me chamaram a atenção para o isolamento dos municípios. Como autarquias eles têm poder sobre os usos dos seus solos que é uma realidade concreta, sem abstração, sendo o nível de governo mais próximo do cidadão. O que é bom e forte em termos de poder. Porém, insuficiente para a dinâmica da vida atual das pessoas.

Assim se vê os municípios sempre presos em seus limites territoriais e em projetos concorrenciais, quando se trata da disputa pela atração de investimentos (de fora, exógenos), enquanto, as suas populações sofrem problemas similares que parecem apontar para a necessidade de programas, planos e ações consorciadas e complementares.

Porém raramente, as questões são assim percebidas. Por que se vive cada vez mais numa região e continuamos a pensar e agir só localmente?

A escala de governo acima, estadual, em suas crises política, econômica e fiscal continua presa, quase sempre, aos problemas da metrópole expandida, mantendo uma relação individual e não regional com os demais municípios.

Mapa das regiões do ERJ
Assim, no caso do ERJ a relação, já há décadas, é a do atendimento das demandas individuais dos municípios. Para isso o governo estadual utiliza o Padem (Programa de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios), como instrumento desta relação, não levando em conta a região, a importância da integração entre os municípios e a necessidade de ações supra municipais ou infra regionais.

Por estas questões de ordem mais práticas, eu resolvi tratar do tema sobre o que é região. Região que é vista como parte de um todo. Interessante observar que em termos de nomenclatura – antes de conceito - a região pode ser uma nação ou um conjunto delas em relação ao mundo. Região pode ser ainda um estado ou vários em relação a uma nação. Um município, ou vários, em relação ao que nossa federação chama de estado. Ou região pode ser também e ainda áreas de um município que consideramos como todo.

Para os geógrafos região é um recorte espacial relacionado à problemática da diferença e da integração. Mas, antes disso, é importante se saber que região é uma construção abstrata como e a de uma nação. Ela existe mentalmente em nosso intelecto, como nos lembra a professora e geógrafa Sandra Lencioni.

Muitos ainda não percebem, mas paulatinamente as nossas comunidades vivem menos em cidades e municípios e mais em regiões. Os fluxos diários de pessoas e coisas (materiais) entre os municípios são cada vez maiores, mas as gestões públicas continuam insistindo em ver seus problemas apenas dentro das linhas dos limites territoriais dos municípios.

Até os processos de urbanização são cada vez mais regionais, dispersos, mesmo que em meio a vazios que dão forma ao todo fazem repensar os limites.

Não temos no Brasil gestão regional ou supra municipal. A escala acima é a estadual, já um pouco distante. Este déficit do federalismo brasileiro é mais ou menos intenso conforme a gestão da escala de governo estadual.

Projetos e editais regionais poderiam ajudar no desenvolvimento de consórcios e outros projetos que pensassem e agissem estimulando a integração das gestões, assim como as pessoas já faze em seu dia a dia em busca da sobrevivência. Imaginem o que não se poderia fazer de forma consorciada em termos de saúde, transportes, educação, turismo, comércio de alimentos, etc.

Região é ainda um conceito dinâmico e em constante movimento. Entendê-lo ajuda também a pensar o que se chama de desenvolvimento que deve ir para além de crescimento econômico, embutindo as perguntas: desenvolvimento para quê e para quem?

Não pode se tratar apenas de PIB, orçamentos, royalties, tributos, etc. mas, renda, emprego, condições de vida, direitos sociais, etc. A região também não pode ser lembrada apenas, quando se reúnem os municípios para evitar as reduções dos royalties do petróleo.

Enfim, se trata de um tema amplo, mas não tão complexo como pode parecer. Assim o tema merece ser um pouco mais explorado, especialmente em momentos de debates sobre novas escolhas para a gestão estadual. Em especial no devastado ERJ. Ou será que vamos apenas continuar a repetir o atual script?

PS.: Atualizado às 14:10: para breves acréscimos no texto.
PS.: Atualizado às 01:06: para correções e ajustes no texto, sem modificações na essência do mesmo.

sexta-feira, julho 27, 2018

Profa. Ana Costa da UFF: Carta denúncia sobre violações no Açu

A professora e pesquisadora Ana Costa da UFF-Campos divulgou uma carta que tem apoio de vários outros pesquisadores da região e outros pontos do país que faz uma série de denúncias, sobre violações a pequenos proprietários rurais, na região do Açu que foram atingidos pelos projetos do Porto do Açu.

Questiona-se ainda a Justiça que tem negado a ampla Defesa e o contraditório, atendendo apenas aos interesses do projeto e seus proprietários, sem reconhecer os direitos de pequenos proprietários, que são partes da comunidade nativa que residia e produzia naquela região, hoje destinada a projetos do porto, sem que nem 10% das áreas desapropriadas, depois de dez anos de implantação do projeto tenha tido alguma serventia.

A carta-denúncia faz um "alerta à sociedade sobre mais essa injustiça praticada em nome da acumulação, concentração e centralização da riqueza nessa região e no país. Que simplesmente, em uma década, o domínio privado das terras, já alcança quase que 30 mil hectares de terras em função do projeto Minas Rio, somando terras privadas e unidades de conservação (em que parte é terra pública, mas com destinação vinculada ao empreendimento) em Conceição de Mato Dentro/MG, no Açu em São João da Barra/RJ e nas áreas de servidão de todo o percurso dos 525 quilômetros do mineroduto das cavas para exploração do minério nas Montanhas em Minas Gerais, até os mares, para exportação, até então do minério no Porto do Açu."

Abaixo o blog reproduz na íntegra a carta com os justos questionamentos que seguem sem respostas:

CARTA DENÚNCIA: Violações no Açu


Se perguntarmos a profissão dos membros das aproximadas 15 famílias que vivem a saga do gado, desde que suas terras foram expropriadas pelo então governador, e hoje presidiário, Sergio Cabral e entregue ao homem mais rico do Brasil na época e hoje também em prisão domiciliar, Eike Batista, eles certamente vão falar das atividades que desenvolvem desde o nascer do sol até o momento em ele se põe, e a escuridão os obrigam a descansar. 

Até há uns dez anos atrás, não havia lugar melhor para se viver, eles dizem. A lida com os animais e a terra era realizada com a tranquilidade que o campo propicia. Contada, principalmente, pelos mais velhos, percebemos o trabalho é duro e intenso, mas prazeroso! Chega a parecer bucólica e prazerosa a vida vivida é sentida por essas famílias.

Mas, logo que o monstro, metáfora usada por alguns para descrever o Megaempreendimento, que é o Porto do Açu, chegou a paz e o sossego foram também destruídos por ele.

As terras foram invadidas pela empresa, hoje Prumo Logística S.A., as moradias destruídas, as famílias e seus animais, que para alguns, complementavam a renda familiar, para outras era a única renda para a manutenção e reprodução das mesmas.

Nesse processo de expropriação das terras em que essas não foram utilizadas, deixando inclusive de cumprir a sua função social, uma vez que foram apenas destruídas esvaziadas as moradias, benfeitorias, histórias, sentidos e significados, para facilitar a especulação fundiária, pois até hoje, mais de uma década, menos de 10% (dez por cento) desta área, foi ocupada com todas as obras do porto, bem como, das empresas do retro porto. Assim, os agricultores tiveram que usar essas terras ociosas para alimentar o seu gado, tornando-se itinerantes em seu próprio chão.

E agora, mesmo a terra não cumprindo com a função social, a empresa/Prumo Logística S. A., junto ao Estado/CODIN, conseguem que o juiz Leonardo Cajueiro, ordene a retirada do gado dessas famílias trabalhadoras, com prazo final para o dia 27/07/2018.

Nesse período, a Defensoria apresentou alguns argumentos e pedidos que não foram apreciados, motivando que entrasse com embargos.

Desse modo, vimos por meio dessa carta, questionar onde está a Ampla Defesa? O Contraditório? E ao mesmo tempo alertar a sociedade de mais essa injustiça praticada em nome da acumulação, concentração e centralização da riqueza nessa região e no país. Que simplesmente, em uma década, o domínio privado das terras, já alcança quase que 30 mil hectares de terras em função do projeto Minas Rio, somando terras privadas e unidades de conservação (em que parte é terra pública, mas com destinação vinculada ao empreendimento) em Conceição de Mato Dentro/MG, no Açu em São João da Barra/RJ e nas áreas de servidão de todo o percurso dos 525 quilômetros do mineroduto das ´das cavas para exploração do minério nas Montanhas em Minas Gerais, até os mares, para exportação, até então do minério no Porto do Açu. Solicitamos ampla divulgação.

Ana Costa - Professora da UFF Campos/RJ
costa_ana@id.uff.br
Núcleo de Estudos sobre Trabalho, Cidadania e Desenvolvimento (NETRAD)
Açu/São João da Barra, 26 de julho de 2018.

terça-feira, julho 24, 2018

Fundo EIG controlador da Prumo, dona do Porto do Açu, está em negociação para aquisição de campos maduros da Bacia de Campos

A informação sobre o interesse do fundo financeiro EIG Global Energy Partners para a aquisição de dois polos maduros de petróleo em águas rasas na Bacia de Campos é da Agência Reuters. [1]

A transação deve envolver a empresa de energia brasileira Ouro Preto Óleo e Gás fez a oferta vencedora pelos polos Pampo e Enchova, localizados na Bacia de Campos.

O banco americano Goldman Sachs que deverá financiar a oferta do fundo americano EIG que giraria em torno de 1 bilhão de dólares.

Mapa da Bacia de Campos:
Campos de Enchova e Pampo e Porto do Açu
Assim, o fundo EIG, controlador da holding Prumo Logística Global poderia usar as vantagens competitivas de apoio às operações offshore de sua empresa de operações portuárias do Porto do Açu.

As possibilidades daí decorrentes seriam várias, como acesso ao gás natural para o hub que a Prumo iniciou a construção, junto aos seus terminais portuários, visando geração de energia elétrica. 

É na  plataforma de Enchova que se inicia um gasoduto que vai até Cabiúnas e de lá sai um ramal que vai para Vitória e passa por Campos (Gascav).

O fato reforça o que o blog tem comentado aqui neste espaço, sobre os interesses crescentes de fundos financeiros internacionais. sobre ativos de petróleo e infraestruturas produtivas, que de forma conjunta e consorciada, podem representar grandes lucros.

No meio deste processo há desconfianças dos agentes financeiros em relação as ações jurídicas que envolvem as desapropriações de pequenos proprietários. Os desapropriados agora estão sendo pressionados para retirar o gado das terras pelas quais ainda não receberam, em função de desentendimentos com a Codin e Prumo. Análises de riscos utilizadas por estes agentes financeiros registram estes problemas em áreas do distrito industrial junto ao Porto do Açu.


Referência
[1] Matéria da Agência Reuters sobre o tema, em 24 jul. 2018-19:36. EXCLUSIVO-Petrobras entra em negociação com grupo apoiado por EIG para venda de polos maduros. Disponível em: https://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN1KE30V-OBRBS

Estudo do FMI diz que a automação, robôs e inteligência artificial aumentarão as desigualdades e os salários levarão gerações para serem ajustados

O assunto vem sendo discutido com alguma frequência, embora quase sempre sobre a lógica da modernidade e da necessidade de aumento da produtividade exigida pelas empresas e pelo capital.

A revolução 4.0, a ampliação do uso dos robôs, a utilização dos big-datas junto dos algoritmos, para programações conhecidas como inteligência artificial crescem, no presente, numa forma perceptível e que faz lembrar o Thomas Khum quando este dizia, em seu livro "A estruturas das revoluções científicas" que o rompimento de paradigmas se dá por saltos, percebidos em alguns momentos deste processo. [1]

O estudo do FMI "Devemos temer a revolução dos robôs (a resposta é sim)" [2] que foi citado no artigo do jornalista Sergio Lamucci ontem aqui no Valor (A revolução dos robôs e a desigualdade) diz textualmente que "a automação é boa para o crescimento econômico e ruim para a igualdade". [3]

O texto diz ainda que a evolução dos salários decorrentes destes ganhos de produtividade para os trabalhadores mais qualificados que forem aproveitados nesta onda, poderá facilmente levar gerações.

Ou seja estaria se falando do descompassos dos ciclos. Uma geração tem cerca de 30 anos. Assim duas gerações se poderia estimar em 50 anos  (um ciclo longo de Kondratiev).

Imaginem que hoje onde ainda resta o "welfare state" (estado de bem-estar-social) está sendo sendo reduzido ou abolido. E onde não havia, nas nações periféricas este processo não acontecerá. Assim, 10% da população viverá bem, enquanto os demais serão sobrantes lutando pela sobrevivência.

Arte dos ludistas destruindo máquinas na Inglaterra em 1811.
Não se trata de ser um ludita (movimento de resistência de trabalhadores na Inglaterra em 1811/1812  se posicionando contra as máquinas quando da primeira revolução industrial) [4], mas é preciso identificar que estas mudanças não são iguais em todo o mundo.

Estas transformações alteram e muito não apenas o conteúdo do trabalho, mas a sua organização, a distribuição espacial (territorial) decorrente desta reestruturação e ainda os processos de urbanização e mobilização dos trabalhadores. [5]
Estes processos tenderão a ser cada vez mais dispersos e fragmentados, mesmo que em redes informacionais e distanciarão ainda mais os qualificados dos desqualificados ampliando as desigualdades sociais que, no estudo foram reconhecidas pelos pesquisadores do FMI.

No Brasil, medidas podem tentar acelerar e aperfeiçoar os processos e programas educacionais como propõe o autor do artigo no Valor, Lamucci. [3] Mas, é difícil crer que mesmo que sejamos eficientes e superemos as atuais crises políticas, econômicas e sociais se consiga superar as dificuldades de uma democracia capenga e de exceção e um modelo político-econômico excludente.

Difícil imaginar que nesta atual atoada se conseguirá superar tudo isso para impedir um esgarçamento civilizatório ainda maior do sistema. Enfim, republico abaixo o artigo do Lamucci que motivou esta postagem.


A revolução dos robôs e a desigualdade

Os rápidos e impressionantes avanços nas áreas de inteligência artificial e de robótica têm potencial para transformar radicalmente o mundo do trabalho. Nos próximos anos, a automação de muitas tarefas poderá ter efeitos dramáticos na vida dos trabalhadores, como mostra um estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O título dá uma ideia clara das preocupantes conclusões do texto: "Devemos temer a revolução dos robôs? (a resposta correta é sim)".

Segundo os autores, os resultados obtidos são surpreendentemente robustos: "A automação é boa para o crescimento e ruim para a igualdade." No modelo de referência, os salários reais (descontada a inflação) caem no curto prazo e por fim aumentam. A questão é que a elevação dos salários "pode facilmente levar gerações", apontam Andrew Berg e Luis-Felipe Zanna, economistas do FMI, e Edward Buffie, da Universidade de Indiana.

Para o Brasil, um país com baixa produtividade e educação deficiente, o cenário impõe desafios complexos. A baixa eficiência pode deixar o país ainda mais para trás em relação ao que se passa em economia mais produtivas, enquanto os problemas educacionais tendem a dificultar a adaptação dos trabalhadores à nova realidade.

"Automação intensa terá efeito dramático sobre o mundo do trabalho"

O estudo destaca as mudanças em curso causadas pela automação. Em centros de distribuição, robôs conseguem carregar, descarregar e enviar produtos com supervisão humana mínima. Programas de inteligência artificial começam a trabalhar como assistentes jurídicos, contadores e professores assistentes. Em breve, veículos autônomos poderão eliminar milhões de empregos de motoristas de caminhão, ônibus e táxi.

"A premissa do estudo é que nós estamos no meio de um ponto de inflexão tecnológico, uma nova 'era da máquina', em que inteligência artificial e robôs estão rapidamente desenvolvendo a capacidade de fazer o trabalho cognitivo e o trabalho físico de grandes parcelas da força de trabalho", dizem os autores.

Nesse quadro, eles desenvolveram um modelo para analisar as implicações dos robôs sobre crescimento, salários e desigualdade. O trabalho considera o capital "robótico" como distinto do capital tradicional, por sua capacidade de substituir o trabalho humano.

Segundo os autores, com frequência a literatura econômica sobre tecnologia e desigualdade chega a conclusões "essencialmente otimistas". Algumas categorias de trabalhadores e tarefas podem ser afetadas no curto prazo, mas a produção e os salários crescem à medida que novas tecnologias abrem mais oportunidades do que fecham. Se as habilidades da força de trabalho se mantiverem atualizadas, há pouco com o que se preocupar.

"Nós mostramos que desta vez de fato pode ser diferente", afirmam Berg, Zanna e Buffie. Mesmo um pequeno aumento no nível da produtividade dos robôs pode elevar a produção enormemente se as máquinas forem substitutos suficientemente próximos dos humanos. "O mecanismo básico é que a introdução de robôs mais produtivos inicialmente reduz os salários e aumenta o retorno tanto do capital robótico quanto do capital tradicional."

Tudo isso é "muito bom para o crescimento", mas também "muito ruim" para a distribuição de renda, conclui o estudo. Traçando esse quadro preocupante, o trabalho tem como epígrafe uma citação do consultor americano Warren Bennis: "A fábrica do futuro terá apenas dois empregados - um homem e um cachorro. O homem estará lá para alimentar o cachorro. O cachorro estará lá para impedir que o homem toque no equipamento".

Há obviamente quem tenha uma visão mais otimista do que Berg, Zanna e Buffie. O próprio estudo dos três cita David Autor, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), para quem "jornalistas e mesmo especialistas tendem a exagerar a extensão da substituição do trabalho humano por máquinas e a ignorar as fortes complementaridades entre automação e trabalho" que aumentam a produtividade, elevam os rendimentos e fazem crescer a demanda por trabalhadores.

Embora não haja consenso sobre o impacto da automação, é fundamental pensar em políticas públicas que respondam a esse novo quadro. Para os autores do estudo, uma delas "envolve transferências dos proprietários do capital para os trabalhadores, talvez na forma de uma renda básica universal". Essa é uma medida na direção adequada, na visão de Vinicius Carrasco, ex-diretor do BNDES e professor da PUC-Rio. "Implemente a robotização e compense os perdedores", diz ele, para quem é importante avaliar como combinar esses avanços tecnológicos com melhoras na rede de proteção. O ideal seria que os aumentos de produtividade gerassem ganhos suficientes para compensar os perdedores.

Há sinais, porém, de que se caminha na direção contrária: "O populismo, por exemplo, acaba prometendo manutenção de empregos como forma de compensação", afirma Carrasco, citando políticas do presidente Donald Trump, como o protecionismo comercial e medidas anti-imigração. O resultado é que se distorce a economia, sacrificando a eficiência, para tentar preservar empregos. "Isso serve para robotização, abertura da economia ou o que for." Ao mesmo tempo, populistas como Trump pouco se dedicam a promover políticas compensatórias. "O populismo é ludita [hostil a inovações tecnológicas]", diz Carrasco, economista-chefe da Stone, uma empresa de meio de pagamentos.

No ano passado, Bill Gates, da Microsoft, sugeriu a tributação do uso de robôs pelas empresas, para eventualmente desacelerar o ritmo de automação e financiar outros tipos de emprego. Para Carrasco, é uma solução ruim, por inibir a eficiência produtiva. "É como taxar o comércio internacional para preservar empregos locais."

Uma resposta às mudanças causadas pela tecnologia precisa vir por meio da educação. É necessário preparar os trabalhadores para lidar com as exigências de um mundo com grau crescente de automatização. Para o Brasil, com seus graves e crônicos problemas educacionais, é uma questão delicada.

Elevar a qualidade da educação também contribui para aumentar a produtividade, algo fundamental num cenário de intensa robotização. "A agenda para melhorar a produtividade no Brasil já é urgente de qualquer forma; no passo em que estamos e como é mais provável que a revolução se dê de maneira mais intensa fora, a distância em relação ao resto do mundo vai aumentar", nota Carrasco. Esse tema precisa estar no horizonte de quem pretende comandar o país a partir de 2019, ou o Brasil correrá o risco de ficar ainda mais atrasado.

Sergio Lamucci é repórter. E-mail: sergio.lamucci@valor.com.br


Referências:
[1] KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 1997.

[2] FMI. Should we fear the robot revolution? (the correct answer is yes). Devemos temer a revolução dos robôs? (a resposta correta é sim). Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WP/Issues/2018/05/21/Should-We-Fear-the-Robot-Revolution-The-Correct-Answer-is-Yes-44923

[3] LAMUCCI, Sérgio. Artigo no Valor em 23 de jul. 2018. A revolução dos robôs e a desigualdade. Disponível em: https://www.valor.com.br/brasil/5676939/revolucao-dos-robos-e-desigualdade

[4] Ver sobre os luditas ou movimento ludista no Wikipedia. Disponivel em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludismo/

[5] ALVES, J. E. D. diz sobre a revolução 4.0: 
"A atual revolução científica e tecnológica difere das três anteriores na profundidade e na velocidade das transformações, com grande impacto no mundo do trabalho. Não se trata mais de lidar com o “gorila domesticado” de Henry Ford, ou com a recomposição da linha de montagem do Toyotismo, que busca capturar o pensamento do operário incorporando suas iniciativas afetivo-intelectuais aos objetivos da produção de bens e serviços. Os trabalhos que vão surgir serão necessariamente diferentes dos atuais, não havendo garantias que serão suficientes para compensar os postos que vão desaparecer, e dificilmente as organizações sindicais atuais dos trabalhadores conseguirão se manter na nova configuração produtiva, tanto quanto os chamados “direitos adquiridos”. Haverá uma produção mais maleável, descentralizada e com flexibilização do processo de trabalho, tanto temporal quanto físico, além da tendência à “individuação” (a “pejotização” é apenas um aspecto) e do enfraquecimento do trabalho material, aglomerado e coletivo". 
Entrevista de José Eustáquio Diniz Alves à revista do IHU-Unisinos, em 21 jul. 2018. O marxismo continua atual para a crítica do capitalismo e a denúncia das desigualdades. Entrevista especial com José Eustáquio Diniz Alves. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/581055-filosofia-marxista-continua-atual-para-critica-do-capitalismo-e-denuncia-das-desigualdades-entrevista-especial-com-jose-eustaquio-diniz-alves

sábado, julho 21, 2018

A petroleira Saudi Aramco também integra setor petroquímico como a Esso e a Shell, ao contrário do que está fazendo a Petrobras

O blog produziu diversas postagens sobre o tema da petroquímica, a partir da notícia da venda de empresas do setor pela Petrobras, assim como da Braskem, em que a estatal tem sociedade com a Odebrecht.

Valor, 20 jul. 2018, P. B1
Nas últimas postagens sobre o assunto que podem ser vistas (aqui, aqui, aqui e aqui) foi sustentado que a petroquímica é uma das áreas da extensa cadeia produtiva do petróleo, vinculada ao refino e que tende a ser cada vez mais estratégica, na medida que o uso de derivados do petróleo deixe de ser mais intensivo no uso para o transporte.  

Pois bem, corroborando com a necessidade das petroleiras no mundo todo buscarem uma integração das diversas etapas desta cadeia produtiva, como forma de lidar melhor com as oscilações e os ciclos de preço desta mercadoria especial, eu trago ao lado uma pequena nota veiculada no Valor (20 jul, P. B1).

A informação mostra a opção da grande petroleira saudita Saudi Aramco ao decidir comprar uma participação e o controle da empresa petroquímica Sabic (a quarta maior do mundo, veja na tabela abaixo) detalhando que com a negociação, a estatal petroleira “está expandindo de forma expressiva suas operações petroquímicas e avançando na sua meta de se tornar uma empresa moderna e integrada como a Exxon Mobil e a Royal Dutmch Shell”. 

A Sabic já era uma empresa pública com o controle de 70% por parte do governo, mas a decisão de repassar o controle para a petroleira estatal Saudi Aramco reforça a ideia da integração da cadeia produtiva. A saudita Sabic é uma corporação global com 35 mil funcionários e atuação na América, Europa, e Ásia-Pacífico, para além do Oriente Médio.

Assim, se observa o caso de outra petrolífera no mundo que segue um caminho inverso do que a Petrobras, pós-golpe, passou a fazer com a desintegração e desverticalização de sua atuação em todo a cadeia produtiva do petróleo indo do poço, ao posto, e agora, mais recentemente, até o poste com a eletrificação e o uso das térmicas à gás natural.

É sintomático que informações como estas apreçam em notas periféricas e em pés de páginas, no interior da mídia corporativa.

Desta forma, esta informação completa assim, a série que vínhamos tratando do tema sobre a importância estratégica de manter o setor petroquímico sob o controle de empresas nacionais, evitando a dependência de oligopólios controlados do exterior.

No Brasil, só agora a Abliplast (Associação Brasileira de Plásticos) acordou para os riscos da desnacionalização da Braskem e anuncia que pretende questionar a decisão no Conselho Administrativos de Defesa Econômica (Cade) sobre os impactos no mercado nacional de resinas plásticas, na medida que a produção no Brasil passará ter controle do que será a maior empresa global do setor, a holandesa LyondellBasel.

É lamentável assistir todo este desmonte que tornará o país e sua produção industrial mais dependente e periférica.

PS.: Atualizado às 16:34: para breve acréscimo no texto.

sexta-feira, julho 20, 2018

Quotas mensais dos royalties aumentam 20% em média nos municípios petrorrentistas fluminenses

As quotas mensais dos royalties do petróleo do mês de julho, dos municípios petrorrentistas fluminenses, a ser depositado na próxima 2ª feira, segundo dados da ANP, tabulados pelo Wellington Abreu superintendente de Petróleo, Gás e Tecnologia da PMSJB:

1) Macaé - R$ 56,5 milhões;
2) Maricá - R$ 48,7 milhões;
3) Niterói - R$ 42,9 milhões;
4) Campos dos Goytacazes - R$ 41,8 milhões;
5) Rio de Janeiro - R$ 16,1 milhões;
6) Cabo Frio - R$ 14,0 milhões;
7) Rio das Ostras - R$ 13,8 milhões;
8) São João da Barra - R$ 10,6 milhões;
9) Casimiro de Abreu - R$ 6,7 milhões;
10) Armação de Búzios - R$ 6,7 milhões;
11) Quissamã - R$ 6,6 milhões.

Os valores são em média 20% maior do que a quota de royalties do mês passado de junho e cerca de 50% maior do que o primeiro mês do ano em janeiro de 2018. 

Estas quotas menores estão relacionadas não ao aumento de produção (que é declinante no caso da Bacia de Campos e não na Bacia de Santos), mas ao maior valor do barril de dois meses atrás e ao alto valor do dólar na ocasião. os valores completos e a tabela das quotas dos últimos doze meses pode ser vista na tabela abaixo. Para ver a imagem da tabela em tamanho maior clique sobre ela.


Lucro líquido dos 4 maiores bancos do país atinge R$ 18 bi no trimestre: crise para quê e para quem?

Não tem crise econômica, social, fiscal e nem greve dos caminhoneiros que segura o lucro dos bancos, aqueles que tomam conta do país e da vida das pessoas.

Apesar de toda a crise, desemprego, etc. o lucro líquido no período entre abril e junho passado foi de R$ 18 bilhões, 13,5% maior que em igual período do ano passado.




























A greve dos caminhoneiros impactou o PIB, os empregos, a arrecadação de impostos mas não os lucros líquidos dos bancos que não param de crescer, num negócio cada vez mais centralizado e oligopolizado.

É bom que se registre que se trata de lucro líquido, já descontadas despesas de toda a ordem e também impostos. Projetado para um ano, multiplicando por quatro trimestres, teríamos um lucro líquido anual só destes quatro bancos, no valor total de R$ 72 bilhões. Um colosso!

Estes números ajudam a explicar para que e a quem servem as crises. Eles demonstram como se dá no mundo real a captura dos excedentes econômicos gerados pela sociedade no momento anterior de boom da economia.

Numa figura simbólica é que se estivéssemos vendo as mãozorras do sistema financeiro puxando para a si a bolada da riqueza gerada pelo trabalho das pessoas e empresas.

Mais interessante ainda é observar que todo este lucro vem neste momento em que o crescimento do crédito é muito baixo e que estes resultados podem estar ligados ao empréstimo às pessoas físicas onde os juros são estratosféricos e sem igual no mundo.

terça-feira, julho 17, 2018

As consequências da venda da Braskem e desnacionalização do setor petroquímico no Brasil

Este blog já tratou deste tema em pelo menos três postagens recentes (aqui, aqui e aqui), mas vai voltar ao tema da desnacionalização do setor de petroquímica que é estratégico para o Brasil. [1] [2] [3]

O petróleo é uma mercadoria estratégica e especial responsável por mais de outros 3 mil produtos. As petroleiras que operam a exploração sabem de seu papel estratégico e por isso atuam em articulação e admitem a coordenação dos seus Estados-nações que se movimentam pelos interesses geopolíticos.

Não é por outro motivo que essa mercadoria especial (o petróleo) está no centro de vários conflitos regionais e geopolíticos no mundo. Há uma luta permanente que busca garantir ao acesso à esta mercadoria e às suas reservas, assim como à sua extensa e potente cadeia produtiva, que envolve ainda a segurança energética das nações e suas populações.

É importante ainda saber que a cadeia produtiva do petróleo vai bem para além da exploração das reservas, produção do petróleo e seu refino(beneficiamento). Mas, o refino é muito importante porque agrega valor com a distribuição e comercialização de combustíveis, mas também porque estas unidades estão cada vez mais integradas à produção de petroquímicos.

A produção de petroquímicos envolve outras gerações de produtos que têm como insumos os derivados imediatos de petróleo, obtidos numa primeira etapa do refino: etileno, polietileno prolipropileno, óxido de propileno, óxido de etileno, etc. Produtos que são bases para uma série de outras indústrias de plásticos, PVC, embalagens, etc. 

A petroquímica aumentará a sua importância à medida que o petróleo deixe de ter a sua maior utilização como energia para o transportes como acontece atualmente. Estima-se que num cenário entre 3 e 4 décadas isso mude, com menor uso do combustível oriundo do petróleo e maior utilização dos veículos elétricos e híbridos.

Assim, a petroquímica passará a ser a principal demanda para uso do petróleo. O mundo todo sabe disto. Por isso, quase todas as novas plantas de refino de petróleo no mundo estão vinculadas às unidades petroquímicas, como é o caso que se vê na China, Índia e até no Oriente Médio.

A holandesa LyondellBasse que está comprando a brasileira Braskem está entre as três maiores petroquímicas do mundo. As duas maiores são a chinesa Sinopec e a americana Exxon. A Braskem com a produção de polietileno e polipropileno é a sexta em termos de produção mundial.

Infográfico do Valor Online em 18 jun. 2018 [4]
Com a incorporação da Braskem pela LyondellBase esta passará a ser a maior produtora do mundo de resinas plásticas. A Braskem tem unidade produtiva em Houston nos EUA e escritórios e várias partes do mundo, para além das bases operacionais no Brasil.

A Braskem no Brasil tem a sua maior planta na Bahia, onde atualmente emprega milhares de funcionários. Possui ainda bases produtivas junto aos polos petroquímicos em São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Nos EUA, há algum tempo, a Braskem vinha se beneficiando e estava se expandindo usando o barato shale gas (xisto).

As razões da incorporação da Braskem pela LyondellBase vão para além do aumento da produção de petroquímico, e se traduz de uma forma geral, no interesse desta corporação em aumentar a capacidade de controlar preços e boa parte do mercado de petroquímicos no mundo, no qual o Brasil passará a ser dependente. 

A Shell também holandesa, na verdade anglo-holandesa já é a maior produtora de petróleo no Brasil e em 2020 já terá produção maior que meio milhão de barris por dia e poderá ser fornecedora da LyondellBase.

Desta forma, a venda da Braskem significa a perda do controle nacional sobre a produção de petroquímicos, um setor que tende a crescer sua importância na cadeia do petróleo e responsável pela produção de milhares de outros produtos secundários. Com esta venda o Brasil ficará fora de mais um setor estratégico ao desenvolvimento nacional.

É bom lembrar que a Braskem tem o controle da Odebrecht (que foi estraçalhada com as intervenções do judiciário) e da Petrobras. Vale também reforçar o entendimento do aumento do peso dos fundos financeiros sobre as empresas no Brasil, neste momento de crise em que nossos ativos estão “baratinhos”.

A corporação petroquímica holandesa LyondellBasell que está incorporando a Braskem (Odebrecht e Petrobras) é controlada por acionistas tendo entre estes os fundos financeiros (Acess Industries com 18,2% das ações; Fidelity com 8,7%; Vanguard (6,3%) e o fundo americano BlackRock com 5,2%). 

A Braskem é uma empresa controlada pela Petrobras e Odebrecht, sendo que a estatal como co-controladora, possui direito de preferência e de “tag along” (venda conjunta) da empresa. A parte da Odebrecht na Braskem hoje estás nas mãos de bancos credores (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e BNDES). Eles ficaram com as ações da Braskem como garantia para os R$ 12 bilhões em dívidas da empresa.

A diretoria pós-golpe da Petrobras declarou publicamente, mais de uma vez, o desejo de sair do setor petroquímico e vender (em dinheiro, como desinvestimento), a sua participação na Braskem. Já os atuais gerentes da Odebrecht sustentam que o plano é o de se manter no setor petroquímico, mas trocando sua participação na Braskem por algumas ações da LyondellBasell.

O desmonte do setor petroquímico nacional se insere no contexto do golpe político no Brasil, oriundo do impedimento de um governo eleito, que teve no setor petróleo - e toda a sua estratégica cadeia que envolve ainda outras empresas de infraestruturas de energia (Eletrobras, Furnas e concessionárias) – uma das principais razões.

O documento golpista (“Uma ponte para o futuro”) elaborado por agentes do mercado para o PMDB asfaltar o caminho do impeachment, a pedido de Moreira Franco, atual ministro das Minas e Energia, registra os interesses do mercado na desregulação destes setores, o apetite para acesso a estes ativos por parte das grandes corporações transnacionais, que representam os oligopólios do setor no mundo assim como os grandes fundos financeiros globais.


Referências
[1] Postagem do blog em 16 jun. 2018. Segue o desmonte de toda a cadeia produtiva do petróleo no Brasil. Agora é a petroquímica. Disponível em: 

[2] Postagem do blog em 18 jun. 2018. Mais sobre a desnacionalização da petroquímica no Brasil com a venda da Braskem. Disponível em: 

[3] Postagem do blog em 12 jul. 2018. O movimento da holding Odebrecht explica a pinguela para o passado. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2018/07/o-movimento-da-holding-odebrecht.html

[4] Matéria do Valor em 18 jun 2018. Lyondell e Braskem criariam líder mundial. Disponível em: https://www.valor.com.br/empresas/5600519/lyondell-e-braskem-criariam-lider-mundial 

segunda-feira, julho 16, 2018

O petróleo segue sendo base dos interesses americanos, russos e chineses

Este foi o primeiro assunto abordado por Putin e Trump na entrevista hoje, logo após o encontro dos dois líderes, na Finlândia.

Putin e Trump garantiram interesses de suas duas nações na manutenção de um preço médio do barril de petróleo e prometiam manter esta posição.

Fora, os consensos divulgados hoje para efeito de entrevistas, a China tinha garantido há pouco tempo ao Irã, a manutenção e ampliação de sua demanda por petróleo. 

A Rússia, mesmo como grande produtora, como parte de sua geopolítica, pouco antes do encontro com Trump, havia oferecido apoio à indústria de petróleo do Irã com investimentos de até US$ 50 bilhões. 

Fato que manteria o Irã como grande exportador mundial de petróleo, apesar da ameaça de novo embargo dos EUA.

Em meio às entrevistas, Copa do Mundo e outros salamaleques, está claro que a atuação da Rússia e China no Oriente Médio cresce na mesma proporção em que decresce a força dos EUA, vinculado quase que exclusivamente às relações com a Arábia Saudita, que por sua vez, conversa cada vez mais com a Rússia e com a China sua importadora mais forte.

Como se vê, o petróleo segue sendo bases de consenso ou dissenso, mais ou menos, explícitos.

No meio de tudo disto está também a troca paulatina do dólar, como base dos negócios do setor petróleo (o petrodólar) para acordo de comércio em outras moedas como o yene (ou renminbi) e o rublo.

Pela entrevista de Putin e Trump, mais uma vez se vê que a China aparece em todos os horizontes, mesmo que o encontro seja entre Trump e a Otan, Trump e a Coréia do Norte e Trump com Putin.


PS.: Atualizado às 15:24: Ainda sobre o assunto petróleo é bom que se diga que num horizonte entre 5 e 10 anos, a manutenção do preço do barril nesta faixa em torno dos US$ 70, interessa mais à Rússia que aos EUA. O primeiro mantém sua atual estabilidade econômica-social. Enquanto, os EUA estará consumindo boa parte de suas reservas de xisto.

Lá pelo meio da próxima década, a tendência é que os EUA esteja importando mais petróleo do que fazia antes das novas tecnologias de extração de xisto (fracking) no início desta década. Neste momento as reservas de petróleo da Rússia estarão bombando para atender à sedenta China.

Também neste período o nosso pré-sal, agora entregue a preço de xepa, estará mais que nunca, sendo disputado, como as reservas de petróleo dos países do Oriente Médio. 

quinta-feira, julho 12, 2018

O movimento da holding Odebrecht explica a pinguela para o passado

A despeito da necessidade de aperfeiçoar a política e as relações entre o poder econômico e o Estado no capitalismo nacional-tupiniquim, o que se vê é uma reviravolta no movimento das elites econômicas, que retoma de forma radicalizada, o neoliberalismo e a lógica da submissão e dependência do país.

A despeito dos problemas, simplesmente, jogou-se fora o projeto de nação com bases nacionais-desenvolvimentistas, que reconhecia o movimento globalizante e pretendia com inclusão social se inserir em novas arranjos geopolíticos multipolares.

O caso da Odebrecht parece ser um exemplo emblemático. A holding Odebrecht possuía empresas fortes e consolidadas nos setores de infraestrutura, construção pesada e civil, energia, petróleo e gás, petroquímica, etc., onde atuava sozinha com financiamento dos fundos (bancos nacionais) ou em parcerias com outras grandes empresas privadas e estatais.

Após a “onda lavajatista”, a holding Odebrecht decidiu que está deixando de ser uma corporação brasileira com atuação internacional, vinculada ao setor produtivo e passará a ser apenas uma empresa rentista com participações acionárias em alguns de seus antigos negócios, depois que foi estraçalhada com as intervenções do judiciário sobre suas operações ligadas ao poder político no país.

Várias das empresas da holding Odebrecht estão sendo repassadas - no todo ou em partes -para corporações internacionais ligadas a grandes fundos financeiros globais. O Brasil e suas empresas estão “baratinhas”, neste momento de dólar beirando os 4 reais. Os fundos financeiros globais estão com apetite devorando um a um todos estes ativos.

Os questionamentos a este processo não diz respeito apenas ao debate nacionalista que alguns chamam de xenófobo, mas a perda de controle nacional sobre a produção material no país sobre setores estratégicos, como infraestrutura, energia, petróleo, petroquímico, aviação, etc.

Assim, a nação sai menor da “Pinguela para o passado”, aquele documento golpista (“Uma ponte para o futuro”) elaborado por agentes do mercado para o PMDB asfaltar o caminho do impeachment, a pedido de Moreira Franco, atual ministro das Minas e Energia.

Este documento registrava os interesses do mercado na desregulação destes setores, o apetite para acesso a estes ativos por parte das grandes corporações transnacionais, que representam os oligopólios do setor no mundo assim como os grandes fundos financeiros globais.

O resultado de tudo isto não é apenas o perda do controle nacional sobre estes setores, mas a entrega de um mercado fabuloso a corporações e fundos que como oligopólios verticalizados destes setores tomarão decisões e farão imposição de preços.

Nunca serão preços de mercado, mas de oligopólios globais que controlam todo o processo. Os oligopólios decidirão sobre a produção nestas unidades no Brasil quando quiserem, independentes de produtividades na indústria. A automação crescerá e assim teremos também menos empregos, menos arrecadação de impostos, mais crises fiscais resultando em ainda mais arrocho sobre direitos sociais.

Neste movimento dos capitais globais teremos: menos empresas nacionais competitivas; a desindustrialização crescerá; e se verá um avanço ainda maior do rentismo. As elites econômicas apostarão ainda mais em frações de investimentos dos capitais globais sobre o país, para ficar com baixos percentuais deste “capitalismo de laços”.

Este processo está em curso em diversos setores como os citados de energia, petróleo, infraestrutura e logística, construção e finanças. Tudo que leva a um Brasil menor, mais submisso e dependente.

Entender este processo para além da Operação Lava-Jato, das delações “premiadas”, das disputas intercapitalistas, setoriais e geopolíticas é uma necessidade quase que imperial, diante de uma mídia e um judiciário moralistas e sem nenhuma moral nas suas verdadeiras intenções.

Durante todo o tempo, a articulação midiática-jurídica-parlamentar vem fingindo não entender a dinâmica em curso. Este movimento - e sua lógica - nunca pretendeu, como se tem vendido, higienizar as relações entre o poder econômico e o poder político (Estado) e sim tutelar o segundo, conforme os interesses dependentistas e rentistas dos donos dos dinheiros.

Não há nada de modernização, mesmo que conservadora no país. O que está em curso é a radicalização da entrega dos setores estratégicos do país que intensificará ainda mais, a condição dependente do capitalismo tupiniquim brasileiro.

Quanto mais se entende este movimento do capital controlando o poder político e o Estado golpista, mais se fortalece a compreensão da urgência em inverter a direção deste movimento.

quarta-feira, julho 11, 2018

Corrupção na Glencore. Negócios da trading no Brasil

Mais um caso de corrupção de uma grande empresa multinacional vem à tona. Trata-se da corporação Glencore Xstrata plc, de origem anglo-suíça que atua como trading de commodities que inclui mineração, petróleo e derivados.

A Glencore que tem sua sede internacional em Baar, na Suíça recebeu na segunda-feira intimação do governo americano questionando o descumprimento de leis e práticas anticorrupção e lavagem de dinheiro internacionais, referentes a seus negócios na Nigéria, Congo e Venezuela, num período que começaria em 2007 até agora. Por conta destes questionamentos as ações da mineradora estão recuando agora pela manhã cerca de 5% nas Bolsas de Valores. (Ver aqui e aqui)

A Glencore atua no Brasil com sede em São Paulo e unidades em outros oito estados do país, como trading em negócios de importação e exportação, inclusive de petróleo e combustíveis.

Atualmente está em fase de conclusão para a compra da rede Alesat com cerca de 2000 postos de combustíveis em 22 estados brasileiros.

As relações da Glencore com a Petrobras cresceram muito no período recente da gestão de Pedro Parente à frente da estatal, quando esta passou a exportar quase um milhão de barris por dia de petróleo cru e importar derivados e combustíveis. 

Este novo caso da Glencore serve para demonstrar como a corrupção trata-se de negócios que envolve o poder econômico sobre o controle e a regulação do Estado. 

Os seguidos casos de carteis, sonegação de impostos, lavagem de dinheiro e corrupção de agentes públicos das grandes corporações e oligopólios internacionais colocam em xeque os discursos de compliance e sustentabilidade usados por estas corporações que tentam na maioria das vezes culpar apenas os agentes políticos, como se pudesse existir corrupção sem corruptor.

domingo, julho 08, 2018

Delfim questiona perda do protagonismo do Executivo para o Judiciário, a “multiplicação dos centros de poder” e diz que “só a política pode salvar o Brasil”

Delfim Neto é um liberal conhecido. Com autenticidade transita pelo neoliberalismo e bem antes disso, ajudou aos governos militares em diversos ministérios e programas.

Delfim costuma reverberar com grande fluência aquilo que pensa e deseja a elite econômica do país. Em especial a paulista que se considera como sendo singularmente - e em síntese - todo o país.

Assim, vale ler os alguns trechos (para mim principais) do artigo do Delfim Neto aqui na revista Carta Capital da semana passada. O texto teve como título “Só a política pode salvar o Brasil”.

Esta chamada em si, mostra já alguma identidade com o que Delfim Neto diz, mesmo havendo tanta diferenças de concepção e na forma como vemos o mundo.

Vale lembrar que Delfim Neto apoiou o impeachment e acreditou, piamente, que o receituário liberal-econômico era capaz de dar conta dos problemas da nação. Assim, vale ler o que Delfim agora diz, neste momento conturbado da vida do país:

“A administração da sociedade brasileira está se tornando cada vez mais difícil pela perda de protagonismo do Poder Executivo desde o início do segundo governo da presidenta Dilma...

... A crise expôs uma multiplicação de centros autônomos de poder arbitrário, cuja domesticação será muito difícil, porque pode ser confundida com um ataque à Operação Lava Jato...

... A multiplicação dos “centros de poder” levou a confusão ao paroxismo: a judicialização das atividades do Executivo e do Legislativo que aumentou a ficção orçamentária; a politização da Justiça com novas interpretações de uma Constituição analítica (que regula até transfusão de sangue); e, finalmente, a transferência para o Supremo Tribunal Federal, a pedido do setor privado, de atividade típica dos Poderes Legislativo e Executivo. Estes, de bom grado, aceitaram o fato, porque sabem que uma solução, ainda que não seja impossível, tem probabilidade próxima de zero. Muito em breve, o Supremo Tribunal Federal verificará que caiu numa armadilha...

... Esse imbróglio só será resolvido quando o novo presidente da República, o único que será diretamente empoderado pelo voto majoritário da sociedade e, portanto, o único que a representa, nos rigorosos limites da Constituição, convocar um concílio entre os presidentes do Legislativo (cujos membros são eleitos não majoritariamente) e o presidente do Poder Judiciário (escolhidos por concurso ou, em nome da sociedade, pelo poder eleito) para sugerir que cada um recolha seus pseudópodes de abuso do poder e volte a respeitar a Constituição de 1988, não a reinterpretando para atender a uma suposta “vontade do povo”...

... O Brasil encontra-se numa situação social deplorável (um desemprego gigantesco de jovens) e econômica assustadora (um desequilíbrio fiscal muito maior do que a maioria suspeita). Se não as discutirmos com cuidado e entendermos que só um amplo exercício político poderá acomodar, com equanimidade, os sacrifícios que qualquer que seja o novo presidente terá de exigir de todos, ele fracassará antes de começar.”

sexta-feira, julho 06, 2018

Geração de caixa da Petrobras demonstra a falsa necessidade da venda dos ativos, segundo economista da Petrobras

Segundo Cláudio da Costa Oliveira, economista aposentado da Petrobras em artigo publicado aqui no site da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras), o quadro de Usos e Fontes apresentado pelo PNG 2018/2022 é um atestado da falta de necessidade de venda de ativos.

Costa Oliveira diz ainda que “para fechar os números com venda de US$ 21 bilhões de ativos (Fontes) foi necessário aumentar o caixa em US$ 8,1 bilhões (Usos). Um absurdo pois o caixa da empresa já é elevadíssimo (US$ 22 bilhões) e a companhia ainda tem a receber US$ 6 bilhões de vendas de ativos realizadas em 2016 e créditos com a Eletrobras de outros US$ 6 bilhões, sem falar no acordo da seção onerosa ainda indefinido.

A Empresa de Pesquisa Energética – EPE aponta que em 2026 a produção da Petrobras alcançará 5,2 milhões de barris/dia. Desde total só o super gigante de Búzios, descoberto em 2010, responderá por 2,4 milhões de barris/dia.

Entre todas as grandes petroleiras do mundo a Petrobras é de longe a de maior eficiência financeira. Sua capacidade de Geração Operacional de Caixa – GOC é inigualável.

O economista Cláudio Oliveira apresenta ainda uma tabela para demonstrar a divisão da Geração Operacional de Caixa (GOC) pela Receita Bruta comparada de importantes petroleiras:


Assim, Cláudio Oliveira finaliza:
“Vejam que mesmo com os subsídios, com a corrupção e a elevada carga tributária, a Petrobras é imbatível. Esta tabela resume a eficiência financeira entre as empresas. É boa para calar aqueles que dizem que a Petrobras é ineficiente.

Dá para imaginar qual não será a Geração Operacional de Caixa desta empresa nos próximos anos. Então como justificar venda de ativos? Impossível. Logo tudo vai ficar muito claro para todos.”

Vamos repetir. Mesmo com a desintegração e desverticalização que já fizeram na estatal com a venda de vários ativos estratégicos, a estatal: "entre todas as grandes petroleiras do mundo a Petrobras é de longe a de maior eficiência financeira".

quinta-feira, julho 05, 2018

Anglo American pode ser vendida a fundo indiano que controla a mineradora Vedanta Resources

Está em curso a negociação para que a mineradora Anglo American passe a ser controlada pelo fundo indiano Volcan Investiments que é dona da Vedanta Resources, mineradora britânica.

Os agentes do mercado falam em fusão das duas corporações que assim totalizariam ativos no valor de US$ 7 bilhões. A Vendanta Resources, teve no exercício de 2016 receita de US $ 15,4 bilhões. Até aqui, o fundo indiano Vedanta Resources já possuía 19,35% do capital social da mineradora anglo-sul-africana Anglo American. [1]

No Brasil, a Anglo American possui dois empreendimentos extrativos-exportadores. Extração de minério de ferro com o projeto Minas-Rio que possui uma mina no município mineiro de Conceição de Mato Dentro e um mineroduto de 522 km até o Porto do Açu, onde exportava para o Oriente médio e Ásia.

Terminal da Ferroport (Anglo e Prumo) no Porto do Açu.
Apres. Corporativa da Prumo em 19 mar. 2018. Slide 7/27.
O projeto de exportação de minério acontece através da joint-venture, Ferroport, junto com a Prumo controladora do Porto do Açu e se encontra parado desde abril, quando dois vazamentos aconteceram no percurso do mineroduto que gerou uma multa de R$ R$ 72,6 milhões. O segundo empreendimento é de extração de níquel numa mina no estado de Goiás.

Há uma semana, a Anglo American no Brasil anunciou o rompimento de um contrato de 20 anos estimado em US$ 1 bilhão, para fornecimento de minério de ferro para a empresa Bahrain Steel do Oriente Médio que previa a entrega de 13 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. [2]

A suspensão do contrato com o Bahrain ressalta a gravidade dos problemas da Anglo com o projeto Minas-Rio e pode ter relação direta com a negociação com o fundo e a mineradora indiana, visando trocar lideranças e controles do projeto.

Dois estudos e publicações sobre os problemas e impactos socioambientais do Sistema Minas-Rio foram produzidos por pesquisadores. Em 2014, o Ibase, Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB), o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GESTA) da UFMG, da UFF e do IFF produziram a publicação “O projeto Minas-Rio e seus impactos socioambientais: olhares desde a perspectiva dos atingidos” que colaborei com um dos capítulos da publicação. [3]

Agora, em 2018, o um trabalho de pesquisa e extensão conduzido pelo programa transdisciplinar Polos de Cidadania, sediado na Faculdade de Direito da UFMG, desde 2015, sobre os conflitos e efetivação dos direitos humanos do projeto Minas-Rio produziu a publicação “Violências de mercado e de Estado no contexto do empreendimento minerário Minas-Rio”. A publicação que pode ser acessada aqui, se baseia em um trabalho conduzido entre maio de 2015 e dezembro de 2017, pelos pesquisadores que também acompanharam situações vivenciadas pelas comunidades afetadas pelo empreendimento. O livro traz relatos orais de moradores e trechos de atas de reuniões e de documentos de órgãos ambientais que têm relação com os problemas elencados. São duas publicações interessantes e complementares para se entender o contexto de implicações sócio-territoriais do empreendimento da Anglo American. [4]

A fusão das corporações reforça ainda o aumento do controle dos fundos financeiros sobre a produção material no Brasil, assim como a oligopolização das atividades vinculadas à extração de produção de commodities em todo o mundo.

O controle sobre alguns empreendimentos nem sempre estão vinculados à ampliação da produção, mas ao controle sobre o mercado e formação de valor.

Por isso, o acompanhamento do movimento do capital explica melhor as consequências sobre a repercussão espacial daquilo que é produzido no território que no caso do negócio das commodities tem implicações globais e menos locais.

É ainda interessante observar a movimentação do controle do capital sobre o empreendimento do Sistema-Minas-Rio desde a sua elaboração como projeto por Eike Batista na empresa MPX e depois MMX, a sua venda para a mineradora anglo-africana Anglo American, a transformação do projeto em unidade instalada com a mina, duto e terminal portuário no Açu e agora, o provável repasse do controle a um fundo financeiro indiano com atuação no setor extrativo-mineral.

Cada um destes movimentos produz impactos sobre o território com repercussões sobre as populações. Raramente estes movimentos transescalares conseguem ser bem compreendidos pelos lugares em que as instalações fixas dos empreendimentos são localizadas.


Referências:
[1] Matéria do Valor em 4 de jul. 2018. Ações da Anglo sobrem com notícias de fusão com grupo indiano. Disponível em: https://www.valor.com.br/empresas/5637627/acoes-da-anglo-american-sobem-com-noticias-de-fusao-com-grupo-indiano

[2] Matéria do portal G1 em 27 jun. 2018. Anglo American suspende contrato com Bahrain Steel após vazamento em MG. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/anglo-american-suspende-contrato-com-bahrain-steel-apos-vazamento-em-mg.ghtml

[3] Publicação Ibase-AGB em mar. 2014. O projeto Minas-Rio e seus impactos socioambientais: olhares desde a perspectiva dos atingidos. Disponível em: https://issuu.com/ibase/docs/liv_ibase_minerio_final4

[4] Publicação do Projeto Polos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG em maio 2018.  Faculdade de Direito da UFMG. Violências de mercado e de Estado no contexto do empreendimento minerário Minas-Rio. Disponível em: http://polosdecidadania.com.br/biblioteca/violencias-de-mercado-e-de-estado-no-contexto-do-empreendimento-minerario-minas-rio-conceicao-do-mato-dentro-mg-2015-2017/

PS.: Atualizado às 20:12: Para corrigir no 5º parágrafo que a Anglo American anunciou "o rompimento" de um contrato de 20 anos estimado em US$ 1 bilhão, para fornecimento de minério de ferro para a empresa Bahrain Steel.

quarta-feira, julho 04, 2018

GE e Phillips repetem na saúde do Rio, os esquemas de cartel do setor de transportes em São Paulo e as ações sobre o setor de óleo e gás

A americana GE, a holandesa Phillips e outras corporações que atuam no setor de saúde no ERJ e Brasil vinham praticando cartel para superfaturamento e controle do mercado de equipamentos de diagnósticos e tratamento.

Repete-se o esquema de corrupção do setor de transporte ferroviário e metroviário em SP, no esquema que ficou conhecido como o "trensalão tucano", que envolvia a alemã Siemens, a francesa Alstom, a canadense ADTranz (Bombardier), a espanhola CAF e a japonesa Mitsui. Nada diferente do que se viu no setor de óleo e gás e que envolvia também as empreiteiras que faziam construção e montagens de grandes obras de infraestrutura.

Será que ainda há quem avalie que só a política e o gestores são responsáveis pelos desvios? Carteis e controles dos mercados são ações que dizem respeito às corporações que também seguem sendo questionadas sobre pressões para obterem isenções e subsídios fiscais de governos, autorizações para rápidos licenciamentos com menores regulações e até financiamentos a juros baratos para os seus projetos.

Os casos se sucedem e não são apenas no Brasil. Vem acontecendo com frequência no centro do capitalismo EUA, Alemanha, Japão, Inglaterra, etc. A visão colonizada aqui nos trópicos é que tenta passar a ideia de que se trata de problemas das nações periféricas.

Como se percebe não são casos isolados. Eles demonstram uma lógica, e um "modus operandi" em diferentes espaços e em várias e seguidas situações que envolve também as "contabilidades criativas" fáceis de serrem implantadas com as suas ações globais e supranacionais.

Sempre relações entre o poder econômico e o político para obter vantagens do estado. Os oligopólios e controles do mercado são sempre das grandes corporações que costumam discursar sobre “compliance”, responsabilidade sócio-ambiental, sustentabilidade, etc. tudo que acaba na defesa da privatização e da autonomia de atuação em relação às regulações do Estado.

A exposição destes novos casos deveria servir de reflexão para quem julga que o problema é apenas da política que exige um salvador da pátria. Assim, seguem desmontando a nação e entregando a estes mesmos do mercado e das corporações as nossas empresas estatais e o controle da nossa economia e das ações de regulação do Estado brasileiro.

PS.: Atualizado às 18:06 e 18:18: É ainda oportuno que se diga que este esquema de cartel no setor de equipamentos médico-hospitalares vai apara além da venda aos governos estaduais e envolve também os municípios-pólo ou de médio porte que atendem em hospitais de referência às populações regionais. O número de fabricantes é pequeno e formam oligopólio e/ou monopólio quando operadores preferem sempre as mesmas marcas.

Além disso, envolve também a questão da manutenção destes caros equipamentos sempre nas mãos de empresas ligadas aos próprios fabricantes, o que reduz o ciclo de vida dos mesmos, e a necessidade de novas compras e reposição empurradas pelos fabricantes do cartel.

Sobre o assunto, recordo-me em especial de uma proposta de técnicos da Unicampi, junto ao MEC, no final da década de 90, quando identificaram os gastos bilionários com compras desnecessárias de equipamentos. A proposta visava que as ETFs/Cefets implantassem cursos técnicos de manutenção de equipamentos hospitalares, quando era gestor do Cefet Campos. Professores fizeram cursos na Unicampi. Cursos e disciplinas foram implantadas, mas os fabricantes de equipamentos emperraram a profissão em termos de atuação prática.

Os fabricantes nunca tiveram interesse em ampliar a vida útil dos equipamentos, evitando custos de milhões de reais desnecessariamente para as gestões públicas. Era melhor criar as condições para vender novos e mais caros equipamentos, para os quais a propaganda e o marketing são sempre essenciais.
O assunto é vasto e tem várias dimensões para serem analisadas e investigadas.

Talvez, a cena atual da política brasileira possa ser melhor explicada na psicanálise

Observando as últimas cenas do panorama político embrulhado do Brasil e refletindo um pouco mais sobre o protagonismo atual do judiciário brasileiro na vida da nação, começo a crer que mais do que a política, no caso de alguns ministros do STF, o ódio ao ex-presidente Lula, pode ter mais explicações na psicanálise do que na política.

Seria como se estivessem respondendo com alguns de seus atos (em especial Fachin, Carmem Lúcia, Fux e Barroso), como que desejando pontificar que por seus méritos e competências, eles nunca precisaram do ex-presidente para ser o que imaginam que são.

Se fosse uma querela pessoal, freudiana ou lacaniana, seria menos mal.

Porém, para pontificarem estes seus “méritos” diante da mídia-espelho, eles se abraçaram ao estado de exceção e à entrega das riquezas da nação à dependência consentida e reafirmada do mercado, sem nenhum pudor, assumindo para isso, narrativas que antes negavam.

Entre imaginários e inconscientes, oh, malditos espelhos!