segunda-feira, outubro 01, 2018

A polarização enquanto virtude

Ao contrário do que muitos afirmam a polarização na eleição presidencial e no debate político no Brasil contemporâneo não é de todo ruim.

Se de um lado a polarização tende a simplificar o debate, expondo quase sempre as sínteses do que se reproduz na bolha digital de cada um dos lados, de outro, ela permite a exposição de quem se posiciona por um dos polos.

Não tenhamos dúvidas. Tudo que aí se vê e ouve poderia não ser conhecido, mas existia no âmago das pessoas e grupos.

As ideologias e posições são mais comentadas quando faladas, mas elas existem também, quando submersas no interior dos sujeitos.

Essa polarização acaba por permitir que cada um de nós conheça não apenas os outros, em sua integralidade e não apenas na face mostrada pelas representações que cada um de nós constrói para ser visto pelo outro.

Esse processo é ainda mais profundo, porque além de conhecer o outro de forma mais ampla, também passamos a enxergar a nós próprios de forma mais plena.

Nesse processo, se pode identificar que a política é não apenas a conquista de votos e apoios eleitorais. É também a forma como uma sociedade pode ver a si próprio, a partir do processo histórico do passado e com olhos e mentes para imaginar, desejar e trabalhar para um futuro melhor.

Dessa forma, eu penso que a psicanálise e a psicologia social nunca deveriam ser vistas apartadas da política e da relação entre os sujeitos diante do Estado nacional.

A apenas seis dias das eleições, eu faço aqui essa reflexão cada vez mais convencido de que o caldo de cultura que nos trouxe a esse embate difícil tem que ser enfrentado e desfeito de forma coletiva e mais profunda possível.

O resultado de tudo isso poderá ser ainda muito útil à todos nós como sociedade e civilização, porque não está só travando uma disputa de posições.

Trava-se no momento atual do Brasil, uma batalha sobre as ideias e posições que estavam escondidas nas profundezas dos sujeitos, que antes mostravam apenas suas representações, sobre a forma como os sujeitos pretendiam ser vistos, diante dos outros e da sociedade como um todo.

Sejamos otimistas. A luta constrói a vida e a primavera nos impele a seguir em frente na busca por dias melhores, numa sociedade menos desigual, tolerante e solidária.


PS.: Este texto foi postado ontem no Facebook no perfil deste blogueiro. Porém, o título foi dado por um dos compartilhadores do mesmo que foi o amigo facebookano, Wilson Gomes de Almeida, a quem agradeço. 

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