quinta-feira, julho 05, 2018

Anglo American pode ser vendida a fundo indiano que controla a mineradora Vedanta Resources

Está em curso a negociação para que a mineradora Anglo American passe a ser controlada pelo fundo indiano Volcan Investiments que é dona da Vedanta Resources, mineradora britânica.

Os agentes do mercado falam em fusão das duas corporações que assim totalizariam ativos no valor de US$ 7 bilhões. A Vendanta Resources, teve no exercício de 2016 receita de US $ 15,4 bilhões. Até aqui, o fundo indiano Vedanta Resources já possuía 19,35% do capital social da mineradora anglo-sul-africana Anglo American. [1]

No Brasil, a Anglo American possui dois empreendimentos extrativos-exportadores. Extração de minério de ferro com o projeto Minas-Rio que possui uma mina no município mineiro de Conceição de Mato Dentro e um mineroduto de 522 km até o Porto do Açu, onde exportava para o Oriente médio e Ásia.

Terminal da Ferroport (Anglo e Prumo) no Porto do Açu.
Apres. Corporativa da Prumo em 19 mar. 2018. Slide 7/27.
O projeto de exportação de minério acontece através da joint-venture, Ferroport, junto com a Prumo controladora do Porto do Açu e se encontra parado desde abril, quando dois vazamentos aconteceram no percurso do mineroduto que gerou uma multa de R$ R$ 72,6 milhões. O segundo empreendimento é de extração de níquel numa mina no estado de Goiás.

Há uma semana, a Anglo American no Brasil anunciou o rompimento de um contrato de 20 anos estimado em US$ 1 bilhão, para fornecimento de minério de ferro para a empresa Bahrain Steel do Oriente Médio que previa a entrega de 13 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. [2]

A suspensão do contrato com o Bahrain ressalta a gravidade dos problemas da Anglo com o projeto Minas-Rio e pode ter relação direta com a negociação com o fundo e a mineradora indiana, visando trocar lideranças e controles do projeto.

Dois estudos e publicações sobre os problemas e impactos socioambientais do Sistema Minas-Rio foram produzidos por pesquisadores. Em 2014, o Ibase, Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB), o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GESTA) da UFMG, da UFF e do IFF produziram a publicação “O projeto Minas-Rio e seus impactos socioambientais: olhares desde a perspectiva dos atingidos” que colaborei com um dos capítulos da publicação. [3]

Agora, em 2018, o um trabalho de pesquisa e extensão conduzido pelo programa transdisciplinar Polos de Cidadania, sediado na Faculdade de Direito da UFMG, desde 2015, sobre os conflitos e efetivação dos direitos humanos do projeto Minas-Rio produziu a publicação “Violências de mercado e de Estado no contexto do empreendimento minerário Minas-Rio”. A publicação que pode ser acessada aqui, se baseia em um trabalho conduzido entre maio de 2015 e dezembro de 2017, pelos pesquisadores que também acompanharam situações vivenciadas pelas comunidades afetadas pelo empreendimento. O livro traz relatos orais de moradores e trechos de atas de reuniões e de documentos de órgãos ambientais que têm relação com os problemas elencados. São duas publicações interessantes e complementares para se entender o contexto de implicações sócio-territoriais do empreendimento da Anglo American. [4]

A fusão das corporações reforça ainda o aumento do controle dos fundos financeiros sobre a produção material no Brasil, assim como a oligopolização das atividades vinculadas à extração de produção de commodities em todo o mundo.

O controle sobre alguns empreendimentos nem sempre estão vinculados à ampliação da produção, mas ao controle sobre o mercado e formação de valor.

Por isso, o acompanhamento do movimento do capital explica melhor as consequências sobre a repercussão espacial daquilo que é produzido no território que no caso do negócio das commodities tem implicações globais e menos locais.

É ainda interessante observar a movimentação do controle do capital sobre o empreendimento do Sistema-Minas-Rio desde a sua elaboração como projeto por Eike Batista na empresa MPX e depois MMX, a sua venda para a mineradora anglo-africana Anglo American, a transformação do projeto em unidade instalada com a mina, duto e terminal portuário no Açu e agora, o provável repasse do controle a um fundo financeiro indiano com atuação no setor extrativo-mineral.

Cada um destes movimentos produz impactos sobre o território com repercussões sobre as populações. Raramente estes movimentos transescalares conseguem ser bem compreendidos pelos lugares em que as instalações fixas dos empreendimentos são localizadas.


Referências:
[1] Matéria do Valor em 4 de jul. 2018. Ações da Anglo sobrem com notícias de fusão com grupo indiano. Disponível em: https://www.valor.com.br/empresas/5637627/acoes-da-anglo-american-sobem-com-noticias-de-fusao-com-grupo-indiano

[2] Matéria do portal G1 em 27 jun. 2018. Anglo American suspende contrato com Bahrain Steel após vazamento em MG. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/anglo-american-suspende-contrato-com-bahrain-steel-apos-vazamento-em-mg.ghtml

[3] Publicação Ibase-AGB em mar. 2014. O projeto Minas-Rio e seus impactos socioambientais: olhares desde a perspectiva dos atingidos. Disponível em: https://issuu.com/ibase/docs/liv_ibase_minerio_final4

[4] Publicação do Projeto Polos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG em maio 2018.  Faculdade de Direito da UFMG. Violências de mercado e de Estado no contexto do empreendimento minerário Minas-Rio. Disponível em: http://polosdecidadania.com.br/biblioteca/violencias-de-mercado-e-de-estado-no-contexto-do-empreendimento-minerario-minas-rio-conceicao-do-mato-dentro-mg-2015-2017/

PS.: Atualizado às 20:12: Para corrigir no 5º parágrafo que a Anglo American anunciou "o rompimento" de um contrato de 20 anos estimado em US$ 1 bilhão, para fornecimento de minério de ferro para a empresa Bahrain Steel.

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