terça-feira, janeiro 22, 2019

Em 2018, o Brasil exportou 40% de todo o petróleo cru que produziu (quase todo o pré-sal) e segue importando mais derivados

Em boa matéria do Fernando Mellis, publicada hoje no portal R7, foram apresentados alguns números gerais que o setor de petróleo fechou em 2018. Os dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) indicam que o Brasil vendeu 1,12 milhões de barris por dia (bpd) de óleo cru (13,3% a mais que em 2017) e equivalentes a 40% de toda a produção em nossas bacias. Sim quase metade de todo o petróleo que produzimos, quase todo o pré-sal, considerando apenas o petróleo e sem o gás natural.

Esse fato se deve não apenas às vendas externas da Petrobras, mas ao aumento da produção e vendas internacionais por parte das petroleiras estrangeiras que atuam cada vez mais no Brasil - como operadoras e/ou concessionárias - e que direcionam para onde querem as suas produções crescentes no país.

Segundo o Boletim da Produção de Petróleo e Gás, edição de novembro de 2018 da ANP, só as cinco petroleiras estrangeiras que estão logo abaixo da Petrobras, produziram no Brasil um total de 711 mil barris de petróleo e gás por dia (22% da produção no país). Pela ordem em termos da prodção de óleo + gás natural: a anglo-holandesa Shell (400 mil boepd); a portuguesa Petrogal (114 mil boepd); norueguesa Equinor (89 mil boepd); o consórcio espanhol-chinês Repsol-Sinopec (84 mil boepd); e a chinesa Sinochen (24 mil boepd). 

Os principais importadores que levaram em 2018, o nosso óleo cru para ser processado em suas refinarias foram: China (56,5%), EUA (11,9%) e o Chile (8,43%). Essas exportações geraram um volume de US$ 25,1 bilhões em divisas ao país. 

Em volume, em 2018, o Brasil exportou um total de quase meio bilhão de barris de petróleo. Em números absolutos 412 milhões de barris. Veja no gráfico ao lado, a evolução da exportações de óleo cru do Brasil, ano a ano, entre 2000 e 2018.

Ainda segundo a reportagem, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério de Minas e Energia, estima que a produção de petróleo no pré-sal dobre nos próximos oito anos e que isso deverá levar a que o país se torne um dos cinco maiores exportadores do mundo — atualmente o Brasil está entre os dez principais.

Assim, a previsão é que até 2027, o Brasil triplique as exportações de óleo cru, superando 3,1 milhões de barris por dia, segundo o superintendente de petróleo da EPE, Marcos Frederico Farias de Souza.

Há algum tempo, o blog vem mostrando aqui nesse espaço as contradições para a economia nacional, na medida em que vendemos quase metade de nossa produção de petróleo e importamos derivados em refinarias estrangeiras (em valores muito mais altos, além dos custos dos transportes de ambos) para ser aqui consumido.

Em passado recente, o Brasil deixou de construir as refinarias projetadas Premium I e II no Ceará e Maranhão e não terminou ainda o Comperj, em Itaboraí. Além disso, a partir do governo Temer, o país passou a reduzir o refino em nossas refinarias que chegaram a cair abaixo de 70% da capacidade de refino total. A modelagem das plantas dessas novas refinarias, acrescidas da construída em Pernambuco (Rsnet), permitiria processar o petróleo mais pesado produzido em alguns campos produtivos do país que há algum tempo obriga um percentual de exportação de óleo cru.
 
Assim, na contramão do aumento de exportações, o Brasil segue com alta importação de derivados que incluem gasolina, diesel, GLP (usado nos botijões de gás), querosene de aviação e lubrificantes.

Por baixo, a estimativa é que a cada barril de óleo bruto exportado gasta-se pelo menos US$ 12 (cerca de R$ 45) a mais por barril de derivado importado. Dessa forma, segundo a ex-diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, essa diferença entre o que se deixa de refinar para importar foi de cerca de R$ 6,56 bilhões, fora os custos com logística e transportes.

Sobre a demanda interna, um estudo da EPE prevê que o Brasil deverá demandar importação em  de 213 mil barris por dia só de óleo diesel em 2027. Por essas informações fica evidente que o Brasil tem sim necessidade de investir em novas infraestruturas de abastecimento, incluindo a construção de refinarias. Hoje a capacidade de refino do país é de 2,4 milhões de barris por dia, sem acrescentar o Comperj que tem previsão de entrar em funcionamento no início do segundo semestre do ano que vem.

No meio de toda essa realidade, o atual governo quer vender refinarias do Norte/Nordeste e Sul do país, pertencentes à Petrobras e com mercado garantido no país, para petroleiras estrangeiras. 

Vale dizer que essa etapa da cadeia produtiva do petróleo é a que mais se apropria da renda petroleira
- constituída em toda a sua extensão - quando se tem o mercado garantido como é o caso brasileiro.

É necessário e urgente rever esse processo. São poucos que conseguem compreender essa realidade. Porém, é necessário manter o esforço para traduzir, de forma mais simples e compreensível, essa complexidade que atinge a nação e o nosso povo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Você esqueceu de citar que:
1 - A China emprestou dinheiro para a Petrobras com pagamento em Petróleo, o que pode justificar essa fatia de remessa;
2 - Com o dinheiro que a Petrobras comprou Pasadena daria pra ter terminado o complexo de Itaboraí com folga.

Roberto Moraes disse...

Sim. Parte das exportações para a China é o pagamento do empréstimo feito em pagamento de barril e não em dólar, o que se mostrou bem mais vantajoso por conta da redução dos preços desde 2014. Porém, isso é parte porque o pagamento acordado é paulatino e não os 56% de toda a exportações que dá mais de 600 mil barris por dia.

A exportação de parte da produção não é problema. A questão é o volume. Além disso, não se pode deixar de lado o volume da produção no Brasil que hoje é das petroleiras estrangeiras que como informei no texto já é de 711 mil barris por dia. E todo esse volume, praticamente, vai para o exterior o que já daria 64% de toda a exportação brasileira em 2018(711/1.120 bpd).

Sobre Passadina, essa hipótese é discutível não é fato. A compra dela está mais ligada à capacidade dela em processar petróleo pesado da Bacia de Campos que na ocasião era o o maior percentual, quase 70%. Dessa forma, sendo da Petrobras ela processava o petróleo da própria empresa, embora em território americano e isso evitava a perda, na ocasião de até US$ 20 por barril que era a diferença entre a venda do petróleo pesado (parafinado) e o petróleo leve, mesmo que ainda bruto. Essa diferença se amplia se o petróleo pesado lá processado voltasse refinado. Essa diferença em milhões de barris, entre petróleo pesado processado em sua refinaria e petróleo leve, seguidos anos, daria para bancar a construção de mais de uma refinaria.

Houve erro sim em aprovar a construção apenas com projetos básicos, que facilitaram os desvios. Isso levou ao encarecimento da construção. Embora, em valores muito diferentes dos anunciados.

Para isso, é necessário levantar os custos de construção de refinarias similares (elas nunca são iguais e nem muito parecidas em cada lugar do mundo) em outros países. Um bom exemplo é o do custo de construção da refinaria na Índia. Que desde 2000 já construiu mais de 4 refinarias. E em 2008 concluiu a que hoje possui é a refinaria de maior capacidade do mundo, a Relliance Industries com 580 mil bpd. Isso se dá porque a Índia é o terceiro maior importador e o quarto maior consumidor do mundo já que produz muito pouco em seu território.

O custo de construção da grandes refinarias no Kuwait e Abu Dahbi na faixa entre US$ 15 e US$ 20 bilhões, equivalentes a R$ 55 bilhões e R$ 75 bilhões. As refinarias mais novas estão saindo mais caras por conta das novas tecnologias utilizadas no processo. Assim, mesmo retirando os desvios e levando em conta capacidades de refino e localização das plantas que alteram os custos, os valores não são assim tão divergentes como o debate político fez crer aos desavisados e mal intencionados. O que não quer dizer que os desvios tenham que ser punidos em qualquer tempo e sob quaisquer gestão.

Porém, o debate é mais profundo que algumas informações soltas.

Roberto Moraes disse...

Sim. Parte das exportações para a China é o pagamento do empréstimo feito em pagamento de barril e não em dólar, o que se mostrou bem mais vantajoso por conta da redução dos preços desde 2014. Porém, isso é parte porque o pagamento acordado é paulatino e não os 56% de toda a exportações que dá mais de 600 mil barris por dia.

A exportação de parte da produção não é problema. A questão é o volume. Além disso, não se pode deixar de lado o volume da produção no Brasil que hoje é das petroleiras estrangeiras que como informei no texto já é de 711 mil barris por dia. E todo esse volume, praticamente, vai para o exterior o que já daria 64% de toda a exportação brasileira em 2018(711/1.120 bpd).

Sobre Passadina, essa hipótese é discutível não é fato. A compra dela está mais ligada à capacidade dela em processar petróleo pesado da Bacia de Campos que na ocasião era o o maior percentual, quase 70%. Dessa forma, sendo da Petrobras ela processava o petróleo da própria empresa, embora em território americano e isso evitava a perda, na ocasião de até US$ 20 por barril que era a diferença entre a venda do petróleo pesado (parafinado) e o petróleo leve, mesmo que ainda bruto. Essa diferença se amplia se o petróleo pesado lá processado voltasse refinado. Essa diferença em milhões de barris, entre petróleo pesado processado em sua refinaria e petróleo leve, seguidos anos, daria para bancar a construção de mais de uma refinaria.

Houve erro sim em aprovar a construção apenas com projetos básicos, que facilitaram os desvios. Isso levou ao encarecimento da construção. Embora, em valores muito diferentes dos anunciados.

Para isso, é necessário levantar os custos de construção de refinarias similares (elas nunca são iguais e nem muito parecidas em cada lugar do mundo) em outros países. Um bom exemplo é o do custo de construção da refinaria na Índia. Que desde 2000 já construiu mais de 4 refinarias. E em 2008 concluiu a que hoje possui é a refinaria de maior capacidade do mundo, a Relliance Industries com 580 mil bpd. Isso se dá porque a Índia é o terceiro maior importador e o quarto maior consumidor do mundo já que produz muito pouco em seu território.

O custo de construção da grandes refinarias no Kuwait e Abu Dahbi na faixa entre US$ 15 e US$ 20 bilhões, equivalentes a R$ 55 bilhões e R$ 75 bilhões. As refinarias mais novas estão saindo mais caras por conta das novas tecnologias utilizadas no processo. Assim, mesmo retirando os desvios e levando em conta capacidades de refino e localização das plantas que alteram os custos, os valores não são assim tão divergentes como o debate político fez crer aos desavisados e mal intencionados. O que não quer dizer que os desvios tenham que ser punidos em qualquer tempo e sob quaisquer gestão.

Porém, o debate é mais profundo que algumas informações soltas.