Quando escrevi há quatro dias uma postagem (aqui) dizendo que "o fatiamento e a entrega das partes da Petrobras já era o maior caso da história deste setor em todo o mundo e de que não havia nenhum outro caso sequer similar” as centenas de compartilhamentos e curtidas (no blog ou FB) sobre o texto devem ter reproduzido uma concordância com o geral, mas fiquei com a percepção que muitos outros consideraram o mesmo como um exagero de retórica. Outros atribuíram a um desabafo.
Indignação sim, mas exagero não. Por conta disso, eu fui novamente recorrer aos dados globais sobre o setor petróleo que lubrifica o capitalismo em todo o mundo. A geopolítica do petróleo e também da energia nos ensina que o poder age nesse caso na direção entre os donos das maiores reservas, os produtores e às nações que mais consomem petróleo no mundo.
Neste esforço de observação eu identifiquei que não há registros no curto prazo (menos de meia década) de uma única corporação, fundo financeiro e/ou uma nação ter desfeito e transferido um volume tão grande de ativos do setor de petróleo no mundo.
Esse processo que se pratica contra a Petrobras desintegra sua cadeia produtiva (aquela vai do poço ao posto), entre produção, circulação, beneficiamento (industrialização) e distribuição de derivados para o consumo.
Desintegra para melhor fazer a maior volume de transferência de ativos que se verifica na história. Neste setor houve recentemente uma grande transferência de ativos, que na ocasião foi considerado o maior negócio de petróleo no mundo. Refiro-me ao fato da venda da petroleira britânica BG para a anglo-holandesa Shell, pelo valor de US$ 53 bilhões.
Tratou-se de uma transação que levou quase dois anos para ser concretizada, entre 2014 e 2016 e que aconteceu exatamente no auge do colapso de preços do barril de petróleo, quando chegou a US$ 27, o barril. Ainda assim, a Shell manteve sua proposta e o negócio foi selado.
Vale ainda recordar que a maior razão do interesse da Shell pela BG era o fato desta já estar produzindo petróleo, nas reservas na área do pré-sal, onde a petroleira britânica tinha participações em consórcios junto com a Petrobras.
Pois bem, sendo essa a maior transação em volume de recursos do setor petróleo, fica mais fácil compreender porque, que o desmonte, transferência de ativos e desinvestimentos (ou o nome que venha ter) da Petrobras para empresas privadas e fundos, que está ocorrendo desde 2016 e prossegue com força agora em 2019, ultrapassa a venda da BG para a Shell.
Assim, eu fui refazer as contas somando o valor das entregas dos chamados ativos da Petrobras. Muitos já foram transferidos, outros estão em curso e os valores, por baixo ficam acima de US$ 55 bilhões se aproximando dos US$ 60 bilhões.
Esse valor poderá ser ultrapassado conforme novas decisões de venda e de interessados em operar os negócios, como hoje tem sido feito a toque de caixa.
A lista é extensa e segue sempre com uma novidade a cada dia de novo desmonte e entrega de empresas a preço vil de final de feira. Vou listar os ativos, porém, mais adiante vou também identificar os valores da venda de cada uma delas, assim como os novos proprietários do setor no Brasil. Eles preferiram comprar o que estava pronto a fazer algo novo.
Malha de Gasodutos da NTS (2,5 mil km); subsidiária TAG incluindo a malha de 9 mil km de gasodutos; Citepe (Complexo Petroquímico se Suape); 8 refinarias (Abreu Lima, Landulfo Alves, Gabriel Passos, Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini, Isaac Sabbá, Unidade Industrial de Xisto e Lubrificantes e Derivados do Nordeste); Ações da BR Distribuidora; Direitos sobre a Cessão Onerosa; Ativos da Transpetro; Instalações do setor de Gás Natural incluindo as Inidades de Processamento; Liquigas; Direitos de 50% sobre a Petroquímica Brasken; Ativos - ou participações - de vários campos de petróleo em diversas bacias incluindo da área do pré-sal: Carcará; Guará; Tartaruga Verde; Roncador; Maromba; Peroá, Cangoá, Polo Nordeste e campos maduros da Bacia de Campos, BA e RN.
Portanto, ouso desafiar quem afirme o contrário. O desmanche atual da Petrobras se trata do maior desmonte e privatização uma única empresa (Petrobras) na história do setor petróleo no mundo.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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