Desde 2011, o blog traz para esse espaço, um resumo com dados e indicadores sobre essa instituição de ensino/financeira, que são publicados nos relatórios anuais de Administração da Estácio Participações S.A.
Observando os principais dados do relatório de 2018, publicado hoje no Valor (P. C9 a C16), se observa que os lucros não param de subir, possui mais alunos (em Educação à Distância - EaD), muito menos professores e nada de pesquisa e pouquíssimo de extensão.
Em 2018 foram R$ 645 milhões de lucros líquidos (52% maior que em 2017), para uma receita total (quase tudo de mensalidades) de R$ 5,7 bilhões. Incluídas aí, as rentabilidade com as aplicações financeiras que em 2018 somaram R$ 92 milhões*. A parte direta do rentismo nos lucros da Estácio S.A.
No dia 31 de dezembro de 2018, a Estácio S.A. informou que possuía em caixa R$ 818 milhões, fora os R$ 500 milhões que distribuiu como dividendos para os seus acionistas. No mesmo período de 2018, a Estácio S.A. investiu apenas R$ 248 milhões, sendo quase tudo, em novas unidades e não em melhorias das já existentes.
Sobre a quantidade de alunos, em dezembro de 2018, a Estácio S.A. possuía 517,8 mil alunos distribuídos em 44 faculdades e 607 polos de EaD. Em 2017 eram 515, 3 mil alunos.
Do total de 517,8 mil alunos em 2018, 314,7 mil (61%) são em ensino presencial, um percentual 8,7% menor que em 2017, quando possuía 344,7 mil alunos em sala de aula. Já no Ensino à Distância (EaD) o número de alunos saiu de 170,6 mil estudantes em 2017, para 203,1 mil alunos em 2018, um crescimento de 19%.
Sobre a quantidade de professores e funcionários estudantes se vê perfeitamente como a Estácio S.A. segue reduzindo a sua mão de obra, a despeito de ter bem mais alunos. Em 2018 eram 11.851 servidores no total, sendo 6.840 docentes. Para se ter uma avaliação dessa redução, no ano de 2014, a Estácio S.A. possuía um total de 14.192 funcionários no total, sendo 9.025 docentes.
Vejam como a relação de lucro, numa atividade que é mais a presença de professores se deu. Em 2014, a Estácio S.A. possuía uma relação de 48 estudantes por professor. Uma relação que já era absurdamente alta, mesmo considerando que parte disso (30%) era em EaD.
Já em 2018, portanto, apenas 4 anos depois, com o incremento da empresa na área de ações e financeiras, a Estácio S.A. possuía uma relação de 76 alunos por professor.
Tudo isso ajuda a explicar o crescimento de mais de 50% nos lucros a cada ano da Estácio S.A. Em faculdades com poucos laboratórios e professores muitas vezes bem menos qualificados e bem menores salários, para garantir maiores lucros para os acionistas. As reclamações do alunos são muitas. É só conversar com alunos e professores para conhecer essa realidade.
Assim, com pouquíssimos investimentos em extensão e nada em pesquisa, a Estácio S.A. se orgulha, em seu relatório de 2018, de possuir um volume médio diário de negociações de ações na bolsa de valores R$ 99 milhões. Sim, por dia com um percentual 43,2% maior do que em 2017.
Quem tem esse tipo de preocupação em atender os investidores, que receberam R$ 500 milhões, limpinhos só em dividendos (sobre os quais não são cobrados impostos), não vai ter mesmo muito tempo e nem interesse para se ocupar com a formação dos alunos.
Pode ser que você julgue tudo isso normal, natural, considerando a atividade como negócio. Lucro de R$ 645 milhões, numa instituição que se tornou um oligopólio (quase monopólio) comprando faculdades e universidade regionais em todo o país.
Assim a cada ano absorve (engole na verdade) mais concorrentes diretos. Esses poucos oligopólios que restaram, com a mudança da política nos últimos anos, aumentaram o poder de pressão contra a regulação dos governos através do MEC. Tanto sobre os custos das mensalidades quanto do relaxamento da qualidade dos cursos. Aliás, foi garantido e reafirmado pelo atual ministro da Fazenda, Paulo Guedes e o do MEC. Liberdades absolutas na crença de que o mercado regula.
Mais uma vez, o blog informa que os dados aqui resumidos e sintetizados estão aqui expostos para conhecimento e debate, inclusive para a participação da própria Estácio S.A., dos seus professores, alunos e técnicos e suas representações de classes, e ainda para os gestores de outras instituições e pesquisadores sobre temática educacional local/regional e brasileira.
PS.: Aqui o blog disponibiliza links para algumas de suas postagem sobre os relatórios anuais da Esácio S.A. Em 2011 aqui, o de 2014 aqui e o de 2015 aqui. Uma outra postagem do blog em 3 de junho de 2016 sobre a possibilidade (absurda) depois negada pelo Cade de fusão dos oligopólios Estácio S.A. e Kroton S.A. pode ser lida aqui.
PS.: Atualização às 23:32 de 17 mar. 2019: Na digitação o erro entre bilhões e milhões. Os rendimento de aplicações financeiras foram de R$ 92 milhões e não de R$ 92 bilhões. Não faria sentido, não só pelo volume, como disse estratosférico, como pela sua discrepância que teia com o lucro líquido de R$ 645 milhões. Agradeço o comentário de alerta do Aldo Renato Franzoi.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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4 comentários:
No terceiro paragrafo o valor de 98 bilhões de rendimento de aplicações financeiras com certeza está exageradamente errado.
No terceiro paragrafo o valor de 98 bilhões de rendimento de aplicações financeiras com certeza está exageradamente errado.
Sim, você tem razão.
Na digitação o erro entre bilhões e milhões. Os rendimento de aplicações financeiras foram de R$ 98 milhões.
Não faria sentido, não só pelo volume, como disse estratosférico, como pela sua discrepância que teia com o lucro líquido de R$ 645 milhões.
Agradeço pela correção que será feita no texto.
Sds
Corrigindo de novo. Na verdade R$ 92 milhões de rendimento de aplicações financeiras.
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