A pior e mais sofrida é sempre de quem está mais perto do território. Os trabalhadores, vizinhos e a comunidade.
Os mais distantes, os verdadeiros donos do empreendimento,
os acionistas sofrem menos. Ou nem sofrem. E ainda ganham.
Em 2018, a Vale produziu em torno de 390 milhões de
toneladas por dia de minério de ferro. A maior produção do mundo. Isso dá um
volume diário de 1,07 milhão de toneladas por dia.
Considerando que a produção do complexo minerário de
Paraopebas altera relativamente pouco na produção total da Vale.
E ainda que o preço do minério de ferro aumentou hoje de US$
74,64 para US$ 75,30 a tonelada numa variação de US$ 0,66 por tonelada, se pode
contabilizar um ganho extra para uma produção diária de 1 milhão de toneladas,
no valor de US$ 660 mil, ou de R$ 2,44 milhões. R$ 2 milhões a mais. Porque o faturamento total da Vale, só nessa segunda-feira e apenas com minério de ferro, será de mais de US$ 75 milhões ou R$ 278 milhões.*
*(Ver abaixo nas atualizações o recálculo a partir dos valores do preço do minério de ferro fechado hoje nos mercados globais com aumento e média de 6,3%, o que dá uma diferença de US$ 4,70 poer tonelada e não US$ 0,66 como calculado mais cedo com outra cotação).
*(Ver abaixo nas atualizações o recálculo a partir dos valores do preço do minério de ferro fechado hoje nos mercados globais com aumento e média de 6,3%, o que dá uma diferença de US$ 4,70 poer tonelada e não US$ 0,66 como calculado mais cedo com outra cotação).
A conta pode alterar um pouco a mais ou menos, com a cotação final do dia, mas é essa. Só hoje, enquanto os bombeiros ainda procuram mais de duas centenas de corpos de trabalhadores e moradores.
Bom lembrar que isso não tem não tem relação com o valor de
mercado da empresa, onde a redução do valor das ações influenciam e que tendem
a ser recompostas com o tempo. Como aconteceu em 2015, após a tragédia
produzida pela Samarco, em que a Vale é sócia com a mineradora australiana BHP
Bilinton.
Com a distância do tempo da tragédia o valor volta a aumentar
conforme a empresa atua. Para os acionistas, pagar menos indenizações e voltar
a operar aumenta volta a pressionar para cima o valor das ações da empresa.
Hoje, com essa perda do valor das ações, a Vale vale menos,
em termos de “valor de mercado”, com a perda em torno de 20% do valor de suas ações. Também não é surpreendente, para quem observa o movimento dos capitais, identificar que as ações de outras importantes mineradoras do mundo aumentaram hoje, com a tragédia produzida pela Vale em Brumadinho.
Porém, como vimos acima, o seu faturamento, mesmo com a
interrupções da extração no Complexo Minerário de Paraopebas, em Brumadinho, a
empresa faturará a mais cerca de R$ 2 milhões com o atual preço do minério de
ferro no mercado global
O tal “mercado” é cruel. Frio. E não tem relações com as
pessoas, a não ser quando é extremamente necessário, como mão de obra. Os
vizinhos das fábricas e bases operacionais já são vistos como problema.
Veja aqui nesse link uma postagem que fiz ontem sobre o “modus
operandi” do sistema financeiro que hoje controla as corporações e a produção
material em boa parte do mundo: [https://www.robertomoraes.com.br/2019/01/a-tragedia-produzida-pela-vale-varre.html]
Os acionistas ganham. Os dirigentes também. O presidente (CEO)
da Vale recebeu em 2017, entre salários e bônus, a quantia de R$ 60 milhões.
Repito. Apenas num ano. Também em 2017, a remuneração média dos diretores da
Vale foi de R$ 12,4 milhões. O diretor da Vale com a maior remuneração em 2017
recebeu R$ 19 milhões.
Ganhos individuais deste patamar desumanizam as pessoas. Com
tanto aprecia o frio mercado onde atuam os fundos financeiros que controlam as
grandes corporações. Como é o caso da Vale.
Em brevíssimo tempo, os acionistas trocarão o CEO e os
diretores da Vale, que provavelmente também ganhará novo nome porque a Vale não
terá mais valor. E isso não tem nada a ver com a bravata do vice-presidente
Mourão, porque essa decisão virá dos acionistas e do mercado, onde as
instituição bancárias nacionais, onde o governo poderia intervir são minoritárias.
A grosso modo, o mercado se acomoda (se ajusta) com as
perdas. Quem perde são as pessoas, suas famílias, as comunidades, os municípios
ao redor.
A lógica e a concepção mental dos ganhos financeiros giram de um forma
bem distinta da vida e daquilo que a Revolução Francesa há mais de dois séculos,
com o lema “liberdade, igualdade e fraternidade” pensou que tinha superado o
feudalismo.
Assim, no capitalismo contemporâneo com o império do esquema financeiro
nos trouxe um “neofeudalismo”, ainda muito mais cruel.
PS.: Atualizado às 15:30, 15:32, 16:22 e 16:44: para breve acréscimo num dos parágrafos.
PS.: Atualizado às 19:40: Com os dados do preço do minério negociado na China nesta segunda-feira em até US$ 84 a tonelada, com uma média de 6,3% de aumento, em relação ao preço de sexta-feira (25 jan. 2019) data da tragédia da Vale, pode-se falar num faturamento diário ainda maior da empresa.
Considerando que a produção de minério no Complexo de Paraopebas em Brumadinho é apenas de 7% do total da Vale, pode-se afirmar em termos aproximados que a produção diária da companhia teria descido de de 1,070 milhões de toneladas para cerca de 1 milhão de toneladas.
Com o aumento de preços hoje no mercado da China, o maior comprador mundial na média de 6,3%, saindo de US$ 74,64 (sexta, 25 jan. 2018) para US$ 79,34 (na média de um valor de pico que chegou a US$ 84). Assim, a diferença a mais por tonelada foi de US$ 4,70 ou R$ 17,39 e não mais de US$ 0,66 ou R$ 2,44. E o valor de faturamento total a mais recebido hoje pela Vale foi de R$ 17,3 milhões e não R$ 2,4 milhões.
Dessa forma, o faturamento total da Vale hoje foi de R$ 293 milhões e não R$ 78 milhões como estimado antes. Dessa forma vamos reajustar o valor do título da postagem para:
"Mesmo com toda a consternação da tragédia produzida pelo "Vale de lama" em Brumadinho, a companhia está faturando hoje R$ 17,3 milhões a mais que antes com a venda de seu minério".
Em resumo: A Vale produziu hoje menos 7% de minério de ferro, mas aumentou em R$ 17,3 milhões seu faturamento com a venda de 1 milhão de toneladas que se deu a um preço 6,3% em média maior do que o de sexta-feira.
PS.: Atualizado às 15:30, 15:32, 16:22 e 16:44: para breve acréscimo num dos parágrafos.
PS.: Atualizado às 19:40: Com os dados do preço do minério negociado na China nesta segunda-feira em até US$ 84 a tonelada, com uma média de 6,3% de aumento, em relação ao preço de sexta-feira (25 jan. 2019) data da tragédia da Vale, pode-se falar num faturamento diário ainda maior da empresa.
Considerando que a produção de minério no Complexo de Paraopebas em Brumadinho é apenas de 7% do total da Vale, pode-se afirmar em termos aproximados que a produção diária da companhia teria descido de de 1,070 milhões de toneladas para cerca de 1 milhão de toneladas.
Com o aumento de preços hoje no mercado da China, o maior comprador mundial na média de 6,3%, saindo de US$ 74,64 (sexta, 25 jan. 2018) para US$ 79,34 (na média de um valor de pico que chegou a US$ 84). Assim, a diferença a mais por tonelada foi de US$ 4,70 ou R$ 17,39 e não mais de US$ 0,66 ou R$ 2,44. E o valor de faturamento total a mais recebido hoje pela Vale foi de R$ 17,3 milhões e não R$ 2,4 milhões.
Dessa forma, o faturamento total da Vale hoje foi de R$ 293 milhões e não R$ 78 milhões como estimado antes. Dessa forma vamos reajustar o valor do título da postagem para:
"Mesmo com toda a consternação da tragédia produzida pelo "Vale de lama" em Brumadinho, a companhia está faturando hoje R$ 17,3 milhões a mais que antes com a venda de seu minério".
Em resumo: A Vale produziu hoje menos 7% de minério de ferro, mas aumentou em R$ 17,3 milhões seu faturamento com a venda de 1 milhão de toneladas que se deu a um preço 6,3% em média maior do que o de sexta-feira.
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