Por conta do possível interesse de outras pessoas no tema eu resolvi transcrever abaixo a minha longa resposta. Para começar, eu informei que a minha avaliação era mais no plano macro e envolvia o que
passei a chamar do Circuito Espacial do Petróleo e dos Royalties no ERJ (CEPR-RJ).
Há um processo em curso para ampliação das bases
operacionais que dão apoio logístico às operações offshore de exploração e
produção de petróleo no litoral sudeste.
As limitações das bases de Imbetiba (Petrobras) e do Rio (terminais da Triunfo no
Caju) para a Petrobras e Niterói (NitShore) com vários terminais que atendem a petroleiras e privadas e
para-petroleiras que fornecem equipamentos e serviços a essas atividades,
ampliam o potencial do Porto do Açu.
Logística integrada para exploração offshore. Tese do Autor [3], Figura, nº 34. P.344 em que cita apresentação da Brasco Offshore, ago. 2014. |
Vale lembrar que isso varia um pouco conforme a localização
das sondas mais plataformas e o município base dessas empresas. É entre eles que a
logística se desenvolve. Também não são uniformes as cargas. Algumas dependem
de maior retro-área, enquanto outras, dependem de um transbordo abrigado.
Isso ocorre mais ao norte no ES - onde o Açu leva maior
vantagem - quanto a direção sul, na Bacia de Santos, mais ou menos próximo aos
terminais portuários de Rio/Niterói.
Há ainda que se considerar que o apoio offshore para a Bacia
de Santos no litoral paulista e o Pré-sal naquela região até aqui continuou a
depender dos terminais portuários da Baía da Guanabara (Rio e Niterói).
Por razões diversas, o Porto de Santos visando manter o seu
maior fluxo de navios de cargas (contêineros e graneleiros) criou dificuldades
para esse tipo de operação naquele complexo portuário, onde há 54 terminais
portuários operando o mais diferente tipos de cargas.
Cargas de apoio offshore movimentam muitos rebocadores e, de certa forma, reduzem a trafegabilidade para os terminais de maior movimento que pretendem fixar e ter o Porto de Santos como principal hub do Brasil.
Cargas de apoio offshore movimentam muitos rebocadores e, de certa forma, reduzem a trafegabilidade para os terminais de maior movimento que pretendem fixar e ter o Porto de Santos como principal hub do Brasil.
Assim, tudo que se explorou e descobriu em termos de poços e campos de petróleo nos últimos anos na Bacia de
Santos e Pré-sal saiu especialmente das bases de apoio instaladas nos terminais portuários do Rio de Janeiro e Niterói.
Outros pontos do litoral sul fluminense e norte paulista
foram procurados para montar novas bases de apoio offshore. Porém, o recorte de
um litoral sinuoso e com a Serra do Mar muito próximo à praia, incluindo as várias unidades
de conservação ali existentes, impediram até aqui esse processo. Angra dos Reis
no ERJ e São Sebastião foram alternativas estudadas, mas que não avançaram.
Porém, nos últimos dias, um consórcio da subsidiária de
Petrobras PB Log, o terminal portuário Tecon da CSN, na Baía de Sepetiba [junto
ao Porto de Itaguaí] e ainda uma empresa de aviação (helicópteros pela CHC) ganharam
uma licitação para operar a base de apoio offshore para atender as
movimentações de cargas para o mega campo de Libra, que equivale a quase uma
bacia petrolífera.
A base portuária da BrasilPort (grupo Edson Chouest) instalada no T2 do Porto do Açu até se interessou em participar, mas em função da proximidade desse terminal com o campo de Libra, acabou desistindo.
A base portuária da BrasilPort (grupo Edson Chouest) instalada no T2 do Porto do Açu até se interessou em participar, mas em função da proximidade desse terminal com o campo de Libra, acabou desistindo.
Essa base portuária integrada (marítima, aérea e rodoviária), conforme a estrutura que seja montada poderá
conquistar adiante uma hegemonia, para ter parte importantes das bases de apoio offshore que hoje operam nos terminais portuários de Rio e Niterói e assim melhor atender a Bacia de
Santos e o Pré-sal daquela região.
Esse processo poderá reduzir paulatinamente, a demanda de apoio das
bases portuárias do Rio de Janeiro e Niterói, mas também dependente das corporações que movimentam
cargas e de suas localizações. Algumas possuem instalações e contratos em Niterói e podem manter ali as suas operações. Outras poderão migrar.
Numa estimativa mais geral, hoje, é possível afirmar que a
tendência é que todas essas bases portuárias possam operar de forma conjunta e simultânea, só que aí terão menos concentração, onde cada uma atenda a clientes já definidos e outros que ainda chegarão.
Essa decisão sobre o apoio portuário ao megacampo de Libra não altera muito a situação do Açu
e nem de Imbetiba. O Porto do Açu mexeu foi com a base portuária de que atendeu
ao ES ao ficar com boa parte dessa demanda.
Nesse contexto, depois dessa volta (porque não cabe a meu
juízo avaliação apenas de um terminal em relação a outro, é preciso olhar o
geral) o caso do Terpor, se depender, unicamente, de movimentação de apoio a
exploração offshore, terá imensas dificuldades para buscar investimentos e se
viabilizar, para além dos graves impactos socioambientais de sua instalação.
Aliás, os terminais portuários em todo o mundo tendem a possuir múltiplas atividades para movimentação de cargas. A dependência de um ou outro setor como eram antigamente não comporta mais.
Aliás, os terminais portuários em todo o mundo tendem a possuir múltiplas atividades para movimentação de cargas. A dependência de um ou outro setor como eram antigamente não comporta mais.
Para isso teria o projeto do Terpor teria que se sustentar em outras atividades, como aliás fez, em seu último EIA/Rima em que busca o licenciamento ambiental. Ali, a EBTE apresentou propostas de atividades para ser base de transbordo de petróleo, base de recebimento de LNG e gasodutos para viabilizar uma unidade de
processamento de gás natural, equivalente a Cabiúna, entre outras atividades, porém numa área limitada e junto à área urbana de Macaé.
Porém, a ampliação dessas atividades aumentam de outro lado os impactos
socioambientais decorrentes da vizinhança com área urbana e ainda com a proximidade com o
Parque Nacional Ambiental de Jurubatiba. Dessa forma, uma vantagem do uso múltiplo do
terminal carrega junto uma enorme desvantagem que é o aumento exponencial dos
impactos socioambientais.
Ainda assim, considerando o cenário político atual de
liberação e de menor regulação sobre atividades econômicas é possível que o
Terpor possa tanto buscar investidores como se viabilizar, mesmo que menor. Ou não.
A articulação entre poder econômico e político e ainda os
interesses das corporações é que definirão onde e como conseguirão usar o território e
essas instalações.
Porém, no geral, eu reforço a interpretação de que a tendência é a de um aumento do
número de bases operacionais de apoio às atividades offshore na região Sudeste, sendo elas um
pouco menores e menos densamente utilizadas. Vale ainda observar que a integração modal (intermodalidade) com
articulação do marítimo com as rodovias e os trens podem potencializar umas
bases portuárias em relação às outras.
Espero ter respondido à sua indagação, depois de tantas
voltas. Porém, eu precisava aprofundar o assunto e levantar outras relações sobre o tema.
Há uma tendência para quem observa de longe a questão de ter um raciocínio quase sempre de comparação e disputa de projetos e negócios. Porém, não se deve esquecer que a lógica do capital e das corporações são norteadas pelos seus ganhos. O território eles apenas usam.
Há uma tendência para quem observa de longe a questão de ter um raciocínio quase sempre de comparação e disputa de projetos e negócios. Porém, não se deve esquecer que a lógica do capital e das corporações são norteadas pelos seus ganhos. O território eles apenas usam.
Resposta complementar:
(Diante de nova indagações e questionamentos do interlocutor eu estendi um pouco mais a resposta).
Os interesses inter-capitalista são muito grandes nesse tipo
de negócio que envolve forte investimentos em capital fixo. São setores
chamados de intensivos em capital. Os interesses corporativos invocam nesses casos grandes
volumes de recursos.
Nele há poucos concorrentes, assim, sempre será mais provável que eles juntem seus recursos e esforços para um acordo, do que imaginar hipóteses de apostas em projetos individuais, em que cada parte terá mais custos e mais riscos. Essa lógica não se sustenta.
Dessa forma a discussão locacional sobre os empreendimentos
também são dependentes dessas articulações. Tanto entre quem tem poder
econômico, quanto quem tem poder político. E ambos articulam entre si e tomam as decisões sobre o uso do território.
Todo
esse processo sempre se dá numa escala acima das disputas locais, onde apenas
se reproduzem os interesses de grandes corporações grupos e donos de capital.
Quanto às atividades econômicas do Circuito Espacial do Petróleo em
Macaé e região, elas continuarão a passar por mudanças espaciais e de atores. O
"boom" do setor entre 2011 e 2012, em especial num único município, não deverá
se repetir por uma série de motivos que caberiam em outro texto.
É da praxe do poder político construir expectativas e
esperanças. Esse poder depende disso, mesmo que a realidade seja um pouco ou
bem distante do desejo.
A análise apenas um pouco mais profunda dessas novas
"dinâmicas econômico-espaciais-políticas" desse processo dão pistas
claras sobre o que é retórica e o que pode ser concreto e real.
Sigamos acompanhando o mundo real e as articulações.
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