terça-feira, dezembro 11, 2018

O pico do petróleo que tem lubrificado o capitalismo

O geólogo Jean Laherrère engenheiro de petróleo e presidente da ASPO France e co-autor em 1998 de um importante artigo publicado pela Scientific American com o título "O fim do petróleo barato", escreveu na semana passada, no fórum "Peak Oil", um texto comentando o livro "Oil, Power, e War: A Dark History" (Petróleo, poder e guerra: uma história sombria) de autoria de Matthieu Auzanneau (imagem ao lado).


Laherrére faz uma série de comentários e análises sobre o futuro da produção mundial de petróleo e lembra que o mundo do jeito que é acabou sendo em parte construído com energia barata, como já comentamos aqui diversas vezes. Quando também citamos o cientista alemão Elmar Altvater que diz em seu livro "O fim do capitalismo como o conhecemos" que o capitalismo é lubrificado pelo petróleo. Nesse mesmo campo, Laherrére diz sobre:

"Auzanneau nos lembra que a história do petróleo é também a história da era industrial moderna, na qual políticos de todos os matizes consagraram o crescimento econômico como o objetivo da política. Todo governo promete crescimento econômico, sem dizer de onde virá. O crescimento é assumido como sendo o crescimento do PIB, e por um longo tempo o PIB deveria vir do capital e do trabalho. Mas os economistas Reiner Kümmel e Robert Ayres mostraram que o consumo de energia, em particular o petróleo, é a principal força por trás do crescimento do PIB. Esses economistas concluem que nossa sociedade de consumo é baseada em energia barata. E a estreita correlação histórica entre o crescimento da energia, especialmente o petróleo, e o crescimento da economia global sustenta sua conclusão".

Porém, eu destaco em especial o trecho sobre o potencial de produção de petróleo de alguns países no mundo:

"Existem apenas alguns países que ainda não atingiram o pico de produção, como o Brasil, o Canadá (com suas areias petrolíferas), o Iraque, o Cazaquistão, a Malásia, os Emirados Árabes Unidos e a Venezuela. Nos casos da Arábia Saudita e dos EUA, o petróleo bruto pode estar atualmente no auge".

Assim, se conclui que na Arábia Saudita e nos EUA, a produção após o auge deverá depois entrar em declínio.

Vale lembrar que os EUA é o maior consumidor mundial de petróleo com um consumo diários de cerca de 20 milhões de barris por dia.

Assim, hoje, mesmo no auge da condição de maior produtor mundial de petróleo, com cerca de 12 milhões de bpd, os americanos são obrigados a importar pelo menos 8 milhões de bpd.

Num prazo de cinco a dez anos, os EUA será obrigado a importar a maior parte do petróleo que precisa para continuar a funcionar nesse país alimentado pelo petróleo.

No livro Matthieu Auzanneau lança luz sobre como seria nosso futuro com restrições de petróleo e, eventualmente, pós-petróleo.

O autor de "Petróleo, poder e guerra" também fala sobre as tendências nascidas do petróleo que moldam o momento atual, como a disputa pelo acesso aos vastos recursos petrolíferos da Rússia, a busca por substitutos extremos para o declínio do petróleo convencional, o aumento do terrorismo e a natureza mutável do crescimento econômico.

Comenta ainda sobre os percursos dos reis americanos do petróleo "D. Rockefeller, Dick Cheney e Rex Tillerson". Fala também sobre a forte ligação entre a economia do petróleo e o poder político que vincula de forma umbilical os donos dos dinheiros às ações de figuras importantes como "Churchill, Roosevelt, Stalin, Hitler, Kissinger e os Bush".

Assim, o autor mostra como o petróleo tem relação com as crises e os ciclos econômicos, a mudança climática, os conflitos regionais, a guerra e o terrorismo.

Por tudo isso, fica um pouco menos complexo compreender porque os EUA pensam em termos geopolíticos de domínio sobre o mundo, a partir de suas demandas energéticas.

Por essas demandas promove guerras, golpes, sanções, tarifaços e o que mais for necessário.

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