O petróleo é uma mercadoria estratégica e especial responsável por mais de outros 3 mil produtos. As petroleiras que operam a exploração sabem de seu papel estratégico e por isso atuam em articulação e admitem a coordenação dos seus Estados-nações que se movimentam pelos interesses geopolíticos.
Não é por outro motivo que essa mercadoria especial (o petróleo) está no centro de vários conflitos
regionais e geopolíticos no mundo. Há uma luta permanente que busca garantir ao acesso à esta mercadoria e às suas
reservas, assim como à sua extensa e potente cadeia produtiva, que envolve
ainda a segurança energética das nações e suas populações.
É importante ainda saber que a cadeia produtiva do petróleo vai
bem para além da exploração das reservas, produção do petróleo e seu
refino(beneficiamento). Mas, o refino é muito importante porque agrega valor
com a distribuição e comercialização de combustíveis, mas também porque estas
unidades estão cada vez mais integradas à produção de petroquímicos.
A produção de petroquímicos envolve outras gerações de
produtos que têm como insumos os derivados imediatos de petróleo, obtidos numa
primeira etapa do refino: etileno, polietileno prolipropileno, óxido de
propileno, óxido de etileno, etc. Produtos que são bases para uma série de
outras indústrias de plásticos, PVC, embalagens, etc.
A petroquímica aumentará a sua importância à medida que o
petróleo deixe de ter a sua maior utilização como energia para o transportes
como acontece atualmente. Estima-se que num cenário entre 3 e 4 décadas isso
mude, com menor uso do combustível oriundo do petróleo e maior utilização dos
veículos elétricos e híbridos.
Assim, a petroquímica passará a ser a principal demanda para
uso do petróleo. O mundo todo sabe disto. Por isso, quase todas as novas
plantas de refino de petróleo no mundo estão vinculadas às unidades petroquímicas,
como é o caso que se vê na China, Índia e até no Oriente Médio.
A holandesa LyondellBasse que está comprando a brasileira
Braskem está entre as três maiores petroquímicas do mundo. As duas maiores são
a chinesa Sinopec e a americana Exxon. A Braskem com a produção de polietileno
e polipropileno é a sexta em termos de produção mundial.
Infográfico do Valor Online em 18 jun. 2018 [4] |
Com a incorporação da Braskem pela LyondellBase esta passará
a ser a maior produtora do mundo de resinas plásticas. A Braskem tem unidade produtiva
em Houston nos EUA e escritórios e várias partes do mundo, para além das bases
operacionais no Brasil.
A Braskem no Brasil tem a sua maior planta na Bahia, onde
atualmente emprega milhares de funcionários. Possui ainda bases produtivas junto aos
polos petroquímicos em São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Nos EUA, há
algum tempo, a Braskem vinha se beneficiando e estava se expandindo usando o barato
shale gas (xisto).
As razões da incorporação da Braskem pela LyondellBase vão
para além do aumento da produção de petroquímico, e se traduz de uma forma
geral, no interesse desta corporação em aumentar a capacidade de controlar
preços e boa parte do mercado de petroquímicos no mundo, no qual o Brasil
passará a ser dependente.
A Shell também holandesa, na verdade anglo-holandesa já é a
maior produtora de petróleo no Brasil e em 2020 já terá produção maior que meio
milhão de barris por dia e poderá ser fornecedora da LyondellBase.
Desta forma, a venda da Braskem significa a perda do
controle nacional sobre a produção de petroquímicos, um setor que tende a
crescer sua importância na cadeia do petróleo e responsável pela produção de
milhares de outros produtos secundários. Com esta venda o Brasil ficará fora de
mais um setor estratégico ao desenvolvimento nacional.
É bom lembrar que a Braskem tem o controle da Odebrecht (que
foi estraçalhada com as intervenções do judiciário) e da Petrobras. Vale também
reforçar o entendimento do aumento do peso dos fundos financeiros sobre as
empresas no Brasil, neste momento de crise em que nossos ativos estão “baratinhos”.
A corporação
petroquímica holandesa
LyondellBasell que está incorporando
a Braskem (Odebrecht e Petrobras) é
controlada por acionistas tendo entre estes os fundos financeiros (Acess
Industries com 18,2% das ações; Fidelity com 8,7%; Vanguard (6,3%) e o fundo
americano BlackRock com 5,2%).
A Braskem é uma empresa controlada pela Petrobras e
Odebrecht, sendo que a estatal como co-controladora, possui direito de
preferência e de “tag along” (venda
conjunta) da empresa. A parte da Odebrecht na Braskem hoje estás nas mãos de
bancos credores (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e BNDES). Eles ficaram
com as ações da Braskem como garantia para os R$ 12 bilhões em dívidas da
empresa.
A diretoria pós-golpe da Petrobras declarou publicamente,
mais de uma vez, o desejo de sair do setor petroquímico e vender (em dinheiro,
como desinvestimento), a sua participação na Braskem. Já os atuais gerentes da Odebrecht
sustentam que o plano é o de se manter no setor petroquímico, mas trocando sua
participação na Braskem por algumas ações da LyondellBasell.
O desmonte do setor petroquímico nacional se insere no
contexto do golpe político no Brasil, oriundo do impedimento de um governo
eleito, que teve no setor petróleo - e toda a sua estratégica cadeia que
envolve ainda outras empresas de infraestruturas de energia (Eletrobras, Furnas
e concessionárias) – uma das principais razões.
O documento golpista (“Uma ponte para o futuro”) elaborado
por agentes do mercado para o PMDB asfaltar o caminho do impeachment, a pedido
de Moreira Franco, atual ministro das Minas e Energia, registra os interesses
do mercado na desregulação destes setores, o apetite para acesso a estes ativos
por parte das grandes corporações transnacionais, que representam os
oligopólios do setor no mundo assim como os grandes fundos financeiros globais.
Referências:
[1] Postagem do blog em 16 jun. 2018. Segue o desmonte de
toda a cadeia produtiva do petróleo no Brasil. Agora é a petroquímica. Disponível em:
[2] Postagem do blog em 18 jun. 2018. Mais sobre a
desnacionalização da petroquímica no Brasil com a venda da Braskem. Disponível em:
[3] Postagem do blog em 12 jul. 2018. O movimento da holding Odebrecht explica a pinguela para o passado. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2018/07/o-movimento-da-holding-odebrecht.html
[4] Matéria do Valor em 18 jun 2018. Lyondell e Braskem criariam líder mundial. Disponível em: https://www.valor.com.br/empresas/5600519/lyondell-e-braskem-criariam-lider-mundial
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