O leitor mais frequente do blog pode considerar isso uma repetição, mas o crescimento é espantoso ano a ano. Em 2017 eu chamei a atenção aqui para o fato dos fundos estarem chegando a 2/3 do PIB. Um ano depois em novembro de 2018, postei aqui que os fundos tinham captado R$ 500 bilhões, em plena crise e o patrimônio líquido total dos findos no Brasil tinham chegado a R$ 4,5 trilhões.
Pois bem, na semana passada, 18 de junho de 2019, a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) entidade que organiza o setor, informou que o "patrimônio líquido da indústria de fundos" tinha chega a R$ 5 trilhões. Isso mesmo: R$ 5 trilhões!
No dia 21 de junho, o site especializado em notícias do setor financeiro Infomoney (veja aqui) ampliou a divulgação sobre esse volume de ativos que equivale a 3/4 do PIB anual do país em 2018.
De acordo com ranking mundial da IIFA (Associação Internacional de Fundos de Investimento) com sede em Toronto, no Canadá, o Brasil ocupa o 10º lugar entre as maiores indústrias de fundos do globo, num universo de ativos globais que chegam a US$ 53,9 trilhões.
Apenas os EUA tem quase metade desse volume com US$ 22 trilhões e é seguido em 2º lugar por Luxemburgo com US$ 5,1 trilhões e Irlanda, em 3º lugar com US$ 2,9 trilhões, que são conhecidos paraísos fiscais.
De acordo com ranking mundial da IIFA (Associação Internacional de Fundos de Investimento) com sede em Toronto, no Canadá, o Brasil ocupa o 10º lugar entre as maiores indústrias de fundos do globo, num universo de ativos globais que chegam a US$ 53,9 trilhões.
Apenas os EUA tem quase metade desse volume com US$ 22 trilhões e é seguido em 2º lugar por Luxemburgo com US$ 5,1 trilhões e Irlanda, em 3º lugar com US$ 2,9 trilhões, que são conhecidos paraísos fiscais.
Assim no Brasil, os fundos financeiros totalizaram 16,4 milhões de contas ativas. Outro número que espanta. Só em 2019, em meio ao agravamento da crise e recessão na economia brasileira, a captação acumulada dos fundos financeiros atingiu R$ 156,2 bilhões.
Embora os fundos financeiros existam no mundo há quase um século, foi a partir da crise financeira global de 2008 que eles ganharam potência e descobriram novas estratégias para atuar na valorização da produção material e de forma simultânea no rentismo e nas estratégias do dinheiro como mercadoria (valorização fictícia ou capitalização).
Assim, em todo o mundo os fundos financeiros globais foram ampliando o seu volume de ativos e se tornaram o instrumento de maior potência do capitalismo contemporâneo hoje hegemonizado pelo setor financeiro.
Os fundos de investimentos promovem uma colossal mobilidade do capital pela sua articulação com o mercado de capitais, o sistema bancário, o rentismo junto com o mundo dos derivativos e mercado futuro, assim como a produção material onde ele também aporta em capital fixo, controle das corporações, investimentos em infraestruturas e fortes redes de serviços e comércio em todo o país.
Em 2008, os fundos financeiros possuíam ativos no Brasil (em valores reais e absolutos) com volume de R$ 1,1 trilhão. Já agora ao final do primeiro semestre de 2019, eles ultrapassaram R$ 5 trilhões, equivalente e 3/4 do PIB do Brasil, sendo que metade da década foi de recessão, desemprego e redução das atividades econômicas, enquanto não parou de crescer o volume de dinheiro nos fundos financeiros.
Ou seja, em pouco mais de uma década, esse volume de ativos dos fundos financeiros quase quintuplicou. Em termos de valores atualizados (corrigidos), o volume quase triplicou. Um fato muito expressivo como pode ser visto no quadro abaixo:
O fato é mais significativo quando se lembra que metade dessa década foi de crise econômica no Brasil e ainda assim, os excedentes econômicos continuaram se concentrando nas mãos de poucas pessoas, que passaram a se interessar pelos fundos de investimentos, como padrão de acumulação de riquezas e de certa forma, também como de financiamento de uma parte material expressiva da economia.
Deve-se chamar a atenção que a grande maioria dos fundos de investimentos têm como suas gestoras os bancos e forte vínculo com o mercado de capitais e com os mecanismos vinculados às rendas derivadas e aos derivativos.
Vale ainda registrar que o setor gosta de ser chamado de "indústria dos fundos", embora seja um instrumento do setor financeiro, que tem apenas uma parte vinculada ao financiamento e ao controle da produção material, onde busca valorização.
Por compreender que tudo isso vinha, até aqui, sendo pouco percebido pela sociedade e mesmo pelos pesquisadores que vêm estudando a financeirização e seus efeitos no capitalismo contemporâneo, é que resolvi aprofundar a investigação desse setor e produzir um relato que busca abrir e ampliar o debate sobre esse processo e seus significados.
E ainda, por entender que não é possível investigar as formas com que o capitalismo, sob a hegemonia das finanças, como ocorre no presente, vem se desenvolvendo sem romper as condições herméticas e poucos conhecidas desse setor.
São poucos os que controlam e dominam o seu universo. Aliás, a pesquisa identificou, que mesmo boa parte dos operam nele, conhecem apenas a área que atuam e investem, com pouca ou nenhuma noção do todo e das relações de tudo isso com o sistema.
Assim, se viu que era necessário retirar os fundos financeiros (hoje o mais potente instrumento da financeirização) da invisibilidade, para torná-lo mais conhecido, no que diz respeito ao seu porte, a sua forma de atuar, suas estratégias e à sua hipermobilidade, que é o principal atributo, que faz com que o capital se aproxime do seu desejo utópico de operar livremente sem resistências em todo o mundo.
Os seus defensores, organizadores e controladores, alegam que os fundos financeiros, mais que os bancos, beneficiam toda a sociedade e estariam mudando o padrão de financiamento da economia.
Em contraposição, identificamos que essa fase do capitalismo financeiro gera preocupações diante do esgarçamento que promovem no sistema, em virtude do nível de captura das rendas locais/regionais, aprisionando-as e acumulando-as em colossais volumes e nas mãos de cada vez menos.
O mundo tecnologicamente desenvolvido é desigual, não inclusivo e os fundos mostram a alta e crescente concentração de riqueza.
Os fundos de investimentos promovem uma colossal mobilidade do capital pela sua articulação com o mercado de capitais, o sistema bancário, o rentismo junto com o mundo dos derivativos e mercado futuro, assim como a produção material onde ele também aporta em capital fixo, controle das corporações, investimentos em infraestruturas e fortes redes de serviços e comércio em todo o país.
Em 2008, os fundos financeiros possuíam ativos no Brasil (em valores reais e absolutos) com volume de R$ 1,1 trilhão. Já agora ao final do primeiro semestre de 2019, eles ultrapassaram R$ 5 trilhões, equivalente e 3/4 do PIB do Brasil, sendo que metade da década foi de recessão, desemprego e redução das atividades econômicas, enquanto não parou de crescer o volume de dinheiro nos fundos financeiros.
Ou seja, em pouco mais de uma década, esse volume de ativos dos fundos financeiros quase quintuplicou. Em termos de valores atualizados (corrigidos), o volume quase triplicou. Um fato muito expressivo como pode ser visto no quadro abaixo:
Quadro 1 (PESSANHA, 2019, p. 107) do livro A `indústria´ dos fundos financeiros. Atualizado com dados de 21/06/2019. |
O fato é mais significativo quando se lembra que metade dessa década foi de crise econômica no Brasil e ainda assim, os excedentes econômicos continuaram se concentrando nas mãos de poucas pessoas, que passaram a se interessar pelos fundos de investimentos, como padrão de acumulação de riquezas e de certa forma, também como de financiamento de uma parte material expressiva da economia.
Estatística da Anbima. Consolidado diário dos Fundos Financeiros em 21 junho de 2019 |
Deve-se chamar a atenção que a grande maioria dos fundos de investimentos têm como suas gestoras os bancos e forte vínculo com o mercado de capitais e com os mecanismos vinculados às rendas derivadas e aos derivativos.
Vale ainda registrar que o setor gosta de ser chamado de "indústria dos fundos", embora seja um instrumento do setor financeiro, que tem apenas uma parte vinculada ao financiamento e ao controle da produção material, onde busca valorização.
Por compreender que tudo isso vinha, até aqui, sendo pouco percebido pela sociedade e mesmo pelos pesquisadores que vêm estudando a financeirização e seus efeitos no capitalismo contemporâneo, é que resolvi aprofundar a investigação desse setor e produzir um relato que busca abrir e ampliar o debate sobre esse processo e seus significados.
E ainda, por entender que não é possível investigar as formas com que o capitalismo, sob a hegemonia das finanças, como ocorre no presente, vem se desenvolvendo sem romper as condições herméticas e poucos conhecidas desse setor.
São poucos os que controlam e dominam o seu universo. Aliás, a pesquisa identificou, que mesmo boa parte dos operam nele, conhecem apenas a área que atuam e investem, com pouca ou nenhuma noção do todo e das relações de tudo isso com o sistema.
Assim, se viu que era necessário retirar os fundos financeiros (hoje o mais potente instrumento da financeirização) da invisibilidade, para torná-lo mais conhecido, no que diz respeito ao seu porte, a sua forma de atuar, suas estratégias e à sua hipermobilidade, que é o principal atributo, que faz com que o capital se aproxime do seu desejo utópico de operar livremente sem resistências em todo o mundo.
Os seus defensores, organizadores e controladores, alegam que os fundos financeiros, mais que os bancos, beneficiam toda a sociedade e estariam mudando o padrão de financiamento da economia.
Em contraposição, identificamos que essa fase do capitalismo financeiro gera preocupações diante do esgarçamento que promovem no sistema, em virtude do nível de captura das rendas locais/regionais, aprisionando-as e acumulando-as em colossais volumes e nas mãos de cada vez menos.
O mundo tecnologicamente desenvolvido é desigual, não inclusivo e os fundos mostram a alta e crescente concentração de riqueza.
Um processo em curso que amplia enormemente os riscos de rupturas violentas e tem ainda potencial para promover esgarçamento do processo civilizatório e de barbárie que se vinculam à dimensão política e geopolítica das consequências desse movimento transfronteiriço.
Foi com essa motivação que foi escrito o livro "A ´indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo". O mesmo, cuja capa está à direita do blog, se encontra disponível para vendas na editora Consequência (aqui), na Amazon (aqui); na livraria Noblesse (em Campos dos Goytacazes) e/ou, através do email desse blog.
A publicação como resultado parcial da pesquisa em andamento é uma contribuição para aprofundamento das discussões e debates sobre a financeirização e seus efeitos na atual fase do capitalismo.
Tentei produzir mais um ensaio do que um texto acadêmico, embora com o rigor científico da pesquisa que o originou, na medida em que a ideia central era de ampliar o conhecimento sobre algo que parece escondido e bem escamoteado.
Avalio que não consegui sair muito da análise mais acadêmica, mesmo que mais descritiva. Enfim, o resultado como contribuição foi este que saiu neste livro. Sendo assim, e considerando que o tema tem ainda muitas questões a serem ainda investigadas, em várias dimensões e escalas é que insisto que serão muito bem-vindas outras análises, críticas e sugestões.
Tentei produzir mais um ensaio do que um texto acadêmico, embora com o rigor científico da pesquisa que o originou, na medida em que a ideia central era de ampliar o conhecimento sobre algo que parece escondido e bem escamoteado.
Avalio que não consegui sair muito da análise mais acadêmica, mesmo que mais descritiva. Enfim, o resultado como contribuição foi este que saiu neste livro. Sendo assim, e considerando que o tema tem ainda muitas questões a serem ainda investigadas, em várias dimensões e escalas é que insisto que serão muito bem-vindas outras análises, críticas e sugestões.
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