A reportagem traz dados reais do aumento da produção de petróleo por parte dos EUA, mas também permite outras interpretações. Uma delas é a de que a Bloomberg pode estar tentando ajudar Trump a ampliar os feitos da indústria de petróleo americana com o Texas entupindo o mundo de petróleo.
Esse jogo de empurrar mais rapidamente petróleo para todo o mundo tende a reduzir os preços do barril no mercado internacional e assim aumentar os problemas das nações que dependem mais fortemente do petróleo. Seja como importadores para suprir déficits entre produção e consumo e, especialmente, por parte dos exportadores, como a Rússia e Arábia Saudita que passaram a se aproximar via a Opep, sob preocupação dos EUA.
O discurso do secretário de energia de Trump, que também está na matéria da Bloomberg, visa o público americano, mas o interesse maior é do presidente que hoje está mais de olho, em conseguir sua reeleição, em novembro próximo.
Há algum tempo eu passei a chamar a atenção para esse processo de pressão sobre os preços do barril de petróleo, por um movimento que vai além da oferta e da procura.
Dei a esse processo de "ciclo petro-econômico". Ele não é um fenômeno natural. Ele é produzido. Os EUA com o aumento da produção de xisto mexe no tabuleiro da geopolítica, mas ainda será deficitário considerando seu consumo, mesmo que tenha hoje, o menor déficit em 20 anos, considerando o seu enorme parque de refino que importa óleo cru e exporta derivados (gasolina e diesel).
Além disso, há ainda que se considerar que quanto mais rápido os EUA extrair o que descobre - impactando ainda mais o ambiente com a tecnologia do "fracking" -, mais rápido demandará as reservas estrangeiras. Esse "time" não é simples se avaliado na dimensão geopolítica entre golpes e fragilização das economias nacionais promovidas direta ou indiretamente pelos EUA.
Com tudo isso, os EUA não conseguirão produzir tudo aquilo que consomem. Isso mais adiante poderá produzir novos golpes ou colocar a hegemonia em risco. Hoje os EUA tem uma vantagem em seu circuito do petróleo, que é o enorme parque de refino, por onde exporta entre 3 e 4 milhões de barris de derivados, que agora estão sendo acrescidos de mais 3 mi de bpd de exportação de óleo cru.
Enquanto isso, outro grande produtor, a Rússia, outro player do setor, continua fazendo novas descobertas e controlando a produção na medida em que há ofertas de mais no mercado e ainda sofreu recente bloqueio comandado pelos EUA, com o apoio dos países europeus. A partir daí a Rússia ampliou sua atuação nas crises do Oriente Médio e também aumentou suas relações com produtores como Opep e Venezuela.
A China como grande consumidora e maior importadora de petróleo do mundo, aproveitou a fase de preços menores, desde 2015, para controlar sua produção nacional, faz mais exploração para descobertas (também offshore no mar do sul da China) e assim vai acumulando reservas de petróleo (e especialmente gás natural). Enquanto isso tem importado mais e também ampliado os já enormes parques de estocagens, além dos investimentos em novas e grandes refinarias e petroquímicas.
Nesse mesmo tempo em que os EUA exportam mais petróleo e derivados, hoje, também se confirmou que as exportações de petróleo dos EUA para China caíram 91%, nos últimos meses, depois da guerra comercial definida por Trump.
Ao relembrar que a China é hoje o maior importador de petróleo do mundo e o segundo maior consumidor, só atrás dos EUA, se percebe que há aí uma questão fundamental, ainda s ser melhor observada e compreendida, dentro da geopolítica, em que essas duas nações hoje disputam espaço e hegemonia.
Ainda sobre o setor petróleo e gás, na América do Sul, nessa última semana, também se tomou conhecimento que a Bolívia anunciou novas descobertas de gás natural, do que pode vir a ser uma espécie de um “pré-sal do gás”.
São movimentos no tabuleiro da geopolítica da energia, onde se tem um jogo mais claro. Não há como entender todas questões daí decorrentes, apenas no campo da economia, sem entender as implicações políticas e de poder de umas nações sobre outras.
Ao contrário do que dizem, a previsão da Agência Internacional de Energia (AIE), com sede nos EUA, é que o consumo de petróleo no mundo continuará crescente pelo menos até 2050, a despeito da ampliação do uso de outras energias primárias com o que chamei em artigo recente [2] de reeletrificação. Desdenhar a importância do petróleo para esse período é um equívoco enorme, onde comumente se tem misturado desejo com realidade.
O discurso do secretário de energia de Trump, que também está na matéria da Bloomberg, visa o público americano, mas o interesse maior é do presidente que hoje está mais de olho, em conseguir sua reeleição, em novembro próximo.
Há algum tempo eu passei a chamar a atenção para esse processo de pressão sobre os preços do barril de petróleo, por um movimento que vai além da oferta e da procura.
Dei a esse processo de "ciclo petro-econômico". Ele não é um fenômeno natural. Ele é produzido. Os EUA com o aumento da produção de xisto mexe no tabuleiro da geopolítica, mas ainda será deficitário considerando seu consumo, mesmo que tenha hoje, o menor déficit em 20 anos, considerando o seu enorme parque de refino que importa óleo cru e exporta derivados (gasolina e diesel).
Além disso, há ainda que se considerar que quanto mais rápido os EUA extrair o que descobre - impactando ainda mais o ambiente com a tecnologia do "fracking" -, mais rápido demandará as reservas estrangeiras. Esse "time" não é simples se avaliado na dimensão geopolítica entre golpes e fragilização das economias nacionais promovidas direta ou indiretamente pelos EUA.
Com tudo isso, os EUA não conseguirão produzir tudo aquilo que consomem. Isso mais adiante poderá produzir novos golpes ou colocar a hegemonia em risco. Hoje os EUA tem uma vantagem em seu circuito do petróleo, que é o enorme parque de refino, por onde exporta entre 3 e 4 milhões de barris de derivados, que agora estão sendo acrescidos de mais 3 mi de bpd de exportação de óleo cru.
Enquanto isso, outro grande produtor, a Rússia, outro player do setor, continua fazendo novas descobertas e controlando a produção na medida em que há ofertas de mais no mercado e ainda sofreu recente bloqueio comandado pelos EUA, com o apoio dos países europeus. A partir daí a Rússia ampliou sua atuação nas crises do Oriente Médio e também aumentou suas relações com produtores como Opep e Venezuela.
A China como grande consumidora e maior importadora de petróleo do mundo, aproveitou a fase de preços menores, desde 2015, para controlar sua produção nacional, faz mais exploração para descobertas (também offshore no mar do sul da China) e assim vai acumulando reservas de petróleo (e especialmente gás natural). Enquanto isso tem importado mais e também ampliado os já enormes parques de estocagens, além dos investimentos em novas e grandes refinarias e petroquímicas.
Nesse mesmo tempo em que os EUA exportam mais petróleo e derivados, hoje, também se confirmou que as exportações de petróleo dos EUA para China caíram 91%, nos últimos meses, depois da guerra comercial definida por Trump.
Ao relembrar que a China é hoje o maior importador de petróleo do mundo e o segundo maior consumidor, só atrás dos EUA, se percebe que há aí uma questão fundamental, ainda s ser melhor observada e compreendida, dentro da geopolítica, em que essas duas nações hoje disputam espaço e hegemonia.
Ainda sobre o setor petróleo e gás, na América do Sul, nessa última semana, também se tomou conhecimento que a Bolívia anunciou novas descobertas de gás natural, do que pode vir a ser uma espécie de um “pré-sal do gás”.
São movimentos no tabuleiro da geopolítica da energia, onde se tem um jogo mais claro. Não há como entender todas questões daí decorrentes, apenas no campo da economia, sem entender as implicações políticas e de poder de umas nações sobre outras.
Ao contrário do que dizem, a previsão da Agência Internacional de Energia (AIE), com sede nos EUA, é que o consumo de petróleo no mundo continuará crescente pelo menos até 2050, a despeito da ampliação do uso de outras energias primárias com o que chamei em artigo recente [2] de reeletrificação. Desdenhar a importância do petróleo para esse período é um equívoco enorme, onde comumente se tem misturado desejo com realidade.
World Energy Outlook, 2016, p. 115/669. |
A Agência Internacional de Energia (AIE) em seu WEO-2016 previu um consumo de petróleo a nível global de 107,7 milhões de barris em 2040. (Ver quadro ao lado).
Assim, a AIE confirma que o consumo de petróleo crescerá, mesmo com o incremento dos renováveis e da eletrificação dos transportes, porque o petróleo será também cada vez mais utilizado no setor de petroquímica, para a produção de plásticos e fertilizantes.
E o Brasil que hoje tem o Pré-sal nisso tudo? O nosso país segue entregando os campos de petróleo do pré-sal, bacias de Santos e Campos e vendendo a preço vil, as subsidiárias da Petrobras, os gasodutos, as refinarias, o setor de petroquímico, BR Distribuidora, e abrindo o setor de gás a oligopólios e fundos financeiros estrangeiros.
Não é difícil interpretar que a atual explosão de produção de petróleo pelos EUA, só acontece hoje, porque os americanos identificaram que já possuem segurança energética, para além de 2025-2030 com o controle sobre outras reservas do mundo, onde há bilhões de barris de pet´roleo em novas fronteiras de exploração descobertas.
Assim, é bom relembrar que o Pré-Sal do Brasil é a maior fronteira descoberta no mundo na última década e possui seis dos dez maiores campos descobertos em todo o planeta. Dessa forma, as colossais reservas do Brasil estarão disponíveis a partir de 2025-2030 quando os EUA mais precisarão.
Não é por outro motivo, que os EUA resolveu abrir agora as torneiras dos seus poços de petróleo, ainda que a sua atual produção, só chegue a um percentual entre 60% e 70% do seu consumo diário de derivados de petróleo.
Os EUA é um país movimento a petróleo com o consumo de quase 20 milhões de barris por dia, mais de 50% do segundo maior consumo de petróleo do mundo que hoje é da China. Enquanto isso, Bolsonaro bate continência e se oferece a Trump, sem ele mesmo pedir, em ato explícito de colonizado.
E o Brasil que hoje tem o Pré-sal nisso tudo? O nosso país segue entregando os campos de petróleo do pré-sal, bacias de Santos e Campos e vendendo a preço vil, as subsidiárias da Petrobras, os gasodutos, as refinarias, o setor de petroquímico, BR Distribuidora, e abrindo o setor de gás a oligopólios e fundos financeiros estrangeiros.
Não é difícil interpretar que a atual explosão de produção de petróleo pelos EUA, só acontece hoje, porque os americanos identificaram que já possuem segurança energética, para além de 2025-2030 com o controle sobre outras reservas do mundo, onde há bilhões de barris de pet´roleo em novas fronteiras de exploração descobertas.
Assim, é bom relembrar que o Pré-Sal do Brasil é a maior fronteira descoberta no mundo na última década e possui seis dos dez maiores campos descobertos em todo o planeta. Dessa forma, as colossais reservas do Brasil estarão disponíveis a partir de 2025-2030 quando os EUA mais precisarão.
Não é por outro motivo, que os EUA resolveu abrir agora as torneiras dos seus poços de petróleo, ainda que a sua atual produção, só chegue a um percentual entre 60% e 70% do seu consumo diário de derivados de petróleo.
Os EUA é um país movimento a petróleo com o consumo de quase 20 milhões de barris por dia, mais de 50% do segundo maior consumo de petróleo do mundo que hoje é da China. Enquanto isso, Bolsonaro bate continência e se oferece a Trump, sem ele mesmo pedir, em ato explícito de colonizado.
Referências:
[1] Matéria da Bloomberg - Houston, traduzida e republicada pelo Valor. 26 mar. 2018. P.A9. BLAS, Javier. Exportações de petróleo dos EUA já influenciam o xadrez geopolítico. Disponível em: https://www.valor.com.br/internacional/6183493/exportacoes-de-petroleo-dos-eua-ja-influenciam-o-xadrez-geopolitico
[2] Texto publicado no blog em 17 mar. 2019. A “era pós-petróleo”, a “reeletrificação”, os ciclos históricos e o potencial do Brasil no sistema-mundo. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2019/03/a-era-pos-petroleo-reeletrificacao-os.html