O fato configura um benefício que na prática desconta as
participações governamentais pagas (sob a forma de royalties) do imposto pago
pelas petroleiras. O fato é agora ainda mais grave porque há que se considerar
que a produção cada vez mais está sendo entregue das mãos de uma empresa estatal
NOC (National Oil Corporation) como maior acionista, para empresas petroleiras
privadas (IOCs – International Oil Corporations).
Assim, na verdade, estas petroleiras privadas obtêm um duplo benefício: acessam
quase gratuitamente às nossas reservas, para as quais tanto gastamos para
descobrir, como é o caso do colosso e da cobiçada reservas do Pré-sal, quando o
mercado desdenhava a sua viabilidade.
A gravidade disso tudo aumenta na medida em que a ANP faz previsão
para 2030, portanto daqui a uma década que a produção nacional de óleo e gás
esteja entre 6 milhões e 7,5 milhões de barris por dia e que entre 4 milhões e
5 milhões sejam exportados sob a forma cru, enquanto o país seguirá importando
mais derivados de petróleo, em especial nos EUA.
Chamo este processo de “nigerização” do país como exemplo de
uma nação que produz petróleo bruto basicamente para exportação
Hoje já somos um dos maiores exportadores do mundo de óleo
cru com exportações acima de 1,5 milhões de barris por dia, suportando junto
com os EUA quase todo o aumento da demanda mundial, em função das reduções de
oferta do Irã e Venezuela.
Atualmente, só no pré-sal, o Brasil já produziu 2,5 bilhões de barris de óleo equivalentes (óleo + gás), mais do que toda a reserva provada da Argentina e apenas cerca de 2% de toda a estimativas do pré-sal.
Com esse nível de produção de petróleo do Brasil, em torno
de 7 milhões de barris por dia em 2030, provavelmente, o Brasil já terá ultrapassado
a produção do Canadá e da China e deverá se colocar como quarto maior produtor
mundial de petróleo, só atrás dos EUA, Arábia Saudita e Rússia e na frente de
vários outros grandes produtores do Oriente Médio como Iraque, Irã, Emirados
Árabes Unidos, Kuwait e outros. (Veja aqui postagem do blog sobre os maiores produtores e consumidores mundiais de petróleo em 2018). A o lado o quadro dos maiores produtores mundiais.
Hoje, em 2019, só a Petrobras dispõe de 133 plataformas
instaladas no litoral brasileiro, sendo 77 fixas, 37 navios de produção tipo FPSO,
14 semisubmersíveis e 5 de outros tipos. Até 2023* estão previstas a entrada em
operação de 11 novos FPSOs. Atualmente, 14 sondas de perfuração estão
trabalhando em procura de novos poços produtores no litoral brasileiro.
No meio disto há quem não queira entender o porquê do
desmonte e privatização da Petrobras e do golpe institucional em 2016.
O blog sabe que esse assunto já foi tratado aqui inúmeras vezes e com diferentes abordagens. Mas não cansarei de repetir e insurgir contra o crime que esse entreguismo representa. Não é possível que esse caso seja algum dia naturalizado. Não há nada de natural e nem apenas comercial nesse processo. Os dados gritam por si só. Eles são óbvios. Há sim um crime contra a nação e contra o Brasil e sua população.
PS.: Atualizado às 23:21: * Para correção do erro de digitação onde se faz previsão de que até em 2013, quando na verdade quer dizer 2023.
PS.: Atualizado às 23:21: * Para correção do erro de digitação onde se faz previsão de que até em 2013, quando na verdade quer dizer 2023.
3 comentários:
Petrobrás sem ajuda das multinacionais devidamente taxadas, nunca teria condições de retirar grande parte dessas reservas.
Em 25 anos o óleo não terá tanto valor e a necessidade que tem hoje.
Os carros serão híbridos elétricos e hidrogênio, os aviões provavelmente serão substituídos por drones ou algo diferente do modo de voar inventado por Santos Dumont.
Vamos evoluindo em todos os sentidos. Senão a vida não fará sentido.
Com petróleo e gás não será diferente.
Argumentos frágeis. Já cansei de tratar deles aqui no blog com dezenas de postagens e outros espaços e mesas-redondas. Não vou repetir o que já foi dito.
Tem dois principais equívocos segundo dados das agências de energia dos países capitalistas. A demanda por petróleo não se reduz antes de 2040. As reservas estão mais escassas e mais caras para serem exploradas.
A segunda é sobre financiamento. Qualquer operadora seja estatal ou privada tem facilidade para se financiar se possui reservas e expertise. O pré-sal ainda tem mais de 90% das estimativas de reservas a serem extraídas. E elas serão exploradas conforme o ciclo de preços do barril (ciclo petro-econômico). Logo após a metade da próxima década, haverá mais demanda o mundo pagará mais caro pelo petróleo.
A condição cíclica desse setor com fases de boom e colapso são conhecidas. E o Brasil ainda terá mais de 90% do pré-sal, só que agora entregue para as petroleiras privadas, que vão ter os royalties descontados dos impostos, importarão todos os equipamentos adensando as cadeias produtiva do seus países e não no Brasil que assim caminhará para ser uma Nigéria, vendendo mais óleo cru e importando derivados. E ainda tem que avalie que isso é o melhor. Melhor para quem?
https://www.robertomoraes.com.br/2019/06/recordes-mundiais-de-consumo-e-producao.html
https://www.robertomoraes.com.br/2019/06/toda-reserva-do-pre-sal-equivale-7.html
https://www.robertomoraes.com.br/2019/06/o-pre-sal-ja-atingiu-60-da-producao-de.html
https://www.robertomoraes.com.br/2019/05/geopolitica-da-reeletrificacao-e-as.html
Etc.
Em cada postagem dessa há links para outros textos.
Prezado Roberto Moraes. Parabéns pelo blog, na luta pela Petrobrás.
Apenas alerto quanto a logo em que o "Petrobrás" está digitado equivocadamente.
No mais, todo o conteúdo e demais textos, como de costume, seguem nos elucidando nos mais diversos aspectos que envolvem todo esse processo de saque e roubo do patrimônio energético da nação. Saudações petroleiras.
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