A guerra comercial EUA x China embaraça o comércio global, mas explode outras questões regionais de países que possuem alguma importância, mesmo que de forma especial nas exportações de commodities.
Por enquanto, de forma bem resumida, é possível intuir que diante das pressões da guerra comercial instituída por Trump, a China escolheu alguns caminhos para seguir e que já estão sendo trilhados.
Xi Jiping sabe que as políticas e pressões dos EUA envolvem sanções comerciais, bloqueios econômicos e tarifaços. O tipo de pressão depende se o contendor é o Irã, Rússia ou a China. Assim, os chineses entendem que seria preciso fugir de algumas dependências de outras regiões do mundo que são hoje geopoliticamente controladas pelos EUA.
Assim, com o plano “Made in China 2025” decidiu aumentar a parcela de componentes e matérias-primas que hoje são em boa parte importadas para o parque industrial chinês. A decisão é voltar a produzi-las internamente na própria China. Quantitativamente é um plano ousado o de elevar esse percentual para 40% em 2020 e até 70% em 2025.
Embora, uma decisão nessa proporção não seja simples de implementar, ela produzirá enorme impactos sobre as economias emergentes, incluindo o Brasil com enormes relações com as exportações de minério de ferro e produtos agropecuários.
A China há algum tempo cuida de manter estrategicamente, alguns minerais em suas reservas, optando pela importação, especialmente, após a redução dos preços globais desde o final de 2014.
Essa decisão altera as relações econômicas não apenas com as nações chamadas de emergentes e fornecedoras tradicionais, mas todo o comércio global, na medida em que a compra de menos matérias primas (commodities) de algumas nações tendem a reduzir as compras que estas fazem de produtos chineses.
As consequências desta decisão mexe na reestruturação produtiva global que vem há pelo menos duas décadas favorecendo a lógica das cadeias globais não apenas de suprimentos, mas também de produção com etapas espalhadas em pontos (espaços) diferentes do mundo.
Outra direção tomada pela China que carece de maiores investigações é a decisão de ao invés de importar esses insumos para sua produção, passar a produzir nas próprias nações que as extraem (produzem), desde que essas possuam grandes mercados, como é o caso do Brasil.
A ampliação desses mercados fogem do controle direto dos tarifaços e sanções dos EUA evitando as pressões direta contra a China, que assim passa a ter condições de negociar também com outras nações, executando também triangulações comerciais, com produção em bases produtivas nesses outros países, onde terá apenas controle sobre parte das corporações.
Neste tipo de ação há vários projetos em andamentos e em negociação entre bancos, fundos e corporações chineses com o Brasil. Há interesses e negócios ligados à energia, alimentos e logística que possam se relacionar ao grande projeto geopolítico chinês que é a Rota da Seda. Nesse linha há claramente regiões no Brasil que se tornaram mais ou menos estratégicas para essa integração além-mar.
Porém, a China sabe que isso não impedirá uma redução do comércio global e nem evitará uma eventual decisão americana - se o processo de pressões comerciais fugir ao controle -, a favor de um enfrentamento e uma disputa militar mais “hard” (menos soft) na luta pela manutenção de sua hegemonia ameaçada.
Uma análise mesmo breve desse quadro mostra como o Brasil e a América Latina são chaves num embate desse tipo com características globais.
No caso do Brasil, o xadrez é mais complexo, porque os EUA não tem como ajudar o Brasil a sair de sua crise econômica. Aliás, não fez isso nesses três anos após golpe e aproximação submissa do país aos EUA, numa assunção clara de dependência e de condição subimperialista.
De outro lado, a China tem várias propostas de acordos entre que interessaria ao Brasil com característica complementar à chinesa, sem exigir submissão e com propostas pragmáticas e de interesses que poderiam ser negociados na linha da ampliação do valor agregado de nossa produção e ainda no setor de tecnologia.
Para circular nesse confuso cenário e disputas comerciais, políticas e geopolíticas, o Brasil precisaria ter maior capacidade de intervir entre um lado e outro, com propostas e interesses que poderiam ajudar a arbitrar soluções e negociações.
Porém, ao contrário disso, o atual governo (desgoverno) do Brasil, vem optando por ampliar a dependência não apenas política e ideológica, mas também comercial, apesar de nada receber em troca, o que reforça na prática a condição de submissão.
O assunto merece ser melhor estudado e acompanhado, porque a geopolítica e a disputa por hegemonia estão se ampliando de forma colossal, na mesma proporção em que o controle financeiro sobre o capitalismo contemporâneo é cada vez maior.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário