E quem tem dinheiro precisa fazê-lo circular sob a forma de papel ou capital fixo. A máquina das dívidas é hoje quem puxa a economia e captura as rendas locais. Não necessariamente através dos juros, mas com o controle dos negócios.
As dívidas se dividem em dívidas internas (tesouro
das nações) e as externas tomadas pelos governos, corporações e as famílias e
pessoas.
Agora no meio do ano de 2019, o bolo da dívida mundial
chegou a US$ 243 trilhões. Em dezembro do ano passado elas eram de US$ 184 trilhões,
segundo dados do IIF (Institute of International Finance).
Entre os estudiosos do tema, muitos consideram esse "circuito das dívidas" algo monstruoso e incontrolável, mas é também fato que ela tem movimentado o capitalismo
contemporâneo pelo lado da montante ofertando crédito, mesmo que a juros menores, que parece em parte, compensados por maiores taxas de lucros, obtidas pela captura
das rendas derivadas do trabalho e da propriedade mundo afora.
Fonte: IIF. Infográfico Financial Times-Valor 16 jul. 2019, P. A9. |
De um lado, as 30 maiores economias emergentes (incluindo a
China) somam dívidas totais de US$ 69,1 trilhões. O Brasil também está neste
bolo e a maior parte dessa dívida é interna que equivale hoje a quase 90% do
PIB.
O caso brasileiro é muito bem estudado e detalhadamente criticado, pela "Auditoria Cidadão da Dívida" uma associação criada desde 2000 e que mantém (aqui) um portal com muitas informações constantemente atualizadas que mostram que apenas os juros e amortizações das dívidas públicas tem consumido entre 40% e 50% do orçamento federal ano a ano.
De outro lado estão os EUA em que sua dívida somadas as dívidas públicas, das
corporações, das famílias e financeiras chegam hoje a US$ 73,6 trilhões,
equivalente a 106% do seu PIB. Nos EUA, chama ainda a atenção as dívidas estudantis que chegaram em 2018 a US$ 1,5 trilhão; o financiamento de compra de automóveis que chegou a US$ 1,1 trilhão; e a dívida geral com cartão de crédito que já ultrapassou US$ 1 trilhão. Só essas três dívidas equivalem a mais do dobro de todo o PIB do Brasil.
Esta enorme máquina das dívidas está puxando o sistema e
alimentando aquilo que passei a chamar de capital helicoidal, onde a sua
trajetória tem levado a um esgarçamento com capturas crescentes de rendas da
economia real e da financeira e colocando o capitalismo contemporâneo noutro
estágio, tanto de acumulação e lucros quanto de riscos.
Riscos de repetição da crise de 1929, superando as crises financeiras da década de 90 e de 2008. Junto com a atual crise
da democracia representativa liberal que se amplia em várias partes do
mundo, poderá estar nos levando a uma fase de ruptura do sistema e até à barbárie, que hoje parece estar rondando
com maior frequência o desenvolvimento capitalista contemporâneo.
Um comentário:
ótimo artigo!
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