Feira Rio Oil & Gas em 25-09-2018 |
O discurso quase unânime entre pessoas das corporações era que as mudanças regulatórias pró-empresas tinha trazido este ânimo.
Evidente que as corporações petroleiras e para-petroleiras (fornecedoras e prestadoras de serviços e tecnologia) do setor, só confirmam em conversas “em off” que antes, eles ainda não percebiam toda a extensão e potencial das reservas do Pré-sal.
Só agora, a mídia comercial e corporativa, que sempre desdenhou do porte destas reservas, reconheceu (vide aqui matéria de capa de O Globo) que se trata da “maior fronteira petrolífera descoberta na última década no mundo”. Onde estão seis dos dez maiores campos perfurados e com potencial avaliado neste período. [1]
Evidente que as corporações petroleiras e para-petroleiras (fornecedoras e prestadoras de serviços e tecnologia) do setor, só confirmam em conversas “em off” que antes, eles ainda não percebiam toda a extensão e potencial das reservas do Pré-sal.
Só agora, a mídia comercial e corporativa, que sempre desdenhou do porte destas reservas, reconheceu (vide aqui matéria de capa de O Globo) que se trata da “maior fronteira petrolífera descoberta na última década no mundo”. Onde estão seis dos dez maiores campos perfurados e com potencial avaliado neste período. [1]
Feira Rio Oil & Gas em 25-09-2018 |
Assim, a feira Rio Oil & Gas de 2018 com muitas empresas, técnicos e gerentes do setor, a meu juízo, comemora mais do que os desdobramentos das reduções das regulamentações e do quase fim da Política de Conteúdo Local (PCL), obtido do governo pós-golpe do Temer, mas a euforia pelo acesso a estas reservas e a um enorme mercado para vender máquinas, equipamentos e tecnologia para exploração destes novos e gigantes campos de petróleo no Brasil.
Na Rio Oil & Gas, as petroleiras estrangeiras, a anglo-holandesa Shell, as americanas Chevron e Exxon, a francesa Total e a norueguesa Equinor (ex-Statoil) tinham espaços tão ou mais amplos e visitados que da Petrobras. Essas corporações comemoram efusivamente, o acesso à estas reservas.
Na Rio Oil & Gas, as petroleiras estrangeiras, a anglo-holandesa Shell, as americanas Chevron e Exxon, a francesa Total e a norueguesa Equinor (ex-Statoil) tinham espaços tão ou mais amplos e visitados que da Petrobras. Essas corporações comemoram efusivamente, o acesso à estas reservas.
Assim, essas petroleiras usam a Rio Oil & Gas para venderem suas marcas, ao mesmo tempo em que também acenam aos interessados com empregos, embora uma parte mais qualificada destes, já esteja garantida para seus gerentes e técnicos oriundos da matriz.
Porém, o faro dos negócios não era apenas das petroleiras, mas das várias empresas que atuam na extensa cadeia produtiva do setor. Elas comemoravam, na verdade, a entrada no Brasil, aproveitando a venda dos ativos baratos e do leilão baratinho, ocorrido nesta fase de colapso do preço do barril de petróleo que passou.
Bom que se diga que isso é um fenômeno cíclico já conhecido por quem atua no setor, onde os ativos são vendidos baratinhos, na fase de baixa dos ciclos econômicos e também do setor de petróleo. Assim, as corporações comemoram a entrada na fase de baixa, para ganhar na fase de boom do setor.
Aqui neste espaço do blog eu comentei por diversas vezes, sobre as ocorrências e desdobramentos dos fatos para as duas diferentes fases do que passei a chamar desde 2016 de ciclo petro-econômico: fase de boom e de colapso. Onde valor observar os movimentos em várias dimensões e não apenas econômica, mas política, geopolítica, espacial, ambiental, social, etc.
Vendo os atuais movimentos da feira Rio Oil & Gas-2018 e observando as anteriores - que acompanho desde o final da década de 90 - eu tive ainda mais convicção da potência que é a compreensão sobre os movimentos que acompanham o “ciclo petro-econômico”. [2]
Porém, observando tudo isso, mais vez, eu insisto que não faz sentido que se defenda que a nação abra mão de partes da renda petroleira, que no mundo todo é paga aos Estados, em função da extração e produção. Essa renda que fica para os Estados-nação se situa em torno de 5%. Os demais 90 a 95% desta colossal renda, fica com os operadores da produção, para pagar os seus custos e apurar os seus lucros.
Esta pequena parte da renda petroleira que fica com o Estado é dividida pelas esferas de governo (União, estados e municípios). Infelizmente, durante a fase de colapso de preços do petróleo e do impeachment (que não foi uma coincidência), se fez seguidos agrados com suspensões de regulação em favor das corporações.
E no caso específico da renda petroleira para o Estado nacional, praticamente acabaram com a ideia de um fundo soberano para ajudar a bancar as carências do país nos setores de educação, saúde, investimentos em infraestrutura e outros.
A Noruega, também grande produtora de petróleo (embora menor que o Brasil) tem um fundo soberano hoje com capital de quase 1 trilhão de euros. Um país rico em recursos naturais e com grandes demandas sociais, não pode abrir mão dessa colossal riqueza em troca apenas do emprego no setor, que durará, até a ocorrência de nova fase de colapso de preços no barril de petróleo e no metro cúbico do gás natural.
Isso é muito pouco. É quase admitir a colonização e agradecer pelos espelhos que os índios recebiam como presente dos colonizadores portugueses.
As corporações têm seus interesses e objetivos, porém, o Estado brasileiro tem obrigações com a nação e com a sua população. A nação detentora dessas reservas precisa usar esta monumental riqueza (renda), para dar um salto e mudar de patamar em termos socioeconômicos.
E assim, reduzir as desigualdades e fazer bem mais que inclusão social, mas implantar - mesmo que de forma paulatina - um estado de bem-estar-social para a maioria desamparada da população.
No processo de exploração em nosso país, há que se voltar a reformatar as contrapartidas para que as petroleiras (players) estrangeiras incorporem serviços, máquinas, equipamentos e tecnologias desenvolvidas aqui no Brasil.
Desta forma, recuperar uma Política de Conteúdo Local (PCL) é incorporar a nação à pujante e extensa Economia do Petróleo – que chegou a movimentar mais de 10% do PIB do Brasil e 33% do PIB do ERJ - gerando empregos qualificados e mais tributos na cadeia que mexe com volumosos recursos.
[4] Postagem no blog em 28 de fevereiro de 2017. A manipulação do ciclo petro-econômico Reuters: "Arábia Saudita quer preços do petróleo a US$ 60 em 2017". Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/02/a-manipulacao-do-ciclo-petro-economico.html
Porém, o faro dos negócios não era apenas das petroleiras, mas das várias empresas que atuam na extensa cadeia produtiva do setor. Elas comemoravam, na verdade, a entrada no Brasil, aproveitando a venda dos ativos baratos e do leilão baratinho, ocorrido nesta fase de colapso do preço do barril de petróleo que passou.
Bom que se diga que isso é um fenômeno cíclico já conhecido por quem atua no setor, onde os ativos são vendidos baratinhos, na fase de baixa dos ciclos econômicos e também do setor de petróleo. Assim, as corporações comemoram a entrada na fase de baixa, para ganhar na fase de boom do setor.
Aqui neste espaço do blog eu comentei por diversas vezes, sobre as ocorrências e desdobramentos dos fatos para as duas diferentes fases do que passei a chamar desde 2016 de ciclo petro-econômico: fase de boom e de colapso. Onde valor observar os movimentos em várias dimensões e não apenas econômica, mas política, geopolítica, espacial, ambiental, social, etc.
Vendo os atuais movimentos da feira Rio Oil & Gas-2018 e observando as anteriores - que acompanho desde o final da década de 90 - eu tive ainda mais convicção da potência que é a compreensão sobre os movimentos que acompanham o “ciclo petro-econômico”. [2]
Muita gente ainda não se deu conta disso, porque nem quer recordar que entre 2010 e 2014, é único na história da humanidade, em que os preços do barril de petróleo variaram sempre acima dos US$ 100. Para em janeiro de 2016 cair para até US$ 27. Num movimento que não foi natural, mas geopolítico, que é a dimensão em que atuam as nações que disputam hegemonia no mundo.
O ciclo petro-econômico é um conceito com enorme potência para se compreender esta fração do capital e assim deixar a análise superficial e de senso-comum, sobre o desespero das ocorrências na fase de colapso do ciclo e do que esta fase alimenta, um nova fase seguinte, de boom de um novo ciclo de preços do petróleo. [2] [3] [4] [5]
Já se vive no presente um novo normal (vide aqui postagem do blog no dia 24 set. 2018) com preços acima de US$ 80. A partir desta realidade, a expectativa que evidentemente depende de decisões geopolíticas no mundo, é que uma fase de expansão (próxima do período 2010-2014) do preço barril de petróleo deverá ser vista antes meio da próxima década. [6]
Na fase de colapso de preços do petróleo, as explorações e sondagens em todo o mundo, foram em sua quase totalidade suspensas pela crise e pelo receio dos investidores sobre o retorno financeiro.
Assim, desde 2014 o mundo está gastando as reservas até ali descobertas. Há cada vez menos reservas e está cada vez mais caro descobrir explorar novas reservas de petróleo no mundo.
O ciclo petro-econômico é um conceito com enorme potência para se compreender esta fração do capital e assim deixar a análise superficial e de senso-comum, sobre o desespero das ocorrências na fase de colapso do ciclo e do que esta fase alimenta, um nova fase seguinte, de boom de um novo ciclo de preços do petróleo. [2] [3] [4] [5]
Já se vive no presente um novo normal (vide aqui postagem do blog no dia 24 set. 2018) com preços acima de US$ 80. A partir desta realidade, a expectativa que evidentemente depende de decisões geopolíticas no mundo, é que uma fase de expansão (próxima do período 2010-2014) do preço barril de petróleo deverá ser vista antes meio da próxima década. [6]
Na fase de colapso de preços do petróleo, as explorações e sondagens em todo o mundo, foram em sua quase totalidade suspensas pela crise e pelo receio dos investidores sobre o retorno financeiro.
Assim, desde 2014 o mundo está gastando as reservas até ali descobertas. Há cada vez menos reservas e está cada vez mais caro descobrir explorar novas reservas de petróleo no mundo.
Gráfico produzido pela consultoria Wood Mackenzie e publicado pela Bloomberg mostra o declínio anual de descobertas de novos campos de petróleo no mundo entre 1950 e 2016. |
Ainda assim, outras reservas, bacias e campos de petróleo terão que ser agora exploradas para repor o estoque de reservas. Dessa forma, sondas serão contratadas e a roda voltará a girar no setor. As corporações sabem disso. Isso é parte do sistema.
Porém, observando tudo isso, mais vez, eu insisto que não faz sentido que se defenda que a nação abra mão de partes da renda petroleira, que no mundo todo é paga aos Estados, em função da extração e produção. Essa renda que fica para os Estados-nação se situa em torno de 5%. Os demais 90 a 95% desta colossal renda, fica com os operadores da produção, para pagar os seus custos e apurar os seus lucros.
Esta pequena parte da renda petroleira que fica com o Estado é dividida pelas esferas de governo (União, estados e municípios). Infelizmente, durante a fase de colapso de preços do petróleo e do impeachment (que não foi uma coincidência), se fez seguidos agrados com suspensões de regulação em favor das corporações.
E no caso específico da renda petroleira para o Estado nacional, praticamente acabaram com a ideia de um fundo soberano para ajudar a bancar as carências do país nos setores de educação, saúde, investimentos em infraestrutura e outros.
A Noruega, também grande produtora de petróleo (embora menor que o Brasil) tem um fundo soberano hoje com capital de quase 1 trilhão de euros. Um país rico em recursos naturais e com grandes demandas sociais, não pode abrir mão dessa colossal riqueza em troca apenas do emprego no setor, que durará, até a ocorrência de nova fase de colapso de preços no barril de petróleo e no metro cúbico do gás natural.
Isso é muito pouco. É quase admitir a colonização e agradecer pelos espelhos que os índios recebiam como presente dos colonizadores portugueses.
As corporações têm seus interesses e objetivos, porém, o Estado brasileiro tem obrigações com a nação e com a sua população. A nação detentora dessas reservas precisa usar esta monumental riqueza (renda), para dar um salto e mudar de patamar em termos socioeconômicos.
E assim, reduzir as desigualdades e fazer bem mais que inclusão social, mas implantar - mesmo que de forma paulatina - um estado de bem-estar-social para a maioria desamparada da população.
No processo de exploração em nosso país, há que se voltar a reformatar as contrapartidas para que as petroleiras (players) estrangeiras incorporem serviços, máquinas, equipamentos e tecnologias desenvolvidas aqui no Brasil.
Desta forma, recuperar uma Política de Conteúdo Local (PCL) é incorporar a nação à pujante e extensa Economia do Petróleo – que chegou a movimentar mais de 10% do PIB do Brasil e 33% do PIB do ERJ - gerando empregos qualificados e mais tributos na cadeia que mexe com volumosos recursos.
Gráfico nº 6 da tese do autor, P. 112. [2],
Um quadro como versão preliminar deste gráfico
foi publicado na postagem do blog em 5 mar. 2017. [7]
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Deixar para o país apenas uma parte da renda com a Economia dos Royalties é muito pouco. Essa economia é dependente. Gera empregos menos qualificados e limita a circulação desta renda. A Economia dos Royalties sozinha é quase um espelhinho nas mãos dos brasileiros sedentos de um mundo melhor, com direitos em ampliar sua educação, manter sua saúde e ter acesso às opções de trabalho e desenvolvimento.
Enfim, a Rio Oil & Gas-2018 reforçou em mim, a convicção sobre o que é desenvolvimento. No movimento da feira, dos diretores, gerentes e técnico das empresas a gente pode ver o crescimento econômico para esta imensa e pujante cadeia produtiva do óleo e gás.
Porém, como sabemos desenvolvimento é diferente de crescimento econômico. Desenvolvimento pressupõe pensar as pessoas, o trabalhador, os cidadãos no centro das políticas. O mercado cuida das empresas e das corporações, mas o Estado precisa cuidar da população e arbitrar os interesses da Nação.
[3] Postagem no blog em 24 de julho de 2017. A geopolítica da energia: os reflexos do ciclo do petróleo e sua relação com o Brasil. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/07/a-geopolitica-da-energia-os-reflexos-do.html
Enfim, a Rio Oil & Gas-2018 reforçou em mim, a convicção sobre o que é desenvolvimento. No movimento da feira, dos diretores, gerentes e técnico das empresas a gente pode ver o crescimento econômico para esta imensa e pujante cadeia produtiva do óleo e gás.
Porém, como sabemos desenvolvimento é diferente de crescimento econômico. Desenvolvimento pressupõe pensar as pessoas, o trabalhador, os cidadãos no centro das políticas. O mercado cuida das empresas e das corporações, mas o Estado precisa cuidar da população e arbitrar os interesses da Nação.
Referências:
[1] Matéria de O Globo em 16 set. 2018. Tecnologia torna o pré-sal a principal fronteira petrolífera do mundo. Avanços na indústria permitiram reduzir os custos, aumentando a competitividade dos campos. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia-torna-pre-sal-principal-fronteira-petrolifera-do-mundo-23073150
[2] Ciclo petro-econômico. Conceito desenvolvido pelo autor em sua tese de doutoramento, defendida em mar. 2017, no PPFH-UERJ: “A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades”. Disponível na Rede de Pesquisa em Políticas Públicas (RPP)-UFRJ: http://www.rpp.ufrj.br/library/view/a-relacao-transescalar-e-multidimensional-petroleo-porto-como-produtora-de-novas-territorialidades
[4] Postagem no blog em 28 de fevereiro de 2017. A manipulação do ciclo petro-econômico Reuters: "Arábia Saudita quer preços do petróleo a US$ 60 em 2017". Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/02/a-manipulacao-do-ciclo-petro-economico.html
[5] Postagem no blog em 19 de outubro de 2017. A aproximação Rússia-Arábia Saudita de olho no novo ciclo do petróleo: o que isto tem a ver com o Brasil? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/10/a-aproximacao-russia-arabia-saudita-de.html
[6] Postagem no blog em 25 de setembro de 2018. ANP oficializou ontem a “bolsa petroleira” reduzindo royalties a favor das petroleiras. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2018/09/anp-oficializou-ontem-bolsa-petroleira.html
[7] Postagem no blog em 27 de janeiro de 2018. Número de sondas de exploração de petróleo no Brasil mostra que novo ciclo petroeconômico está por vir e encontrará a Petrobras mais vulnerável. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/01/numero-de-sondas-de-exploracao-de.html
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