Já é muito conhecida essa esperteza de superestimar as
expectativas de empregos diretos e indiretos de empreendimentos por parte tanto
do empreendedor, quanto das autoridades responsáveis pelas autorizações e
licenciamentos. Hoje, esse velho
artifício já é conhecido de parte mais expressiva da população que busca se
inteirar mais sobre os assuntos e buscam informações sobre os projetos.
É certo
que essa especulação de número de empregos diretos e indiretos não sai só da cabeça
do gestor público, mesmo quando divulgados por esses que sequer conhecem o
projeto. A Prumo sabe e bem do que aqui está sendo questionado.
Construção da UTE-1 no Porto do Açu |
É também uma realidade que o projeto desse empreendimento que se trata de um complexo de gás natural (Hub) envolve não apenas o terminal portuário que teve a autorização concedida nesse
ato pelo ministro, mas envolve ainda a construção no futuro de uma unidade de
tratamento de gás, duas termelétricas e um ramal de gasoduto. Hoje, uma
primeira UTE, GNA1 (1,3 GW) já está sendo construída pela Construtora Andrade Gutierrez
e há previsão de construção de outra, GNA2 (1,7 GW).
Juntas, as duas UTEs possuirão uma capacidade total
instalada de 3 GW, num projeto que prevê investimentos de R$ 8 bilhões até
2023. O projeto é um consórcio liderado pela Prumo Logística Global
controladora do Porto do Açu, a BP e a Siemens com financiamento de R$ 1,76 do
BNDES e garantia do banco alemão KfW.
Em 21 de dezembro de 2018 este blog fez uma extensa postagem
falando sobre o projeto, seu financiamento e os significados da expansão dos
projetos abrigados no Porto do Açu que pode ser lido aqui.
Ainda sobre o assunto de investimentos em UTEs à gás natural
na região, no dia último dia 13 de fevereiro de 2019, o blog postou outro texto,
sobre a UTE que o fundo Pátria e a Shell construirão em Macaé, quando também
analisou as dinâmicas socioeconômicas regionais decorrentes dessa expansão da
geração elétrica na região vinculadas ao acesso ao gás natural. Esse texto pode
ser lido aqui.
Por tudo isso, e por estar acompanhando esses “grandes projetos
de investimentos” (GPI) vinculado à relação petróleo-porto já há algum tempo,
não é difícil de dizer que esses números de estimativas de empregos são extremamente
fantasiosos e muito irresponsáveis.
Entre várias outras razões, porque mesmo que todos esses
empreendimento sejam implantados, eles se darão em boa medida, de forma sequencial.
Assim, eles não gerarão tantos empregos (ainda que incluindo os indiretos), e
mesmo se considerado a época da construção, quando os empregos chegam a ter uma
relação entre 5 e 10 veze maior quando comparado depois à demanda necessária
para operação/manutenção das unidades.
Fila com 2 mil a 3 mil trabalhadores formada na rua Nestor Rocha da Silva, Praia do Açu quando do anúncio da construção da UTE-1. |
Sendo assim, essa irresponsabilidade dos
empreendedores/gestores amplia ainda mais os impactos sócio territoriais do
empreendimento, em desfavor das comunidades locais e regionais.
A atração de pessoas que vêm atrás de empregos (que já estão chegando às dezenas diariamente), para além da
necessidade real para a construção e operação das unidades, pressiona ainda
mais a demanda por serviços públicos de transporte, saúde e segurança, em boa
parte sob responsabilidade das prefeituras. E, mais que isso, reforça,
sobretudo, a ideia de que a corporação enxerga esse território e as pessoas da
região, apenas com algo a ser usado.
PS.: Atualizado às 12:48: Para incluir a foto da fila de 2 mil a 3 mil trabalhadores, formada em novembro de 2017, quando do anúncio da construção da UTE-1 pela Construtora Andrade Gutierrez.
PS.: Atualizado às 12:48: Para incluir a foto da fila de 2 mil a 3 mil trabalhadores, formada em novembro de 2017, quando do anúncio da construção da UTE-1 pela Construtora Andrade Gutierrez.
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