Em 2019, os títulos das dívidas com rendimentos negativos que chegaram ao extraordinário volume de US$ 12,5 trilhões, ultrapassando o recorde de 2016, mesmo que no primeiro trimestre deste ano, o crescimento econômicos dos EUA tenha chegado a 3,1%.
Sobre esse assunto vide artigo do colunista do Financial Times, Gillian, traduzido e publicado pelo Valor, em 28 de junho de 2019 (P.A11): Juros negativos criam território surreal: títulos da dívida com rendimento negativo cheha a recorde de US$ 12,5 tri.
Assim, temos menores taxas de juros (quando se paga para emprestar dinheiro), porém muito maiores taxas de lucros e de expropriação das rendas do trabalho. Em muito casos de espoliação das mais variadas formas.
Assim, há necessidade de se observar a mudança de forma no capitalismo contemporâneo. Uma primeira e mais simples explicação para esse fenômeno é que o mundo capitalista está transitando para uma nova fase, onde os financistas ampliaram a sua tática. Menores juros no geral e maiores lucros em todos os lugares.
É nesse sentido, que os fundos financeiros (assunto que temos debatido aqui neste espaço de forma ampla), embora já existissem no mundo há quase um século, só depois do crise financeira de 2008, eles passaram ganhar destaque como instrumento da articulação entre a financeirização, a produção material e o comércio global.
No capitalismo atual e hegemonicamente financeiro (mas não exclusivamente, porque segue prescindindo das pessoas e dos espaços) os financistas passaram a enxergar para além dos ganhos com as taxas de juros.
Os financistas passaram a mirar numa maior captura das rendas locais/nacionais, extraídas das mais variadas atividades, desde a produção material, à exploração de plataformas para a extração dos serviços Uberização, iFood, AirBnb, etc.).
Esse esquema vem ampliando enormemente a “vampirização das rendas” locais/nacionais (no caso do Uber 25% vai para os EUA), assim como trabalham pela maior produtividade global que age sobre a redução dos direitos trabalhistas, o aumento da exploração sobre as populações em diferentes setores da economia (frações do capital) e que atua de forma diferente no espaços dos estados-nações no centro e na periferia do capitalismo.
Mesmo que a máquina da dívida seja cada vez maior (pública e privada) para fazer o dinheiro circular, o que aumenta em velocidade e índices maiores são as taxas de lucros obtidas sobre os negócios, mesmo que não se descarte os lucros com os juros como antes.
A nível global (e em volume) os juros ainda são altos. Com rendimentos negativos no centro do capitalismo e colossais na periferia, como no Brasil. Por isso, parece não ter sentido falar em taxas médias de juros. Ou taxas globais, porque elas variam quase ao mesmo número dos estados-nações.
Os fluxos materiais e imateriais são cada vez maiores. Por isso a disputa Trump (EUA) x China com a guerra comercial acaba sendo tão danosa à economia como um todo.
As rede e cadeias globais de produção e a movimentação financeira desregulada, transfronteiriça e sob os domínios das tecnologias informacionais, avançam rapidamente para a digitalização total do dinheiro, que o aproximaria ao mesmo tempo, do sonho utópico do capital de flutuar sobre o espaço sem limites, e do esgarçamento do sistema e os riscos da barbárie.
Nesse processo de mundialização, a produção material acontece em diferentes pontos do mundo sob a forma de redes e a circulação (chamada de logística) ampliou a sua importância, agora não apenas na etapa final de distribuição para o consumo, mas nas etapas intermediárias, já que a busca frenética é pela produtividade, onde os financistas conseguem capturar mais valor sobre o trabalho humano, seja egípcio, malaio ou boliviano.
Etapas da produção com menores custos significam maior captura de lucros pelos financistas que através dos fundos financeiros hoje, já controlam boa parte das corporações que tocam a produção mundo afora.
Esse é um diagnóstico em aberto sobre a economias nacionais e globais. Porém, os estados-nações devem ter claro como pretendem participar desse jogo. De forma completamente subordinada e dependente ou num esforço de buscar algum grau de hegemonia e de articulação.
No caso do Brasil, quase todas as inciativas nos últimos três anos, a tônica tem sido a de subordinação e dependência desmedidas, sem compreender esse fenômeno - que embora complexo - parece claro, e pior: nenhum projeto de Nação.
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